quinta-feira, 9 de outubro de 2014

RESPOSTA A ARTIGO DO JORNAL DE ALMEIRIM

Aqui deixo a minha resposta a um artigo de opinião publicado no Jornal de Almeirim e que podem ler no link abaixo.


RESPOSTA A “QUE FUTURO?”
(da autoria do Coronel Andrade da Silva,
publicado no “Notícias de Almeirim”, de 19 de Setembro de 2014)

Escrito no dia do desenfado, 6/10/14.
O Coronel de Artilharia João António Andrade da Silva, nascido a 9/5/48, entrou para a Academia Militar no ano lectivo de 1967/8 tendo jurado bandeira segundo a fórmula regulamentar. Foi alferes em 1971, entrando para o quadro permanente de oficiais, altura em que fez o juramento de fidelidade, como oficial, a fim de receber a sua carta patente.[1]
Em 1974 foi promovido a capitão. Reformou-se no actual posto, sendo pois, oficial superior do Exército Português.
Conviria, por isso, dar alguma substância entendível aos eventuais leitores ao invés de meter no mesmo saco, política partidária e luta ideológica misturada com apreciação de um processo jurídico e contradições q.b..
Começo por dizer que não me sinto melindrado ou diminuído por aquilo que o meu “distinto” camarada de armas (com “c” e não com “k”), da nobre Arma de Artilharia – aquela cujos oficiais se orgulhavam de morrer em sentido – escreveu.
Quem se deve sentir insultado são todos aqueles (membros da AOFA, ou não) a que apelidou de cobardes e outros epítetos, mas compreenderá que sendo eles maiores e vacinados e não tendo eu procuração para os defender, deixarei esse encargo aos próprios.
Para além destes (que não sei quantificar) pareceu-me que o orante e temente a Santa Bárbara – caríssima Padroeira dos artilheiros portugueses – se apresenta ressabiado (um sentimento que não ajuda ao discernimento), contra quem não aceitou a sua filantrópica oferta para testemunhar a favor do Vate Manuel Alegre (MA) – logo contra mim – por o terem julgado dispensável, como afirma.
Se fosse a si não amuava e encarava a coisa de outro angulo: o de que assim evitou ir fazer pior figura do que aqueles que lá foram e se prestaram ao acto!
Quanto ao que diz de Salazar, também nada me incomoda, embora entenda pertinente deixar um esclarecimento: ignoro se o antigo frequentador do polígono de Vendas Novas, tem o poder de ressuscitar os mortos – atributo até agora exclusivo de Cristo Redentor – mas eu confesso, desde já, que não possuo tal dom (e acrescento que, a tal, não aspiro).
Não me passa, pois, pela cabeça ressuscitar o mui íntegro, competente e patriota, que na sua vida terrena usou o nome de António de Oliveira Salazar, um português distinto (sem embargo de como humano poder ter as suas sombras) e estadista de rara qualidade.
Vamos mesmo ter que viver sem ele.
Mas quero sossega-lo, e às suas hostes – se é que alguma - que farei o que estiver ao meu alcance para preservar a verdade histórica, relativa a tão singular personagem, das mais capazes desde que Afonso Henriques se colocou à frente do Condado.
Diz Andrade da Silva que em Portugal não existe Democracia e, em simultâneo, que eu não sou adepto da mesma por “não concordar com o 25/4 e a Descolonização”.
Também aqui não parece haver lugar a desconsiderações.
Como é suposto saber, o golpe de estado efectuado em 25/4/74, pouco teve a ver com a implantação da “Democracia” em Portugal.
E por grosseira incompetência de quem colaborou e ficou à frente das forças vitoriosas (as outras renderam-se sem esboçar resistência), o dito cujo virou “revolução”, com o poder caído na rua.
O que daqui derivou ocasionou gravíssimas consequências para Portugal - das quais não iremos recuperar tão cedo – a pior das quais foi aquilo a que chamaram “Descolonização” (que não existiu) que considero, assumo, o pior e mais vergonhoso evento de toda a História do povo português.
Se o Senhor considera que a Democracia foi ou não implantada, é um problema seu, sobre o qual não me vou enredar.
Como existem vários modos de a interpretar (presumo que a sua seja a das ocupações selvagens em que andou entretido, nos idos de 75), aguardo que um dia possa explicitar o seu entendimento para melhor esclarecimento dos leitores do “Notícias de Almeirim”.
Onde andou a pisar o risco do insulto foi na infeliz frase em que me misturou com “racistas, colonialistas, defensores de salazarismos” (sic); convém dar alguma elevação à escrita mesmo estando habituado a linguagem de caserna.
