Aqui deixo a minha resposta a um artigo de opinião publicado no Jornal de Almeirim e que podem ler no link abaixo.
RESPOSTA A “QUE FUTURO?”
(da
autoria do Coronel Andrade da Silva,
publicado no “Notícias de Almeirim”, de 19
de Setembro de 2014)
Escrito no dia do desenfado, 6/10/14.
O Coronel de Artilharia João
António Andrade da Silva, nascido a 9/5/48, entrou para a Academia Militar no
ano lectivo de 1967/8 tendo jurado bandeira segundo a fórmula regulamentar. Foi
alferes em 1971, entrando para o quadro permanente de oficiais, altura em que
fez o juramento de fidelidade, como oficial, a fim de receber a sua carta
patente.[1]
Em 1974 foi promovido a capitão.
Reformou-se no actual posto, sendo pois, oficial superior do Exército
Português.
Conviria, por isso, dar alguma
substância entendível aos eventuais leitores ao invés de meter no mesmo saco,
política partidária e luta ideológica misturada com apreciação de um processo
jurídico e contradições q.b..
Começo por dizer que não me sinto
melindrado ou diminuído por aquilo que o meu “distinto” camarada de armas (com
“c” e não com “k”), da nobre Arma de Artilharia – aquela cujos oficiais se
orgulhavam de morrer em sentido – escreveu.
Quem se deve sentir insultado são
todos aqueles (membros da AOFA, ou não) a que apelidou de cobardes e outros
epítetos, mas compreenderá que sendo eles maiores e vacinados e não tendo eu
procuração para os defender, deixarei esse encargo aos próprios.
Para além destes (que não sei
quantificar) pareceu-me que o orante e temente a Santa Bárbara – caríssima
Padroeira dos artilheiros portugueses – se apresenta ressabiado (um sentimento
que não ajuda ao discernimento), contra quem não aceitou a sua filantrópica
oferta para testemunhar a favor do Vate Manuel Alegre (MA) – logo contra mim –
por o terem julgado dispensável, como afirma.
Se fosse a si não amuava e
encarava a coisa de outro angulo: o de que assim evitou ir fazer pior figura do
que aqueles que lá foram e se prestaram ao acto!
Quanto ao que diz de Salazar,
também nada me incomoda, embora entenda pertinente deixar um esclarecimento:
ignoro se o antigo frequentador do polígono de Vendas Novas, tem o poder de
ressuscitar os mortos – atributo até agora exclusivo de Cristo Redentor – mas
eu confesso, desde já, que não possuo tal dom (e acrescento que, a tal, não
aspiro).
Não me passa, pois, pela cabeça
ressuscitar o mui íntegro, competente e patriota, que na sua vida terrena usou
o nome de António de Oliveira Salazar, um português distinto (sem embargo de
como humano poder ter as suas sombras) e estadista de rara qualidade.
Vamos mesmo ter que viver sem ele.
Mas quero sossega-lo, e às suas
hostes – se é que alguma - que farei o que estiver ao meu alcance para
preservar a verdade histórica, relativa a tão singular personagem, das mais
capazes desde que Afonso Henriques se colocou à frente do Condado.
Diz Andrade da Silva que em
Portugal não existe Democracia e, em simultâneo, que eu não sou adepto da mesma
por “não concordar com o 25/4 e a Descolonização”.
Também aqui não parece haver
lugar a desconsiderações.
Como é suposto saber, o golpe de
estado efectuado em 25/4/74, pouco teve a ver com a implantação da “Democracia”
em Portugal.
E por grosseira incompetência de
quem colaborou e ficou à frente das forças vitoriosas (as outras renderam-se sem
esboçar resistência), o dito cujo virou “revolução”, com o poder caído na rua.
O que daqui derivou ocasionou
gravíssimas consequências para Portugal - das quais não iremos recuperar tão
cedo – a pior das quais foi aquilo a que chamaram “Descolonização” (que não
existiu) que considero, assumo, o pior e mais vergonhoso evento de toda a
História do povo português.
Se o Senhor considera que a
Democracia foi ou não implantada, é um problema seu, sobre o qual não me vou enredar.
Como existem vários modos de a
interpretar (presumo que a sua seja a das ocupações selvagens em que andou
entretido, nos idos de 75), aguardo que um dia possa explicitar o seu
entendimento para melhor esclarecimento dos leitores do “Notícias de Almeirim”.
Onde andou a pisar o risco do
insulto foi na infeliz frase em que me misturou com “racistas, colonialistas,
defensores de salazarismos” (sic); convém dar alguma elevação à escrita mesmo
estando habituado a linguagem de caserna.
