TANCOS, AS ARMAS E A ÓPERA BUFA
17/07/17
“O Homem é o Homem e a sua circunstância”
Ortega y Gasset
A ópera continua…
A única coisa que
parece certa no meio de tudo o que se passou é o facto das autoridades
portuguesas – sejam elas do âmbito da Defesa, das Forças Armadas, das Forças de
Segurança, dos Serviços de Informações, da Justiça, enfim, de toda a
parafernália que enforma o tão decantado “estado de direito democrático” –
andarem à deriva e não terem a mais pálida ideia do que se passou e como se
passou!
Existem algumas
perguntas óbvias que é necessário fazer, dado o assunto ter caído na praça
pública. E a primeira é já esta: porque é que o evento, dada a sua delicadeza,
caíu no domínio público (que se saiba o furto não foi descoberto por nenhum
jornalista…)?
A que se deve
seguir a questão de se saber quando foi feita a última inspecção aos paios?
Quem tinha acesso
aos mesmos? O que é que lá havia efectivamente (desculpem, mas depois de tudo o
que já foi dito, tenho dúvidas se alguém sabe a lista do material lá
existente)?
Como é que este
tipo de informação foi parar às mãos de hipotéticos bandidos?
Como é que os paióis
foram violados e quando (e o “quando” pode ser diferentes vezes…)?
Finalmente é
necessário saber (a quem investiga o caso, obviamente) que relatórios foram
feitos ao longo do tempo, a fim de avaliar os verdadeiros responsáveis em todo
este âmbito.
Também seria
curioso descortinar quem fez a fuga de informação para o jornal “El Espanol”,
que revelou a lista do material roubado, ou furtado (vejam bem onde chega a
discussão!), complementada com um artigo arrasador do correspondente, em
Lisboa, do Jornal “El País”, e que nos expõe ao ridículo!
E é caso para
perguntar, se a notícia é falsa porque não se levanta um processo ao jornal?
Pelo meio desta
surrealista situação apareceram umas almas penadas, cheias de teias de aranha,
a arengar que tudo não passou de um “golpe da Direita” – como se houvesse
alguma “Direita” - para prejudicar o Governo. Não há pachorra!
Tudo piorou,
porém, com o regresso do Primeiro – Ministro do remanso das suas férias, quando
à revelia do que se tinha dito até então, tudo foi desvalorizado; deixando o
roubo de ser grave, tão pouco perigoso sendo, afinal, todo o mundo competente,
não havendo lugar a demissões!
E até os dois
generais que se demitiram por não concordarem com tanta pouca vergonha estavam
era ressabiados (como puseram a correr…)[1]
Resta apenas saber
se os cinco comandantes que foram “exonerados provisoriamente”, irão passar a
“definitivamente”, ou não!
Num passe de mágica
o assunto morria ali, ao mesmo tempo que se passava um atestado de menoridade
mental à generalidade da população.
Soube-se
entretanto, que o CEME, numa manobra táctica inspirada provavelmente no
“emprego de armas de tiro tenso no ataque aos pontos de cota mais alta”, já não
quer os paióis de Tancos para nada, andando afanosamente à procura de
alternativa.
Logo agora que o
senhor ministro, na sua cândida magnanimidade, tinha aberto os cordões à bolsa
e mandado reparar a rede e o sistema de videovigilância. Não se faz!
Para o cenário da
Ópera (Bufa) ficar completo o PM e o MDN atiraram com o sorridente CEMGFA para
a frente dos microfones (que, supostamente representava, no momento, todos os
militares), ficando eles atrás do dito, com ar de quem estava a levar um
clister – que momento de glória, senhor general! – para finalmente nos elucidar
e para nosso descanso, que afinal a maioria do material desaparecido estava
para ser abatido e só valia 34.000 euros! (esquecendo-se convenientemente de dizer
que o material obsoleto não deixa de ser perigoso e que o grave de tudo tenha
sido a violação dos Paióis…).
Sem embargo
confessou ter levado um “murro no estomago”, o que apesar se ser uma expressão
infelizmente apenas metafórica, lhe deve ter afectado o raciocino e as
vertebras da coluna.
Murro, que não
alterou a boa disposição para a sardinhada que mandou preparar no dia seguinte,
em S. Julião da Barra, para os seus colaboradores mais próximos.
Melhor senso teve
o pessoal da Antiga Escola Prática de Engenharia que cancelou as cerimónias
anuais do dia da Arma, a 14 de Julho, devido aos tristíssimos eventos ocorridos
e ao ambiente de cortar à faca que se vive.
A Instituição
Militar está de facto, em queda livre…
A performance do
CEMGFA não deixa de representar, todavia, um grande “sacrifício pela Pátria”, o
que não deixará seguramente de ser recompensado no próximo dia 10 de Junho com
a atribuição pelo PR da republicaníssima “Ordem da Tristíssima Figura”, grau
latão, arrematando-se a coisa, no fim, com uma “selfie”.
Se o CEME tem sido
“brilhante” na sua actuação, o CEMGFA consegue superá-lo. Compreende-se, é um
superior hierárquico!
Os
professores/instrutores que ensinam “Comando e Liderança” aos cadetes e
oficiais, já têm aqui exemplos a apontar.
Daquilo que se não
deve fazer.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
[1]
Eu ainda me lembro que a pior alcunha que se podia pôr a um cadete da Academia
Militar ou da Escola Naval era o de “sabujo”. Infra sabujo.
Sr. Tenente Coronel
ResponderEliminarMais um texto magnífico.
Entretanto:
http://observador.pt/2017/07/23/governo-investe-700-milhoes-para-modernizar-forcas-armadas/
"Não há fome que não dê em fartura" diz o nosso Povo.
Meus cumprimentos
Manuel A.