AS FORÇAS ARMADAS VÃO FICAR REDUZIDAS A MESTRES
E DOUTORES?
4/2/2017
A coisa vem de trás.
Começa aí por meados dos anos 80 do
século passado.
Os fumos de “glória” do 25 de Abril
já se tinham ido há muito, tendo a Instituição Militar saído completamente
ferida e rebaixada da Descolonização e do “PREC”.
O 25 de Novembro ficou a meio (ou
nem isso) e as feridas levam tempo a sarar.
Algumas nunca saram.
As Forças Armadas ficaram de mal
consigo próprias e com a Nação. E esta com aquelas.
Nunca ninguém quis admitir isto.
*****
Extintas as escolas industriais e
comerciais – erro imperdoável que ainda não foi reparado – quis fazer-se de
toda a gente um licenciado numa área qualquer. Pois não temos todos nós direito
a tudo e não somos todos iguais?
Está até, na Constituição…
Como entretanto o Ministério da
Educação implodiu e foi sendo ocupado por sucessivas vagas de gente
dificilmente adjectivável, a qualidade do ensino e dos professores; a
disciplina nas escolas; a avaliação; a estabilidade dos programas e dos
compêndios, da pedagogia, e as próprias infraestruturas, caíram a pique.
Deixou de haver escola para haver
choldra.
Daí para cá poucas melhorias houve,
apesar dos sucessivos orçamentos de novos - ricos atribuídos ao sistema – um
poço sem fundo![1]
Parece que rendia votos e apaziguava
consciências.
Por isso é risível (se não fosse
trágico) a tão apregoada qualidade das actuais gerações que brotam do sistema,
baptizadas, sem água benta, das “mais bem preparadas de sempre”!
Apregoam isto com ar sério e não dei
conta, até agora, de nenhum filho d’algo que o rebata.
Entretanto o “negócio” do ensino
disparou, sobretudo nas áreas das ciências sociais (que só exige “papel e lápis”),
sem que os poderes do Estado o tentassem regular, assistindo-se apenas a uma
inquinada discussão ideológica sobre o ensino privado e o público…
*****
O ensino militar, apesar de tudo, resistiu
muito melhor (pondo de lado o que se passou nas escolas militares em 1974/75…).
Afastados das lides culturais e até
dos avanços na guerra convencional, por via das longas campanhas contra
subversivas no Ultramar Português entre 1961 e 1974, foi preciso um esforço de
reconversão enorme logo que a estabilidade institucional se foi ganhando a
seguir aos eventos ocorridos em 25 de Novembro de 75.
Esse esforço fez-se e foi notável.
A Força Aérea (FA) e a Marinha
recuperaram mais facilmente do que o Exército.
A FA porque teve um notável Chefe de
Estado-Maior (o General Lemos Ferreira) que impôs uma dinâmica difícil de
imitar; a Armada porque foi o Ramo menos afectado pela guerra e porque manteve
sempre uma presença e ligação à NATO.
O Exército por ser o Ramo mais causticado
pelo conflito e pelo PREC; por ter um número de efectivos superior; ser tecnologicamente
mais atrasado e, até, por dominar menos a língua inglesa, teve mais dificuldade
em “dar o salto”.
Mas a Instituição Militar – não por
acaso, por causa das suas características – no seu todo andou à frente do
ensino civil, coisa que a generalidade dos próprios militares, incluindo as
suas chefias, nunca deu conta (os militares acabam sempre por ser vitimas deles
próprios…).
Deu-se, “naturalmente”, sobretudo a
partir da publicação da Lei de Defesa Nacional e das FA, em 1982, um auto
rebaixamento dos militares e uma sobranceria por parte da chamada
intelectualidade civil no âmbito das mais - valias académicas, facto que era
exacerbado pelas forças políticas do “centrão” que nunca perdoaram a existência
do Conselho da Revolução e os dois Pactos MFA/Partidos.
O PCP, apesar da sua prudência
(enquanto minoritários), nunca reconheceu nada que não se paute pela sua
cartilha, e da extrema - esquerda nem vale a pena falar por via dos seus
preconceitos, estereótipos e militância contra tudo o que cheire a fardas ou
tenha a palavra “militar”.
Daqui à questão das “equivalências
universitárias” foi um passo (questão que nunca se tinha colocado até 1974).
Convenhamos que até poderia haver
vantagens em ter este assunto harmonizados entre militares e civis, mas o que
se veio a verificar foi a tentativa de invasão do ensino militar pelo ensino
civil, chegando-se ao ponto de ter havido uma tentativa de colocar um
catedrático civil como uma espécie de Reitor do Instituto sito em Pedrouços,
onde entretanto se agruparam os cursos de formação e promoção comuns aos três
Ramos das Forças Armadas (e, nalguns casos, a GNR)! [2]
A adopção dos cursos de Bolonha veio
dar mais um sério abalo em todo o conjunto.
Pelo meio passaram-se as mais
desvairadas coisas: pensar que um oficial das áreas de engenharia ficaria
melhor á frente de uma Academia Militar; privilegiar áreas de ensino civil em
detrimento das disciplinas militares; querer que um cadete passasse a ser um super-homem
académico; fazer cortes a esmo na preparação física e no desporto militar;
querer impor limites aos tempos lectivos dos militares e “adequá-los” aos
mesmos das universidades civis - como se pudesse haver alguma comparação
possível; haver preocupações em dar equivalências civis, para que os futuros
oficiais, pudessem encontrar emprego noutras áreas quando abandonassem o
serviço activo - como se alguma vez tenha passado pela cabeça de alguém ter
essa preocupação relativamente a um outro curso/profissão qualquer, etc.