E quando me chama demagogo não
sei se está ciente do significado do termo empregue.
Palavra de origem grega compõe-se
de “demos” – povo, ou população – e “agogôs” – liderar ou liderança – que na
Grécia e Roma antigas referiam-se ao orador que falava em nome da população
menos afortunada.
Mas já Aristóteles no seu livro
“Política” aponta a demagogia como a corrupção da Democracia. Se ler
Aristófanes e Tucídides verá, na discrição que fazem do ateniense Cléon,
exemplo disso.
Mas já na Idade Média o conceito
evoluiu para diferentes formas até que Maquiavel atribui ao Estado a figura de
demagogo, no sentido em que encarnava em si o poder de manipulação das massas.
Daqui o conceito espalhou-se para
as diferentes correntes políticas.
Não sei, pois, onde me situa ou
engloba, mas permito-me facilitar-lhe a vida dizendo que por norma tento juntar
na mesma actuação o que penso, o que digo e o que faço.
Por isso fará o favor de ir
limpar numa parede o labéu que me intentou. E não se esqueça que as munições,
por vezes, fazem ricochete.
*****
Analisemos, que já é tempo, o
fulcro da sua redacção, ou seja as considerações que faz sobre a queixa do
cidadão, poeta e radialista – creio que ser deputado ainda não é profissão – MA,
fez contra mim.
O nosso coronel (“nosso” por
expressão regulamentar, mas também por supostamente pertencer a um grupo
profissional, cuja essência ultrapassa em muito, a figura da profissão para se
irmanar em superiores virtudes morais e espirituais – aspecto que talvez tenha
escapado à perspicácia do autor), Interiorizou, dizia, coisas de que nem MA
falou.
Aqui há alguns reparos a fazer.
Diz o plumitivo, referindo-se à
minha pessoa, que “retratou MA como um desertor; um ladrão (terá levado o
dinheiro do seu batalhão), um traidor, porque terá dado a ordem de batalha ao
inimigo para este matar militares portugueses”.
Ora, eu nunca redigi nada disto.
Podia, ao menos, ter lido o que
escrevi e alguns pormenores do processo para perceber que o crime de difamação
de que fui acusado se baseava no seguinte trecho do artigo que então escrevi: “O
cidadão MA quando foi para Argel não se limitou a combater o regime,
consubstanciado nos órgãos do Estado, mas a ajudar objectivamente as forças
políticas que nos emboscavam as tropas”.
O que reitero.
Ora isto configura um crime de
traição à Pátria (que já prescreveu, mas não devia ter prescrito…).
E não o que o Coronel Silva
bolsou, adjectivando-me a vários títulos e alegando “que dei azo ao lançamento
de uma campanha negra contra MA”.
Saiba que as acções ficam com
quem as pratica, não com quem as relata…
Quanto às “caranguejolas aéreas”,
de que aleivosamente fala, eram as que tínhamos (e não me parece que o
armamento do Exército fosse melhor) e cumpriram muito bem as suas missões e
nunca até ao fim do conflito deixaram de garantir a supremacia e, ou, a
superioridade aérea, às operações em curso. Pergunte aos seus camaradas, que
eles sabem e ao inimigo, que ainda se deve lembrar.
E sabe ainda outra coisa? Quando vamos para a
guerra é com aquilo que temos, não com o que gostaríamos de ter, e a qualidade
do armamento não justifica actos de deserção, traição ou outros puníveis pelos
regulamentos militares.
O Senhor, pelo posto e pelo que
diz, revela que deve ter três ou quatro décadas de serviço, mas aparenta nunca
deve ter passado pela tropa…
Por norma também, não se dá
conselhos a quem não os pede, mas eu abro uma excepção consigo, que espero
entenda como acto de caridade cristã: leia, reflita e instrua-se.
Fará o favor em não se maçar em
responder pois não lhe vou dar mais troco. E agradeço que não ceda à tentação
de me tentar insultar.
Passar bem.
[1] Assinada, normalmente, nas Repúblicas, pelo respectivo Presidente e pelo Monarca nos regimes Monárquicos.
Meu caro
ResponderEliminarjulgava que já não existia gente desta!
É a cartilha total: insulta, inventa o que os outros não disseram, invetiva, enfim um "puro democrata" das mais "amplas liberdades"
Nem merece resposta!
Um abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves
Caro Sr. Ten. Coronel,
ResponderEliminarFaz muito bem o Senhor em ensinar figurões do calibre desse tal Silva. Abstenho-me de o considerar militar por razões óbvias.
O problema é que esses tipos, além de ignorantes não querem aprender.
Cumprimentos,
Migue Sanches