Já há algum tempo que pensava
escrever sobre a tragédia por que passam inúmeras comunidades cristãs
espalhadas pelo mundo, maioritariamente em países comunistas e islâmicos,
nomeadamente no Médio Oriente.
Surgiu agora a oportunidade com a
visita do Patriarca Latino de Jerusalém, D. Fouad Twal, que este ano presidiu
às celebrações do “13 de Maio” em Fátima e foi razão para um pequeno colóquio,
em que deveria ser a figura principal, realizado na Universidade Católica no
dia seguinte.[1]
Esta organização foi da iniciativa
do Instituto de Direito Canónico da citada Universidade, presidido pelo Cónego
Doutor João Seabra, uma das vozes corajosas da Igreja Portuguesa e que, em
simultâneo, diz coisas acertadas.
O Patriarca de Jerusalém que tem,
ainda, a ciclópica tarefa de pastorear as comunidades cristãs, dos mais
diferentes ritos, em 16 Estados da região, fez uma curta e sentida intervenção,
onde acabou a fazer uma apelo aos portugueses, à sua Igreja e aos órgãos de
soberania, para ajudarem e influenciarem os países da UE, na resolução dos
conflitos no Médio Oriente e, sobretudo, na protecção e defesa dos cristãos
daquelas paragens.
Os quais, como alguém disse
durante a sessão, apenas têm contado com a Igreja e a Santíssima Trindade…
De facto a falta de interesse da
“Comunidade Internacional” invocada pelo Patriarca – mas Senhor Patriarca o que
será isso da Comunidade Internacional? – sobretudo, pelos países de maioria
cristã (digo eu), pelas atrocidades que um pouco por todo o lado, têm sido
cometidas contra comunidades cristãs, tem sido pasmosa.
No Médio Oriente, por ex., estão
todas a desaparecer em virtude das guerras e perseguições que se sucedem sem
cessar, que levam a morte e o sofrimento, fazendo com que muitos optem pelo
estatuto de emigrante ou refugiado. E nada disto encoraja a procriação…
A falta de protecção política,
económica e, até, militar é dramática – para não dizer pouco cristã – já para
não falar na falta de interesse, quiçá desprezo, com que a maioria dos OCS do
mundo chamado “ocidental” lida com este fenómeno.
Os cristãos, de facto, viraram
seres descartáveis que, aparentemente, só terão direito a sobreviver em
catacumbas…
Menos se compreende tudo isto,
quanto a Cristandade tem dado, desde há muito, a maior abertura e tolerância no
âmbito religioso; a Igreja Católica tem sido a única a pedir desculpas por
excessos do passado – onde ninguém tem as mãos limpas – e exemplo na
aproximação ecuménica e entre religiões; os governos ocidentais, nomeadamente
europeus, têm facilitado, até para além do razoável, o estabelecimento e
desenvolvimento de comunidades de outras religiões, sem qualquer contrapartida,
noutras partes do mundo, nomeadamente muçulmano.
Ainda, quando se constata uma
lamentável dualidade de critérios na análise e reacção a eventos que vão
acontecendo, como os recentes e graves incidentes ocorridos na Nigéria, com o
rapto de duas centenas de moças, por parte de uma organização terrorista islâmica,
ilustram à saciedade.
Não existe réstia de comparação
quando se queimam cristãos dentro de igrejas, por exemplo…
Note-se que neste caso, das moças
raptadas e sob a ameaça de serem vendidas como escravas – um cenário burlesco
se não fosse trágico – as primeiras figuras das principais potências ocidentais
vieram a público mostrar a sua indignação e prometer ajuda dando, por outro
lado, a sensação que estão desejosos de utilizar o pretexto para intervirem na
região por outros motivos menos filantrópicos…
Lamentamos ter de desiludir o Senhor
Patriarca, mas não antevemos que nenhum país europeu vá em auxílio dos seus
irmãos em Cristo, pela simples razão de que a “União Europeia” está moral e
espiritualmente destroçada. A UE precisa sim, é que a ajudem a arrumar as
diferentes casas europeias, pois não existe casa comum alguma a não ser os
"corredores" pouco recomendáveis de Bruxelas e Estrasburgo. Até a sua
matriz cristã renegou…
Sabe Senhor Patriarca, a Ordem do
Templo foi extinta, sem piedade, há muito, e não se vislumbra em toda a Europa
nenhum Bernardo de Claraval para definir uma estratégia comum e concertada.[2]
Permita que o aconselhe a
escrever a um tal de Putin, lá para as bandas do antigo Ducado da Moscóvia,
pelo menos para a defesa dos cristãos ortodoxos, tem grandes hipóteses de obter
sucesso.
