Este blogue apresenta os pensamentos, opiniões e contributos de um homem livre que ama a sua Pátria.
terça-feira, 26 de novembro de 2013
SAUDAÇÃO AO 1º DE DEZEMBRO
Em 2006 fui convidado para fazer uma alocução relativa à data do 1º de
Dezembro de 1640, na portuguesíssima terra de Santo Aleixo da Restauração,
data que a então Presidente da Junta de Freguesia em boa hora quis assinalar
e que, infelizmente, o seu sucessor logo deixou cair...
Junto as palavras que então proferi em pleno centro da aldeia, e que julgo agora ainda mais actuais dado o agravamento da desgraçada "crise" que o nosso país vive e a atitude miserável de um governo "tresloucado" em ter acabado com o feriado nacional que assinalava aquela data. E cuja génese tinha antecedentes desde o mandato presidencial do Dr. Jorge Sampaio."
Sobre o evento maior que originou o feriado do dia 1º de Dezembro, não deu a comunicação social qualquer notícia, limitou-se, porém, a fazer eco do silêncio que todos os órgãos de soberania decidiram dedicar ao assunto.
Sem embargo, na pequena povoação de Santo Aleixo da Restauração, no
interior do Portugal profundo, a data não passou despercebida aos habitantes locais,
que a comemoraram com dignidade, por iniciativa da autarquia local.
Aqui ficam algumas das palavras então proferidas.
Não temos soldados destros, nem tantos capitães experimentados, faltam armas, munições e petrechos de guerra; que de nenhuma cousa destas ha o número que convinha não obstante tudo isso, afirmo como Senhor, que basta a união das pessoas para suprir todas essas faltas”.
Não temos soldados destros, nem tantos capitães experimentados, faltam armas, munições e petrechos de guerra; que de nenhuma cousa destas ha o número que convinha não obstante tudo isso, afirmo como Senhor, que basta a união das pessoas para suprir todas essas faltas”.
Fr.Cristóvão de Lisboa, 16/12/1644
Caros concidadãos de Santo Aleixo:
Passaram 366 anos desde a data em que voltámos a querer escolher ter
governantes portugueses a dirigir os destinos da velha casa Lusitana, e a afirmarmo-nos
como Nação politicamente individualizada na comunidade internacional. Tudo na
senda iniciada no
Campo de São Mamede, no longínquo dia 24 de Julho de 1128.
Essa decisão, eminentemente patriótica, preparada pelos 40 Conjurados, foi
difícil e arriscada e custou-nos uma longa guerra de 28 anos, de muitas
batalhas políticas, diplomáticas e militares, penosas e árduas, que
empobreceram o país, causaram grandes danos materiais e custaram a vida a
muitos milhares de antepassados nossos. Alguns deles pisaram o chão onde agora
estamos.
Devemos curvar-nos perante a sua memória.
E tudo isto porque o ideal nacional calou mais forte; a ideia da
independência superou os desânimos e amarguras e o desígnio da libertação da
opressão e da ignomínia, multiplicou as forças e o ânimo.
É isso que, singelamente, hoje aqui se comemora.
Sendo as comemorações nacionais, elas repartem-se por vários locais e
também neste portuguesíssimo torrão que tem o significativo nome de Santo Aleixo
da Restauração!
Pretendo, por isso, começar por saudar a Senhora Presidente da Junta de
Freguesia e toda a sua equipa, por levar a cabo esta iniciativa.
Não deve a mesma ser interpretada como manifestação deslocada de passadismo
histórico; antes vista, como lembrança saudável de eventos que moldaram a nossa
identidade como povo e apuraram a nossa cultura.
Evocar aqueles que de entre nós se destacaram pelo seu valor, é uma prova
de sensatez, pois cimenta a nossa coesão, que o seu exemplo escora e nos aponta
referências para o futuro.
Evocar aqueles que sacrificaram a vida, fazenda e saúde na defesa da nossa terra,
não precisa de justificação. É, simplesmente, nosso dever fazê-lo. Este dever
tem que ser passado de avós para netos.
Um argumento que vejo esgrimir por políticos e comentadores vários, contra este
tipo de cerimónias - não faz sentido, então, manter os dias feriados se não
comemoramos o que lhes deu origem - tem a ver com as eventuais ofensas que
terceiros possam sentir.
