quarta-feira, 19 de abril de 2017

O DESMAZELO A QUE CHEGÁMOS



O DESMAZELO A QUE CHEGÁMOS
19/04/17


Porque non te callas?
Juan Carlos para Hugo Chavez.

            Já é público que o Governo da República anda preocupado com a situação na Venezuela, sobretudo pelo que possa vir a afectar a larga comunidade portuguesa – que deve rondar o meio milhão de almas – que vive no país, independentizado por Simão Bolívar, “de facto”, em 1821 (Batalha de Carabobo), mas cuja luta se iniciou em 1811, se autonomizou, em 1830 e reconhecida, em 1845.
            Numa época de frenética tentativa de correr com as potências europeias (leia-se Portugal e Espanha) da América Central e Sul, a que não foram estranhos os desígnios da grande potência do Norte (os EUA); a Maçonaria internacionalista e a Inglaterra, que se queria apropriar do comércio na parte sul daquele hemisfério.
            De realçar que, ao contrário, da vaga de autodeterminação lançada após a II Guerra Mundial, o objectivo nas Américas era apenas entregar o Poder aos colonos brancos.
            Os indígenas não tinham direito a nada, a não ser, serem dizimados, considerados cidadãos de segunda ou metidos em reserva!
            Eram os “Ventos da História” da altura…
            E a escravatura e o racismo levaram muito tempo a desaparecer: que o digam os americanos do norte, que sempre aparecem a querer dar lições de moral, democracia e liberalismo aos outros.
            Desta feita, os últimos governos portugueses, sobretudo os de maior cariz socialista, andaram aos beijos e abraços aos próceres da chamada Revolução Boliviana, entre um esgar de solidariedade ideológica; um olho num negócio que sobrasse e uma pitada de chico-espertismo.
             O “computador Magalhães” representa basicamente a súmula de tudo o que se conseguiu…
            A situação na Venezuela – aliás na esteira da sua tradição histórica de grande conflitualidade política e social – baseada em doutrinas erradas, decisões incompetentes, misturadas com muita corrupção e demagogia, nunca deixou de se deteriorar, sobretudo a partir da morte de Chávez, que ainda tinha, aparentemente, dois dedos de córtex cerebral e algum prestígio na tropa; para estar completamente de pantanas na actualidade, onde é difícil de definir a organização política e social existente e adjectivar um “maduro”, que se chama Maduro, que chegou ao poder por curta margem e muito contestado, em 14/4/2013, e que começou por ouvir a voz do seu querido líder Chávez, no chilrear dos passarinhos!
            Como é que criaturas destas chegam e se mantêm no Poder, no século XXI da era de Cristo, é que constitui um verdadeiro enigma e paradoxo!
            O problema é que com o estado de doença terminal, em que se encontra o Poder Nacional Português, não restam ao governo – já que aparentemente para o nosso sorridente PR tudo é Paz e Amor – grandes opções de fazer seja o que for, a não ser apelos….
            Mas ao menos que estejam preocupados, pois é de estar.
            E agora, se for preciso fazer algo, onde estão os meios?
            Estamos a falar de capacidade para evacuar e proteger nacionais que possam estar em perigo, ou queiram vir embora.
            Suponhamos que de todos os que lá estão, haverá 50.000 (estimativa por baixo) que queiram sair do país caso a situação se deteriore drasticamente?
            E tal pode acontecer caso Maduro, protegido por outros da mesma laia, seus vizinhos, persista em resistir a fazer as malas e ir passar os seus últimos dias em Varadero.
            E a nova administração americana pode abster-se de querer intervir para garantir uma vacina política, com a implosão a prazo do regime que por lá tem imperado.
            Sim, onde estão os meios e as capacidades para que o governo português tenha opções mínimas de actuar, num conflito destes, que a incompetência, desleixo, propósito e demagogia dos sucessivos governos têm vindo a destruir paulatinamente ao longo dos anos?
