O CONCEITO DE PAÍS EM HELICÓPTERO ESTACIONÁRIO
24/12/16
“Elegeu deus Pastor à sua grei (…) Conforme e junto
o Povo nua vontade/Num só, por bem comum, pôs
seus poderes.”
António Ferreira, Carta a El-Rei D. Sebastião.
“Antes de
alguém ser levantado Rei de Portugal, jure
primeiro guardar os privilégios, liberdades e foros da
Nação.”
D. João IV, Alvará de 9/9/1647.
Imagine-se um
helicóptero – máquina que até os ministros da defesa que temos tido, devem ter
uma ideia do que seja.
O helicóptero é uma
aeronave estranha e tudo nele está concebido (aparentemente) para não voar. E,
no entanto, voa!
Uma das coisas que faz
na perfeição – enfim dependente do “helioto” que vai lá dentro – é a manobra de
“estacionário”. Quer isto dizer, que a máquina fica suspensa na atmosfera, não
se movendo nem para cima nem para baixo, tão pouco para a frente ou para trás.
Fica assim até que
o piloto (isto é, o helioto – que é uma forma carinhosa de os tratar) caia para
o lado ou o combustível se esgote.
Assim parece
acontecer, por antonomásia, com um país “sui generis” a que chamaram Portugal.
Um país onde faz
décadas, os “heliotos”, ou seja, os políticos da partidarite, que são a face do
poder, se revezam aos comandos, sem se cansarem, ligando amiúde o piloto automático
dos impostos; ao passo que tentam por todos os meios, reabastecer-se no ar, com
combustível (dinheiro) que pedem emprestado e não conseguem pagar (ou vão
pagando com novos empréstimos).
Arte, esta, em que
se especializaram e que só encontra paralelo na exímia aldrabice, sem vergonha,
com que dizem hoje uma coisa e logo a seguir o seu contrário.
Às vezes nem passam
24 horas…
Ora tempos existem,
em que os fornecedores de “combustível” se cansam dos calotes e cortam o
fornecimento.
Foi o que aconteceu
em 1977, 1983 e 2008, devendo faltar pouco para acontecer novamente.
Nestas ocasiões o
helicóptero, que não ia para lado nenhum, estatela-se e parte-se.
A cena vai-se
repetindo.
Tudo isto está
relacionado com a frase que poderia servir de subtítulo, ao escrito: Onde é que
está o Poder em Portugal?
Aparentemente não
está em lado nenhum.
Tudo começa na
nossa “virtuosa”, mas incompetente (e antidemocrática) Constituição (CR), uma
verdadeira balzaquiana precoce, que acabou de fazer 40 anitos!
Expliquemo-nos:
Quem foi concebendo
a CR entendeu montar um regime – não estou a referir-me sequer, aos laivos "comunistóides"
de cariz totalitário – em que tudo estivesse em equilíbrio e cheio de contra
pesos.
Isto é, um regime
em que ninguém pudesse ter autoridade, ou seja, pudesse exercer o Poder.
O tal país em
estádio de helicóptero em estacionário…
Começaram por
estabelecer o semipresidencialismo, ou seja, os poderes ficaram divididos entre
o PR e o Parlamento (com uma ligeira vantagem para este último) e o Governo
entalado entre ambos.
Não é carne nem é
peixe…
Repescaram em
seguida a velha fórmula jacobina do Montesquieu, tentando encontrar um
equilíbrio entre o Poder Executivo, o Legislativo e o Judicial – com cada um a
puxar inevitavelmente para seu lado – mas deixaram passar uma “lei de imprensa”
que permite a mais despudorada demagogia, propaganda, manipulação, controlo
financeiro, etc. e deixa, benevolamente, que os órgãos de comunicação social –
que ninguém elegeu, influenciem (e outros por eles), tudo e mais alguma coisa.
O sistema judicial
– que é ainda, nos últimos tempos, o único que tem tentado impor alguma
moralidade no sistema, isto é, no cancro da corrupção – uma questão moral não
contemplada em peça alguma de legislação – está eivado também, de erros de
organização e submetido a leis demasiado liberais e cheias de “garantias” e
alçapões onde os criminosos e menos escrupulosos vão cevar as suas manhas; é de
uma morosidade paquidérmica; acessível, por cara, apenas a uma minoria de
portugueses e em conflito sistémico entre Procuradores e Magistrados. É ainda,
insaciável de recursos.
Porém, quem manda
efectivamente é o poder do dinheiro, o sistema que o gere e as famílias que o
dominam. E tudo isso está fora das nossas fronteiras (se é que esse conceito
ainda existe…).
Os Partidos
Políticos – o tumor mais maligno do Regime - vivem em “guerra civil” permanente
e são apenas máquinas de bota abaixo. Não evoluem nem se reformam.
Naturalmente que o
Parlamento está refém dos Partidos onde passam a imperar as diatribes e as
negociatas – não foi por acaso que o conhecido apostrofador da corrupção, o Dr.
Paulo Morais, teve a serena coragem de denunciar no seu interior, como sendo o
maior antro de promiscuidade existente entre os interesses públicos e privados,
e nem uma reacção de protesto suscitou.
O Parlamento há
muito que é uma instituição perfeitamente desqualificada!
A concertação
social, raro concerta algo e é sempre por pouco tempo. Parece que os seus
membros vivem em campos opostos, como se pudessem viver uns sem os outros ou
contra os outros.
Os Sindicatos em
vez de serem organizações livres de trabalhadores, destinados a concertar e
resolver problemas de trabalho e usando a greve em último (e raro) recurso,
permite-se-lhes que sejam correias de transmissão de Partidos Políticos e usados
como arma de arremesso político.
