“No antigo regime havia a exploração do homem pelo
homem. Agora vai ser tudo ao contrário…”
Anónimo
Embora a confusão seja muita e o
clamor mediático intenso, a maioria da população já se apercebeu das sérias
dificuldades em que Portugal – e não “este país” – está metido, apesar da
percepção da grandiosidade do desastre político/económico/financeiro/social e
suas consequências futuras, resulte difusa e de compreensão assaz difícil.
Um sentimento existe já, e está
consolidado: revolta e desconfiança relativamente a toda a classe política e
descrença no sistema de justiça. Numa palavra, o Estado deixou de ser uma
pessoa de bem.
A situação ainda não se tornou
“explosiva” porque acreditamos existir um “má consciência” em grande parte da
população por ter colaborado ou aproveitado, com o “sistema” e intuir ter sido
complacente e descuidada relativamente a encolher os ombros a muita malfeitoria
que foi sendo feita e saber perfeitamente que andava a usufruir de um nível de
vida para o qual não existia correspondência com a riqueza produzida.
A “festa” acabou há três anos mas
a austeridade está longe de estar a ser distribuída equitativamente.
Dirão os cínicos que o mundo
nunca foi justo mas espero que os de boa vontade, queiram retorquir que não
podemos ficar satisfeitos com isso.
Já muitas análises foram feitas
sobre as causas e razões, tanto internas como internacionais, pelas quais
chegámos ao poço sem fundo onde nos metemos, como país e como pessoas desse
país, pelo que não iremos gastar mais cera com esse defunto.
Mas não posso deixar de frisar
que se devem retirar sínteses de conhecimento do que se passou e que devem ser
apuradas responsabilidades em todos os âmbitos adequados.
Para aprendermos algo para o
futuro, exercer justiça e servir de exemplo.
Coisa que, até agora, ninguém com
responsabilidades intentou fazer.
Dando-se conta de que a
conjuntura já não permitia iludir a situação com os habituais passes de mágica
demagógica; propaganda mediática e engenharia financeira, o governo do
engenheiro (?) Sócrates - de cuja parte final da “crise” foi o principal
responsável – resolveu pedir ajuda financeira ao exterior: ao FMI, ao BCE e à
Comissão Europeia.
As razões porque foram pedir
dinheiro a estes e não a outros, nunca foi devidamente explicado nem, até
agora, se equacionou publicamente outras alternativas.
Quando se negociou com os enviados
da “Troika” – obviamente, gente muito conhecedora da realidade nacional –
cometeu-se um erro capital e, na sequência, um outro que individualizarei entre
os muitos que me parecem existir.
Quando “alguém” deve dinheiro a
alguém, seja pessoa singular, uma qualquer entidade ou um país (representado
pelo seu governo) combina com o credor duas coisas: o juro, se algum, e o
prazo, em “tranches” ou não, em que se efectuará o pagamento.
Ora o governo – se quisermos, o
Estado Português – não fez nada disto, sujeitou-se aos juros (pagos à cabeça) e
aos prazos que nos quiseram impor e não só isto: baixou-se a implementar
medidas que nos sussurraram e acocorou-se a que, de quando – em - quando, lhe
viessem espiolhar as contas e verificar os trabalhos de casa.
Mais ainda: sempre que necessário
dobra a cerviz para receber umas palmatoadas e umas orelhas de burro.
Em 1928 um governo em pior
situação político-social, também foi confrontado com exigências semelhantes por
parte da Sociedade das Nações – a “Troika” da altura – mas ainda encontrou
arrimo e dignidade para as recusar.
Aos actuais, apesar do buraco
financeiro ser muito maior do que nos anos 20 – seria até interessante e
ilustrativo comparar-se, seriamente, os números de então e de agora – e de já
não haver uma “Lunda” onde ir buscar um saco de diamantes, nem devem ter parado
o tempo de um pestanejar de olhos, para equacionar a hipótese…
Enfim, pequenas diferenças.
A partir deste pecado capital o
país, que já tinha perdido a sua credibilidade e liberdade financeira passou,
outrossim, a perder a sua liberdade política e económica. E o que mais adiante
se verá.
A única diferença entre esta
situação e ter uma esquadra inimiga a bloquear-nos os portos é que a fórmula
adoptada dá menos nas vistas!
Acordada esta cavalidade-mor,
outras se lhe seguiram em catadupa.
Nestas – embrulhadas na falta de
liderança, exemplo e justiça – destaca-se o esbulho/confisco de parte dos
vencimentos e pensões.
