“De Formião, filósofo elegante,
vereis como Aníbal escarnecia,
quando das artes bélicas, diante dele,
com larga voz tratava e lia.
com larga voz tratava e lia.
A disciplina militar prestante
não se aprende, Senhor, na
fantasia,
sonhando, imaginando ou
estudando,
senão vendo, tratando e
pelejando.”
Lusíadas, Canto X, 153
Numa semana em que se comemorou o
886º aniversário do nascimento de Portugal – consideramos a data de 1128, 4/6
(Batalha de S. Mamede), por ser a independência “de facto”, a que realmente
interessa, pois só se reconhece o que já existe – é natural que escreva sobre o
mesmo. [1]
Por enquanto a falta de tino
político que se tem evidenciado em ritmo alucinante, ainda mantém o dia 10 de
Junho como feriado nacional. Mas se as coisas continuarem por este caminho
talvez não falte muito que o mesmo feriado seja passado para o dia primeiro de
janeiro…[2]
Infelizmente a mola que me
impulsionou a escrever não foram as boas razões, mas razões que não seria
suposto existirem.
Poderia discorrer sobre a secundarização que os próprios órgãos de soberania, as autarquias e, sobretudo, os órgãos de comunicação social (OCS) praticam quanto à data relativamente, por exemplo, ao “pontapé na bola”, que impera em todo o lado.
Poderia discorrer sobre a secundarização que os próprios órgãos de soberania, as autarquias e, sobretudo, os órgãos de comunicação social (OCS) praticam quanto à data relativamente, por exemplo, ao “pontapé na bola”, que impera em todo o lado.
Dá ideia que a República vive no reino do futebol
e que, só gostamos de ser portugueses e de nos sentirmos patriotas quando a
selecção joga – mesmo quando o futebol em vez de ser um desporto de eleição,
virou um negócio monumental (com muitos casos de polícia pelo meio) e tudo se
faz para forjar naturalizações…
Poderia ainda referir que a maior
manifestação de iniciativa da sociedade civil existente no país, independente
de qualquer apoio do Estado ou de entidade política, não merece a atenção nem é
considerada notícia, ou objecto de reportagem, pela esmagadora maioria dos
nossos libérrimos e democratíssimos OCS.
Refiro-me à homenagem nacional
aos combatentes portugueses, que se realiza todos os anos, nos Jerónimos e
junto ao monumento aos mortos do Ultramar, em Pedrouços.
O facto de cerca de meia dezena
de milhar de pessoas de todo o país, se juntarem ordeiramente, sem
reivindicarem nada, sem ofenderem ninguém, sem ódios de espécie alguma, apenas
para prestarem, respeitosa e sentidamente, as suas homenagens a quem se sacrificou
combatendo debaixo da Bandeira das Quinas, não deixa de ser uma afirmação
política e patriótica de Portugalidade.
Não é pois, inocentemente, que se
faz silêncio sobre a mesma, mas uma demonstração inequívoca de sentimentos e
ideologias que atravessam a sociedade, o que deveria ser objecto da mais
profunda reflexão.
Mas o ponto que gostaríamos de
salientar ocorreu durante as cerimónias oficiais do Dia de Portugal – dia que,
é bom recordar, chegou a ser proibido nos tempos do “PREC”, sendo durante anos
uma cerimónia soporífera e das quais as FA estiveram arredadas (escovadas?)
durante mais de três décadas, sendo recuperadas para as mesmas no 1º ano do
consulado do actual PR.
Ora quando o Professor Cavaco
Silva, na sua qualidade de PR – frisa-se – iniciava o seu discurso frente a
formatura de tropas, uma parte da assistência começou a manifestar-se
ruidosamente contra ele e contra o Governo. Protestos que continuaram durante o
incidente de saúde que acometeu o Presidente.
Não está em causa o grau de
simpatia política que cada um de nós possa ter relativamente a qualquer órgão
de soberania mas, que diabo há ocasiões, formas e lugares, para tudo. E temos
que nos saber comportar em cada uma delas, sob pena de regredirmos à selva e às
suas leis.
Estamos perante a cerimónia que é
a mais importante do calendário nacional – e, por definição, não pode haver
outra; diante dos exércitos de terra, mar e ar, que servem e defendem a Nação
sendo, em simultâneo, o mais poderoso instrumento do Estado; cerimónia que é
presidida pelo mais alto magistrado, o qual apesar de ser eleito por uma parte
da população é suposto todos representar.[3]
Cerimónia que é pública, à qual
assiste a população que assim o entende e que também tem o direito de não ser
incomodada.
