quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

FAZER A ACADEMIA AEROESPACIAL!

Ao ser eleito recentemente membro correspondente da Academia de Marinha resta-me, na minha qualidade de antigo oficial piloto aviador, propor a criação da Academia Aeroespacial.

Apesar da sabedoria popular afirmar que “ninguém é bom juiz em causa própria”, não hesito em classificar esta ideia de boa e de urgente.

A “causa do Ar/Espaço”, está mal arrumada e dispersa na sociedade portuguesa, não existe uma ideia consolidada do “Poder Aeroespacial” nos meios políticos, académicos e culturais da nação e a grande maioria da população tem destas coisas uma ideia pouco mais do que vaga.

Eis pois os fundamentos e a área de acção da futura Academia Aeroespacial (AA).

Como devemos ser práticos, pragmáticos e não andar a tentar inventar o que já existe, defendemos que a AA tenha uma estrutura semelhante à da Academia de Marinha, isto é (em traços gerais):
- Depender do Chefe de Estado-Maior da Força Aérea (em Portugal é extremamente difícil uma instituição deste tipo sobreviver sem apoios de entidades já existentes…);
- Ter na sua estrutura dirigente, oficiais na situação de reserva ou reforma, bem como outros membros civis de reconhecida idoneidade;
- Estar instalada em unidade militar;
- Estar aberta a membros oriundos do meio científico, académico e profissional de algum modo ligado às actividades aeroespaciais, quer militares quer civis;
- Ser alargada a membros correspondentes, estrangeiros;
- O acesso a membro estar condicionado por “números clausus” e regras definidas.

A AA constituir-se-ia assim uma Academia de saber em que todos os assuntos relacionados com o Ar e o Espaço pudessem ser estudados, reflectidos e divulgados; um centro de reflexão estratégico sobre o poder aeroespacial e um repositório de conhecimento que poderia ser útil tanto à “sociedade civil” como aos órgãos do Estado.

A sua estrutura seria simples: uma direcção, uma secretaria, um órgão de apoio técnico, uma assembleia de académicos, um conselho científico.

Como órgãos de execução haveria secções de estudos, a começar por uma de História e outra de Tecnologia; depois e à medida da sua consolidação, poder-se-ão constituir secções relacionadas com tudo o que se relaciona com o meio aeroespacial: meteorologia, medicina; tráfego aéreo, estratégia, direito/legislação, aeródromos, etc.

A partir daqui é todo um mundo que se abre.

Como particularidade, defendo que a AA deveria albergar também, ressuscitando-o, o “Cenáculo dos Carcaças”, um “clube/tertúlia” nascido em 8 de Fevereiro de 1956, e que reunia, na altura, todos os pilotos do activo com 20 anos de brevet.
Os seus fundadores eram membros do novel Ramo Força Aérea, alguns oriundos da extinta Aviação Naval. Foram eles: Alm. Paulo Viana, Alm. Cardoso de Oliveira, Gen. Dário de Oliveira, Gen. Humberto Pais, Gen. Costa Macedo, Cor. Telo Pacheco, Alm. Carlos Sanches, Cap.m.g. Trindade dos Santos, Gen. Venâncio Deslandes, Gen. João de Freitas, Cor. Rodrigues Costa, Brig. Costa Franco e Cor. Vasconcelos de Carvalho.
O bastonário desta “ordem”, conhecido por “carcaça Mor”, era o piloto com o brevet mais antigo. Infelizmente, esta tertúlia “sentimental e evocativa”, como consignado na sua acta de fundação, deixou de existir a seguir ao 25 de Abril de 1974, sem que para tal houvesse qualquer razão ponderosa.

Quanto às instalações propomos a Base Aérea 1, em Sintra, nomeadamente o aproveitamento das antigas instalações do antigo Instituto de Altos Estudos da FA. Existe espaço, bibliotecas, messes, anfiteatros, bons acessos e parqueamento, pessoal e outras estruturas de apoio.

Existe a Academia da Força Aérea com as suas multi-capacidades e o Museu do Ar. Respira-se uma atmosfera aeronáutica.

Como alternativa, poder-se-á considerar as instalações do Estado-Maior em Alfragide, hoje subaproveitadas e que têm a vantagem de estar mais perto de Lisboa.

Cada realização tem um início, um começo. Normalmente nasce com uma ideia. Se não for agora, alguém que pegue nela mais tarde.

Portugal tem muitos talentos e gente capaz, mas andam, normalmente, dispersos, zangados ou antagonizam-se. Os tempos não se coadunam com este estado de coisas. Há que harmonizar e dar resultante às boas ideias e intenções.

Aqui fica o repto.

1 comentário:

Paulo disse...

Exmo. Senhor
Dede já, o meu muito obrigado por manter em actividade este blogue.
Deixe que lhe diga que passei a ser um leitor atento a tudo o que aqui escreve. Os assuntos aqui constantes alteraram, em muito, a minha atitute perante as Instituições militares no que concerne às virtudes e qualidades castrenses bem como ao quptidinano militar.
Grande abraço

Paulo