Este facto tem sido amplamente
denunciado por parte de cidadãos, entidades e forças políticas, mas não se tem
posto o enfâse num aspecto que é este: as medidas de austeridade e outras (sem
excepções!) a estabelecer para combater a “crise” – de que os políticos são
responsáveis a 90% - devem focalizar-se nos impostos (devendo estes incidirem
prioritariamente no consumo e não no trabalho), e nos aumentos dos bens
transacionáveis e não no corte/retenção daquilo que representa o valor
retributivo do salário/pensão, fundamentais à vida e sobrevivência de todos os
indivíduos/famílias.
Dá-se ainda um doce a quem
apresentar um argumento válido para que, até agora, não se tenha apostado
minimamente no empréstimo interno e o combate à fraude fiscal caminhe a passo
de caracol…
Dirão novamente os cínicos, agora
transvertidos em “pragmáticos”, que vai dar ao mesmo, mas tal não é verdade.
Ao cortar atrabiliariamente um
vencimento/pensão (porquê 10% e não 20%, 30%, ou?), o Estado exerce uma
prepotência tirânica sobre o cidadão – com a agravante de fazerem o contrário
do que prometido nas campanhas eleitorais/programa de governo; quebra um
vínculo de confiança contratual fundamental e cerceia calamitosamente a
liberdade individual em dispor dos seus bens, conforme o seu juízo da situação.
Abre, ainda, portas para as mais
indiscriminadas aleivosias despóticas, pois o que os pode impedir de, a seguir,
confiscarem os bens não fiduciários das pessoas? Aliás já o andam a fazer com
as casas, através do aumento escandaloso do IMI e da cada vez maior
impossibilidade de cumprimento dos empréstimos bancários!
E que fazem com o dinheiro que nos sugam?
Pois desbaratam-no nos negócios ruinosos em que foram agentes, colaboradores ou
decisores e que agora o desgraçado do contribuinte tem que pagar!
Isto é verdadeiramente
intolerável e nunca foi exercido em nenhuma época histórica mesmo por um
ditador sanguinário sem que, ao menos, houvesse uma qualquer condenação!
A nós cidadãos acusam-nos de quê?
Mesmo os mais esclarecidos e
sensatos compatriotas, não parecem reparar neste verdadeiro escândalo, idem
para os comentadores encartados.
A população anda aturdida com a
vida e tem deixado que a tratem como a rebanho de ovelhas, ao passo que o seu
instinto de sobrevivência lhe vai dizendo que se aguente com as suas economias
e a família, emigre e, ou, a esperar que seja a pessoa do lado que intente
fazer algo que também a beneficie, sem correr riscos ou incómodos.
Mas as coisas não poderão
continuar, apenas, nesta senda…
Em síntese, o futuro próximo e a
médio prazo do país, só nos reserva uma realidade que é a de sermos pobres
(como se paga uma dívida exorbitante que aumenta milhões de euros por dia, não
me dirão?).
Essa realidade, porém, tem duas
vias: a de sermos pobres e escravos, ou sermos pobres e tentarmos reganhar o
nosso espaço de liberdade e, com juízo, podermos dentro de umas poucas décadas,
sermos razoavelmente livres e remediados. Não parece haver mais nenhuma via.
Pelo que se tem feito, a maioria
da classe política optou, sem escrúpulo e decididamente, pela primeira hipótese
e está a arrastar a Nação com ela.
Deixo-vos com Goethe “Ninguém é
mais escravo sem esperança, do que aqueles que falsamente acreditam que são
livres”.
Senhor Ten. Coronel,
ResponderEliminarContinue a escrever assim. Eles não ligam, mas um dia, quando houver uma surpresa, será apenas para eles...
Cumprimentos,
Miguel Sanches
"Em síntese, o futuro próximo e a médio prazo do país, só nos reserva uma realidade que é a de sermos pobres (como se paga uma dívida exorbitante que aumenta milhões de euros por dia, não me dirão?).
ResponderEliminarEssa realidade, porém, tem duas vias: a de sermos pobres e escravos, ou sermos pobres e tentarmos reganhar o nosso espaço de liberdade e, com juízo, podermos dentro de umas poucas décadas, sermos razoavelmente livres e remediados. Não parece haver mais nenhuma via.
Pelo que se tem feito, a maioria da classe política optou, sem escrúpulo e decididamente, pela primeira hipótese e está a arrastar a Nação com ela."---Ora nem mais!