O Senhor Ministro da Administração
Interna demitiu o Director Nacional da PSP, na sequência dos lamentáveis
incidentes ocorridos durante uma manifestação de membros das Forças de Segurança,
junto à Assembleia da República (AR).[1]
Numa situação normal quem atinge
o topo da carreira, num caso destes, passa à reserva/reforma, e vai para casa
ou procura emprego no privado.[2]
Acontece, porém, que o
ex-director pertence a uma geração nova que subiu depressa, andando na casa dos
40-50 anos e nem sequer têm tempo de serviço para se reformarem.
Como a demissão não veio
acompanhada de outra pena que obrigue ao abandono do serviço activo, isto quer
dizer, que lhe têm que arranjar colocação. Ora arranjar colocação dentro da PSP
a quem já foi seu director, não é lá muito fácil e curial…
Aquele facto (chegarem novos a
posições que devem ser ocupadas por pessoas com outras idades, experiência e
currículo) deriva da gestão do pessoal que tem sido seguida há muitos anos,
cuja preocupação maior foi correr com todos os oficiais oriundos do Exército,
do seu seio, sem dar tempo a que a pirâmide hierárquica se compusesse com os
novos quadros formados na Escola Superior de Polícia.[3]
Deste modo faltam oficiais superiores
na PSP que possam ocupar todos os cargos e daí também ser complicado fazer
mexidas nas diferentes áreas, e até na dificuldade em substituir o próprio
Director.[4]
Acresce ainda, que o agora
demitido, tinha sido convidado pelo ministro para ocupar o cargo deixado vago
por outro director que ele, ministro, também tinha demitido! A sua saída
arrastou outrossim, a do último Superintendente-Chefe oriundo do Exército.
Por outro lado, ficou afastada a
hipótese de se recorrer a um civil para colocar novamente à frente da PSP,
presumo que pelas más experiências havidas, que levaram novamente à escolha de
um profissional da casa, o Superintendente – Chefe Oliveira Pereira, cujo
desempenho mereceu o encómio geral.
Enfim, não deixa de ser caricato
que o director que se foi tenha sido obsequiado com uma sinecura em Paris, que
nenhuma necessidade de serviço parece justificar. Antes pelo contrário, dá
ideia de que o “crime compensa”, que tudo o que se passou foi combinado
(incluindo, a outro nível, o “teatro” da subida da escadaria da AR, pelos
manifestantes, seguida da sua descida quase imediata) e que no meio da nomeação
para o desterro gaulês, anda a mãozinha de uma qualquer fraternidade discreta.[5]
E não deixa de ser curioso
verificar que os cargos de adido de defesa e militar, tenham andado a ser
reduzidos substancialmente, há anos, com a desculpa da falta de verbas e, ao
mesmo tempo, crescem como cogumelos cargos de adidos para elementos das forças e
serviços de segurança, dotados de um estatuto superior aos primeiros.
Sempre com uma passividade por
parte da hierarquia militar, semelhante àquela que o Comandante Supremo
observou nas vacas açorianas, numa das últimas visitas ao Arquipélago.
*****
Não havendo militares na PSP,
alguém se esqueceu da necessidade de recrutar/formar pessoal em economia e
gestão que, ao mesmo tempo, percebessem algo da Instituição e pudessem
integrar-se facilmente na cadeia de comando, perdão, direcção. Daí a
dificuldade no recrutamento de profissionais para tais funções; talvez ainda se
lembrem de pedir alguém “emprestado” à GNR, com essas habilitações, apesar da
lamentável “guerra surda” existente entre as duas principais Forças de
Segurança do país.
Quem não tem dúvidas nenhumas de
como há-de fazer as coisas é o portentoso Ministro da Defesa, Aguiar traço
Branco o qual, apesar de não faltarem nas FA oficiais de Administração Militar,
Aeronáutica e Naval (alguns até, com especialização em gestão hospitalar), não
foi de intrigas e pimba, meteu logo um civil (ignoramos se com guia de marcha
do seu escritório de advogados) a tratar das contas dessa glória do Executivo,
que dá pelo nome de Hospital das FA!
Parece ainda, que com um
semblante sereno e feliz, da hierarquia militar, também observado nas pachorrentas
ruminantes de úberes seios, pelo nosso Maior, nos verdes prados das ilhas
encantadas.
*****
No entretanto, soube-se através
de notícia de jornal, que a PSP ia adquirir, lanchas de fiscalização.
