“Aquilo que cada um pensa,
Aquilo
que cada um diz,
Aquilo que cada um faz,
Na mesma pessoa coexistem,
Mas
raramente coincidem.”
Do Autor
Em 26/1/13 escrevi um artigo
intitulado “Os Chefes Militares e a Matemática” onde equacionei o cenário do
fim de mandato do General Luís Araújo como CEMGFA e a sua possível
substituição.
Já se sabiam, na altura, quais os
diferentes cenários possíveis, tendo-se concretizado o mais verosímil.
Sem embargo após a saída natural
do CEMGFA por limite de tempo em funções (7/2/14) e posterior transição para
fora do serviço activo, por limite de idade, em 25 do mesmo mês, surgiu na
imprensa uma realidade que não lembraria ao “Estado-Maior”, como se diria em
linguagem castrense.
De facto soube-se pela
Comunicação Social – e seria curioso saber como e porquê – que o então CEMGFA
solicitou a passagem à situação de reforma antes do fim do ano de 2013 (para o
dia 30/12),não informando disso, directamente, o Presidente da República (de
quem depende como Comandante Supremo das FAs – e quem o nomeia); o Ministro da
Defesa (que representa o Governo – que o indigita – de quem também depende
funcionalmente) e, parece outrossim, o Conselho de Chefes, que são os seus
pares, tão pouco quem com ele trabalhava mais directamente o que, não sendo
obrigatório, convenhamos, que não pareceria mal.
Porque o fez? Aparentemente para
não ser “roubado”, a fazer fé em artigo de jornal, tido como de referência.
Este verbo, que subentende uma
acusação com foros de gravidade, encontra a sua justificação no facto do
Governo ter deixado de considerar uma “cláusula de salvaguarda” no orçamento de
2014, aplicada a quem passasse à reforma voluntária (60 anos e tempo de
serviço), o que lhes permitiria não serem prejudicados.[1]
Tal cláusula aplicava-se, salvo
erro, a partir de 31 de Dezembro de 2010 e só muito perto do fim do ano de 2013
se soube que não ia ser considerada para o ano seguinte.
Aqui a comunicação Governo/FAs
também parece não ter andado muito bem.
Deste modo o General Araújo seria
prejudicado no ano corrente o que, naturalmente o terá revoltado.
Neste âmbito, toda a razão lhe assiste.
Neste âmbito, toda a razão lhe assiste.
Porém, a sua razão aparenta terminar aqui pois
toda a sua acção subsequente não é conforme ao seu estatuto de militar, muito
menos ao de ser a mais alta figura militar.
Em primeiro lugar porque se trata
de uma ilegalidade: ninguém pode estar em funções de comando depois de requerer
a sua passagem à reforma. Acresce que o processo necessita estar devidamente
informado o que, a acreditar na tal notícia, não estava.
Tal facto levanta ainda duas
questões: se não estava devidamente informado como foi parar à CGA? E como é
que esta, passado pouco tempo – lembro que há processos que demoram anos – o
deferiu?
A “papelada” seguiu através da
FA, como é usual, ou chegou lá directamente?
Pareceu-me também inferir uma
desculpa de que o processo não teria que ser remetido para a FA dado que o subscritor
era mais antigo que o CEMFA. Se for verdade é um argumento extraordinário dado
tratar-se de um procedimento administrativo que passa à margem de qualquer
subordinação hierárquica.
Cada Ramo trata dos seus homens
dade que são recrutados até que dão baixa para a cova! Aliás quando o Ex –
CEMGFA saiu do edifício do Restelo, foi com guia de marcha para Alfragide, de
regresso ao seu Ramo de origem. E com um erro (por ignorância?) pois lá dizia
que se destinava a passar à reserva e não à reforma, como já tinha sido
solicitado.
As irregularidades acabam aqui,
podemos passar ao mais importante. E o mais importante é a questão
ético-deontológica.
Um militar e por maioria de razão
o chefe militar de mais alta graduação, tem que ser leal para com os seus
superiores, iguais e inferiores o que, no caso vertente, implicava a informação
do que ia fazer (onde entra a tal questão de fazer o que se diz e dizer o que
se pensa…).
E só sendo leal se pode exigir
reciprocidade.
Ora tal não foi feito, conforme
assumido pelo próprio. Para não ser “roubado”.
Mas se achava que estava a ser
roubado só tinha uma coisa a fazer, era denunciar a situação, protestar e, ou,
activar os mecanismos legais ao seu dispor (ou dar um murro no ministro).
Como nada disto aconteceu a
atitude do então CEMGFA apenas pode ser vista como um “chico-espertismo”, não
compatível com a condição militar. E esta não pode (nem deve) ser invocada
apenas quando interessa…
Ou seja o General Araújo quis
ter, em simultâneo, “sol na eira e chuva no nabal”. E sair-se a rir.
Será que os seus subordinados
também não têm o direito de se saírem a rir?
Duas questões alimentaram
vivamente este putativo “chico-espertismo”: a primeira sendo o “mantem-no na
dúvida” do Governo, em lhe arranjar, ou não, um novo cargo, nomeadamente na
estrutura da NATO; depois na incerteza sobre um eventual prolongamento da sua
função como CEMGFA.