Permitem-lhes até,
que paralisem o maior porto do país por tempo indeterminado….
A Instituição
Militar e a Diplomacia foram cerceadas de quaisquer poderes ou influência,
limitando-se a existirem sem se dar conta deles, a não ser por algo que corra
mal.
Idem, para as
grandes instituições académicas e culturais centenárias que são, ou deviam ser,
esteio da sociedade.
Por outro lado,
envolveu-se todo este nebuloso edifício por uma miríade de organismos;
entidades reguladoras ou fiscalizadoras; órgãos de conselho e de inspecção;
observatórios e fundações, eu sei lá que mais, com as mais diversas
competências e autoridade (ou sem ela), que se atropelam uns aos outros, e sem
qualquer resultado positivo a não ser gerar ruído, confusão e consumir
recursos.
Porém, alimentando
uma fauna de serventuários e apaniguados da tralha partidária, na sua maioria
absolutamente dispensáveis e inúteis!
Poderia continuar,
mas creio já ter ilustrado o que se deve entender por “país em estado de
helicóptero estacionário”!
Notem que até as
maçonarias (regular e irregular), não se entendem, para além de tentarem
infiltrar transversalmente o centrão da massa partidária; cargos directivos da
Universidade; Forças Armadas; Diplomacia; aparelho judicial e, sobretudo, os
Serviços de Informações.
O PCP e BE tentam,
cada um à sua maneira, subverter tudo e a Igreja Católica é saco de pancada de
todos. Todos os três são mutuamente exclusivos…
Se agora passarmos
do plano nacional para o da União Europeia, entramos no âmbito da demência
colectiva.
Em Portugal a nossa
querida CR ainda nos impõe (artigo 288,alínea b) que vivamos em “República”,
bem como outras blindagens a que chamaram “limites materiais da revisão”. Vá lá
que não lhes deu para a “Sharia”…
Finalmente
envolve-se tudo isto numa linguagem de elixir democrático e tenta-se fazer crer
à população – que vive na sua maioria na mais negra ignorância do que se passa
à sua volta – que ela é que influencia o decorrer dos acontecimentos ou até
consegue escolher quem os governa!
*****
Está tudo errado
(pronto, ok, está quase tudo errado).
Saponária e
simplificação precisam-se. Algum Patriotismo não ficava mal, também.
No nosso caso a
fórmula é até, simples: Portugal, isto é, a Nação e a Pátria Portuguesa (e
respectivo território), deve ser a matriz, o alfa e o ómega, de tudo.
Para nos
organizarmos e entendermos, não precisamos de seguir ideologias, doutrinas ou
modelos estranhos, raiz de quase todos os problemas de antanho.
Mas necessitamos de
estar sempre atentos aos ditames da Geopolítica e da Estratégia (não, não tem
nada a ver com aquilo que os senhores da bola, falam…).
É urgente
simplificar estruturas e torná-las operativas, não de as multiplicar (a tal
reforma do Estado, de que se cansam a falar, mas onde não se mete estopa nem
prego); dar autoridade (que é o que permite a decisão e um rumo) a quem tem que
a ter para governar efectivamente e descentralizar o mais possível,
responsabilizando.
As matrizes,
cultural e Moral, têm que ser as nossas (não a de outros, como os adeptos do
multiculturalismo defendem), e as estruturas organizativas e as leis, devem ser
aquelas que sejam apropriadas a portugueses, não a esquimós, ameríndios ou
berberes (tão pouco a alemães)!
E, em tudo isto, o
colectivo deve preferir ao individuo; o Direito Natural ao Racionalismo e o
Espírito à matéria (ui, estas feridas doem…).
Não se devem ainda
procurar soluções para o nosso devir coletivo, em termos de Segurança, Justiça
e Bem-Estar (a ordem dos termos não é arbitrária!) – que são a funções
clássicas (e utópicas) do Estado, por ser isso o que todos nós procuramos – em
termos capitalistas, comunistas, socialistas, fascistas, ou outros “istas”
quaisquer. Tais teorias só servem para dividir, baralhar, guerrear, etc. e
nunca resolveram problema algum da Humanidade, ou de um povo.
Nenhum modelo de
organização politica é, ou será perfeito, mas um modelo municipalista como o
consolidado nas Cortes de Leiria, de 1254, com a interacção das “Corporações”,
e das grandes instituições nacionais, mantendo um conceito gibelino para a
eleição do Chefe de Estado – no sentido da tradição nacional, que vem de
Ourique e se Implantou definitivamente após as Cortes de Coimbra de 1385, em
que a figura do monarca é de origem portuguesa e que mesmo sendo de origem
divina, tem de ser aclamado pelo povo - talvez seja o modelo mais adequado ao
país que fomos e somos.[1]
Mas parece que
ninguém está interessado em discutir coisas sérias.
João José
Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
[1] Embora tenha claudicado pela força da corrupção e das armas
espanholas, nas Cortes de Tomar, de 1581. Também, na Constituição de 1911, que
estabelecia que o PR era eleito indirectamente pelo Parlamento.
2 comentários:
Por falar em CRP(de 76),um dos "grandes" apoiantes foi o actual inquilino de Belém (o afectuoso universalista e ex-comentador prof Marcelo).---------------------------Afonso Manuel
Impossível fazer qualquer adenda a esta genial, objectiva e competente explicação, do porquê do estado e decadência deste pobre país. Resta-me apelar sim, para aqueles que publicamente se passeiam e passearam de bandeira nacional à lapela (presumem-se patriotas...?)que façam realmente alguma coisa. A não ser assim, isso só pode ser conotado com traição.
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