terça-feira, 20 de junho de 2017

ERA UMA VEZ …



ERA UMA VEZ …
14/6/17

“ A repressão deve ser imediata e enérgica; tanto quanto baste mas que não sobre.
De tal maneira que aqueles que prevaricaram não tenham vontade de repetir e os que presenciaram não tenham desejos de imitar.”
                                                                              General Farinha Beirão (Pinhel, 1906 –
                                                                        Pinhel, 1971);
      Comandante - Geral da GNR (27/5/27 - 22/7/39)

A Alice no país das maravilhas.
Um país perfeitamente subvertido nos seus fundamentos…
A Alice tinha óbvia e seguramente, as melhores intenções…
Mas ignorante e mal aconselhada só cometia asneiras.
A sua determinação que uma voz rouca e esganiçada – onde se pode apreciar, note-se, uma desmaiada volúpia – só piorava as coisas.
Entre as muitas organizações que tutelava havia uma, já bicentenária, com reminiscências ainda mais antigas, cujos servidores – termo entretanto caído em desuso – trajavam de verde, num figurino antigo que a tradição tem preservado na sua essência.
Chegaram a ser conhecidos por “capicuas” e “feijões - verdes”, mas não vamos agora perder tempo a explicar estas coisas.
O seu passado nem sempre foi brilhante e algumas sombras o molestam mas, em termos globais, o activo ainda vai ultrapassando o passivo.
Havia, porém, um pecado mortal para o contemporâneo politicamente correcto que era terem uma costela de militar. Diria até mais, uma coluna vertebral militar. É pois, uma organização sui generis.
Tal facto era uma aberração para a Alice e seus “compagnons de route” e ainda para outros mais sabidos e perigosos, que actuando sub-repticiamente lhes tentam há muito minar os fundamentos.
Uma evidência, naturalmente ignorada no país das maravilhas (agora também dos afectos) e denunciada como fruto de imaginações torpes e obscurantistas.
Esta instituição – se é que o termo ainda tem algum significado na maravilha em que o país se tornou – em tempos apodada de “repressiva”, está há muito em fase de transição (estas coisas levam tempo, se as quiserem bem feitas) no sentido de substituir a totalidade dos quadros oriundos do Exército – esse corpo estranho, cheio de normas “esquisitas” que o povo mal conhece, pois apenas existe desde o tempo do Afonso Henriques – por outros oficiais habilitados especificamente para enquadrarem esta “tropa” virada para a segurança interna mas com a faculdade de poder cumprir missões mais “musculadas” – um termo muito politicamente correcto – e até, militares (um conceito completamente “out”!).[1]
Ora a palavra militar deveria, para muitos adiantados mentais, ter desaparecido com o actual aborto ortográfico!
Com este pano de fundo vamos agora dar início ao nosso romance parafraseado do título.
E cuidamos poder gozar da liberdade poética, que um romance sempre encerra.
Há alguns meses foi necessário promover – dentro da ditadura do “conta-gotas” que enforma o actual sistema – dois oficiais generais, à categoria de terceira estrela, um dos quais estava “emprestado” à tal instituição, na qualidade de “feijão-verde”. E onde já há tempos exercia uma função daquela categoria.
Estes dois oficiais, o oficial “A” e o oficial “B” seriam promovidos em simultâneo, cada um em “su sitio”.
A coisa era consensual e não havia qualquer dúvida que ambos os ditos cujos tinham mérito absoluto para lhes ser outorgada a distinção.
Tal tinha sido decidido no Conselho Superior da “esquisita” organização citada, de quem o “perigoso patriota” conhecido por Nuno Álvares Pereira foi o 2º Condestável.
Eis senão quando, a Alice foi ter com o actual descendente do Liberato Pinto – Comandante da GNR no pior período da I República e, note-se, o único primeiro-ministro que foi preso antes do Eng.º Sócrates (óh Sócrates nem essa primazia conseguiste!) – e, aparentemente deixou-lhe cair um sussurro de que não gostava do oficial “A”.
Sabe-se lá porquê, talvez porque o homem não se ria para ela… (também consta que não se ria para outros).
