domingo, 23 de outubro de 2016

UMA BALSA À DERIVA, CHAMADA PORTUGAL






UMA BALSA À DERIVA, CHAMADA PORTUGAL
21/10/16


“É necessário um sabre tendo ao lado um pensamento”.
Eça de Queirós, 1890.


            O recente despacho do Ministro da Saúde, datado de 28 de Setembro, que obriga os hospitais a controlar a despesa, obrigando à autorização prévia de qualquer “investimento” (o que inclui, por exemplo, a reparação de um equipamento), é o mote deste escrito.
            Salazar equilibrou as finanças em menos de dois anos.
            É certo que o “deficit” e a dívida, não eram tão elevados como hoje, mas não deixa de ser certo que o país estava a sair de 18 anos de granel, quarteladas mensais e bombas nas ruas.
            A banca internacional já existia, mas não existia o BCE, nem o euro.
            A “Troika” da altura (a Sociedade das Nações) quis impor-nos condições leoninas, mas estas foram rejeitadas. O que se conseguiu “iludir” e ultrapassar foram a grande depressão de 1929 e a crise da libra de 1931…
            Salazar impôs uma ditadura financeira, que estava apoiada nas baionetas da grande maioria dos militares e não tinha a cáfila do compadrio e, ou, querelas partidárias a estorvá-lo – os grandes causadores da crise em que o país então se encontrava.
            Hoje, isto é, desde 2010, também se ensaiou uma ditadura financeira só que o modo como se quer resolver “a crise” é em tudo diferente, do que se passou há quase cem anos. E é diferente para pior, mesmo pondo de parte a diferença de categoria entre os protagonistas de então e os actuais.
            Agora as forças políticas que querem resolver o buraco e o desregramento financeiro existente são as mesmas que o criaram com a sua incompetência, demagogia, antipatriotismo e incontinência para o negócio (já nem falo noutras coisas); estão prisioneiros da tralha partidária; não existe doutrina nem rumo definido, fora as alterações constantes derivadas das eleições; dizem hoje uma coisa e amanhã outra, com a maior desfaçatez; estamos tolhidos por tratados internacionais que nunca deveríamos ter assinado e é raro encontrar na classe política e órgãos de soberania, quem dê o exemplo de contenção, justiça relativa e moralidade.
            Os recentes anúncios dos vencimentos dos novos administradores da Caixa Geral de Depósitos, por ex., são de uma escabrosidade inusitada! E não há pingo de demagogia no que estou a dizer: a brutalidade da afirmação apenas condiz com a gravidade do erro, da injustiça e da imoralidade!
            Ora ninguém vai atrás, ou está de boa vontade, com aqueles que não dão o exemplo.
            Enquanto ministro das finanças e depois como presidente do conselho de ministros, Salazar inspirou ou propôs muitas leis, mas assim que estas eram decretadas ele era o primeiro escravo delas.
            As leis foram sempre poucas mas eram maturadas, não continham excepções nem “alçapões”, estavam escritas em bom português e não havia recurso a “outsourcings”.
            Mas a verdadeira diferença que pretendo trazer à colação com o recente exemplo deste despacho da “geringonça” – até este termo se coaduna com as trapalhadas actuais e contrasta com a seriedade de antanho – é o que ele representa.
            Notem, o “tio” António, impôs limites estritos nas diversas rubricas do orçamento de cada ministério, e nenhuma despesa extra era permitida sem a sua chancela, mas não interferia na gestão que os diferentes responsáveis faziam das verbas que lhes cabia gerir.
            Hoje é o que se vê, um director hospitalar não tem competência para comprar um rolo de papel higiénico, da mesma forma que um general chefe de estado-maior não consegue promover um soldado sem a anuência de um amanuense qualquer, do Ministério das Finanças.
            E o “outro” é que era um ditador!...
            Tudo isto, além de entupir os canais hierárquicos e burocráticos, desautoriza toda a estrutura dos diferentes ministérios e não só, trata toda a gente abaixo da menoridade mental e desmoraliza qualquer pobre de Cristo, o qual na melhor das hipóteses se senta a um canto e deixa o tempo correr.
            É uma clara demonstração de incompetência, arrivismo, desconfiança e falta de saber e capacidade em responsabilizar seja quem for, pois é disso sobretudo, que se trata.
            É uma clara demonstração de fraqueza, escondida atrás do maior absolutismo esclarecido, que deixaria o Sebastião José - também conhecido por Marquês de Pombal - com as faces ruborizadas!
            De facto não há sabre nem pensamento que nos salve; apenas existe uma balsa sem leme nem timoneiro e com os ocupantes a baterem nos remos uns dos outros.
            Iremos parar, pois, onde a “corrente” nos levar…
            Vamos, porém, contentes, pois conseguiram meter na generalidade das cabeças, que esta calamidade moral e política onde vegetamos se chama um “estado de direito democrático”.




                                                                          João José Brandão Ferreira
                                                                             Oficial Piloto Aviador

3 comentários:

Manuel Álvares disse...

Mais uma análise fora da caixa. O barco está sem arraes, mas o meu pai que foi marinheiro e correu todo o mundo português de outrora, costuma dizer um ditado: "Um barco com muitos arraes dá sempre à costa" e "Haja alguém que mande e que mande bem".

Quando chegou a República, a sabedoria popular contava esta anedota:
- Chegou a República! Agora mando eu, mandas tu e manda toda a gente!
- Então e eu que sei mais uma letrinha, não mando mais um bocadinho?

Enfim, a gente também tem de rir um bocado.

Anónimo disse...

http://averdadequeamidianaomostra.blogspot.pt/2013/07/explicando-os-termos-usados-pelos.html termos usados pelos esquerdistas.------Afonso Manuel

Anónimo disse...

Sr. Tenente Coronel Brandão Ferreira

Muito apreciei o seu texto.
A propósito, e com a devida vénia, transcrevo este texto que circulou hoje, no Google Notícias:

"A Caixa Geral de Depósitos arrisca perder 900 milhões de euros em operações empresariais no caso La Seda, após decisões tomadas durante o governo de José Sócrates e a gestão de Armando Vara e Carlos Santos Ferreira, noticia esta quarta-feira a imprensa nacional. Há dez anos, a CGD recebeu orientações políticas no negócio que é um dos casos mais ruinosos que António Rodrigues tem para resolver."

Ler mais em: http://www.cmjornal.pt/economia/detalhe/cgd-com-900-milhoes-de-euros-em-risco?ref=HP_TickerCMAoMinuto

PERGUNTA-SE:

NINGUÉM É CHAMADO À RESPONSABILIDADE?
NINGUÉM REPONDE POR ISTO?
BELA DEMOCRACIA!

Meus cumprimentos
Manuel Alves