quinta-feira, 28 de outubro de 2010

LA CRISE, TOUJOURS LA CRISE!

Pululam as entrevistas, as mesas redondas, os colóquios, as conferências, etc., sobre a crise. Leia-se crise económica e financeira. Desta vez, foi na Universidade Católica, envolvendo três prestigiados economistas.

Pela enésima vez abundaram gráficos, números, razões da desgraça, diagnósticos, que sei seu?

Há muito que se sabe tudo isto, o problema é que ninguém aponta saídas/soluções para o buraco em que estamos metidos.

Desta vez também não se fugiu à regra tirando as já estafadas necessidades de reduzir os gastos do estado e aumentar as exportações. Pois, mas como, onde e quando?

Sala cheia como se, finalmente, as pessoas tivessem acordado duma longa letargia – pudera estão-lhes a ir ao bolso (só é pena que não reajam da mesma maneira quando lhes atingem a alma e o coração) – e não tivessem dado por nada e fossem alheias, ao que foi acontecendo no país ao longo dos últimos 35 anos…

Não serviu então para nada a sessão? Serviu, as pessoas levam tempo a consciencializar-se das coisas e o princípio leninista de que uma mentira repetida muitas vezes, passa a verdade, nunca mais deixou de fazer escola. Agora, não estiveram a discutir o cerne da questão. O cerne da questão não é a economia nem as finanças, mas sim a política. Nós não temos uma crise económica e financeira, temos é uma dramática crise política. Melhor dizendo, nós temos problemas económicos e financeiros, mas estes derivam e são consequência de uma crise profunda, da política e dos políticos. E sem se resolver aquela e estes, não se pode acudir ao resto. Daí a principal razão pela qual os economistas não se atrevem a apresentar soluções...

Aliás tudo, mas tudo, o que os oradores disseram, apontava para isto mas, objectivamente ninguém o referiu. Como, de igual modo, a uma pergunta de um general, que estava na assistência, sobre a qualidade e responsabilidade dos políticos sobre a “crise”, nenhum dos membros da mesa se dignou dirigir-lhe uma palavra!

Houve até, um comentador aos conferencistas, que afirmou várias vezes (desculpou?), que a maioria das asneiras feitas, terá sido feita com boas intenções. Pois é, meu caro senhor mas, como sói dizer-se de boas intenções está o inferno cheio!... E isso não retira responsabilidades aos fautores.

De facto, existe uma crise política que tem três vertentes principais: a qualidade do sistema político em si (que é mauzinho, graças a Deus!); o modo como se põe em funcionamento o sistema político (que é ainda pior…) e a qualidade dos políticos que o servem, melhor dizendo, que dele se servem!

Isto tem tido duas resultantes: uma crise de moral pública e muitos casos de polícia. A crise de moral pública funda-se no relativismo moral que leva à bandalhice dos costumes; os casos de polícia resultam da impunidade que as prevaricações do dia a dia registam, a que não é alheio a alínea anterior e a ineficácia do sistema judicial (entretanto blindado para garantir a corrupção e status quo político). Ora os corruptos e os ladrões têm que ser presos onde não existam estatutos de privilégio, onde se trabalhe no duro, não haja TV, ginásios, telemóveis, droga e salas para actos sexuais aprovados. Não pode, pois, ser numa prisão portuguesa, tem que ser numa prisão a sério!

Uma outra questão fundamental que também cai na área política é que a economia não deve ser encarada como um fim em si mesmo. Tem que derivar de uma política e ser instrumento de uma estratégia. Do mesmo modo, o sistema financeiro deve ter como objectivo apoiar a economia e dar resposta a preocupações sociais e não servir apenas para especulação bolsista (ou outra), apoiar o consumo e engordar banqueiros.

Por tudo isto entende-se a dificuldade dos economistas (que qualquer dia são mais que os consumidores…) – dando já desconto a que não existem dois que se entendam sobre seja o que for – em apontar soluções para o futuro. Tinham que entrar em opções políticas em que não se querem comprometer. Sabendo de antemão – até foi dito que os políticos não se emendam – que só uma ditadura de homens honestos e competentes (uma espada servida por um pensamento, como diria o Eça), poderá fazer sair o país do atoleiro em que está (os países ocidentais, note-se, não estão melhores). Mas isso só apoiarão quando for tarde demais, ou já estiver em curso.

1 comentário:

joaquim disse...

Concordo totalmente contigo!

E se juntarmos à fraca qualidade dos politicos, a fraca Constituição por eles feita, que é um arrazoado de normas que mais parecem um "código penal" do que um enunciado de principios, temos o país que temos.

Um abraço amigo
Joaquim Mexia Alves