Tal pensamento é uma verdadeira falácia que não tem razão de ser.
O que estamos aqui a realizar é um assunto nosso, é um assunto de família,
de uma família antiga, com grandes tradições. Não é contra ninguém é,
simplesmente, a nosso favor. E, caros concidadãos, acreditem que os
estrangeiros não têm pejo algum em comemorarem o que muito bem entendem sem se
preocuparem minimamente connosco. E se, por acaso, alguém não gostar, paciência,
é o preço – se algum - que temos de pagar por sermos livres e independentes.
Amigos de Santo Aleixo:
Estive a ler a vossa História que remonta ao ano de 1542.Quero, como português,
neste inicio do século XXI, saudar-vos e aos vossos antepassados, sobretudo
aqueles que se cobriram de glória para manterem a vossa e nossa terra, em mãos portuguesas,
em 1641,1644 e 1704.Caso assim não tivesse ocorrido, ainda hoje estariam, porventura,
cativos como está, para nossa vergonha e opróbrio, a vila de Olivença e o seu
termo.
Sempre o nosso país passou por vicissitudes e sempre tivemos que viver com
a espada numa mão, o arado na outra e um crucifixo ao pescoço.
Poderão pensar que os dias de hoje são diferentes, mas a essência das
coisas mantêm-se, não muda. Gostaria que meditassem nisto.
A Independência de Portugal passa pela independência de cada um de nós:
independência económica, financeira, cultural, psicológica, etc., conhecimento
das coisas e da vida, e carácter para nos afirmarmos e mantermos.
Em simultâneo teremos que reter e desenvolver a capacidade para nos
organizarmos e trabalhar, tanto em família como em sociedade, mantendo os laços
e objectivos comuns, que nos unem como Nação. Só assim não nos diluiremos um dia,
numa qualquer organização internacional onde nos queiram enredar.
Por isso, se quisermos compreender a catástrofe iniciada com a entrada do
Duque de Alba em Lisboa e finalizada nas Cortes de Tomar de 1581 (embora a Ilha
Terceira só se tenha rendido em 1583), teremos que responsabilizar, em primeiro
lugar a nós próprios, pois foi a nossa incúria, ignorância e cupidez, os
principais factores que nos agrilhoaram 60 longos anos. Não foram 60 dias.
Portugueses de Santo Aleixo:
Não é hoje Filipe I que está sentado no trono em Madrid. Mas atentemos que
se ao longo das sucessivas gerações de portugueses foi passando o ideal da
independência (embora os iberistas se continuem a manifestar e até já chegaram,
aparentemente, ao Governo!) é natural esperar-se que na descendência Castelhana
não tenha esmorecido o desejo de acrescentar mais uma província, ou autonomia à
Espanha.
Lembro-vos a célebre frase de José de Carvajal y Lencastre, Ministro de
Estado ao tempo do Rei Fernando IV, de Espanha:”A perda de Portugal foi de puro sangue e, por isso, o ministro
espanhol que não pense constantemente na reunião, ou não obedece à lei ou não
sabe do seu ofício”.
Elucidativo é, também, o que o ministro dos negócios estrangeiros espanhol
Fernando Moran afirmou logo na primeira cimeira Luso-Espanhola – a que,
inexplicavelmente, os governantes portugueses permitem que se chame “Ibérica” -
ocorrida a seguir ao 25 de Abril de 1974, e cito: ”A reconversão histórica de Portugal passa pela continentalidade e, sem
dúvida, pela Europa, salvo se, como fez desde Aljubarrota aos Tratados de
Windsor, procurar converter-se na base de desembarque de uma potência
ultramarina e salvo se enfeude aos EUA e à NATO”.
Caros concidadãos:
Até aos nossos dias pesou, sobretudo, sobre nós a ameaça militar e diplomática.
Os tempos mudaram e essa ameaça passou para terceiro plano. A ameaça agora é
global e vai do futebol às finanças; da agricultura ao turismo e às pescas; da
cultura ao comércio. As defesas com que contávamos, a fronteira, a moeda, alfândegas,
leis nacionais, apoios externos, etc., estão hoje diluídas ou, simplesmente, desapareceram.
