segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Réplica

Relativamente ao artigo que escrevi intitulado "Das últimas promoções no Exército ao comando militar", entendeu o sr. Maj. Gen. Mendonça da Luz tecer alguns comentários.
    Segue a réplica aos mesmos (dado que foram públicos), para quem possa interessar o tema, ou esteja em dia de maior fastio.
   Cumpts
    BF







Sr Tenente Coronel Brandão Ferreira,muito boa tarde

Li a seu email sobre a promoção do Sr Tenente General João Reis e não gostei.


1.No Exército os Oficiais de Administração Militar sempre tiveram Comando quer em situações de paz quer em situações de guerra o que não acontece com os  Pilotos que, na sua grande maioria, o único comando que tiveram foi o manche da sua máquina voadora e a secretária no Estado-Maior, a partir de Major/ Tenente Coronel
Alguns que tiveram a oportunidade de comandar homens, o objectivo supremo de um Oficial, já foi tarde e quase sempre  comandos curtos de um ano, só para garantirem as condições de promoção, rápida, a Oficiais Generais.
As minhas desculpas a alguns camaradas PILAV, a que esta minha afirmação não se aplique.

2.A  referência classicista velada que faz ao facto dos três oficiais de AM que ascenderam às três estrelas, assim como o actual CEME serem oriundos dos Pupilos do Exército, quererá dizer que os filhos de Sargento nunca poderiam atingir o Generalato e muito menos as três, ou quatro estrelas?( É bom não esquecer que os Pupilos do Exército foram criados fundamentalmente para apoiar os filhos dos Sargentos já que os filhos dos Oficiais iriam principalmente para o Colégio Militar.)

3.Sr Ex Piloto Aviador Brandão Ferreira- curto na ascensão , Ex Adido de Defesa, temporário,  na Guiné Bissau (se tem sido nomeado para um país europeu possivelmente teria conseguido acabar o mandato, era muito mais cómodo e ganhava muito mais), o Exército porque anda com os pés no chão, e porque sabe que o sua maior riqueza são os homens, não é tão sectário na escolha daqueles a quem dá os seus recursos a gerir ou os seus homens a comandar.
Olhe para os países com Forças Armadas a sério e veja como eles tratam os militares que ao longo da sua carreira mostram mais capacidade de comando , mais dedicação e mais formação,  independentemente da sua Arma ou Serviço de origem.

4. Em Portugal, só teremos umas Forças Armadas a sério, quando para os diversos postos e funções a única condição a ter em conta para a promoção e nomeação seja a maior competência para o desempenho da missão que lhe for atribuída, seja ele de Infantaria, Administração, Engenharia ou até Piloto.

5. Já que o artigo do Sr Tenente Coronel, ex-Piloto da FAP, tem por base a promoção do Sr Major General João Reis a Tenente General, agradeço que compare uma pequena súmula do seu curriculum com o de muitos dos Senhores Generais oriundos de pilotos que o Sr deve bem conhecer.

O Sr Tenente General João Reis, começou por ter recebido no fim do Curso da Academia Militar os Prémios Alcazar de Toledo e do Exército Brasileiro, o que quer dizer que foi o nº 1 Geral.
Comandou Pelotão e Companhia, Comandou durante cerca de três anos a EPAM e EPS, na Póvoa de Varzim ,com um efectivo médio de 500/800 homens,integrou a Missão Militar Portuguesa em Moçambique dando formação na área da Logística, vários cargos no estrangeiro no âmbito da Nato e da UE, foi Director do Centro de Aquisições do Comando da Logística, foi Director da Direcção de Justiça e Disciplina do Comando de Pessoal do Exército,Director da Direcção de Educação etc.,etc, etc.,
Mais um pequeno pormenor:
 Tem o Curso de Comandos, tem o Curso de Sobrevivência ,Curso de  Montanhismo, tem o Curso de Estado Maior, tem o Curso Quarter Master nos USA e ainda é Licenciado em Gestão de Empresas e o Master of Arts in Internacional Politics, Faculté Jean Monet.

