domingo, 26 de abril de 2015

A GUERRA D’ÁFRICA 1961-1974 – ESTAVA A GUERRA PERDIDA?

Aqui apresento o texto por mim lido aquando da apresentação deste livro de que fui co-autor.
No final do post está a contra-capa e as badanas com a biografia resumida dos autores.
O livro pode ser adquirido nas livrarias ou encomendado à editora Fronteira do Caos.
 
 
“As únicas nações que têm futuro, as únicas que se podem chamar históricos, são aqueles que sentem a importância e o valor das suas instituições e que, por conseguinte, lhes dão apreço”.
Tolstoi
Eu nasci noutro país.
Assentei praça noutras Forças Armadas.

Hoje vivo num país diferente, que ainda querem fazer mais diferente.
Nada disto teve a ver com a evolução natural da sociedade, mas sim com a mudança brusca de paradigmas.
 
Das Forças Armadas, onde servi durante 27 anos, quase só restam memórias. Estão quase em saldo, tendo-se empurrado os chefes militares, para uma espécie de presidente da comissão liquidatária…
Aliás, só se sabe que ainda existem, quando morre alguém num qualquer acidente.
 
Sinto-me um cidadão despojado (agora até de parte do salário), com laivos de pária.
O meu país foi-me roubado; as “minhas” Forças Armadas, também.
 
Em vez deles instalaram uma enorme mentira.
Sinto-me como Deus sabe.

Portugal foi atacado, em 1961, como aconteceu muitas vezes desde 1128.
 
É o preço que tivemos e temos, que pagar por existirmos.
Foi sempre assim e, estou em crer, sempre assim será.
 
Porém, portugueses houve, que fizeram coro com o inimigo; que desertaram do combate; que se transmutaram ideologicamente em crenças alheias ou em doutrinas malsãs.
 
E traíram os seus e a terra que lhes deu o berço.
Nada de novo, porém, Camões também os imortalizou na sua estrofe “e também dos portugueses, alguns traidores houve, algumas vezes”.
 
A cobardia, falta de carácter e a ignorância de tantos, permitiram o resto.
É isto que doí mais.
 
Do dia para a noite a “verdade” do inimigo passou a ser a verdade(!) e quem a passou a defender apareceu, por artes mágicas, alcandorado a posições de relevo público e imortalizado em estátuas e nomes de ruas, que são o calvário dos inocentes e dos honestos e a vergonha das almas nobres.
Com o passar dos anos e a lenta revelação e tomada de consciência de todos os crimes e barbaridades cometidos, com as dramáticas consequências que os seus actos originaram, os seus autores e apaniguados, muitos deles refastelados nas cadeiras do Poder, mentem, censuram, efabulam, etc., tentando, sistematicamente, evitar que a verdade passeasse à luz do dia, obrigando os jovens a ler, nos programas escolares, as asneiras cometidas transformadas em risonhas e floridas primaveras, depois da maioria da Comunicação Social e do discurso oficial, ter lavado o cérebro à população em geral, num processo que em nada fica a dever a um qualquer totalitarismo.
 
E fizeram, e ainda fazem tudo isto, descarada e acintosamente, sem pingo de contrição, sem remorso, sem pudor, sem vergonha, sem nada!
Uma das teses básicas que foi instituída como pilar de algumas atitudes assumidas, era a de que a guerra em África, além de injusta, estava ou iria ser, perdida militarmente.

Mas mesmo que a guerra estivesse militarmente perdida – o que este livro defende não corresponder à verdade dos factos – tal em nada alteraria a primazia da razão, tão pouco justificava a recusa em combater.
Nem sequer houve derrotas, deserções, constrangimentos ou qualquer ordem de rendição, que o justificasse.
 
Os oficiais do quadro permanente deviam saber isto e estar conscientes disto, antes de todos os outros.
 
Acabámos por abandonar o que era nosso – numa debandada de pé descalço, como lhe chamou o insuspeito António José Saraiva - sem que tenha havido uma única razão válida para que tal acontecesse!
Este livro surge de uma polémica instalada após um colóquio sobre as operações militares em questão, em que se fez uma súmula provisoria, concluindo que a guerra estava dominada em Angola e controlada em Moçambique e na Guiné.
 
Ora, alguns dos próceres da derrota portuguesa e do masoquismo nacional, entenderam estas conclusões como inaceitáveis à luz dos seus desideratos e passado, e contestaram-nas. O que está no seu direito.
Mas, (mal) habituados a terem para si o quase monopólio das páginas dos jornais, dos microfones e das pantalhas, reagem sempre mal a qualquer contestação às suas teses, que entretanto impuseram pelos métodos atrás apontados.
 
O objectivo principal deste livro é, pois, o de defender o direito ao contraditório e de procurar devolver à Nação Portuguesa o equilíbrio da Justiça que só a verdade dos factos e das intenções, pode permitir.
Por isso tenho a agradecer a todos aqueles que colaboraram na sua feitura, membros da editora, prefaciador, apresentador e entrevistados, que tiveram a coragem de, sem quaisquer constrangimentos, dizerem o que a sua consciência lhes ditava.
 
O meu muito obrigado a todos, onde incluo também a Direcção da SHIP por acolher esta modesta cerimónia.
O passar do tempo tem evidenciado com meridiana clareza, quão certas estavam as teses portuguesas e erradas as teses internacionalistas e apóstatas.
Mas o combate não está ganho.
E, apesar de termos perdido, em 1975, cerca de 95% do nosso território e 60% da população, de ainda estarmos desnorteados; cativos dos credores – que, pela primeira vez, não têm rosto – e da ameaça permanente de bancarrota; com uma corrupção política e social vasta - mas ainda não endémica – com uma situação demográfica suicidária e com o Poder Nacional Português num dos pontos mais baixos da sua longa e vetusta História, o Estado-Nação mais antigo do mundo, nascido em Ourique, Terra de Santa Maria, que dá pelo extraordinário nome de PORTUGAL, ainda não desapareceu.
 
E, com a ajuda dos bons portugueses, há-de perseverar!


 
 

2 comentários:

  1. Muitos parabéns pelo seu percurso. Estive e estarei sempre presente noutras "lutas".

    Gonçalo Godinho.

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  2. Ex.mº Sr. Tenente-Coronel Brandão Ferreira:

    Muitos parabéns por mais esta publicação.

    Como poderei eu adquiri-la?

    Muito obrigado.
    PLopes
    PORTO

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