E se, em1640, interessava mais internacionalmente, a existência de dois ou
mais estados na Península Ibérica, esse interesse diminuiu substancialmente ou
desapareceu nos dias que correm.
Aliás, tudo se faz para confundir a
opinião pública no sentido de considerar a Península ou a “Ibéria”, como um
todo político, quando ela apenas representa uma realidade geográfica!
A ameaça que paira sobre nós não é fictícia, e é hoje muito mais perigosa
porque é mais dissimulada, embora não prescinda igualmente de quintas colunas e
ingénuos úteis.
Por isso, a muitos, é difícil
aperceberem-se do que se passa e acreditarem nos perigos que o futuro nos possa
reservar.
Lamentavelmente a comunicação social de que somos servidos e onde, aliás, as
empresas espanholas não param de investir, liga muito pouco a eventos como este.
Prefere os “fait - divers”, os assuntos menores, as tricas dos senhores do futebol,
os amores e desamores dos personagens das novelas, etc.
O “negócio” em que tudo isto se transformou,
não parece compatível com o conhecimento e a cultura...
Meus caros concidadãos deste cantinho grande de Portugal:
Nós não podemos ter dúvidas ou ser ingénuos: a independência e a soberania
são os bens mais preciosos que temos a seguir à vida. Elas conquistam-se e
defendem-se. Não se discutem nem referendam!
Tão pouco, carecem de ser aferidas em sondagens tolas, que escondem desígnios
ínvios ou apenas expectativas de maiores tiragens...
A existência de Portugal como individualidade politica e identidade
cultural própria – e não poderá haver uma sem a outra - sempre exigiu um preço
muito elevado em vidas, em haveres, em sacrifícios, em trabalhos e, até, em
sujeições e afrontas.
Este preço vai continuar a ser cobrado.
A questão que se põe é esta: teremos nós a estamina e o querer para nos
mantermos neste desiderato? Teremos nós a sageza e a coragem de adequarmos a
organização política do Estado às necessidades de cada momento e sabermos
escolher a liderança mais capaz de nos guiar no nosso destino de portugueses?
É este o desafio que deixo ao vosso pensamento.
É mister concluir.
Na certeza de que, em Madrid, os ministros obedecem à lei e sabem do seu ofício,
torna-se necessário lembrarmo-nos e lembrar-lhes o exemplo de Frei Heitor Pinto,
patriota sem mácula e que, por isso, morreu miseravelmente numa masmorra, em Madrid,
e que afirmou:”El Rei Filipe bem poderá
meter-me em Castela, mas Castela em mim, é impossível”.
Comemorar o 1º de Dezembro é uma reafirmação do nosso querer colectivo. Deve
fazer parte da cultura nacional até se tornar um acto reflexo.
Hoje é, pois, dia de recordar varões
insignes desta terra, como Martim Carrasco Pimenta, Aleixo Carrasco. Lopo
Mendes Sancas, João Mendes Sancas, Lopo Caeiro Sancas, Pedro Bacias, Frei
Pedro, o Prior Pedro Carrasco e muitos outros e outras, que se destacaram nas Guerras
da Aclamação e que fizeram jus às palavras do cronista António Alvares:
“E os de Santo Aleixo responderam que
não desamparariam o lugar, porque lhes não parecia honra do Reino, antes se
ficavam aparelhando para o defender e ficar, se fosse necessário por serviço do
seu Rei, sepultados entre as ruínas de suas casas porque, com isto, quando
perdessem as vidas salvariam as honras, que mais estimavam”;
“E só em não perder a honra reparavam”;
“E como Lopo Mendes quisesse levantar
bandeira branca e pedir quartel, as mulheres que estavam dentro no reduto, que
em outras partes costumam ser ocasião de se entregarem praças, lho não quiseram
consentir e, pegando na bandeira, lha fizeram abaixar”;
“E quiseram mais morrer livres e
honrados que viver cativos e abatidos”.
O meu bem-haja à população de Santo Aleixo da Restauração, o qual só pode
ser ultrapassado por um grande VIVA PORTUGAL!
