“Um povo que
tenha a coragem de se manter pobre é invencível.”
Oliveira
Salazar
A Fundação Oriente promoveu no
passado dia 11/6/2015 uma conferência sobre o presente e o futuro da União
Europeia (UE).
Em boa hora o fez, pois se há
assunto que mais afecte a nação portuguesa, e os portugueses menos noção tenham
do que está em causa, é justamente este.
Foram oradores a Deputada do
Parlamento Europeu Dr.ª Maria João Rodrigues (PS) e o conhecido eurocéptico –
se assim lhe podemos chamar – Prof. João Ferreira do Amaral.
A moderadora foi a conhecida
jornalista e “especialista” em assuntos europeus, Dr.ª Teresa de Sousa.
A Dr.ª Rodrigues, que tem uma boa
presença e excelente dicção, fez uma exposição dos pontos que considera
relevantes de uma forma clara e bem estruturada de pendor favorável (embora não
optimista) à manutenção da “União”, não apresentando, porém, grandes saídas
para os actuais impasse e cacofonia, existentes.
O Prof. Amaral expôs os seus
conhecidos pontos de vista críticos relativamente à UE e sobretudo
relativamente ao euro, chegando a considerar a hipótese de Portugal, dever não
só equacionar a saída do euro, mas também da própria UE (o que ouvimos pela 1ª
vez), visão com a qual concordamos e só peca por tardia.
O Prof. Amaral fala pausadamente
e com critério, o que é bom, mas falta-lhe viço e emoção, pelo que o seu
discurso sai pouco apelativo; as ideias força dificilmente impressionam o
negativo da mente e a poucos arrastará com o seu discurso.
A Dr.ª Teresa de Sousa está uma
sombra do que já, certamente foi, mas não se limita a ser moderadora,
intervindo e opinando sobre tudo um pouco.
O seu comportamento faz jus,
aliás, à designação de “fundamentalista” da União Europeia, expressão que se me
afigura feliz para a caracterizar.
Em todo o debate, porém,
incluindo a assistência que interveio, todos laboraram num equívoco que foi o
de falar na “Europa” como se tratasse de algo que vá para além de uma realidade
geográfica – e mesmo sobre os limites desta, está longe de haver consenso…
Isto é, todos assumiram estar a
falar de uma realidade política, quando pelo menos em termos da ciência
política ninguém se atreve a dar-lhe uma designação como actor político na cena
internacional.
Mas não é nestes aspectos que
pretendo focalizar a ponta da caneta, embora não possa deixar de reafirmar, que
todos os cenários previsíveis para o futuro desta pretensa UE, serem maus para
Portugal e o nosso país dever procurar rapidamente uma estratégia de
sobrevivência fora do referido âmbito.
Pretendemos, outrossim, focarmos
num comentário que a citada moderadora fez a uma pergunta (pertinente) de um
compatriota da assistência, sobre o equacionamento de outros cenários onde o
nosso (ainda) país de pudesse mover, chamando a atenção para a centralidade
atlântica e ultramarina da maioria da nossa História.
A Dr.ª Teresa antes de passar a
pergunta, farpou-a a despropósito e, agastada, afirmou que em 1974, o país “era
pobre, para já não falar na falta de liberdade”…
Oh Dr.ª Teresa…
Então nós, como país devemos
“aliar-nos” ou fazermos opções políticas para ficarmos mais ricos? Eu julgava
que era por razões de geopolítica e de geoestratégia!…
E, se até Maastricht, a CEE/CE,
se podia considerar uma aliança, a partir daquele tratado a “aliança” ficou
para trás, a fim de se tentar a integração. Ou seja elevou-se o patamar das
intenções para tocar os aspectos verdadeiramente relevantes e sensíveis, que
são aqueles relacionados com a soberania e o próprio carácter dos povos.
