Publiquei os dois artigos seguintes, em Fevereiro de 2007,
na sequência do concurso televisivo, meio idiota, para apurar quem
seria o melhor português de sempre.
Aristides Sousa Mendes ficou em terceiro lugar...
A propósito das recentes declarações do Embaixador de Israel
e do filme sobre a figura do antigo cônsul português em Bordéus, estreado
no passado dia 8/11/12, aqui se republicam sem alterações.
Reedição
10/11/12
Há
muito tempo que pensava escrever sobre Aristides de Sousa Mendes (ASM). Ou
melhor sobre o que alguns escribas da nossa praça têm escrito sobre ele e a
propósito dele. A gota de água chegou agora com a inclusão do seu nome na lista
dos 10 portugueses (nesse incrível concurso), de que sairá o mais “insigne” de
todos nós (!) e da que, a propósito, escreveu o Dr. José Miguel Júdice (JMJ)
(Público 19/1/07). Antes de entrar na matéria de facto convém colocar as
seguintes questões: como é que alguém que até há meia dúzia de anos era
desconhecido de 99,9% dos nacionais, aparece entre os supostamente 10 melhores
portugueses de sempre? A quem é que isso, eventualmente, serve? É o que vamos
tentar dilucidar.
ASM tem origem numa família portuguesa, cristã nova, do distrito de Viseu (Cabanas de Viriato), nobilitada no século XVIII.
A família de ASM estava perfeitamente inserida no regime do “Estado Novo”. ASM era casado e tinha numerosa prole (12 filhos). Dotado de alguma instabilidade de temperamento tinha dificuldade na gestão das suas finanças a que não seria alheia a sua tendência para o jogo. Daqui resultaram vários problemas e dificuldades.
ASM tem origem numa família portuguesa, cristã nova, do distrito de Viseu (Cabanas de Viriato), nobilitada no século XVIII.
A família de ASM estava perfeitamente inserida no regime do “Estado Novo”. ASM era casado e tinha numerosa prole (12 filhos). Dotado de alguma instabilidade de temperamento tinha dificuldade na gestão das suas finanças a que não seria alheia a sua tendência para o jogo. Daqui resultaram vários problemas e dificuldades.
ASM
tinha um irmão gémeo, César de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, que foi um
embaixador respeitado, inclusive, por Salazar, de quem tinha sido companheiro
no CADC [1], em Coimbra. Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros
(MNE), entre 5/7/32 e 11/4/33. Este irmão, que era embaixador em Varsóvia,
quando a Segunda Guerra começou, e teve que se vir embora a muito custo era
quem, normalmente valia a ASM nas suas aflições.
ASM,
que também tinha seguido a carreira diplomática, era Cônsul de Portugal em
Bordéus, em 1940, ano em que a França foi vencida militarmente pela Alemanha,
em apenas 30 dias.
A
perseguição que os regimes nacional - socialista, alemão e fascista, italiano
(e seus satélites) passaram a fazer aos judeus (e não só a estes, convém
lembrar) levou a que muitos refugiados fossem bater à porta dos países neutrais
– que era o caso de Portugal - na esperança de obterem protecção e daí
procurarem meios de atingir a Inglaterra e os EUA, países que a maioria
pretendia alcançar.
O
governo português anuiu tacitamente na concessão de vistos, por razões humanitárias,
desde que os refugiados alegassem terem ascendência portuguesa (lembra-se que
Salazar era MNE no período da II GM).
Ora
esta condição afigura-se-me apenas como mera justificação formal, que
prevenisse eventuais problemas internacionais, do que medida a ser levada à
risca, já que nem parece que alguma vez fosse escrita. Isto porque a maioria
dos eventuais descendentes de judeus portugueses seriam do ramo Sefardita o que
não era o caso dos judeus do centro e norte da Europa, na maioria Askenazin.
Conhece-se
o nome de vários diplomatas portugueses que passaram vistos: o Embaixador
Sampaio Garrido (pai) ministro em Budapeste a partir de 27/7/39 e do Embaixador
Teixeira Branquinho, que esteve à frente da mesma Legação, a partir de 25/4/44;
o Cônsul em Berlim, de 17/9/41 a 13/4/45, Mário de Faria e Melo Duarte (tio do
poeta/deputado Manuel Alegre – regista-se como curiosidade); o Ministro em
Berna, de Jan/35 a 1945, Embaixador José Jorge Rodrigues dos Santos (genro de
Carmona); e ao que parece, é muito possível que o nosso Ministro em Ancara,
entre Fev. de 41 e 1944, Calheiros e Menezes, também o tivesse feito.
Não
se sabe ao certo quantos vistos foram concedidos, mas calcula-se que, no
cômputo geral, tenham atingido vários centenas de milhares.
Como
se pode constatar não foi só ASM que passou vistos a refugiados judeus e
outros, nem tal era proibido nem sequer contrariado pelo governo português de
então.