E quando me chama demagogo não sei se está ciente do significado do termo empregue.
Palavra de origem grega compõe-se de “demos” – povo, ou população – e “agogôs” – liderar ou liderança – que na Grécia e Roma antigas referiam-se ao orador que falava em nome da população menos afortunada.
Mas já Aristóteles no seu livro “Política” aponta a demagogia como a corrupção da Democracia. Se ler Aristófanes e Tucídides verá, na discrição que fazem do ateniense Cléon, exemplo disso.
Mas já na Idade Média o conceito evoluiu para diferentes formas até que Maquiavel atribui ao Estado a figura de demagogo, no sentido em que encarnava em si o poder de manipulação das massas.
Daqui o conceito espalhou-se para as diferentes correntes políticas.
Não sei, pois, onde me situa ou engloba, mas permito-me facilitar-lhe a vida dizendo que por norma tento juntar na mesma actuação o que penso, o que digo e o que faço.
Por isso fará o favor de ir limpar numa parede o labéu que me intentou. E não se esqueça que as munições, por vezes, fazem ricochete.
*****
Analisemos, que já é tempo, o fulcro da sua redacção, ou seja as considerações que faz sobre a queixa do cidadão, poeta e radialista – creio que ser deputado ainda não é profissão – MA, fez contra mim.
O nosso coronel (“nosso” por expressão regulamentar, mas também por supostamente pertencer a um grupo profissional, cuja essência ultrapassa em muito, a figura da profissão para se irmanar em superiores virtudes morais e espirituais – aspecto que talvez tenha escapado à perspicácia do autor), Interiorizou, dizia, coisas de que nem MA falou.
Aqui há alguns reparos a fazer.
Diz o plumitivo, referindo-se à minha pessoa, que “retratou MA como um desertor; um ladrão (terá levado o dinheiro do seu batalhão), um traidor, porque terá dado a ordem de batalha ao inimigo para este matar militares portugueses”.
Ora, eu nunca redigi nada disto.
Podia, ao menos, ter lido o que escrevi e alguns pormenores do processo para perceber que o crime de difamação de que fui acusado se baseava no seguinte trecho do artigo que então escrevi: “O cidadão MA quando foi para Argel não se limitou a combater o regime, consubstanciado nos órgãos do Estado, mas a ajudar objectivamente as forças políticas que nos emboscavam as tropas”.
O que reitero.
Ora isto configura um crime de traição à Pátria (que já prescreveu, mas não devia ter prescrito…).
E não o que o Coronel Silva bolsou, adjectivando-me a vários títulos e alegando “que dei azo ao lançamento de uma campanha negra contra MA”.
Saiba que as acções ficam com quem as pratica, não com quem as relata…
Quanto às “caranguejolas aéreas”, de que aleivosamente fala, eram as que tínhamos (e não me parece que o armamento do Exército fosse melhor) e cumpriram muito bem as suas missões e nunca até ao fim do conflito deixaram de garantir a supremacia e, ou, a superioridade aérea, às operações em curso. Pergunte aos seus camaradas, que eles sabem e ao inimigo, que ainda se deve lembrar.
E sabe ainda outra coisa? Quando vamos para a guerra é com aquilo que temos, não com o que gostaríamos de ter, e a qualidade do armamento não justifica actos de deserção, traição ou outros puníveis pelos regulamentos militares.
O Senhor, pelo posto e pelo que diz, revela que deve ter três ou quatro décadas de serviço, mas aparenta nunca deve ter passado pela tropa…
Por norma também, não se dá conselhos a quem não os pede, mas eu abro uma excepção consigo, que espero entenda como acto de caridade cristã: leia, reflita e instrua-se.
Fará o favor em não se maçar em responder pois não lhe vou dar mais troco. E agradeço que não ceda à tentação de me tentar insultar.
Passar bem.

[1] Assinada, normalmente, nas Repúblicas, pelo respectivo Presidente e pelo Monarca nos regimes Monárquicos.

2 comentários:

  1. Meu caro

    julgava que já não existia gente desta!

    É a cartilha total: insulta, inventa o que os outros não disseram, invetiva, enfim um "puro democrata" das mais "amplas liberdades"

    Nem merece resposta!

    Um abraço amigo do
    Joaquim Mexia Alves

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  2. Caro Sr. Ten. Coronel,

    Faz muito bem o Senhor em ensinar figurões do calibre desse tal Silva. Abstenho-me de o considerar militar por razões óbvias.
    O problema é que esses tipos, além de ignorantes não querem aprender.
    Cumprimentos,
    Migue Sanches

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