Já percebi, pelos vistos a Dr.ª
Teresa não se importa de matar a própria mãe, para ficar rica…
Ser rico está acima de tudo? Ser
rico é algum ideal de humanidade? Ser rico tem a ver com o Bem, com a Justiça,
com a harmonia da sociedade? Com o Belo? Com a Moral?
Ser rico é, para a Dr.ª Teresa,
um fim teleológico?
Ficámos pois a saber que a Dr.ª
Teresa quer ser rica ou, pelo menos, não quer ser pobre.
Seguramente, que se sentia pobre
em 1974 - gostava também, que me dissesse se nalguma altura fomos ricos...
*****
Vejamos, pelas minhas contas, em
1974, a economia do país, crescia a 7% ao ano (Angola e Moçambique cresciam
mais); o escudo era a sexta moeda mais forte (e respeitada) do mundo; nos
cofres do Banco de Portugal, jaziam cerca de 850 toneladas de ouro e 50 milhões
de contos, em divisas. Havia paz social, apesar de rebentarem umas bombas, de
quando em vez, accionadas por umas duas ou três “associações filantrópicas” de
inspiração comunista, que sobreviviam.
As contas estavam equilibradas
desde 1929/30 (apesar da crise de 1929 – “crash” da bolsa de Wall Street); da
crise da Libra, de 1931; da Guerra Civil de Espanha e da II Guerra Mundial;
lançando-se ainda as bases para a industrialização do país, que teve início a partir
do Plano de Fomento de 1951 – o que acontecia pela 1ª vez desde Afonso
Henriques…[1]
Tudo isto note-se, feito com
meios próprios, sem qualquer tipo de ajuda externa (Plano Marshall, por
exemplo) e com parco recurso ao crédito externo – sempre pago a horas – e com
pouquíssimos casos de corrupção ou “derrapagens” de prazos, conhecidos.
Assim chegamos a 1974 em que a Dr.ª
Teresa se sentia pobre e com falta de liberdade, lembrando ainda que como pano
de fundo, o país mantinha cerca de 230.000 homens em armas, espalhados por
quatro continentes e três oceanos, 130.000 dos quais lutavam vitoriosamente e
com garbo, em três teatros de operações enormes, separados ente si e a base
logística principal (que era a Metrópole) por milhares de quilómetros!
Um “pormenor” que provavelmente
escapou à perspicácia (e pesporrência) da Dr.ª Teresa de Sousa.
*****
Mas eis que se ultrapassou o ano
de 1974 e a citada senhora passou a sentir-se (depreende-se) rica e libertada.
Contudo, vendo bem as contas (e
as coisas), estas não devem ser as do rectângulo florido (a cravos) à beira mar
plantado – mas agora de costas voltadas para o mesmo e só com olhos postos em
Bruxelas!
A “Liberdade” pelos vistos é má
administradora pois, num ápice, isto é, em 1978, já o país estava em bancarrota
e com uma intervenção do FMI, a que se seguiu episódio semelhante, em 1981.
As divisas foram-se; o dinheiro
para as pensões delapidado e da pesada herança em ouro, restam agora 382
toneladas (nunca foram apresentadas contas da sua alienação) das quais o Banco
de Portugal não pode dispor, pois estão “hipotecadas” ao euro!
Sim ao euro, já que ficámos sem a
tal 6ª moeda mais forte e respeitada do mundo, coisa que nem a Dinastia
Filipina se tinha atrevido a fazer!
O povo, ou parte dele, também
anda muito satisfeito, sendo rara a semana desde então, em que não houve uma
greve ou manifestação….
Entretanto entrámos para a CEE, em
condições de extrema fraqueza, em 1986 – ao contrário de 1973, em que negociámos
um tratado de comércio altamente favorável - sem debate que se visse e sem
referendo, mas engalanando em arco: estávamos (finalmente!) sentados à mesa dos
ricos e os nossos problemas estavam resolvidos!