O
problema surgiu quando os governos de Berlim e Londres se aperceberam da enorme
quantidade de refugiados que chegavam. Na sequência, o embaixador alemão em
Lisboa, reportou preocupação pelos problemas que tal estaria a causar, com
implícitas ameaças de retaliação. E o embaixador inglês alertou, também, para a
questão (tinham inclusive receio de que entre os refugiados se infiltrassem
agentes alemães).
Foi
então que Salazar revê o assunto e mandou instruir todas as legações
portuguesas aconselhando prudência e rigor na avaliação dos pedidos de vistos.
ASM
não observou as instruções, foi chamado a Lisboa e alvo de um processo
disciplinar, por desobediência.
Depois
foi suspenso (mas nunca demitido), aguardando aposentação. ASM casou segunda
vez mas nunca mais conseguiu refazer profissionalmente a sua vida, vivendo com
dificuldades financeiras, até ao fim dos seus dias. O caso caiu, naturalmente,
no esquecimento.
Até
que durante o primeiro consulado do Dr. Jaime Gama como MNE, a jornalista Diana
Andringa (e depois dela, outros), tentou consultar o processo de ASM. Como o
processo era confidencial, a autorização foi negada. Envidaram-se então
esforços para que o processo fosse desclassificado. Correram os trâmites e já
no tempo de Durão Barroso como MNE, foi autorizada a desclassificação da
documentação referente a ASM. A partir daqui não mais deixaram de aparecer
artigos, documentários e parafernália vária, relativa à figura e acção de ASM.
Sempre
se destacando a humanidade da sua acção em contraponto à violência do regime, o
enaltecimento da sua desobediência versus a perfídia da postura do governo
português da altura, a justiça das suas ideias e acção, em contraste com a
dureza e violência do seu tratamento posterior.
Ou
seja, está encontrado o primeiro objectivo do ressuscitamento de ASM: atacar e
denegrir a figura e obra do Professor António de Oliveira Salazar.
E
tudo isto tem sido feito com uma grande desonestidade intelectual, para
ficarmos só por aqui.
Em
primeiro lugar porque se manipulou dados, se recorre a inverdades e se torcem
intenções.
Tenta-se
julgar os personagens e os eventos, segundo os ditames morais e intelectuais de
agora e não pelos da época;
Tão
pouco se tenta enquadrar a actuação dos intervenientes na conjuntura muito
delicada e perigosa em que se encontrava Portugal e os portugueses.
Ora
a nós parece-nos que a actuação do governo português de então foi corajosa,
humana, ponderada e inteligente. E que a sanção que foi atribuída a ASM parece
equilibrada e justa. E estamos em crer que, se hoje em dia, um diplomata
fizesse o que ASM fez, o procedimento do Estado Português para com ele, seria
idêntico.
No
meio de tudo isto parece-nos que JMJ – para além da falta de informação que já
começa a caracterizá-lo – é utilizado em toda esta trama como um ingénuo útil.
Em
conclusão, podemos convir em que parece fora de dúvida que o enaltecimento de
ASM, serve a causa de quem quer atacar Salazar. Em próximo escrito daremos
pistas para outros interesses.
[1] Centro Académico da Democracia Cristã.
ARISTIDES DE SOUSA MENDES: AS ORIGENS DO MITO. PARTE II
A
“ressurreição” da figura de Aristides de Sousa Mendes (ASM), do modo como tem
sido feita parece indiciar servir os propósitos dos interesses judaicos no
mundo, quiçá, também dos ideais sionistas. Convém alertar os leitores para isto
pois uns e outros não são a mesma coisa.
Seria
interessante conhecer melhor, eventuais ligações destes interesses com quem tem
escrito sobre este assunto.
A elevação da acção de ASM, permite contribuir para a imagem do povo judaico no mundo – vitimizando - o - garantindo em simultâneo uma condenação de quem os perseguiu ao longo dos tempos. ASM encaixa bem nisto: tem origem numa zona do país com elevada percentagem de sangue judaico, quando a Inquisição espanhola a mando dos Reis Católicos expulsou os Judeus, cerca de 50.000 fixaram-se na faixa de cerca de 80 Km do território português entre Bragança e Castelo de Vide (tendo sido bem recebidos por D. João II); ASM tinha ascendência judaica e apesar de ser católico e conservador tal não apagava os seus ascendentes “Cristãos Novos”.
Mais, a sua protecção aos refugiados judeus, provava até que estas reminiscências estavam bem vivas; a quadratura do círculo fechava-se, então, no auxílio que a comunidade israelita em Portugal prestou a ASM, nas vicissitudes por que passou desde que deixou a diplomacia; a sua acção, por ser à revelia do Estado Português, era a cereja em cima do bolo, já que este mesmo Estado foi sagrado inimigo da “nação” judaica desde o século XVI, por via da expulsão decretada por D. Manuel I a quem não se quisesse converter e subsequente perseguição pelo Tribunal do Santo Ofício, instaurado por D. João III.