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
DESFILE NACIONAL DE BANDAS - REPOR O FERIADO DOS FERIADOS
DESFILE NACIONAL DE BANDAS DO 1.º DE DEZEMBRO
Repor o Feriado dos Feriados
É já no próximo dia 1 de Dezembro (Domingo), pelas 14,30 horas, que se realiza o grande Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas, integrado nas Comemorações do 1.º Dezembro, dia da Restauração da Independência Nacional.
Estarão presentes 18 Bandas Filarmónicas representativas de todos os distritos de Portugal Continental e ainda dois grupos de percussão (Bombos de Mondim de Basto e Toca a Rufar) e de cante alentejano, que descerão a Avenida da Liberdade desde o cinema São Jorge até aos Restauradores, tocando várias peças musicais para finalizarem com o Hino Nacional e da Restauração que será tocado por mais de mil músicos em simultâneo.
Organização conjunta do Movimento 1.º de Dezembro e da Câmara de Lisboa, em parceria com a EGEAC e com o apoio da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, contará com a transmissão em directo pela RTP que se associa como televisão oficial.
O espectáculo terá a duração aproximada de duas horas e é aberto a toda a população que se deseja encha a Avenida da Liberdade.
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
A DESCONSTRUÇÃO HISTÓRICA DE PORTUGAL
O Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa tem a honra de convidar V. Ex. a e sua Exa. Família a assistirem à Conferência promovida pela Secção de História e subordinada ao tema:
“A Desconstrução Histórica de Portugal”
Será orador o Senhor TCor. João Brandão Ferreira
A Sessão realiza-se na sede da SGL (Anfiteatro) no dia 5 de Dezembro de 2013 pelas 17h30 horas.
--
Sociedade de Geografia de Lisboa
Rua das Portas de Santo Antão, 100
1150-269 Lisboa - Portugal
213425401 - 213464552
terça-feira, 19 de novembro de 2013
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
IN MEMORIAM
Coronel Gomes Bessa (11/08/1922 –
01/11/2013)
Os caminhos do destino levam a que, ultimamente, de todas as gravatas que possuo, aquela que tenho utilizado mais seja a preta.
Preta, de luto.
Desta vez usei-a para acompanhar à sua última morada, o Coronel de Artilharia do Exército (até agora, português) Carlos Gomes Bessa.
Um homem bom e corajoso em todas as fases da sua vida, em que se revelou ser uma “força da natureza”.
Morreu na paz do Senhor.
Falecido no primeiro dia de Novembro – ex-feriado de Todos os Santos – contava 91 anos de uma vida cheia, em que soube sempre ultrapassar os obstáculos com firmeza e bonomia.
Exemplo disso foi a luta que travou durante 14 anos, a fim de tentar ultrapassar a injustiça do saneamento de que foi alvo – como muitos outros camaradas – na sequência dos eventos “revolucionários”, ocorridos a seguir ao Golpe de Estado de Abril de 1974.
A sua carreira estendeu-se e espraiou-se, fundamentalmente, em duas áreas: a militar e a de académico e historiador.
No âmbito militar fez jus ao lema artilheiro de que “a Artilharia morre em sentido”.
Foi um oficial completo com uma personalidade e formação, sólidas.
Depois do Curso na Escola do Exército, iniciado em 1942, foi colocado no Regimento da Serra do Pilar, uma unidade de grandes tradições militares, que ficou conhecida como “Os Polacos da Serra”, e que viria a comandar, como coronel, em 1973.
Em 1950 foi chamado para frequentar o exigente Curso de Estado - Maior, tendo ingressado no respectivo “Corpo” e desempenhado funções correlativas, durante vários anos.
Fez duas comissões no Ultramar – de que se tornou grande conhecedor e estudioso – a primeira na Guiné, entre 1956 e 1960, onde desempenhou as funções de Chefe de Estado – Maior do Comando Militar e, logo em Abril desse ano, marchou para Angola a convite do Governador – Geral de quem foi chefe de Gabinete, tendo regressado em Junho do ano seguinte, na sequência do início do terrorismo naquela Província.
Foi Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa entre 1966 e 1970 estando sempre muito ligado à educação da juventude tanto na Metrópole como no Ultramar, tendo criado a “Procuradoria dos Estudantes Ultramarinos, em 1962. Foi ainda director da Revista “Ultramar” entre 1961 e 1970.