Podia continuar a escrever mais uma página acerca do curriculum do Sr Ten Gen João Reis mas, penso que o que disse deve bastar para que o Sr Tenente Coronel Brandão Ferreira reveja o que disse.

Os meus cumprimentos,

                                                         
                                                            Mendonça da Luz, Maj Gen

                   
                           
                               ( Ref. Por força do Estatuto, após quarenta e seis anos e meio de Serviço Efectivo)


Almada, 8 de Fevereiro de 2019,




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Sr. Major General Mendonça da Luz, muito boa tarde também para si.

16/02/19

“A toupeira não pode ter do mundo a mesma visão da águia”.

                             Séneca (4AC- 65DC).



            Li o seu “e-mail” em que teceu considerações ao artigo que escrevi sobre as últimas promoções no Exército.

            Confesso que também não gostei.

            Neste aspecto, estamos, portanto, quites.

            Em primeiro lugar não gostei pelo tom.

            Em segundo lugar pelo conteúdo.

            Nós podemos não concordar com o que alguém diz ou faz, mas podemos e devemos, discutir as coisas com um grau elevado de civilidade.

            Até como “oficiais e cavalheiros” como a antiga escola que nos formou ensinava. Eu ainda me lembro; não sei se é esse o seu caso.

            A não ser que entendamos que a opinião ou o acto sobre o qual nos pronunciamos, não seja respeitável.

            Parto do principio que o tom com que se me dirigiu reflecte esse estado de espírito. Gostaria de estar enganado mas Vossa Excelência me esclarecerá.

            Também vou fingir que não percebi algumas alusões e insinuações do foro pessoal que me foram dirigidas. Mas vou só fingir, para poder continuar a escrita a fim de dar resposta às catilinárias desferidas.

            Senão o escrito teria que terminar aqui e de uma forma menos própria das relações entre militares. Tentarei, pois, não baixar ao nível em que entendeu colocar-se e tratar o assunto com alguma elevação.

                                                           *****

            Quero, desde já, deixar claro (apesar de isso estar expresso no artigo) que nada tenho contra o Tenente-General João Reis, pessoa que conheço pessoalmente e por quem tenho estima e consideração.

            O fulcro do artigo, colocado de uma forma algo académica, tem por base a defesa de que o exercício do Comando Militar deve estar baseado em Princípios e Doutrina, a fim de tornar a estrutura das Forças Armadas, adequada, coerente e coesa, face ao cumprimento das missões atribuídas e do múnus militar.

            Creio que o que escrevi é de uma evidência cristalina e o senhor Major General, que até fez a 4ª classe antes de 1974, deveria estar perfeitamente apto a entender.

            Por isso o curriculum do oficial que menciona é marginal à discussão, bem como a sua pessoa.

            A talhe de foice, gostaria de deixar uma pergunta no ar e que é esta: qual será a mais-valia para o Exército em permitir que um oficial de Administração Militar vá tirar a especialidade de “Comando”?

            Por isso, ao contrário do que escreveu, eu não tenho nada que rever o que disse.

                                                              *****

            Deixe-me dizer-lhe que o que afirmou sobre os pilotos aviadores é uma caterva extensa de disparates que não se coadunam com os seus “46 anos e meio de serviço”; muito menos é admissível num oficial general. Mesmo sendo oriundo de Administração Militar.

            Tal só é possível, porventura, porque a ignorância é atrevida, como bem argumentava o saudoso Comandante Virgílio de Carvalho.

            Perdoará pois a franqueza com que lhe falo.

            E sempre lhe quero dizer para ilustração – pelos vistos precisa – de que os pilotos aviadores também têm (e sempre tiveram) cargos de comando e chefia em tempo de paz e de guerra; e nas últimas campanhas ultramarinas em que estivemos, muitos deles atingiram os mais altos postos e funções.

            Saiba ainda Vossa Mercê, que o treino de Comando e Liderança começa desde “pequenino”, com funções em terra, nas Esquadras de Voo e não só; como Comandantes de Esquadrilha, depois de Esquadra; Comandantes de Grupo, 2º Comandantes (quando os há) e Comandantes de Base Aérea (cargo em que são obrigados a estarem qualificados numa das aeronaves existentes). E existem mínimos de comando que a todos obrigam. Por isso está dispensado de pedir desculpa “a alguns camaradas PILAV”; vai ter de genufletir perante todos…

            Fiquei ainda curioso, quiçá intrigado, com o conhecimento que aparenta ter (mas se calhar só aparenta) dos “curricula”, dos Generais Pilotos Aviadores!

