“A hipocrisia é a homenagem que o
vício presta à virtude”.
François, duc de la Rochefoucauld
Bom, são tantos que nem sabemos
por onde começar…
Fiquemos pela seguinte questão:
que tipos de pessoas têm governado o País, nos últimos 40 anos?
Á partida a resposta é simples:
aqueles que se inscreveram nos Partidos Políticos (PP), ou foi cooptado.
A complexidade vem das “nuances”…
Nos primeiros 10 anos a cena foi
dominada pelos “antifascistas” e pelo “antifascismo” militante. Ou seja fez-se
gáudio em fazer tudo ao contrário do passado recente – que, de fascismo, tinha
muito pouco – e em gastar à tripa forra o pecúlio existente.
Nos “antifascistas” meteu-se de
tudo: traidores, desertores, refratários, bombistas, criminosos de delito
comum, vira casacas, chico - espertos, calões, malta do “reviralho”, liberais
vários e uma corte impressionante de “adesivos”.
Duas bancas - rotas depois, acompanhadas de
duas intervenções do FMI e adormecidos numa euforia estúpida, que seguiu
patologicamente, à maior e mais vergonhosa derrota que a Nação sofreu em toda a
sua História, as coisas começaram a sossegar com a entrada na CEE e a promessa
de muitos milhões.
Os PP (excepção para o PCP)
desenvolveram-se anarquicamente, sem regras, sem ideologia, sem modelo, sem
escola, sem crivo, começando a dar palco a criaturas que vieram a revelar-se,
na sua esmagadora maioria, perfeitamente ocas e impreparadas para o exercício
daquilo a que se devia denominar pela “nobre arte da Política”.
O tempo era ainda daqueles que
conheciam o país, maioritariamente, pelo olhar estrangeiro por onde andaram
emigrados; o preconceito ideológico e, ainda, o do erro (bem intencionado ou
não) dos que ignorantes da Geopolítica que orientou Portugal nos últimos 600
anos acreditaram no “El Dourado” europeu.
Podiam ao menos ter acreditado,
mas não deitado fora a Prudência…
A estes juntaram-se bastantes
quadros capazes, entretanto regressados do exílio para que o “PREC” os tinha
atirado.
Quando a situação estabilizou –
se é que alguma vez estabilizou – verificou-se que três ou quatro profissões se
tinham apoderado de praticamente toda a vida pública nacional.[1]
Até hoje cerca de 90% das grandes
decisões que tomaram, revelaram-se estrategicamente erradas e, por isso, desastrosas
para o País. Não tenho qualquer receio em afirmá-lo.
E o erro que vem à cabeça de todos – pai e mãe
de todos os outros – foi o de nunca se ter feito uma análise do potencial
político-estratégico que nos restava depois de avaliadas as consequências do
Golpe de Estado ocorrido em 25/4/74.
Mas hoje não iremos por aí.
Voltemos às tais profissões, são elas as que têm por base os licenciados em
Direito (advogados, magistrados, procuradores, etc.); professores (sobretudo,
universitários e os que não exercem); economistas e, sempre numa posição
discreta, os homens das finanças.
A restante população e as restantes profissões têm estado, de um modo geral, afastados da coisa pública.
A restante população e as restantes profissões têm estado, de um modo geral, afastados da coisa pública.
Restam os jornalistas que
propalam aos quatro ventos o que se passa e o seu contrário; a quem todas as
forças políticas, empórios económicos e diferentes “lobbies” intentam
influenciar e, eles mesmo pretendem influenciar em vez de apenas informar, numa
catadupa de notícias que há muito ultrapassou a capacidade humana de as digerir.
Como se isto não fosse suficiente
surgiu uma nova espécie de mamíferos, os comentadores – normalmente oriundos
dos grupos acima apontados.[2]
Este “cocktail” tem provado ser
um desastre.
Direito e professorado têm
dominado o Parlamento, as autarquias, até os sindicatos e são maioria nas
proeminências dos PP.
A legislação tem sido feita desequilibradamente
(e com a ajuda de escritórios de advogados) pois não tem tido o concurso dos
diferentes saberes da Sociedade.