Foram-lhe concedidos 16 louvores e nove condecorações.
Como académico foi um trabalhador incansável, desenvolvendo o seu labor em várias instituições de que se destaca a Academia Portuguesa da História, de que foi Secretário nove anos; Academia das Ciências; Sociedade Histórica da Independência de Portugal; Comissão Portuguesa de História Militar, de que foi um dos fundadores e, depois, Secretário; Sociedade de Geografia e Revista Militar, de que foi Director muitos anos.
São incontáveis os trabalhos, comunicações e conferências efectuados, sempre com uma qualidade elevada, muitas delas de âmbito internacional, tendo desenvolvido contactos sobretudo com o Brasil, a Venezuela e a Espanha.
É ainda autor de vasta bibliografia histórica, de grande mérito.
Assim se manteve até que um lamentável acidente o confinou à sua casa e o impediu de continuar a sua prestimosa e multifacetada produção intelectual.
Mesmo assim pude constatar a alegria e vontade que tinha em viver, estar informado e em vir a realizar mais coisas.
Manteve-se “jovem” até ao fim.
Conheci o Coronel Bessa, na Revista Militar, vai para 30 anos e mantive sempre um contacto mais ou menos estreito com ele, durante todo este tempo.
Aprendi a admirar a sua vasta cultura, a sua habilidade nas relações humanas, o espirito militar e o seu amor a Portugal.
Devo-lhe atenções, ajuda, ensinamentos e amizade.
Privar com ele representou, sem dúvida, uma das coisas boas que pude usufruir nesta vida.
Partiu um homem honrado e um português de rara fibra e qualidade.
Amortalhou-se na Bandeira das Quinas mas, porventura ainda magoado, dispensou as honras militares. Foi, talvez, a última mensagem que nos deixou.
E, deste modo, ficámos mais pobres.
Os caminhos do destino levam a que, ultimamente, de todas as gravatas que possuo, aquela que tenho utilizado mais seja a preta.
Preta, de luto.
Desta vez usei-a para acompanhar à sua última morada, o Coronel de Artilharia do Exército (até agora, português) Carlos Gomes Bessa.
Um homem bom e corajoso em todas as fases da sua vida, em que se revelou ser uma “força da natureza”.
Morreu na paz do Senhor.
Falecido no primeiro dia de Novembro – ex-feriado de Todos os Santos – contava 91 anos de uma vida cheia, em que soube sempre ultrapassar os obstáculos com firmeza e bonomia.
Exemplo disso foi a luta que travou durante 14 anos, a fim de tentar ultrapassar a injustiça do saneamento de que foi alvo – como muitos outros camaradas – na sequência dos eventos “revolucionários”, ocorridos a seguir ao Golpe de Estado de Abril de 1974.
A sua carreira estendeu-se e espraiou-se, fundamentalmente, em duas áreas: a militar e a de académico e historiador.
No âmbito militar fez jus ao lema artilheiro de que “a Artilharia morre em sentido”.
Foi um oficial completo com uma personalidade e formação, sólidas.
Depois do Curso na Escola do Exército, iniciado em 1942, foi colocado no Regimento da Serra do Pilar, uma unidade de grandes tradições militares, que ficou conhecida como “Os Polacos da Serra”, e que viria a comandar, como coronel, em 1973.
Em 1950 foi chamado para frequentar o exigente Curso de Estado - Maior, tendo ingressado no respectivo “Corpo” e desempenhado funções correlativas, durante vários anos.
Fez duas comissões no Ultramar – de que se tornou grande conhecedor e estudioso – a primeira na Guiné, entre 1956 e 1960, onde desempenhou as funções de Chefe de Estado – Maior do Comando Militar e, logo em Abril desse ano, marchou para Angola a convite do Governador – Geral de quem foi chefe de Gabinete, tendo regressado em Junho do ano seguinte, na sequência do início do terrorismo naquela Província.
Foi Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa entre 1966 e 1970 estando sempre muito ligado à educação da juventude tanto na Metrópole como no Ultramar, tendo criado a “Procuradoria dos Estudantes Ultramarinos, em 1962. Foi ainda director da Revista “Ultramar” entre 1961 e 1970.
