adágio popular
A frase que encima o título resume a entrevista que a Srª Ministra da Educação (melhor seria da instrução, já que a educação dá-se em casa…), deu ao Expresso de 31 de Julho.
Por ele ficámos a saber que está a pensar fazer mais uma reforma do ensino, a juntar às já incontáveis que ocorreram nos últimos 35 anos.
Este parece ser o golpe de misericórdia que faltava no inenarrável edifício da 5 de Outubro, onde se despeja anualmente euros às pazádas (mais de um bilião de contos/ano, nos últimos anos!).
De facto o modo como se abordou a questão mata à nascença qualquer hipótese de conteúdo positivo que a ideia contivesse. Pensem bem e recuem aos tempos em que estudavam: se por acaso aparecia um professor a dizer “esta e aquela matéria não vem para o ponto”, o que é que 99% dos alunos fazia? Isso mesmo, arrumava os livros referentes à matéria apontada e nunca mais pegava neles. O que a Srª Ministra veio dizer foi isto: nenhuma matéria vem para o ponto; melhor, já não há ponto…isto numa altura em que quase já não há exames…
Estão a ver não estão? Dando outro exemplo, é como querer que exista Exército e acabar com o RDM e o CJM , e bem têm tentado fazê-lo!
Outro erro de monta é andar constantemente a invocar o que se passa nos outros países para que nos sirva de exemplo, nomeadamente os famigerados congéneres europeus. Ora isto é outro disparate desconforme. Não, que não se deva estudar o que por lá se passa para, com as devidas adaptações, as implementarmos caso se mostrem adequadas.
Agora decalcar coisas de realidades diferentes com meios diferentes e, sobretudo, gente diferente, não é adequado nem sério. O sistema de ensino tem que ser adequado à nossa idiossincrasia, à nossa cultura e aos nossos costumes e tradições e estudado por quem conheça bem os que “de luso ou lisa, filhos foram, parece, ou companheiros”, no dizer de Camões.
Aliás, não é apenas o sistema educativo que deve tal reflectir: tudo o resto que enforma a sociedade o deve ter em conta, a começar no sistema político, no modo de gerir empresas, comandar homens em combate, ou treinar a selecção de futebol.
E já agora, no campo legislativo, pois temos que fazer leis para as pessoas pela simples razão de que não se podem fazer pessoas para as leis…
Parece, à primeira vista, que quem não entenda isto, sofre de profunda estupidez. Mas isto apenas se aplica a uma pequena percentagem da população, até porque tal tem a ver com o bom senso que é o senso comum de todos; haverá uma larga maioria que não tem informação ou conhecimentos suficientes para entender determinadas coisas – aliás a maioria dos assuntos – ou pura e simplesmente as coisas passam-lhes ao lado.
Sem embargo há, estou certo, minorias que sabem muito bem o que andam a fazer, uns porque acreditam piamente; outros porque é politicamente correcto e ainda uns quantos que estão ao serviço de determinadas ideologias ou interesses.
A classe politica entra, seguramente, na sua esmagadora maioria dentro deste último âmbito.
Ora isto de andar com as criancinhas ao colo, pôr os direitos à frente dos deveres (acabar mesmo com estes…), desresponsabilizar os delinquentes, relativizar tudo, atacar regras, hierarquias, conceitos e referências; confundir o Mal com o Bem e mais uma quantidade de ideias verdadeiramente subversivas da sociedade e do correcto convívio entre humanos, representam conceitos político-ideológicos que ainda derivam da Revolução Francesa, a que se veio misturar o lixo anti doutrinário do pós Maio 68, em França.
Junte-se a isto doses q.b. de demagogia – doença infantil da Democracia – a que qualquer governo/partido que não olhe a meios para se manter no Poder, usa e abusa, e temos uma amálgama explosiva que rebenta com qualquer nação digna desse nome. Mesmo aquelas que nasceram no século XII e ganharam maioridade no século XIII/XIV…
Não é senhora ministra?
Já não lhe chegava (e aos seus antecessores), a chusma de passagens administrativas; os exames faz de conta; as novas oportunidades; a babilónia de cursos; a indisciplina de todos; o granel nas carreiras e nas avaliações de professores; governarem para as estatísticas; a luta perdida contra o abandono escolar e mais um ror de coisas que uma resma de papel A4 não chegava para explicitar e ainda quer acabar com os chumbos?
O resultado de tudo isto é os jovens portugueses andarem há mais de 30 anos a chegarem ao mercado de trabalho na sua maioria, analfabetos encartados, sem estarem minimamente preparados para a vida – que é dura e não fácil – fisicamente definhados, civicamente meio cegos, intelectualmente diminuídos, tecnicamente mal apetrechados e moralmente baralhados. E a senhora ministra pretende é que ninguém chumbe? Ou é de propósito para terem cidadãoes acriticos,mansos e fáceis de enganar?
Os jovens de hoje, não são piores nem melhores que as gerações que os antecederam, mas têm sido pessimamente orientados e enquadrados. Até acabaram com o serviço militar obrigatório…
Por isso senhores governantes finem de vez com essa treta idiota de que toda a gente nasce igual ou é igual, pois toda a gente é diferente e cada um tem que fazer o seu percurso. Deve é tentar-se que todos tenham as mesmas oportunidades, mas isso joga-se noutro campeonato.
Deixem de meter na cabeça das pessoas que todos podem ser licenciadas em qualquer coisa. Isso representa uma irresponsabilidade e uma impossibilidade.
Ainda não perceberam que não há boas ou más profissões (e todas são necessárias!) mas sim bons e maus profissionais? Que não interessa haver muitos licenciados, mestrados ou doutorados, mas sim bons, em que o canudo corresponda às aptidões e ao saber? Os outros só lá estão a atrapalhar.
Sabe, senhora ministra, no que dá todo este descalabro? Eu digo-lhe: no campo individual, quando alguém abandona a escola e for à procura de emprego, vai ter que aí, demonstrar o que sabe e fazer os exames necessários que não fez (e devia ter feito) durante a sua vida de estudante. Sabe porquê? Porque as empresas precisam de ter lucros ao fim do ano e não se podem dar ao luxo de contratar gente incompetente para a função.
Ora isto vai ser muito doloroso para quem tem vinte e tal anos e não está preparado para a vida – de pequenino é que se torce o pepino – e muitos não vão conseguir emprego, ou preencher as expectativas que criou ou lhe criaram, com as frustrações inerentes e que não são quantificáveis.
Finalmente, os mais aptos, que conseguiram por mérito próprio, ou por bom conselho parental (e tiveram posses para isso), escaparam a este marasmo, ao verem-se atolados no pântano que leva três décadas de apodrecimento, não descansam enquanto não abandonam o país.
Em termos colectivos, o desastre da educação – que gera efeitos para toda uma vida – vai condenar o futuro de Portugal e dos portugueses.
Por isso, senhora ministra, sorria menos e pense melhor. E já agora diga-nos em que escolas estudam os seus filhos e netos, se os tiver. É só para percebermos se o que a senhora diz, coincide com o que a senhora faz.
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