Ora o que aconteceu é que existem
grupos de cidadãos que nada respeitam e para os quais, pelos vistos, os fins
justificam os meios.
Grupos de cidadãos, alguns dos
quais identificados como simpatizantes de organizações políticas, ou outras –
que, no fundo, não passam de correias de transmissão das primeiras – com
responsáveis conhecidos, que depois não se podem vir a desculpar ou a chorar
lágrimas de crocodilo por eventos que, entretanto, se deram.
Tais atitudes não configuram
apenas hipocrisia política, entram no campo da subversão.
Esteve bem o General CEMGFA na
intervenção que fez. Mostrou coragem, senso e presença de espírito.
Uma última reflexão.
Uma última reflexão.
Não chegámos a uma situação
destas, que leva já muitos anos, por uma espécie de osmose cósmica, tipo “chuva
de radiações ultravioleta”.
Tudo tem causas terrenas e
comezinhas, de cuja responsabilidade atribuo à generalidade da classe política
– sem embargo das responsabilidades dos militares consubstanciado no MFA/CR - [4], que, ao contrário de
conseguirem serenar os ânimos e disciplinar as hostes e organizar a sociedade,
têm pejado o éter de maus exemplos.
Em primeiro lugar pelo
desrespeito e ataques aos órgãos de soberania; às instituições nacionais – das
quais a família é a primeira entre todas – e á constante e acintosa prática, de
falta de elevação no debate político.
Quase toda a prática política
(desde 1975) – o exemplo vem de cima – tem sido no sentido de “nivelar” por
baixo, quebrando o sentido da hierarquia, sem o que não há autoridade que
resista; deformando-se conceitos fundamentais, como foi, por ex., o de
confundir “Democracia” com cada um fazer o que quer; liberdade, com
libertinagem; liberdade de expressão com irresponsabilidade, e muitas mais, que
tiveram efeitos devastadores no comportamento das gentes.
Com especial relevo no seio da
família, na escola, nas relações laborais e na Justiça.[5]
Tudo isto passou para os OCS,
enformados por um libérrimo enquadramento jurídico, talvez ainda pior daquele
que vigorou no fim da Monarquia Constitucional e na 1ª República, e que tanto
contribuiu para a sua queda, como para a justificação da “censura e exame
prévio” que se lhes seguiu!
Inevitavelmente, tudo o atrás
exposto teria, um dia, de se voltar contra os seus fautores e, por isso, é que
hoje em dia, ninguém tem respeito por ninguém, nem por nada, e os governantes
evitam sair à rua e andam guardados por “pelotões” de seguranças.[6]
É preciso pôr ordem no beco.
E não se vislumbra horizonte para
tal.
[1] Aliás, a independência não é um direito, mas antes uma evidência, que tem que ser conquistada e mantida!…
[1] Aliás, a independência não é um direito, mas antes uma evidência, que tem que ser conquistada e mantida!…
[2] De 1986. Data da adesão de
Portugal à CEE…
[3]
Problema que não se coloca nas Monarquias
[4]
Movimento das Forças Armadas/ Conselho da Revolução
[5]
Lembram-se, por ex., dos Presidentes Mário Soares e Sampaio a apelarem à
indignação e a maltratarem agentes da autoridade?
[6]
O “perigosíssimo” Almirante Tomás tinha um agente da PSP à sua porta…
2 comentários:
Lúcido comentário, mais um; Bem haja e que Deus o proteja para nos dar a possibilidade de reflectir em muitos outros de pensar Portugal e não só, meu tenente coronel.
D.Pinto
"O votismo e o parlamentarismo são,em Portugal pelo menos,os agentes mais destrutivos de toda a competência administrativa. Desde 1836 até hoje,toda a história do liberalismo português subsequente à ditadura filosófica de Mousinho da Silveira é a flagrante demonstração da nossa incapacidade governativa dentro de um regime parlamentar.Dessa estagnação do pensamento nacional na esfera governativa nasceu a progressiva corrupção dos caracteres poluídos e dos costumes progressivamente rebaixados,dando em resultado final a podridão profunda em que nos afundamos."
Ramalho Ortigão in As Farpas na República de 1911
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