O General Chefe do Estado-Maior da Força
Aérea (CEMFA), no discurso que fez durante o 61º aniversário daquele Ramo,[1] proferiu algumas frases
que provocaram uma resposta algo desabrida no arvorado a Ministro da Defesa
(MDN) Aguiar (traço) Branco.
Do mesmo modo que critiquei o CEMFA (e, por
extensão, os restantes chefes) pelo modo como reagiram – isto é, pelo que não
reagiram – à extorsão do complemento de reforma dos militares, hoje vou
defendê-lo pelo que incomodou este lamentável governante.
Que terá dito então, o CEMFA de tão grave?
Apenas isto: “Que os cortes estão a degradar a capacidade de resposta do Ramo”;
“que no espaço de dois anos a FA foi obrigada a cortar toda a despesa em 36%”;
“face à evolução dos orçamentos atribuídos desde 2010, temos vindo a reduzir
significativamente as horas de voo, a prontidão das aeronaves, as acções de
formação e qualificação e a manutenção das infraestruturas”; “a capacidade de
resposta pode ser afectada a curto prazo”, e mais meia dúzia de frases
semelhantes.
O político laranja que ficará como um dos
piores ministros da defesa, desta atormentada e manca III República, não perdeu
tempo – sinal que conhecia o discurso – e replicou que “as vulnerabilidades das
FA não devem ser discutidas em público” e “que acreditava ser da cultura de
todos os chefes e da boa estratégia militar, que as vulnerabilidades das FA e
da Defesa Nacional, não devem ser ecoadas no palco da discussão pública”.
E acrescentou: “que as fragilidades são
combatidas diariamente pelo esforço de uma gestão mais eficiente, pela
competente definição de prioridades, pelo rigoroso planeamento da acção e pela
indução de reformas que conduzam a um aumento de capacidade operacional num
quadro muito exigente na aplicação de recursos públicos”.
É preciso ter lata!
Vejamos:
O
discurso do CEMFA foi educado, institucional e comedido. Não discutiu nada
(apenas apresentou factos), não revelou qualquer segredo militar nem nenhuma
debilidade que não esteja à vista de todos.
Ou seja o Comandante da FA limitou-se a
constatar uma realidade que põe em causa o cumprimento das missões pelas quais
é responsável. A única coisa que fez foi dar-lhe uma articulação lógica de modo
a poder concluir que “urge, portanto, senhor ministro, encontrar soluções que
permitam minorar esta situação”.
Não se vislumbra no que estas palavras
possam ofender seja o que fôr ou quem fôr. Parece até, que o CEMFA não só tinha
o direito de dizer aquilo que disse, como também, o dever de o fazer! Quanto
muito só perca por tardio…
Quando algo correr mal, é o MDN que
assumirá a responsabilidade?
Além disso o General Pinheiro não tem só o
dever de lealdade para com o Governo tem, outrossim, esse mesmo dever para com
as suas tropas, O PR, que é o Comandante Supremo, e ainda perante a Nação que,
em 1º e último lugar tem por dever defender e salvaguardar![2]
Aliás o que se lamenta é que esta posição
não tenha sido sufragada em Conselho de Chefes Militares e devidamente apoiada
pelos três Conselhos Superiores dos Ramos.
Por outro lado não há acordo ortográfico
que salve as palavras do MDN como, de resto, já se tornou pleonasmo referir.
Não direi que não seja preferível manter
determinados problemas relativos às FA no recato dos gabinetes – apesar de,
tudo o que na sociedade que agora temos, tenha sido dessacralizado sem piedade
(sendo a culpa dos políticos) – mas isso é para ser feito quando há sentido de
Estado e as pessoas são sérias de procedimentos.
Tal tem sido a norma por parte das
sucessivas chefias militares, sem que da parte política tenha havido qualquer
correspondência.
Sem embargo “essa cultura” como o ministro
lhe chama, não pode é ser aproveitada para fazerem das chefias militares e dos
militares gato – sapato, e usarem os constrangimentos da “condição militar”
para manterem as tropas silenciadas, ao mesmo tempo que destroem a seu bel –
prazer toda a Instituição Militar.
Em simultâneo não fazem a defesa
institucional da mesma – como lhes compete – a não ser em orações de
circunstância, já gastas, ao mesmo tempo que passam, continuamente, para a
opinião pública a ideia de que a tropa é muita, é cara, é privilegiada, não se
justifica e, “last but not the least”, “também tem que participar no esforço
financeiro do País” – deixando subentender que o não querem fazer – quando estamos
há mais de 20 anos a dar para este peditório enquanto o resto do País folgava e
ia a banhos a Cancun!
Deve ainda sublinhar-se que as FA enquanto
tal, não contribuíram em nada, repito, em nada, para o descalabro financeiro do
Estado, que é da exclusiva responsabilidade da classe política! [3]
Mais ainda, os sucessivos MDN têm vindo,
faz décadas, a espoliar os orçamentos das FA em favor dos desmandos e
desregramento de outros serviços públicos! Desminta se for capaz!
O Sr. Ministro devia era estar calado e com
a cara pintada de preto!
E como é que tem o desplante de atirar para
cima do CEMFA com o ferrete da melhor gestão, quando não há, nem de perto nem
de longe, qualquer organismo do Estado que se administre melhor que as FA, em
geral, e com a FA em particular?
E isto note-se, quando o Poder Político tem
vindo a esvaziar constantemente as competências da hierarquia militar, não tem
permitido um mínimo de factores estáveis de planeamento e destabiliza
reiteradamente a IM com anúncios de reorganizações!