Ora numa reunião posterior do tal superior conselho, o sussurro da Alice ganhou foros de cidade, o que fez aparecer uma nova lista agora com quatro nomes, (o que prova que o dito conselho leva a capacidade de alguém se rir, muito a sério) onde o oficial “A” passou para quarto lugar e o oficial “B” (que goza também de apoios vários) passou para primeiro.
Não vamos agora analisar os oficiais C e D, que ficaram no meio.
Diremos apenas que um deles é sério candidato ao lugar cimeiro da antiga força de repressão dada a importância que uma peça de vestuário, que toma o nome de “avental”, passou a ter no país das maravilhas.
Ora quando o nubente “A” – não se esqueçam que estamos a escrever um romance – foi informado que já não casavam com ele, bateu imediatamente com a porta e foi para casa.
Ora tal gesto, apesar de tempestivo, não era aguardado e teve uma implicação terrível: o oficial”B”, que tinha passado a “A”, estava numa situação de “sustado” (que não vamos explicar), a aguardar vaga o que implicava que tinha que ser promovido em simultâneo (no mesmo dia) com o seu par.
Como tal não sucedeu o oficial “B” ia para casa também. Logo dois noivos que ficavam por casar!
Para tal não acontecer, ali para os lado do Restelo - num edifício de onde já se governou um império, onde as Alices tinham o lugar que mereciam e as maravilhas eram feitos de pasmar o mundo – existe uma organização que anda debalde, há décadas, a tentar pôr ordem em outras três. O que os diferencia? Apenas a cor das estrelas, no primeiro caso são douradas; no segundo, prateadas. Questões de gosto e brilho.
Ora nesse edifício, onde concorre um outro ministério - que, em bom julgamento, não tem servido em rigor para nada - as águas agitaram-se com todo este “frou - frou” de vestidos a roçarem-se, e delineou-se uma extraordinária estratégia a fim salvar a situação: um oficial de três estrelas recebeu atribuladamente ordem para regressar ao ninho original, a fim de abrir vaga que pudesse servir ao tal oficial “B”, que passou a “A”, de modo a impedir que regressasse a penates.
Só que a movimentação do estrelado “X”, despedido de afogadilho tinha que, “oficialmente”, ser anterior à data em que ocorreu. Ora para tal seria necessário reescrever uma ordem de serviço com data a convir, ocorrência, obviamente surrealista que só uma mente enviesada e, já agora, pouco patriótica, poderia pensar que pudesse ocorrer.
Sem embargo um elemento de um partido que faz parte da Comissão Paralamentar de Defesa resolveu, aparentemente, questionar o ocorrido e já consta que a PGR investiga o caso, avessa que é, aos ensinamentos do bom do Padre Américo.
Acresce que o tal oficial “B”, que passou a “A”, foi efectivamente para o lugar do oficial X, mas não foi ainda promovido.
O actual comandante da tal “coisa” que venceu os espanhóis em Montes Claros, não quer (para já) promover ninguém. Finalmente uma decisão sensata. Aguarda-se que o oficial “B”, que passou a “A”, caia (parece até que já caiu) por limite de tempo no posto.[2]
O que vai fazer que vão ser os oficiais “C” e “D” a serem promovidos.
E assim, um deles (o tal) possa ir comandar a “Real Ordem dos Guitas”.[3]
A interligação de promessas, ofertas e esquemas, ocorridos fica à imaginação de cada um.
O titular do ministério que não existe, pois nunca, insiste-se, fez nada que tenha a ver com o nome que ostenta, afirma em bonançosa esperança, depois de inquirido, que se encontra satisfeito.
Ora digam lá se isto não é um romance perfeito, num país de Alices e de Maravilhas?!



                                                               João José Brandão Ferreira
                                                                  Oficial Piloto Aviador





[1] Podendo, outrossim, actuar no exterior, sendo curioso notar que, ao contrário, o Exército não pode (por lei) actuar internamente…
[2] E como não sabem como hão - de descalçar a bota até foram pedir um parecer à PGR. Isto só não bateu no fundo, porque não há fundo…
[3] Nome pelo qual eram conhecidos em tempos mais recuados, os elementos da Guarda Municipal.

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