A elevação da acção de ASM, permite contribuir para a imagem do povo judaico no mundo – vitimizando - o - garantindo em simultâneo uma condenação de quem os perseguiu ao longo dos tempos. ASM encaixa bem nisto: tem origem numa zona do país com elevada percentagem de sangue judaico, quando a Inquisição espanhola a mando dos Reis Católicos expulsou os Judeus, cerca de 50.000 fixaram-se na faixa de cerca de 80 Km do território português entre Bragança e Castelo de Vide (tendo sido bem recebidos por D. João II); ASM tinha ascendência judaica e apesar de ser católico e conservador tal não apagava os seus ascendentes “Cristãos Novos”.
Mais, a sua protecção aos refugiados judeus, provava até que estas reminiscências estavam bem vivas; a quadratura do círculo fechava-se, então, no auxílio que a comunidade israelita em Portugal prestou a ASM, nas vicissitudes por que passou desde que deixou a diplomacia; a sua acção, por ser à revelia do Estado Português, era a cereja em cima do bolo, já que este mesmo Estado foi sagrado inimigo da “nação” judaica desde o século XVI, por via da expulsão decretada por D. Manuel I a quem não se quisesse converter e subsequente perseguição pelo Tribunal do Santo Ofício, instaurado por D. João III.
Finalmente,
ASM pode ser elevado a “wallenstein” [1] português, contribuindo para alimentar a “indústria do
Holocausto” que tem o seu expoente maior nas bandas de Hollywood.
A
criação de uma eventual cabala contra Portugal (como se tentou a propósito do
ouro nazi) devia ser objecto de preocupação dos serviços de informação, sempre
pressurosos, aliás, na vigilância de patriotas e nacionalistas…
Os
descendentes familiares de ASM têm mantido uma postura prudente sobre tudo o
que tem sido agitado a propósito do seu antepassado. Existem apenas eventuais
interesses em restaurar o antigo palácio/residência familiar de antanho (há
quem queira lá fazer um museu) e apenas existe conhecimento de deslocações de
um dos filhos a Israel, o que à partida nada de conclusivo significa.
Sabe-se que muitos vistos para judeus foram obtidos em vários países, a troco de valores. Nenhuma suspeita de caso semelhante existe sobre a figura de ASM. Por isso, se ele passou vistos por dever de consciência, assumindo as consequências do acto, merece o nosso respeito, devendo-lhe ser reconhecido esse mérito. Mas tal não deve implicar nenhum ónus para as autoridades de então que se limitaram ao exercício das competências consignadas na lei, a fim de garantir o normal funcionamento dos serviços.
Promover ASM a um dos 10 melhores portugueses da nossa História é que me parece, digamos, curto e insensato.
Com pessoas destas eu vivo “com gosto num Portugal independente”, como aduz JMJ [2]. Já não vivo tão bem é com figuras que se aproveitam de casos destes para torcerem o fio da História e servirem interesses ínvios.
Sabe-se que muitos vistos para judeus foram obtidos em vários países, a troco de valores. Nenhuma suspeita de caso semelhante existe sobre a figura de ASM. Por isso, se ele passou vistos por dever de consciência, assumindo as consequências do acto, merece o nosso respeito, devendo-lhe ser reconhecido esse mérito. Mas tal não deve implicar nenhum ónus para as autoridades de então que se limitaram ao exercício das competências consignadas na lei, a fim de garantir o normal funcionamento dos serviços.
Promover ASM a um dos 10 melhores portugueses da nossa História é que me parece, digamos, curto e insensato.
Com pessoas destas eu vivo “com gosto num Portugal independente”, como aduz JMJ [2]. Já não vivo tão bem é com figuras que se aproveitam de casos destes para torcerem o fio da História e servirem interesses ínvios.
E
se considera tanto o valor humanitário de passar vistos a refugiados lembra-se
que na altura (1940-41), raras eram as pessoas no mundo que tinham conhecimento
dos campos de extermínio nazis (e já há muito que havia os “goulags” na
URSS!),é surpreendente que se tenha endeusado ASM e ignorado os restantes
colegas diplomatas que também passaram vistos!
Percebe-se
que Álvaro Cunhal – que sempre se comportou como um agente de uma potência
estrangeira - apareça entre os 10 portugueses mais votados: é, porventura, a máquina
do PC a funcionar – o que, a ser assim, não abona muito à isenção intelectual e
moral dos militantes.
Agora,
como ASM consegue um número de votos que o põem a par de Afonso Henriques,
Vasco da Gama e Camões é que permanece área de investigação para sociólogos e
politólogos...
O
objectivo está no entanto alcançado. E o Dr. JMJ, dado ultimamente a
originalidades frustes, nem se terá apercebido de nada.
[1] Diplomata
sueco que salvou milhares de judeus durante a II GM e que acabou desaparecido
em mãos soviéticas.
[2] José
Miguel Júdice, artigo “o voto num justo”, Público de 19/1/07.
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