Afinal as lanchas vieram a
revelar-se serem motas de água e semirrígidos que evitem aos policiais molharem
os apêndices em determinados locais onde tenham que se deslocar.
Congratulemo-nos, pois basta a
triste guerra surda (outra) entre a GNR e a Armada, por causa da Autoridade
Marítima – a que até agora ninguém pôs cobro – para vir agora a PSP a querer
imiscuir-se, também, no campeonato de se saber quem fiscaliza as águas (seria
mais uma semelhante à dos blindados, supostamente adquiridos em razão da
cimeira da NATO, em Lisboa…).
Como Deus não dorme, mal se deu o
anúncio desta hipotética compra (acompanhada de “drones”- esperamos que um dia,
um destes brinquedos não embirre com um avião em aproximação à Portela) foi notícia
o roubo de vários motores de barcos de recreio/pesca, acostados perto de Vila
Franca de Xira.
Eis senão quando, as três
Instituições mais entusiastas pela vigilância marítima e lacustre vieram
declarar-se incompetentes para investigar tão funesto crime.
A Polícia Marítima, porque no seu
normativo aplicável ao Porto de Lisboa estipular que a sua área de intervenção
para montante do rio Tejo termina à vertical da Ponte Marechal Carmona, o que
não acontece no caso vertente, dado as “barcoletas” estarem abicadas a norte da
mesma; a PSP e a GNR, alegando que o roubo se efectuara em terrenos da
Companhia das Lezírias, cabendo metade desses terrenos à jurisdição de cada uma
das forças e não haver entendimento preciso sobre que pedaço…
A superior gestão política do
sistema que nos rege, neste caso a AR, prevendo que tais casos (e outros)
pudessem ocorrer – não lhes passando pela cabeça sequer, que tais detalhes
devessem ser dirimidos, fácil e atempadamente, no âmbito dos respectivos
ministérios – inundaram o país de “entidades reguladoras” com os mais
diferenciados nomes.
Para o âmbito em apreço parece
existir um órgão, o SSI, Sistema de Segurança Interna que, seguramente por
falta de tempo, ainda não conseguiu resolver um problema que se arrasta há décadas:
o da definição da exacta competência de cada polícia, melhor dizendo, de cada
um dos órgãos com intervenção na Segurança do País.
*****
O Regimento de Sapadores
Bombeiros (RSB) de Lisboa vai ser comandado por um Tenente Coronel de
Infantaria, da GNR.
O caso em si aparenta ser
“esquisito” apenas pelo ineditismo da coisa, já que a lei que regulava tal
especificidade foi mudada a fim de a tornar mais flexível quanto à escolha de quem
possa ocupar tal lugar.
De facto é a primeira vez que um
oficial da GNR vai comandar os bombeiros, o que deixou de ser estranho desde
que descobriram que os militares da “Guarda” além dos muitos “incêndios” onde
actuam, também podiam combater aqueles formados pelas chamas…
E o oficial em causa até já tem algumas competências neste
âmbito, e no da Protecção Civil.
Mas um olhar mais atento destapa
coisas que deviam merecer reflexão.
De facto, quase desde as calendas
gregas, que o RSB (atente-se à terminologia militar) era comandado por dois
oficiais do Exército, obrigatoriamente oriundos da Engenharia Militar (idem
para o Porto).
A racional para tal, deriva não
só do facto da organização dos bombeiros profissionais ser semelhante à militar
mas, sobretudo, porque o RSB estar destinado a combater os fogos urbanos e a
ter responsabilidades no âmbito das inspecções e licenciamentos de edifícios,
etc..
Ora nada mais ajustado para tal
do que um oficial daquela Arma, em comissão civil na Camara – não consta até,
que os nossos antepassados fossem menos inteligentes, ou mais estúpidos do que
os contemporâneos…
É certo que a actual nomeação já
tinha um antecedente, na pessoa que agora é substituída, um Coronel de
Infantaria do Exército de quem não se conhecia qualquer atributo especial para
o cargo, a não ser estar casado com um “girl” de um partido político, então em
funções no Ministério da Defesa.
Devemos, contudo, levar tal facto
à conta de uma coincidência conjuntural, aliás rara na nossa sociedade, como
todos sabem.