Foram-lhe concedidos 16 louvores e nove condecorações.
Como académico foi um trabalhador incansável, desenvolvendo o seu labor em várias instituições de que se destaca a Academia Portuguesa da História, de que foi Secretário nove anos; Academia das Ciências; Sociedade Histórica da Independência de Portugal; Comissão Portuguesa de História Militar, de que foi um dos fundadores e, depois, Secretário; Sociedade de Geografia e Revista Militar, de que foi Director muitos anos.
São incontáveis os trabalhos, comunicações e conferências efectuados, sempre com uma qualidade elevada, muitas delas de âmbito internacional, tendo desenvolvido contactos sobretudo com o Brasil, a Venezuela e a Espanha.
É ainda autor de vasta bibliografia histórica, de grande mérito.
Assim se manteve até que um lamentável acidente o confinou à sua casa e o impediu de continuar a sua prestimosa e multifacetada produção intelectual.
Mesmo assim pude constatar a alegria e vontade que tinha em viver, estar informado e em vir a realizar mais coisas.
Manteve-se “jovem” até ao fim.
Conheci o Coronel Bessa, na Revista Militar, vai para 30 anos e mantive sempre um contacto mais ou menos estreito com ele, durante todo este tempo.
Aprendi a admirar a sua vasta cultura, a sua habilidade nas relações humanas, o espirito militar e o seu amor a Portugal.
Devo-lhe atenções, ajuda, ensinamentos e amizade.
Privar com ele representou, sem dúvida, uma das coisas boas que pude usufruir nesta vida.
Partiu um homem honrado e um português de rara fibra e qualidade.
Amortalhou-se na Bandeira das Quinas mas, porventura ainda magoado, dispensou as honras militares. Foi, talvez, a última mensagem que nos deixou.
E, deste modo, ficámos mais pobres.
domingo, 3 de novembro de 2013
QUESTÕES BÁSICAS SOBRE A “SAÚDE MILITAR”
“Porque será que uma junta de
bois são dois, e uma junta de médicos são três?”
Questão magna que preocupa, desde
tempos imemoriais, o “jornal da caserna”. E que, obviamente, nunca deve ser colocada
a um clínico…
Com o final catastrófico e
militarmente indecoroso, das últimas operações ultramarinas em que defendemos
as gentes e o território nacional, no “além-mar” – onde os Serviços de Saúde
Militar (SSM) cumpriram muito bem e prestaram relevantes serviços à Pátria [1]- que se perdeu,
paulatinamente, a noção de que a razão principal e primária para a existência
de serviços específicos de saúde militar, tem a ver com a necessidade de apoio
sanitário às tropas em operações.[2]
E como razão secundária a necessidade
de triagem médica nas fases de seleção, recrutamento e treino; no tratamento e
recuperação de feridos na retaguarda e todo um âmbito de actividades
relacionadas.
Cada Ramo das Forças Armadas tem,
por sua vez, necessidades e especificidades próprias, que devem ser garantidas,
seja qual for o modelo organizacional que se queira implementar.
É em todo este âmbito que existem
hospitais de retaguarda.[3]
É nestes que o pessoal médico e
de enfermagem têm contacto e praticam as técnicas da sua especialidade de modo
a manterem uma proficiência e actualização adequada.
Para além disto os hospitais
militares têm a importante missão de apoio à família militar, fundamental para
o Moral e Bem-Estar dos profissionais das armas e suas famílias, o que, aliás,
constitui um direito consignado em lei.
Um dos direitos - dos
pouquíssimos que restam – em compensação dos especiais deveres impostos pela
“condição militar”.
Condição militar, note-se, que é
indispensável para o correcto funcionamento de qualquer força armada civilizada,
e sem a qual as FA estarão, à partida, derrotadas; e da qual os bons militares
se orgulham e aceitam, e a que não deixam de estar sujeitos.
Com isto dito, vamos tentar
sintetizar os problemas de sempre (embora agudizados pela vivência das últimas
décadas), relativos aos SSM.