            Já que falou no “manche da sua máquina voadora”, frase que me pareceu eivada de ironia e displicência, sempre lhe digo que até neste âmbito, existem qualificações de comando em voo (comandante de parelha, esquadrilha, esquadra, grupo; comandante de bordo) que, presumo, nem suspeita do que se trata.

            Eu, que na sua “superior” apreciação, sou apenas um “ex-piloto aviador de curta ascensão”, tomo a liberdade de o aconselhar (muito respeitosamente) a ilustrar-se um pouco melhor sobre estes assuntos.

                                                            *****

            As considerações que fez sobre a minha referência aos Pupilos do Exército (notável estabelecimento militar de enino, como já defendi publicamente por várias vezes) entram aparentemente já, no campo do delírio e da fantasia. Mas não deixam de ser de muito mau gosto. E até fazem lembrar uma certa dialética marxista.

            Não lhe vou dizer mais nada por descabido. Reveja o que escrevi e faça o favor de não inventar.

                                                              *****

            O Senhor Major-General também me espanta com o que escreve sobre adidos e África; ou seja, perceber qual a relação e o sentido do que escreveu com o que deixei expresso no meu “papiro”, e onde quer chegar com as insinuações pouco explicitas sobre a minha passagem “temporária” como adido na Guiné-Bissau. E não vou perder tempo em lhe explicar o que afirmei do anterior, pois se não tem nível cognitivo para entender o que expressei, nada garante que possa entender alguma explicação.

            Numa coisa tem razão, porém, se de facto tivesse “ido para um país europeu possivelmente teria conseguido acabar o mandato, era muito mais cómodo e ganhava muito mais”…

            Ficámos também a saber, neste parágrafo, que, afinal, não temos Forças Armadas a sério…

            Atenção não fui eu que disse.

                                                                *****

            De facto os oficiais do SAM sempre exerceram comando e chefia, obviamente dentro da sua área específica de actuação. Sem embargo de haver muitas funções que melhor lhes competia a eles, tanto na paz como na guerra, terem sido exercidas em muitos casos, pelos oficiais do Serviço – Geral do Exército (não oriundos da Academia Militar).

            As competências são dadas pela formação e pela experiência profissional. Mas nem toda a gente pode (deve) fazer de tudo. Faria sentido um oficial de Infantaria ir comandar a Escola Prática dos Serviços, ou um Artilheiro ir para Director de Finanças?

            Neste âmbito também se aplica a velha máxima que reza assim: “A Logística não ganha as guerras, mas pode perdê-las”…

            Conhece a expressão do pintor Apeles, que afirmava por detrás do seu quadro “não queira o sapateiro passar além do chinelo”?

            Enfim.

                                                                   *****

            Eu não tenho mandato da Força Aérea, tão pouco da Armada (que na sua concepção deve andar com os pés na água) para os defender das acusações de “sectários” na gestão de pessoal” e de não “saberem que a sua maior riqueza são os homens” (não se esqueça da próxima vez de acrescentar também as mulheres…), pelo que não vou entrar nessa discussão.

            Apenas quero confirmar que os aviadores, de facto, andam com os pés no ar e, até, de cabeça para baixo.

            Para o caso de ainda não ter reparado, o Ar (a Atmosfera) é o meio em que as tripulações de voo (não só os aviadores) treinam, operam e combatem.

            De onde, por inerência, vêm o mundo a três dimensões.

            Medite na frase do Séneca que o intuiu há dois milénios atrás…

            E fará a fineza de não me tornar a chamar ex-piloto aviador. Eu não pedi o abate ao quadro.







                                         João José Brandão Ferreira

                                            TCor Piloto Aviador (Ref.)




Nota. Tendo tornado público o texto que me enviou, reservo-me o direito do mesmo fazer com esta réplica. E por aqui me quero ficar.  

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