terça-feira, 31 de dezembro de 2013

OS CHEFES MILITARES E A MATEMÁTICA

“Não se deve pedir a inteligências jovens o que a história do pensamento humano demonstra requerer tempo, exercício e adequada adaptação mental”.
Ruy Pastor, Pi Calleja e A. Trejo In, “Analisis Matemático”.

 
Eis um bom tema para final de ano…
 
Num curto espaço de tempo vai assistir-se a uma mudança múltipla no topo da hierarquia militar.
 
Deixando de fora o “pormenor” de nenhum general dever ter aceitado ser promovido sem que o normal sistema de promoções nas FA fosse reposto em vigor – uma das mais graves indignidades a que os militares estão a ser sujeitos – eis, sucintamente, o ponto de situação actual.
 
O Almirante CEMA terminou o seu mandato e foi para casa. Não o quiseram reconduzir e, aparentemente, ele também não o queria. Fartou-se.
 
Para o seu lugar, os da área do Governo, alinharam um candidato e das bandas do EMGFA, terá surgido outro.
 
Não havendo entendimento o “juiz de Belém” aparentemente optou por um terceiro, o Almirante Macieira Fragoso, a quem desejamos as maiores venturas.
 
Andam para aí uns quantos agoniados, ruminando que é católico, coisa que o Estado laico (ou maçónico?) obviamente condena.
 
Toda a gente, aliás, sabe que não há qualquer tipo de discriminação racial, religiosa, ideológica, partidária ou de sexo, na nossa democratíssima sociedade!
 
Quanto muito pode haver é preferências…
 
Bom, algures por Fevereiro terminam os seus mandatos os Generais CEMGFA e CEMFA. Este último deve estar condenado a ir para casa, dado que o CEMGFA já não deve tercer armas por ele e, sobretudo, por causa do desaguisado ocorrido aquando do seu discurso no pretérito dia da FA, em Leiria, que resultou numa má-criação ministerial.
 
Acto que devia ter correspondência em assertiva e adequada resposta, o que constituiu mais um acto falhado em que as chefias militares têm sido férteis e que tem levado ao abuso por parte de ignaros e petulantes políticos.

 
Para além disso, da sua substituição tem dado conta – até já com um nome do putativo substituto – uma das eminências pardas da área governamental, nas suas arengas a quem o quer ouvir.
 
A questão mais complicada, porém, vai ser a substituição do CEMGFA.
 
Por rotação tradicional – mas não obrigatória – cabe a vez a um oficial da Armada, ocupar o lugar.
 
Acontece que tal obriga a promover outro Vice - Almirante a quatro estrelas e a passar o recém - empossado (ou não – tudo é possível…) para o 6º piso do edifício onde, em tempos, se controlava um “império”.
 
Mas, sobretudo, porque parece haver interessados em colocarem o actual CEME em tal lugar, onde já esteve como chefe de gabinete de um outro CEMGFA (aliás, anos em gabinetes é coisa que não falta no seu currículo). Amor com amor se paga.
 
Nessa hipótese, o leque de escolhas para um novo comandante do Exército, é estreito, havendo uma opção óbvia (que não vamos revelar) caso os poderes instituídos quiserem uma pessoa séria e capaz para o lugar.
 
A não ser que esperem pela aprovação do novo EMFAR – vislumbro um desastre em que qualquer ficção será ultrapassada pela realidade – em que só as praças devem ficar de fora dos passiveis de serem escolhidos…[1]
 
Mudar o Comandante da GNR para CEME, também é opção, embora tal hipótese deva ser descartada pela necessidade em dar alguma estabilidade no agitado, e cada vez mais indisciplinado, mundo das Forças de Segurança.
 
Sem embargo, no meio disto tudo soube-se que um diligente oficial, com larga experiência em números, teria feito as contas referentes à passagem à reforma do General CEMGFA – face à imprevisibilidade extrema do futuro das pensões de reforma e reserva, que o granel estabelecido nos últimos anos exponencia – e que este estaria na disposição de sair já no fim do ano, de modo a não perder cerca de 700 euros.
 