Em Portugal, caríssimo Patriarca,
as coisas ainda estão piores, sabe!?
Em 40 anos sofremos uma tal e tão
catastrófica diminuição de capacidades, a todos os níveis; sofremos uma
regressão e perversão tão grande no campo dos Princípios, que mantêm uma
comunidade nacional coesa e sã; e estamos tão falhos de liderança política, que
o Moral anda pelas ruas da amargura de tal modo que o máximo divisor comum
passou a ser o “isto não tem concerto”…
“Isto” costumava ter o nome de
Portugal.
Para atendermos ao seu pedido,
tínhamos que restaurar, na sua plenitude, as Ordens de Cristo, Santiago e Avis
e substituir todos os partidos políticos por elas…[3]
A tarefa como pode imaginar –
apesar de compreender que possa conhecer mal o percurso dos nossos nove séculos
– não é nada fácil.
É que este estranho povo, a meio
da sua História, perdeu-se, isto é, passou a escolher mal alguns caminhos.
Como penso que saberá as Ordens
Militares/Religiosas citadas, foram fundamentais para a independência,
consolidação e alargamento deste antigo reino; formaram grande parte das suas
elites e moldaram muito do seu carácter e da sua religiosidade, ou seja, da sua
idiossincrasia.[4]
Por isso sempre foram respeitadas
pelos Reis e acarinhadas pelos restantes “braços” do Reino.
Até que um rei, certamente mal
avisado, encarregou um frade de reformar as ditas ordens, em 1529, tornando-as
orantes, enclausurando-as e retirando-lhes todo o poder que detinham.
Uma outra Rainha, apesar de lhes
querer restaurar o prestígio, secularizou-as, em 1789, tentando ainda
harmonizá-las e fixar-lhes objectivos específicos; os monarcas portugueses
passaram a ostentar a banda das três ordens.
Depois a desgraça consumou-se na
sua plenitude, quando no fim da pior guerra civil que o país dos portugueses
sofreu, um governo eivado do mais fino jacobinismo, pura e simplesmente
extinguiu todas as Ordens Religiosas. Corria o ano de 1834.
Restou o seu carácter honorífico.
Finalmente, a República começou
por as extinguir como tal, em 1910, mas reverteu a situação durante a I Grande
Guerra, fixando na pessoa do PR, o título de Grão - Mestre das mesmas e a
autoridade para as atribuir.
E o pior de tudo, Sereníssimo
Patriarca, é que cerca de 95% da população já nem faz a menor ideia daquilo que
está para trás. E devo estar a ser optimista.
Deus o abençoe na sua prestimosa
tarefa - que se afigura um verdadeiro Calvário - e pode acreditar que o
ajudarei de boa mente, naquilo que puder.
Peço-lhe apenas que também deixe
cair uma oração por este canto mais ocidental (e não do Sul) da Europa.
Acredite que precisamos.
[1] D. Fouad Twal, de nacionalidade Jordana, ocupa o cargo desde 2008 e é, também Grão - Prior da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém. O Patriarcado de Jerusalém foi criado, nos tempos modernos, pelo Papa Pio IX, em 23/7/1847. A Arquidiocese tem sede na Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém e jurisdição eclesiástica sobre Israel, Palestina, Chipre e Jordânia. Deve acrescentar-se que apenas existem mais três patriarcas em todo o mundo: Veneza, Lisboa e o Patriarca das Índias Orientais.
[2] Extintos no Congresso de Vienne, em 1311, note-se, por um Papa, Clemente V, que devido às suas fraquezas permitiu que o muito pouco cristão e endividado Rei de França, Filipe IV, o Belo, exorbitasse e concorresse em tal vilania. Felizmente o Rei D. Dinis iludiu esta directiva, transformando o Templo em Ordem de Cristo, em 1319.
[3]
A Ordem dos Hospitalários teve origem em Jerusalém, em 1099, e a sua primeira
casa em Portugal, em Leça do Balio, estabelecida entre 1122 e 1128. O seu
Superior no nosso País era conhecido pelo Prior do Hospital e desde o reinado
de D. Afonso IV, por Prior do Crato. É conhecida hoje em dia, por Ordem Soberana e Militar
de Malta, tendo a sua sede em Roma.
[4]
As Ordens Militares conheceram o seu maior desenvolvimento na Idade Média tendo
obtido grandes mercês dos nossos primeiros reis, e ainda no século XV. O
preclaro Rei D. Dinis “nacionalizou-as”, de modo a garantir que todos os
Grão-Mestres fossem portugueses; D. João I começou a torna-las reais, processo
que ficou concluído com D. Afonso V.
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