É assim:
A generalidade dos oficiais
generais não percebe nada de saúde (mas têm à sua disposição os meios
necessários para equacionar devidamente o problema) e a grande maioria dos
médicos não percebe nada de assuntos militares, nem quer perceber (alguns até
têm raiva a quem sabe). Ora pôr a funcionar SSM nestas condições não parece ser
nada fácil…
Dois exemplos simples ilustram o
que digo; desde sempre o médico de uma unidade fazia parte (a que se deve
juntar o capelão) do chamado “estado-maior” do comandante. Sem embargo ofereço
um doce a quem tenha, nos últimos 35 anos, visto ou almoçado com o médico da
unidade, na mesa de comando. E, que se saiba, a 2ª refeição é (ou era?) um acto
de serviço…[4]
Por sua vez sabe-se da
dificuldade em nomear um médico para um teatro de operações fora do território
nacional; até para os Açores, às vezes, simplesmente, para fora de Lisboa…
Tal facto ocorre depois da
Fazenda Nacional ter gasto uma nota preta na sua formação e não poucas vezes
origina o pedido imediato do abandono do serviço activo.
A segunda síntese reza assim:
“não haver nenhum senhor general ou almirante que não tenha que vir a mostrar o
seu republicano cóccix, a um ou mais médico. É uma questão de tempo.
Ora acreditem ou não, este último
postulado tem grandes hipóteses de interferir com o principal problema
existente com o pessoal relacionado com o Serviço de Saúde (sobretudo médicos)
e que é este: a dificuldade que existe em que eles cumpram o horário normal de
serviço.[5]
O que configura um problema de
funcionamento e disciplinar básico.[6]
Piora as coisas quando as
inteligências que nos têm governado decidiram apoucar a Instituição Militar,
destruindo a Justiça Militar e tornando a Disciplina Militar numa caricatura,
após a última alteração ao respectivo regulamento.
*****
Serve o acima exposto, como
introito para alguns comentários que o mais recente despacho do ex-candidato
vencido à Assembleia Municipal da Camara da Invicta – que logo desistiu da sua
participação em tão distinto areópago – e que nas horas vagas passa por um
gabinete destinado a ser ocupado por uma figura que ostenta o título de MDN.
O despacho é o 160/MDN/2013, em
que S. Exª nomeou um general da FA, na reforma (!), como gestor de projecto
para a expansão do HFAR/PL.[7]
Ou seja mais um GT fora da
estrutura organizativa legalmente constituída para resolver estes assuntos…
Porque se fez isto?
Simples, arranjaram um nó górdio
de tal maneira surrealista e intrincado que agora ninguém o sabe desatar.[8]
Resumindo, por despacho
“superior” determinaram-se coisas de qualquer maneira (porque sim!) sem haver o
mínimo de consenso entre as partes envolvidas; sem estudos exaustivos; sem se
terem comtemplado as questões orçamentais; sem se preverem verbas para as
mudanças previstas – raramente, aliás, as alminhas responsáveis se preocupam
com os investimentos iniciais sempre fundamentais em qualquer reestruturação
séria.[9]
De seguida em vez de serem os
Estados – Maiores dos Ramos – que vão passar serviços e pessoal para o novo
órgão – e o EMGFA - que os vai receber e, posteriormente chefiar o HFAR – a
tratar o assunto, como seria natural, curial e de bom senso, passou a ser o MDN
a tratar de tudo.
Ou seja para além das chefias, pouco
rodadas em assuntos de saúde e dos médicos pouco versados em questões
militares, colocaram no circuito uns quantos civis, que não sabem nada nem de
uma coisa nem de outra, a mandar nesta trapalhada toda![10]
Acresce ainda, que a FA dispõe de
outros órgãos e unidades na Base do Lumiar – entretanto rebaptizada de “Campus
da Saúde”[11]
– como sejam a Banda de Música, os alojamentos para o pessoal em trânsito e a
Direcção do Serviço de Saúde, que têm que ser reinstalados; O Centro de
Medicina Aeronáutica, o Centro de Psicologia da FA e o Centro de Recrutamento,
que lá vão ficar; prevê-se a instalação do Centro de Medicina Subaquática e
Hiperbárica (transferido do Hospital de Marinha) e a criação da Junta de Saúde
para os três Ramos, além da implementação da unidade de apoio a todo o complexo
como era feito pela antiga Base do Lumiar (a extinguir).
