terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O livro mais antigo da língua portuguesa e tem 530 anos!

 

É o livro impresso mais antigo escrito em português e foi produzido em Chaves, no Norte de Portugal. Uma verdadeira joia da língua portuguesa...




Ao contrário do que muitos possam pensar, o primeiro livro impresso em Portugal na língua portuguesa não foi produzido em grandes cidades como Lisboa, Porto, Braga ou Coimbra. O livro impresso mais antigo em português foi produzido em Chaves, uma pequena cidade no norte de Portugal.
Para quem desconhece a história desta pequena cidade, será difícil perceber as razões pelas quais terá sido aqui que o primeiro livro português foi impresso. Mas Chaves, na altura, era um centro cultural de relevo, muito por causa de ser uma cidade por onde passavam muitos dos peregrinos que faziam o Caminho de Santiago. Chaves possuía, também, uma escola de cirurgia (uma das primeiras de Portugal), o que atesta a dimensão e a importância desta pequena cidade transmontana.


                                            Chaves


A impressora inventada por Gutemberg trouxe o surgimento da técnica conhecida como “tipografia”. O primeiro livro impresso tipograficamente foi a Bíblia, em latim. A confiabilidade no texto e a capacidade do livro atender à demanda de um público cada vez maior tornou-se dependente da tipografia. Em Portugal, a novidade chegou no início do reinado de D. João II, que governo o país de 1481 até sua morte em 1495. O primeiro livro impresso em Portugal foi o Pentateuco (os cinco primeiros livros do Velho Testamento, da Bíblia), na cidade de Faro, mas com caracteres hebraicos.  

Não se sabe com exatidão qual foi o primeiro livro realmente publicado em língua portuguesa, mas muitos estudiosos consideram que tal livro tenha sido “O Sacramental”, de Clemente Sánchez de Vercial.



          Ponte de Trajano (Chaves) – Fernando Ribeiro


O que se tem como informações concretas sobre “O Sacramental” é que sua primeira edição foi impressa em 1488 na cidade de Chaves, mas o autor não era português. Ele era um padre de León, uma província da Espanha. O Sacramental foi escrito por Clemente Sánchez de Vercial. um clérigo leonês que viveu entre o século XIV e o XV e que escreveu várias obras religiosas e moralizantes. A primeira impressão portuguesa terá ocorrido em Chaves em 1488. O Sacramental foi um dos livros mais lidos durante o século XV, tendo sido proibido pela Inquisição no século XVI e consequentemente queimado. Teve várias edições impressas em língua castelhana e portuguesa. Descubra o livro mais antigo da língua portuguesa.


                                            Chaves


O Sacramental de Clemente Sánchez de Vercial, obra pastoral redigida entre 1421 e 1425 em língua castelhana, depois dos livros destinados ao ofício religioso, foi o livro mais impresso na Península Ibérica, desde a introdução da imprensa até meados do século XVI. A primeira impressão portuguesa terá ocorrido em Chaves em 1488, mas não existem provas concretas que suportem esta tese. O incunábulo d'O Sacramental impresso em Chaves é considerado por alguns «o primeiro livro em língua portuguesa impresso em Portugal».


Segundo Vindel, teria sido o primeiro livro impresso em Espanha; cerca de 1470 em Sevilha. Foi traduzido para o catalão – Lo sagramental – em Lérida, 1495. Conhecem-se treze edições em castelhano, uma em catalão e quatro em português. Das edições em português, duas foram impressas no século XV (Chaves, 1488 (?); e Braga (?), ca. 1494-1500 e duas no século XVI (Lisboa, 1502; e Braga, 1539).



O Sacramental é um depositário da forma como deve viver o homem medieval, tratando a alimentação, as relações familiares, as relações sociais, a relação com Deus, o trabalho, o descanso, a saúde, a doença e a sexualidade, o que faz dele um documento indispensável para o estudo da sociedade medieval portuguesa.
Assim começa o livro:
«E por quanto por nossos pecados no tempo de agora muitos sacerdotes que hão curas de almas não somente são ignorantes para instruir e ensinar a fé e crença e as outras cousas que pertencem à nossa salvação, mas ainda não sabem o que todo bom cristão deve saber nem são instruídos nem ensinados em a fé cristã segundo deviam, e o que é mais perigoso e danoso, alguns não sabem nem entendem as Escrituras que cada dia hão-de ler e trautar.
E porende, eu Clemente Sánchez de Vercial, bacharel em leis, arcediago de Valdeiras em a igreja de León, ainda que pecador e indigno, propus de trabalhar de fazer uma breve compilação das cousas que necessárias são aos sacerdotes que hão curas de almas, confiando da misericórdia de Deus.»

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