*****
Na história, muito mal contada,
do embarque de 74 alegados cidadãos Sírios, sem estarem na posse de
documentação legal requerida, num avião da TAP, em Bissau e seu transporte para
Lisboa – que merece uma investigação detalhada a vários níveis – pergunta-se, e
vamos ficar por aqui:
Porque é que os mesmos não foram
devolvidos de imediato, àquela ex-província portuguesa (ao menos assim podemos
chamar-lhe uma coisa decente) cobrando-lhes os custos desta vigarice
monumental, em vez de os estarem a cobrar (mais uma vez) ao contribuinte já sem
escalpe, em que virámos quase todos?
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Não parece ser despiciendo
afirmar que se devem ponderar as medidas que se tomam e as alterações que se
façam, no sentido do bem comum e da melhoria dos serviços prestados e da missão
atribuída (e estabelecendo regras institucionais) e não de conveniências
aleatórias de momento.
Enfim, para não parecer que a
Administração Pública anda em roda livre como se fosse uma “aldeia de macacos”
onde nenhum sabe qual é o seu galho e o que faz.
Haja Deus!
[1] Não vale a pena virem
dizer que foi o Director da PSP que pôs o cargo à disposição…
[4] O actual é do curso a seguir ao do que saiu e, curiosamente, era o chefe da unidade da PSP que devia ter actuado nas escadarias da AR, embora não fosse o responsável directo da operação montada, que cabia ao então comandante de Lisboa (que foi para o lugar dele).
E parece que a maioria dos
manifestantes era constituída por guardas prisionais.
[2] O então Director nem sequer era Superintendente-Chefe (o equivalente a “general”), mas apenas Superintendente. Aliás, não há neste momento nenhum Superintendente – Chefe…
[3] Esta Escola tem tido um
recrutamento de luxo e foi necessário lutar muito para que o seu ensino fosse
adequado, pois no início – e só para dar um exemplo – não foi nada fácil SEQUER
impor um programa de educação física pois fazia lembrar “militarices”…[2] O então Director nem sequer era Superintendente-Chefe (o equivalente a “general”), mas apenas Superintendente. Aliás, não há neste momento nenhum Superintendente – Chefe…
[4] O actual é do curso a seguir ao do que saiu e, curiosamente, era o chefe da unidade da PSP que devia ter actuado nas escadarias da AR, embora não fosse o responsável directo da operação montada, que cabia ao então comandante de Lisboa (que foi para o lugar dele).
Antigamente a PSP tinha um
“Comandante” mas desde que um dos piores ministros de sempre – um tal Alberto
Costa - teve a aleivosia de empurrar o digno General Gabriel Teixeira para fora
do cargo, passou a ter um “Director”. Sinais dos tempos…
[5] Não deixa de ser relevante notar que já tinha havido uma manifestação dos “indignados”, em 11/10/11, que subiram a escadaria da AR e nada aconteceu, ficando tudo como Deus com os Anjos…
[5] Não deixa de ser relevante notar que já tinha havido uma manifestação dos “indignados”, em 11/10/11, que subiram a escadaria da AR e nada aconteceu, ficando tudo como Deus com os Anjos…
Permita-me acrescentar algo do passado recente, onde se mostra que, se os nossos governos são para nos representar e defender os interesses da Nação, e a própria, então por que razão assinámos mais uma rendição em política de pescas, entregando de mão-beijada à Espanha mais do nosso peixe e do nosso mar? É porque o princípio estratégico, formulado nas brumas da memória, e posto em prática de 1415 a 1975, onde se afirma que o Mar e o Império são necessários à Independência Nacional, foi coisa de idiotas e atrasados, não foi?...
ResponderEliminarSr. Tenente-Coronel,
ResponderEliminarMais uma vez a aplaudir os seus comentários. Sinto uma revolta imensa asistir a este vilendiar do nosso querido País.E isto é o resultado, desde 1974, de os que decidem serem escolhidos pelo voto. Se me demonstrarem que estou errado, rendo-me...
P.S. Eu bem sei que, pela surra, a MAÇONARIA lá vai levando a água ao seu moinho, como o Senhor bem sabe.
Miguel Sanches
Pois é, percebe se que ou não sabe contar ou já tem problemas graves de memória, e fica a questão.
ResponderEliminarSabe quantos quadros superiores e a quantos anos a escola superior de polícia os forma?
Não sabe ou inquérito diz é simplesmente porque gostaria de continuar a ver ex militares de carreira à frente da PSP, como infelizmente ainda acontece na GNR, inexplicávelmente, convenhamos!