Em sequência estão previstas
obras de ampliação do “novo” hospital, tidas por necessárias já que com o HFAR
se pretende substituir aos quatro hospitais militares existentes na área de
Lisboa.[12]
Este conjunto de acções está
previsto num outro documento, o Despacho nº 7002/2013, do MDN, que cria o
HFAR/PL e mais dois grupos de trabalho, a saber: a Comissão de Acompanhamento
(mais uma) e um segundo “para a definição do modelo organizacional para os
cuidados continuados no âmbito do HFAR”.
Para a confusão ser maior ninguém
sabe quem paga o quê, a quem e quando!
Ou seja, arranjaram um granel
indiscritível, fora de todas as regras militares, sem linhas claras de
autoridade, com os níveis de decisão baralhados e sem hipóteses de coordenação
horizontal.
Em vez de repensarem toda esta
meada de disparates consecutivos e colocarem as coisas no são, como sugerido
acima, insiste-se em atamancar as coisas criando outro grupo de trabalho, indo
buscar pessoas à reserva e reforma, quando se destruíram as carreiras pelo
congelamento das promoções (fazendo-se às pinguinhas sabe-se lá por que
critérios) e se aventa constantemente com o espantalho do “pessoal a mais”.
No meio disto tudo só espanta
como a generalidade das pessoas que lá trabalha continue a prestar tão bons
cuidados de saúde.
Mistério a que nem uma “Junta de
médicos” (três) saberá responder.
[1]
Como, de resto, toda a logística, que não funcionava tão bem desde que o João
da Nova comandou a terceira Armada (1500 homens, do melhor que tínhamos)
enviada à India, em 1501!
[2]
Talvez por isso, ainda não se tenha ouvido falar neste pressuposto, em toda a
discussão que, nos últimos anos, tem existido à volta da “reforma da saúde
militar”. E era por aqui que se devia ter começado…
[3]
Também existem hospitais de campanha para apoio directo das tropas em
operações, cujos meios e dimensões estão dependentes do escalão das unidades
empregues e da distância à frente de combate.
[4]
Não digo que tal não tenha existido, sobretudo em quarteis mais isoladas. E a
maioria das vezes tal ocorria com médicos civis (avençados) que tinham
desenvolvido uma ligação especial, até de carinho, com uma dada unidade.
Cheguei a conhecer alguns.
[5]
Para os menos habituados às lides militares esclarece-se que uma das
consequências da tal “condição militar” é o facto de os militares não terem
(ainda) “horário de serviço”, mas apenas um “horário normal de serviço” pois
por definição “estão sempre ao serviço”, isto é, trabalham quando é preciso e
descansam quando podem…
E assim é que está correcto.
[6]
Um outro problema que nunca foi devidamente resolvido é o da compatibilização
da “carreira” técnica médica (agora também de enfermagem), com as funções
inerentes aos diferentes postos. E não é nada fácil resolver.
[7]
Lê-se Hospital das Forças Armadas/Polo de Lisboa.
[8]
Deve, em abono da verdade, afirmar-se que as coisas só chegaram a este cumulo
porque os Chefes Militares não se conseguem entender sobre coisa alguma –
normalmente por questões corporativas – e, no mais das vezes, mostram-se
incapazes de travar a equipa ministerial nos disparates que intentam fazer.
[9]
Parafraseando o cronista “num esquecimento muito bem alembrado…”
[10]
Chegaram até ao ponto de inocular uma espécie de “comissário político” civil,
na estrutura superior do HFAR, para tratar de questões logísticas, numa atitude
abusiva – diria mesmo ilegal – à revelia da organização militar, além de
passarem mais um atestado de incompetência, de gozação mesmo, às Forças
Armadas. Já não consigo imaginar o que terá que acontecer para que as chefias
militares tenham um assomo de dignidade e vergonha e digam um “basta”!
[11]
Não há paciência, será que o Senhor Ministro ainda julga que se passeia na
Universidade de Coimbra, enquanto estudante?
[12]
O da Marinha, sito em S. Clara; e dois do Exército, o de Belém e o da Estrela
(este último com três polos separados); e o da Força Aérea, no Lumiar, que foi
o escolhido para albergar tudo. Assim como quem tenta meter o Rossio na rua da
Betesga…
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