Trabalhar e organizarmos em
conformidade não estava, obviamente, na equação. Para quê maçar os portugueses
com estes preciosismos, devem ter pensado os adiantados mentais que nos meteram
neste imbróglio…
Ainda tramavam a demagogia do
voto através do qual o povo, embriagado de liberdade, tratava do seu destino!
Foi assim, não foi, Dr.ª Teresa?
E ainda havia a NATO, que nos
defenderia de qualquer eventualidade, obviamente descartada para o símbolo das
impossibilidades – esquecendo convenientemente, que para sermos parte de uma
Aliança também temos de contribuir para ela…
Ora, como ainda por cima já não
tínhamos “colónias” e não havia ameaças, as Forças Armadas (essa “Instituição anacrónica”)
não eram precisas para nada.
Desta forma começam a destruir a
Instituição Militar estando o processo em vias de conclusão, no mínimo, bem
encaminhado.
O mesmo caminho levou a
Diplomacia.
Ora com a entrada para a CEE
começou a chover dinheiro fácil, de vários programas comunitários, que a falsa
elite tuga entendeu como oportunidade de negócio e promessa de caça ao voto, em
vez de os aproveitarem para o que se deviam destinar, ou seja para serem usados
parcimoniosamente no desenvolvimento do país e na reestruturação do Estado.
Em vez disso o país corrompeu-se
e deixou-se corromper entre “fugas” para a frente, irresponsabilidade,
negociatas ilícitas e na monumental estupidez de se pensar que tudo não passava
de almoços grátis; que os recursos eram ilimitados e, ou, quem viesse atrás que
apagasse a luz e fechasse as portas…
A classe política que desgovernou
o país – originária na ditadura dos Partidos Políticos – é, sem dúvida, a que
maior responsabilidade tem em tudo isto e o regime/sistema dito democrático
implantado, entre sequestros e loucuras várias, nos idos de 1975/76, tem-se
mostrado tão competente, que até faz com que o povo vote na sua própria
destruição e no desaparecimento do País!
Mas, ao fim de 20 anos de
entrarem nos cofres do Estado, cerca de dois milhões de contos/dia – uma soma
astronómica que bate tudo o que trouxemos da Índia, do Brasil e de África, por larga
margem e que nem sequer custou trabalho, vidas e fazenda a ir buscar – o país
entrou novamente em bancarrota, ficando sujeito à humilhação não da bota
cardada de algum exército inimigo, mas à muito pior vestimenta de veludo da “Troika”,
a qual à pala de nos baixar os juros dos empréstimos que passámos a contrair
desenfreadamente, empobrecerem a população em geral – obrigando, entre muitas
outras, à inaudita medida do corte das pensões, medida esta que não lembraria
nem ao pior Sátrapa do antigo Império Persa.
E não se ficaram por aqui: os
“homens de fraque”, a mando de rostos invisíveis, obrigaram à alienação liberal
de empresas e património, que já deve ir no valor de cerca de 40 mil milhões de
euros, para mão estrangeiras.
A última vai ser a TAP e os
transportes públicos de Lisboa e Porto, que a bandalheira de sindicatos e
administrações, de mãos dadas com a pusilanimidade dos sucessivos governos,
provocaram a acumulação de um passivo de biliões de euros!
E, Dr.ª Teresa, ao contrário
daquilo que o governo do Professor Salazar que a senhora indecorosamente
abomina, mas que conseguiu recuperar, nos anos 30 e 40, quase tudo o que estava
em mãos estrangeiras, aqui e no Ultramar (portos, caminhos de ferro, carris,
telefones, etc., etc.), nem daqui a 200 anos o que agora se foi, terá hipóteses
de retornar à lusa gente.
Aliás, daqui a 200 anos ainda
vamos estar a pagar a dívida entretanto contraída e que não pára de crescer. A
tal dívida com que a senhora julga que ficou rica…
Nessa altura os descendentes da Dr.ª
Teresa, se é que algum, hão-de estar riquíssimos e inchados de liberdade. Tenha
esperança!