Sossegados os espíritos pela sua, aparente, não saída, faltando apenas saber se lhe prometeram alguma coisa, face à sua decantada “tranquilidade” relativamente a todos os atropelos que se vão cometendo para com a Instituição Militar (IM), resta elaborar umas quantas reflexões.
 
O facto de um chefe militar ponderar abandonar ou não, o serviço activo, por razões financeiras, não parece dever admirar ou chocar ninguém.

 
São os sinais dos tempos e a espuma da época.
 
Tal representa o estado a que nos têm tentado reduzir como seres humanos e como sociedade. O “Deus Mamom” tem sido posto nos altares, pelos luciferinos que por aí pontificam.
 
Por outro lado, que pode levar um general ou almirante, nos tempos que correm, a almejar chegar a chefe de estado - maior? O que lhe sobra para comandar? Que autoridade tem? Que dignidade institucional ou social possui? Que competências lhe restam?
 
Muito poucas, praticamente nenhumas!
 
E com o novo EMFAR e restantes alterações legislativas que se preparam, hão-de ser passados a ferro…
 
Ter estomago para aguentar tudo isto (e o que se prenuncia) varia inversamente com a vergonha na cara ditada pelo carácter.
 
 Ou seja, só se entende que um oficial general aceite um lugar no topo da hierarquia se estiver na firme determinação de fazer frente e tentar mudar a política errada, há muito seguida relativamente à Defesa e Segurança Nacionais (e à própria destruição do País), que está a liquidar a IM. E a minimizar os militares e a humilhar as chefias, com constantes desconsiderações e atropelos.
 
Veremos onde está o coração do CEMGFA, que há décadas é um observador crítico de tudo o que se tem passado nas FA, ou se está apenas à espera de uma qualquer prebenda fora de portas, como parece estar na moda.
 
****
E é nas considerações finais que entra a matemática e os métodos dedutivos, nomeadamente aritméticos.
 
Relembremos conceitos:
 
Axioma (do grego axioma), proposição cuja verdade é evidente – ou seja, não carece de demonstração;
 
Teorema (do grego théorêma), é uma proposição que precisa de ser demonstrada para se tornar evidente;
 
Tese (do grego thésis), proposição para ser defendida; conclusão de um teorema;
 
Hipótese (do grego hypóthesis), suposição admissível de que se tira uma consequência.
 
Para o que queremos provar, começamos por definir o nosso axioma e que é este: “Um General é sempre um General, mesmo em cuecas”.
 
Daí passamos para o teorema: “Um General é uma máquina de decisão”.
 
Formulamos uma Hipótese: “Um General que não decida, não serve para nada”.
 
E, finalmente a Tese: “Os Generais vão desaparecer”.
 
Demonstração:
Se um general é uma máquina de decisão deve ter algo sobre que decidir;
 
Esse “algo”, é definido superiormente bem como o âmbito a que se aplica;
 
Mas se, superiormente lhe é retirado sucessivamente o “algo” até não restar coisa alguma, o âmbito sobre que decidem é “zero” o que, não obstante ser um número inteiro representa “nada”;[2]

Ora tal retira e impede, à partida, qualquer “objecto” sobre o qual possa incidir a capacidade de decidir de todo e qualquer general;
 
De onde se pode deduzir, inferindo-se, que um general, nessas condições, não serve para nada;
 
Não servindo para nada, um general carece de objectividade analítica, logo de sustentação matemática.
 
Mesmo considerando o “infinito” resultante da divisão de uma decisão por zero, não é demonstrável a sua necessidade ao equilíbrio do Cosmos.
 
Logo os generais vão desaparecer.
 
C. q. d..[3]

Como o Professor Vidal deve estar orgulhoso de mim![4]

Não se cuidem não…
 


[1] EMFAR – Estatuto dos Militares das FA
[2] Segundo a “Escola Formalista”, onde pontificou Giuseppe Peano (1858-1932), “zero” como “conceito primitivo” representa um “ente matemático”, fundamentado por cinco axiomas, um dos quais o considera um “número”. Espero que tenham entendido.
[3] Como se queria demonstrar…
[4] Saudoso Catedrático da 1ª Cadeira – Matemáticas Gerais; do então 1º Ano Geral da Academia Militar e um dos terrores do “Zé cadete”.

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