quinta-feira, 7 de outubro de 2010

COMEMORAR UM DESASTRE E UMA IGNOMINIA

5/10/10

"Atolados há mais de um século no mais funesto dos ilogismos políticos, esquecemo-nos de que a unidade nacional, a harmonia, a paz, a felicidade e a força de um povo não tem por base senão o rigoroso e exacto cumprimento colectivo dos deveres do cidadão perante a inviabilidade sagrada da família, que é a célula da sociedade; perante o culto da religião, que é a alma ancestral da comunidade e permite o culto da bandeira, que é o símbolo da honra e da integridade da Pátria.
Quebrámos estouvadamente o fio da nossa História, principiando por substituir o interesse da Pátria pelo interesse do partido, depois o interesse do partido pelo interesse do grupo, e por fim o interesse do grupo pelo interesse individual de cada um.”
Ramalho Ortigão

Gravura da época que retrata o assassinato do Rei. D. Carlos e de seu filho.
A Rainha D.ª Amélia tenta defender a sua família com um ramo de flores.
Cinco de Outubro de 2010, dez milhões de euros e uns trocos depois, comemorámos o quê? Ninguém, em consciência, sabe responder a esta pergunta, em Portugal.

Um regime, um sistema político, uma revolução, ou um golpe de estado, vale pelas ideias que o inspiram, pelas razões que lhe assistem, pela pureza dos ideais mas, sobretudo, pela obra que consegue realizar. Não pode nem deve, ser julgado e aferido apenas pelo idealismo dos seus próceres ou pelas contingências do momento.

É tendo isto em conta que se deve ajuizar a implementação da República e os seus primeiros 16 anos, pois é isto e apenas isto, que se pretendeu, agora, comemorar.

A República foi preparada pela Maçonaria, inimiga figadal do Trono e do Altar, e que já tinha implantado o Liberalismo em Portugal, através da Revolução de 1820. Nessa altura foi retirado o poder ao Rei que passou a “reinar”deixando de governar. Com a República foi o próprio rei que desapareceu.

1820, gerou várias guerras civis que só terminaram em 1851 e efectuou a separação de jure da Igreja e do Estado. 1910 pretendeu acabar com o Cristianismo em duas gerações. Este objectivo não foi conseguido, mas está a ser prosseguido nos dias de hoje.


Para acabar com a Monarquia a Maçonaria (não o povo…), criou o Partido Republicano (PRP) “fundado”, em 1876 – embora só se desenvolvesse a partir de 1890 – para actuar à luz do dia e ter existência legal, e usou a Carbonária para as acções clandestinas e violentas. Não foi bonito.

Aproveitando a fragilidade politica do regime monárquico - constitucional ( que “eles”tinham criado antes), e da absoluta irresponsabilidade de actuação dos partidos do sistema – todos eles, de resto, infiltrados até ao tutano por membros das organizações referidas – o PRP foi desenvolvendo a sua actuação utilizando métodos “leninistas” àvant la lettre, onde valia tudo, numa actuação condenável por toda a moral politica e social, em vigor entre povos civilizados.

Uma síntese que ilustra de forma cristalina o que acabo de referir, é dada pela seguinte frase de Brito Camacho: “Quanto mais liberdades nos derem mais nós havemos de exigir; devemos obrigar o governo às cedências que rebaixam e às violências que revoltam”. E tudo isto foi feito graças a uma liberdade de expressão e de actuação que a liberalíssima monarquia lhes concedia!

Quando os desatinos dos partidos monárquicos (que não da realeza) - o PRP tinha, entretanto, eleito o seu primeiro deputado, em 1878 – estavam a conduzir o país à agitação social, à decadência económica e à bancarrota financeira, o Rei D. Carlos – que era, aliás, um notável estadista – quis pôr ordem na senda caótica para que estavam a empurrar a Nação, impondo uma ditadura temporária e branda, através do ministro João Franco, a Carbonária assassinou-o e ao herdeiro, seu filho.

Conhecem-se os autores materiais do crime – o Costa e o Buiça – mas, até hoje, falta saber uma quantidade mais de coisas. Não se conhece o processo que foi feito, sabendo-se que existem duas cópias: uma que anda por aí, tendo a outra sido roubada da residência inglesa do Rei deposto.

O tempo que mediou entre a morte do rei (1/2/1908), e a partida da família real para o exílio – humilhação última a que foi sujeita – foi de repugnante cobardia e traição das forças politicas que se diziam apoiantes do trono e de acções subversivas infrenes, por parte dos republicanos.

Foi a comemorar toda esta tragédia vergonhosa que, agora, os órgãos do Estado se entretiveram a comemorar o centenário e a tentar impingir lérias à população, mantida cuidadosa e massivamente ignorante das coisas e dos homens.