Isto claro, se entretanto uma
multinacional preta, amarela, branca, árabe, assim-assim, etc., não tenha
comprado já o país todo e a Dr.ª Teresa já nem um metro quadrado de terreno
disponha para plantar cenouras e assim ficar com os olhos mais bonitos.
Ou, até, que o grande capital
internacionalista, em grande parte de inspiração (e usufruto) sionista, onde
aparecem aflorações de índole reformista, consigam impor um governo mundial de
que já não têm escrúpulos em falar (não é Dr. Durão Barroso?) e de que a UE
aparenta ser uma peça importante do puzzle (estando a posição da Alemanha e da
Rússia novamente a baralhar essas contas - ironias do destino…).[2]
Ou seja, Dr.ª Teresa, O actual
regime político, depois de deixar alienar num ápice, cerca de 95% do território
e 60% da população portuguesa – semeando guerras civis por todo o lado, que
provocaram perdas estimadas entre um e dois milhões de mortos -, nada fez com riqueza
que criou, já que tudo o que realizou desde o 25/4, foi feito com os bens que
herdou, recebeu de bandeja de Bruxelas e, ou, pediu emprestado.
É difícil ser-se mais
incompetente em qualquer parte do mundo!
*****
Agora a Liberdade.
Não sabemos o que a Dr.ª Teresa
entende por liberdade, mas sempre lhe quero dizer que esta, sendo um bem
absoluto – por isso intangível – tem aplicação relativa.
Em termos comezinhos, tal quer
dizer que a liberdade de cada um acaba quando colide com a liberdade do outro;
que há vários “tipos” de liberdade e que há, até, hierarquia na liberdade.
A liberdade individual é para a Dr.ª
Teresa mais importante do que a colectiva?
Como em tudo na vida, tem que ter
regras que disciplinem e harmonizem as coisas, à luz da evolução dos conceitos
morais de cada época.
O que é uma procura de sempre,
mas não significa seguramente, cada um fazer o que quer. O que está sempre
limitado pelo Direito Natural – conceito combatido por racionalistas, jacobinos
e positivistas - e que quase desapareceu da escola, da família e da sociedade;
pela Moral, pela Ética e pelas leis.
Estou seguro que, a agora
moderadora, está também ciente de que em metade dos países da UE, existe o
delito de opinião sobre certas matérias. Como vê uma medida muito democrática e
respeitadora da liberdade…
Presumo que a Dr.ª Teresa já não
seja do tempo daquele senhor que quando ouvia gritar por liberdade, ia à janela
ver quem a turba levava preso, mas sempre lhe digo que este meu escrito tem 5%
de hipóteses de alguma vez ser publicado, lido ou debatido, nos meios onde a
senhora se movimenta e debita.
Do mesmo modo que, presumo,
jamais entenderá(ão) a profundidade da citação do extraordinário estadista,
que abre o texto, até porque todos, pelos vistos, querem ser ricos - o que está
longe de significar, ter uma boa existência!
E ser “invencível” é superar as
contrariedades e perseverar como nação independente e individualizada no
concerto e desconcerto da Humanidade.
É isso que garante
verdadeiramente a liberdade de todos nós e com isso as liberdades
individuais.
A Dr.ª Teresa é livre de deixar a
Nação dos Portugueses, mas já não lhe reconheço o direito, e por isso a
liberdade, de querer acabar com a mesma.
E quando uma parte substancial
das pessoas se começar a aperceber disto – e por toda a Europa já começaram –
não há UE que resista. Dá guerra.
[1] Os afloramentos de desenvolvimento
industrial tentados pelo Conde da Ericeira, pelo Marquês de Pombal, Fontes
Pereira de Melo e Alfredo da Silva, comparado com os planos de fomento dos anos
50 e 60 do século XX, podem apenas ser considerados de incipientes.
[2]
Fukuyama, Fukuyama, não voltes, pois não estás perdoado!...