            Falamos de forças militares, planeamento civil de emergência, navios e aviões civis, etc. A única coisa em que se tem avançado alguma coisa foi nos meios de Protecção Civil, mas estes não estão vocacionados para operações destas.
            Destruída a Marinha Mercante, privatizada a TAP e reduzidas as Forças Armadas à sua expressão mais simples, em módulo de sobrevivência, o que nos resta para actuar?
            Com o Tesouro exaurido, sem reservas estratégicas de qualquer espécie (tirando petróleo) e sem capacidade industrial que possa responder a coisas simples, como seja produzir uma única munição, viaturas ou sequer 5.000 pares de botas se fosse necessário chamar 5.000 reservistas – o que nem sequer é possível, pois destruíram a organização que o permitia – de um momento para o outro?
            Como iríamos actuar, partindo do princípio que se conseguia montar uma operação de salvamento numa semana, pois não deve haver qualquer plano de contingência para tal?
            Com um esforço extremo o que resta de umas outrora, por vezes, respeitadas e respeitáveis, Forças Armadas, poderiam esgotar-se aprontando três fragatas, duas corvetas/patrulhas, o navio reabastecedor e um submarino, que transportariam ainda uma companhia de fuzileiros, quatro ou cinco helicópteros "Linx", o Destacamento de Acções Especiais e duas equipas de mergulhadores de combate. Poder-se-ia fretar meia dúzia de navios mercantes que seriam comboiados por esta força, que estaria no limite da sua capacidade de sustentação logística e levaria cerca de uma semana a chegar à Venezuela. Mas ignoro quanto tempo levaria a ser aprontada…
            Aviões civis teriam de ser fretados, pois não há reserva deles e claro ficariam sujeitos às regras do negócio…
            A Marinha teria, no entanto, que actuar sozinha, isto é sem o apoio do Exército e da Força Aérea.
            O que estou certo, a Briosa não viraria a cara.
            No entanto este apoio pode tornar-se indispensável caso haja ameaça militar para a força, ou seja necessário segurar defensivamente um ou mais locais a fim de evacuar os nacionais.
            Tal só se conseguiria obtendo um acordo para operar a partir das ilhas de Trinidad e Tobago e ou, das ilhas Curaçau e Aruba (Antilhas Holandesas).
            Mesmo assim nunca conseguiríamos lá colocar mais do que 1/2 P3P; 2/3 C130; uma companhia de pára-quedistas e 1/2 pelotões de operações especiais. Enviar F-16, seria quase impossível.
            A capacidade de sustentar todas estas forças seria muito limitada para além de poucas semanas e não haveria quase nenhuma capacidade de substituição ou recompletamento.
            Convém recordar que as Forças Armadas da Venezuela contam com cerca de 130.000 homens (com reservas de 600.000 homens, muitos deles paramilitares) e que foram reorganizadas e doutrinadas para serem o esteio da “revolução bolivariana”.
            Por isso qualquer acção a executar-se – e seria avisado avisado que já estivesse em preparação – deve ser feita combinada com a Espanha (que terá problemas semelhantes) à boa maneira de Navas de Tolosa (e não outra). Espanha de onde, aliás, já vêm as rações de combate e viaturas emprestadas.
            E não se esqueçam de continuar a mandar vir mais migrantes cá para o quintal.
            Quando tivermos de albergar “refugiados” portugueses, a gente pede ao Eng.º Guterres – mais um que julga que o Bom do Padre Américo acabou com os malandros todos … - para ele arranjar lugar algures na Antártida.
            Isto está nas últimas e a classe política não aprende mesmo.




                                               João José Brandão Ferreira
                                                  Oficial Piloto Aviador

1 comentário:

Anónimo disse...

Meu caro senhor,

não seria mais fácil enviar o pessoal todo para o Brasil?

Penso que é isto que o governo pensa. Arranja-se um ou outro navio ou um ou outro avião para inglês ver e manda-se o pessoal todo para o Brasil, nem que seja pagando a companhias aéreas Venezuelanas.

Afonso