Os dezasseis anos que se seguiram à proclamação do novo regime, que se fundara num crime de regicídio e numa revolta armada onde se misturaram militares e paisanos e, até hoje, nunca referendada pelo povo português (se exceptuarmos o plebiscito efectuado pelo Prof. Salazar à Constituição de 1933), provaram ser a “balbúrdia sanguinolenta” que Eça de Queiroz previra.

É, provavelmente o período mais funesto da História de Portugal, que só encontra concorrência nas guerras civis da primeira metade do século XIX.

Se analisarmos bem o que o nóvel regime se propunha fazer, para além de banir a realeza – o que conseguiu – e de destruir a Igreja – o que ainda continua a tentar – foi o de implementar a trilogia mentirosa e já então gasta, da Revolução Francesa: a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Três mentiras que não resistem ao escrutínio mais simples.

De facto, a “Liberdade” é um conceito absoluto que tem uma aplicação relativa; como conceito absoluto é intangível e inatingível; como aplicação relativa, tem que se compatibilizar entre a liberdade de cada um, o bem-estar de todos e a segurança da comunidade; não se impõe por decreto, realiza-se na construção da Justiça do dia a dia. Além disso não há “uma” liberdade, existem várias, e estas só interessam na medida em que são possíveis, não na medida em que são enunciadas.

Em todo este âmbito a República não ampliou, regulou ou educou para as liberdades, antes pelo contrário, limitou-as e reprimiu-as, gerando ao mesmo tempo a libertinagem.

A “Igualdade” é outra mentira. Todos os homens são diferentes, o que se tem que tentar é dar a todos as mesmas oportunidades, segundo direitos e deveres idênticos; depois cada um deverá fazer o seu caminho segundo os seus méritos e deméritos. A anarquia republicana aumentou e desregulou todos os fossos existentes, gerando as maiores injustiças sociais.

Finalmente, à “Fraternidade” contrapomos a Caridade. A Caridade é a verdadeira fraternidade (para além de ser uma virtude teologal), pois é desprendida e nada pede em troca. A Caridade é o amor de Deus e do próximo; não é apenas uma esmola, é benevolência, bondade e compaixão. A Fraternidade supõe um interesse de grupo, uma troca de favores, uma camaradagem, uma repreensão amigável. É sobretudo um amor entre “irmãos” e procura uma harmonia.

Os republicanos foram tocados pelo pecado “iberista” e até para o Ultramar tentaram implementar um colonialismo à inglesa, com laivos racistas, à revelia da obra colonizadora tradicional portuguesa.

*****
“Para deixar ver o carácter instável da República basta um facto: ser ela o primeiro governo que, no mundo, aceitou governar com manuseadores de bombas e explosivos – artefactos só até hoje usados por inimigos da sociedade!”
Fialho de Almeida


A República nada teve que a justificasse: não foi implantada para pôr termo a uma tirania, uma opressão, ou a qualquer regime iníquo; tão pouco para corrigir os erros do sistema político-partidário existente – onde haveria alguma justificação – pelo contrário, ampliou-os.

Por fim, derrubou um regime e uma instituição, que apesar das falhas de funcionamento, pode ser considerado como perfeitamente “democrático” à luz de conceitos actuais, e onde o PRP podia participar em igualdade de circunstâncias.

Para além de nada justificar o modo como se implantou e os métodos que usou, a República e os republicanos quase nada conseguiram realizar do que se propunham. Conduziram o país ao abismo donde foi salvo, in extremis pelas FAs, em 28 de Maio de 1926.

O passivo foi enorme a que se deve juntar aquele do Liberalismo. Comecemos por este: Durou 90 anos, entre 1820 e 1910; durante esse tempo desarticulou-se a Nação da sua matriz antiga, sendo seu legado seis monarcas (dois assassinados), e três regências, 142 governos (um governo e meio por ano), 42 parlamentos, dos quais 35 dissolvidos por meios violentos; 31 ditaduras (ou seja cerca de um terço do tempo fora da normalidade constitucional) e 51 revoluções, pronunciamentos, golpes de estado, etc.

Proclamada a República, esta deixou como herança: oito chefes de Estado, dos quais um foi assassinado, dois exilados, um resignou, dois renunciaram e outro foi destituído; 52 governos, o que dá uma média de três governos por ano; oito parlamentos dos quais cinco foram dissolvidos violentamente, e 11 ditaduras, o que deixa apenas cinco anos em que se conseguiu cumprir a Constituição de 1911.

Foi todo este “passivo” acumulado que deu origem e justificou o Estado Novo. Contra factos não há argumentos.

É saudável e desejável aprender com os erros e acertos do passado. Já não parece sensato comemorar e exaltar erros, desastres e ignomínias. Ora foi justamente isso que os actuais órgãos do Estado Português fizeram neste último ano. Não querem mesmo aprender…

Vá lá que não se atreveram a transladar os restos mortais do Costa e do Buiça para o Panteão Nacional. Talvez fique para uma próxima oportunidade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Aqui está uma autêntico e sincero depoimento sobre a nossa História recente.
F.d'Aguiar