Um etecetera penoso.
E foi assim que, pouco a pouco, se
chegou ao ponto de ser “bem”, que um militar, numa altura qualquer da sua
carreira, conseguisse um grau académico civil. Os regulamentos de avaliação de
mérito dos militares passarem até, a ter isso em conta.
A exigência de nas escolas
superiores militares, passar a haver uma percentagem de professores
“doutorados”, também contribuiu para esta “febre”.
E, claro, com mais um canudo na mão,
sempre se pode iludir a ideia feita em áreas de pensamento da sociedade, em que
um militar é assim uma espécie de bípede quadrado, aparentado à família dos
asnos…
Ora tudo isto não é mais do que um
sintoma profundo do descalabro em que o conceito da “profissão” militar caiu na
generalidade da população, o que foi exponenciado pelo desprezo dos políticos,
a falta de isenção, silêncio, incompetência e acinte da comunicação social; o
fim do serviço militar obrigatório, a ignorância cívica e a falta de consciência
colectiva de qualquer tipo de ameaça externa.
Não quero, porém, ser mal
interpretado: obter um grau académico é, à partida, uma mais - valia quer em
termos individuais, quer coletivos.
Mas as coisas têm que estar em
perspectiva e não se deve perder de vista os objectivos fundamentais dos
oficiais e sargentos das FA, que é o de serem capazes de comandar unidades
militares num teatro de operações, onde e quando necessário e em quaisquer
circunstâncias.
Ora isto não se coaduna com
diletantismos académicos e logo numa instituição onde os seus quadros já
passam, desde há décadas, cerca de um quarto do seu tempo de serviço ocupados
em cursos – o que não tem paralelo em qualquer outra profissão…
Ou seja os graus académicos civis
devem ser vistos como complemento das exigências e necessidades militares, ou
para cumprir um objectivo específico e sempre devidamente orientados.
*****
A Instituição Militar, como tal,
tem-se mostrado perfeitamente incapaz de reagir a toda a degradação que a
afecta (e à Nação) e os militares confundem amiúde, causas e efeitos mantendo a
“ordem de batalha” constantemente desactualizada.
Finalmente, a constante redução de
efectivos, perspectivas de carreira, fecho de unidades; falta de sistemas de
armas; redução de capacidades, competências, retribuições, etc., têm tido efeitos
devastadores sobre o moral de todos passando-se, a nível das chefias, ao modo
de sobrevivência e ao nível do quadro permanente, ao modo do “salve-se quem
puder”.
E que outras alternativas existem
para quem não tenha quem os defenda; não haver navios para navegar, aviões para
voar e homens para comandar? Dinheiro para exercícios, para a assistência
social, para … nada?
Por isso, caros leitores e
compatriotas, um dia destes verão o que resta da tropa, quase todos
transformados em doutores, mas ninguém que saiba dar um tiro.
Também, que diabo, como é que se
pode ter alguém que saiba dar um tiro, se nem sequer há munições?
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
2 comentários:
E a comentadores na tv e afins(ontem vi mais um General à paisana na rtp 3,programa chamado "princípio da incerteza").
"A primeira lição do processo português é que o Exército,a defesa tradicional dos valores e da fronteira territorial da Nação,pode ser um instrumento mortal,quando está manipulado por um grupo selecto de militares politizados por uma ideologia anti-nacional.
Para os países Ocidentais a saída parece ser a politização das forças armadas,seguindo o exemplo do que se fez na URSS e no império asiático-europeu.
Não são necessários os comissários políticos,mas é indispensável uma formação adequada no campo político-ideológico de modo a preparar as tropas para a sua função específica: defender a Nação contra todos os inimigos; internos e externos.
Loureiro dos Santos está errado quando afirma que as FA servem para defender a "democracia".Mas o que é esse regime?É o País que conhecemos ou a oligarquia que tomou conta dele?É uma coisa que passará sobre montes de ossos e ninguém estará disposto a morrer por tamanha mentira.
Há algo que nunca devemos esquecer: com gritos de "Viva Portugal" e de "Viva a Liberdade",e ainda com o "Povo Unido jamais será vencido" destruiu-se Portugal e a liberdade de viver independentemente.
Trata-se esta,da grande lição de Lisboa,que diz respeito ao oportunismo,à bancarrota,à traição e por fim,à vil vida que ficámos condenados a viver,sem direito a queixas porque foi um povo sem memória,deseducado,imbecilizado,que bateu palmas ao fim de si mesmo.E que ainda não aprendeu nada,o que é o mais grave.
Não escrevo,como é óbvio,senão para avivar memórias que para alguns são dolorosas.A Rua já não se lembra de nada e pensa que tudo começou agora com a nova oligarquia para quem dirige a sua ira.
Esqueceram-se obviamente que herdaram um país com finanças equilibradas,sem dívidas,sem necessidade de ir cabeça baixa falar ao senhor Hollande e à senhora Merkel,os melhores representantes do dominante eixo dos senhores de Berlin/Paris.O povo perdeu a liberdade,mas nem deu por isso."
António Marques Bessa in Portugal - Tempo de Todos os Perigos
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