Sabe que mais Sr. Ministro, apesar de nem
se poder equivaler a um “infra” [4] o seu castigo é o de se
rebater sobre o plano horizontal e tentar desviar o eixo da Terra, aí umas 50
vezes. A última com palminhas atrás das costas…
“Você, Traço”, pertence a uma classe
política que desgraçou o País – apesar de terem todas as condições para o
governarem em “velocidade de cruzeiro” – e vem dizer ao Chefe da Força Aérea
para definir melhor as prioridades e ser rigoroso no planeamento da acção?
Será que não se vê ao espelho, ou o mesmo
saiu-lhe numa tombola da antiga feira popular?
Acaso o gabinete jurídico do Estado-Maior
devia ter ido pedir pareceres a escritórios de advogados, similares ao seu?
Porventura o Director de Finanças devia ter apostado numa “Swap”? Ou o
Comandante da Logística, para asfaltar as pistas, devia ter recorrido a uma
parceria público-privada? Sim, diga lá?
Sabe qual era a prioridade que deviam
definir? Esta: os senhores nunca mais alapavam o cóccix no “Falcon 50”, até
pagarem o que devem, o que teria já levado a muita poupança e á economia da
última viagem que fez a Moçambique, tendo o desplante de fazer vir a fragata
que combate a pirataria na Somália, ao porto de Pemba, para a visitar e tirar
umas fotos com os jornalistas!
Diga-me ainda: para si o que será mais
importante, a FA, o Benfica ou o PSD?
Presumo que me irá dizer ser o FC Porto, mas a resposta está igualmente
errada…
Ao reconhecer – pelas palavras que exalou – as vulnerabilidades da FA (e
por extensão a dos outros Ramos, ou julga que estão melhores?), o que já fez
para as colmatar? Vai vender o que resta dos F-16 (que o país não poderá
substituir nos próximos 100 anos) para financiar as instalações em falta no
Hospital (escusado) das FA, que já está atulhado? Será isso que chama de
“aumentar a operacionalidade”?
E como tem o topete de criticar o CEMFA por
suposta exposição de vulnerabilidades, quando o tristíssimo governo de que faz
parte teve a inenarrável cobardia de permitir que a “troika” determinasse
cortes nas FA? E nem sequer tiveram vergonha de tal saltar para as televisões?
Finalmente, Sr. Ministro[5] , gosta de desafios? Ei-lo
que fica: porque não corta os 36% que o CEMFA referiu, ao orçamento do seu
gabinete e melhora a gestão, redefinindo as prioridades? Aceita?
Dir-me-á, ainda, o que pretende que as
chefias digam em público: mentiras? Que está tudo bem (outra mentira)? Que
agradeçam ao governo os grandes melhoramentos conseguidos (idem)? Ou porventura
se congratulem com as reformas vitalícias (e secretas) dos políticos?
Ou pretende apenas que se diga, aquilo que na gíria militar se designa
por “generalidades e culatras” ou o acto de expelir o líquido excrementício
segregado pelos rins, para o calçado que envolve o pé e parte da perna”? [6]
O General CEMFA limitou-se a dizer o óbvio e até lhe pediu ajuda.
O que já não é nada óbvio é que um
desqualificado para a função, que nem recruta foi, tivesse o desplante de
admoestar o Comandante Aéreo Nacional, publicamente e perante formatura das
suas tropas.O General CEMFA limitou-se a dizer o óbvio e até lhe pediu ajuda.
Teve sorte, não ter ficado a falar sozinho e, ainda, não lhe ter acontecido o mesmo que ao seu colega “John Garden”, nos idos de 1975, às mãos de um coronel mais “fogoso”.
Passar bem (longe).
[1] Que se comemora a 1 de Julho, mas cujas cerimónias decorreram na véspera, em Leiria.
[2]
E já nem queremos ir para o campo da defesa da Constituição – que juraram
defender – senão a discussão nunca mais acabava…
[3]
É bom que se diga que as FA custam ao orçamento do Estado cerca de 2%...
[4]
“Infra”, idêntico a caloiro da Academia Militar, cuja definição me dispenso de
enunciar.
[5]
Nem sei se ainda o será quando este escrito der à estampa…
[6]
Vulgo “mijar para as botas”.
Infelizmente o soldo ainda fala mais alto do que a honra.
ResponderEliminarO cemgfa que dê uma g-3 a cada 1 e vão tomar o poder e militares a comandar o país com o pessoal de administração financeira a tomar conta da economia e das finanças não ponham lá é ninguém das messes que esses só querem é guardar para dentro
ResponderEliminarSenhor Tenente-Coronel
ResponderEliminarFelicito-o por este seu texto, bem como aplaudo a frontalidade das palavras do CEMFA.
Permita-me contudo uma crítica: se respeito, embora não concorde com ela, a sua posição perante o acordo ortográfico de 1990, parece-me exagerado referi-lo no contexto em que o faz neste texto. É misturar «alhos com bugalhos».
Com os meus cumprimentos
José Neto
Desde já faço a minha declaração de interesses, que são nenhuns. Não sou militar nem tenho nenhuma relação próxima ou afastada com a instituição ou pessoa em causa. Existem no entanto temas que afectam profundamente a minha sensibilidade. De um ministro impõe-se no mínimo conhecimento dos temas do seu ministério e elevação moral e intelectual. Lamentavelmente verificamos que o ministro da defesa, de longe o pior ministro do governo, revela ser (como foi muito bem dito) o "pior ministro da defesa de que há memória. A catastrófica mediocridade e arrogância da pessoa em causa é latente em cada uma das notícias que temos do Min da defesa. Infelizmente a situação política e económica do país remete esta temática para segundo plano, mas a história não deixará de marcar ad eternum o Min. da Defesa e o rastro que deixou.
ResponderEliminarIsto merece ser partilhado! Excelente!
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