Esta última hipótese foi
acalentada através de duas outras questões, a saber: através do aumento da
idade da reforma para a função pública, de 65 para 66 anos, ou pela alteração
do Estatuto dos Militares das Forças Armadas (EMFAR), que está em revisão.
Quanto à primeira questão
notou-se clara ingenuidade e ignorância das partes (gabinetes jurídicos
incluídos), dado que a lei da função pública não se sobrepõe ao EMFAR.
Finalmente o Ex-CEMGFA sai
muito mal em todo este filme, dado que mostrou preocupar-se apenas com o seu
bolso.
Ora faz parte da Deontologia
Militar que qualquer comandante se deve preocupar em primeiro lugar com o
cumprimento da sua missão (e a Nação); depois com os soldados, seguidamente com
os sargentos, finalmente com os oficiais.[2] Do mesmo modo, comandante
que se preze é o último a abandonar o seu navio ou avião.[3]
Ou seja um comandante deve preocupar-se com a sua pessoa apenas em último lugar.
Ou seja um comandante deve preocupar-se com a sua pessoa apenas em último lugar.
É claro que encontrar, hoje em
dia, políticos que entendam isto não é fácil. Mas as tropas percebem e
reconhecem estas atitudes muito bem. E os cidadãos bem formados também.
E são esses que devem interessar.
Ora, infelizmente, em todo o seu
consulado como CEMFA e CEMGFA, não se lhe conhece um gesto que seja, uma
atitude, um rasgo, nada, que possa ser invocado na defesa da Instituição
Militar (IM), como um todo, ou na dos seus servidores, em particular.
Em todas as barbaridades que os políticos foram fazendo (Saúde Militar; Justiça Militar; operacionalidade das tropas; orçamentos; alienação de bens; IASFA; complemento de pensão; fundo de pensões, promoções, colégios militares, eu sei lá!), a frase mais empregue e que bem o pode caracterizar, foi a de que “estava tranquilo”.
Em todas as barbaridades que os políticos foram fazendo (Saúde Militar; Justiça Militar; operacionalidade das tropas; orçamentos; alienação de bens; IASFA; complemento de pensão; fundo de pensões, promoções, colégios militares, eu sei lá!), a frase mais empregue e que bem o pode caracterizar, foi a de que “estava tranquilo”.
Mas mal reparou que podia ser
prejudicado em 700 euros, caramba, “aqui d’ el-rei”![4]
Colocou-se ainda a questão de se saber se as decisões tomadas depois de 31/12/13 podiam estar feridas de nulidade mas, aparentemente, tal situação está salvaguardada por não se encontrar nenhum documento com a data posterior a 27/12.
Colocou-se ainda a questão de se saber se as decisões tomadas depois de 31/12/13 podiam estar feridas de nulidade mas, aparentemente, tal situação está salvaguardada por não se encontrar nenhum documento com a data posterior a 27/12.
Finalmente, o último chefe
militar restante, que ainda combateu nas derradeiras campanhas ultramarinas
portuguesas – e onde mostrou ser um bom combatente, ao ponto de ter sido
agraciado com a medalha da cruz de guerra – acabou manchando a sua carreira,
não só em termos pessoais (de que não viria grande mal ao mundo) mas,
sobretudo, porque o seu gesto se reflete em toda a IM e isso, sim, é grave.
E com esta atitude deve ter-se condenado a não ser agraciado em futura cerimónia, com qualquer outra condecoração com a qual, porventura, quem de direito o quisesse distinguir.
E com esta atitude deve ter-se condenado a não ser agraciado em futura cerimónia, com qualquer outra condecoração com a qual, porventura, quem de direito o quisesse distinguir.
Foi triste, foi pena e foi
escusado.
Ficaria bem um pedido de
desculpas.
[1]
O General Pinto Ramalho, antigo CEME, terá ponderado o que fazer, já depois de
ter terminado o seu mandato à frente do Exército, tendo pedido para passar à reforma.
Depois solicitou que ficasse sem efeito o pedido, fazendo um novo, para ficar
na reserva, o que foi concedido. Uma situação distinta.
Convenhamos que dada a velocidade a que o MDN vai
mudando a legislação não é nada fácil que alguém saiba a quantas anda…
[2]
Excepção para os oriundos de Cavalaria, em que os cavalos e muares preferem às
tropas – o que também tem a sua lógica!
[3] Lembram-se do choque que constituiu o comportamento lamentável do Comandante do “Costa Concórdia”? E nem sequer era militar…
[4] O D. R. 2ª série, nº47, de 7/3/14, p. 6450 refere que a sua pensão de reforma é de 5980.84 euros.
[3] Lembram-se do choque que constituiu o comportamento lamentável do Comandante do “Costa Concórdia”? E nem sequer era militar…
[4] O D. R. 2ª série, nº47, de 7/3/14, p. 6450 refere que a sua pensão de reforma é de 5980.84 euros.
Triste e escusada foi esta sua publicação.
ResponderEliminarMeu caro amigo
ResponderEliminarSem os teus conhecimentos que envolve todo o assunto, pensei exactamente isso, ou seja, que não ficava nada bem eticamente e não só, o "chico-espertismo" da pessoa em causa,pelas razões que invocaste.
Um abraço
Joaquim Mexia Alves