Estas duas profissões revelam
especial apetência para se dedicarem à Política: têm obrigação de saber
escrever, treinam normalmente os dotes de oratória e têm mais facilidade em
compatibilizar – por diversas razões – a acção política com o exercício da
profissão, e o afastamento da mesma não tem aspectos tão gravosos como para
actividades de cariz muito técnico ou que exijam uma prática continuada.
Como se passou a reduzir tudo a
números (e tudo é negócio), e se incentivou a tecnocracia – outro desequilíbrio
grosseiro da sociedade hodierna – passaram a ser fundamentais os Economistas.
Veja-se, por ex., o que fez o Presidente da República logo a seguir ao início
da inenarrável crise política em que ora estamos: convocou 40 economistas a
Belém, 40!
Parece que há mais economistas do
que consumidores…
Ora esta coisa de ouvir economistas tem os seus problemas. Em primeiro lugar são piores que os médicos quanto à terapia: não há dois de acordo; depois porque tendem a complicar o que é simples; por ex. o princípio, que deve ter origem no Neolítico, de que não se deve gastar mais do que aquilo que se produz, é logo transformado em complicadas fórmulas matemáticas, leis de mercado e, para convencer os mais cépticos, ainda se avança com duas ou três teses de doutoramento de sumidades que ninguém ouviu falar, mas que estão sempre a despontar.
Ora esta coisa de ouvir economistas tem os seus problemas. Em primeiro lugar são piores que os médicos quanto à terapia: não há dois de acordo; depois porque tendem a complicar o que é simples; por ex. o princípio, que deve ter origem no Neolítico, de que não se deve gastar mais do que aquilo que se produz, é logo transformado em complicadas fórmulas matemáticas, leis de mercado e, para convencer os mais cépticos, ainda se avança com duas ou três teses de doutoramento de sumidades que ninguém ouviu falar, mas que estão sempre a despontar.
Outros ainda baralham mais as
coisas ao trazerem ideologia para a discussão, que se desenvolve no meio de
múltiplas siglas com que bombardeiam os pobres dos pagadores de impostos…
No fim esquecem-se todos que a
Economia é mais uma “arte” do que uma ciência, que flutua – é o termo – no meio
das contingências mais díspares que eles, economistas, às vezes nem ouviram
falar.
Mas, como se tem visto, apesar de
acertarem pouco, estão para ficar (e bem pagos)!
Na sombra, apesar de já
aparecerem, por vezes, nas televisões, estão os grandes financeiros, que mandam
mais na queda dos governos ou na definição de políticas, do que todas as
eleições por junto.
O que move um banqueiro – penso
ser uma evidência incontornável – é o Juro. O que paga e o que recebe.
O que move a “Bolsa” são as
“transações” e o sobe e desce das acções, fenómeno algo esotérico que ninguém
sabe ou quer dilucidar.
Juntando as duas equações temos o “sangue” do sistema.
Juntando as duas equações temos o “sangue” do sistema.
Isto virou tudo do avesso.
Ou seja em vez de se considerar a
Economia como um fim em si mesma – que ela não é – mas sim como derivando de
uma política e ser instrumento de uma Estratégia; e de fazer como com que o
sistema financeiro sirva para financiar a Economia e tenha preocupações sociais
– em vez de servir para engordar accionistas e proporcionar jogadas
especulativas, financiamento de negócios duvidosos, misturado com eventuais
fugas aos impostos, através do uso de paraísos fiscais, passa-se tudo ao
contrário.
Por outras palavras, o sistema
financeiro dita onde põe o dinheiro, condiciona a economia e as prestações
sociais e controla a Política (e os políticos), que devia ser, em primeiro
lugar, quem devia liderar tudo isto.
A “coerência” do actual sistema
mantêm-se fazendo circular entre os órgãos de soberania, grandes empresas e
banca, as mesmas pessoas.
Não há regime político
democrático que, de per si, consiga mudar o “status quo” desta equação.
Tudo se complica quando se
desenvolveram, entretanto, vários “lobbies”, mais ou menos conhecidos, que se digladiam,
transversalmente, por pedaços de poder/negócios e, sobretudo, porque o esquema
se internacionalizou.
Tudo isto está mais ou menos fora de controlo.
Resta dizer que para que toda
esta “mancha de óleo” pudesse espalhar-se e fazer o seu percurso, foi
necessário condicionar, subverter, destruir ou tornar irrelevantes, todas as
instituições que mantêm um Estado-Nação de pé, e que no nosso caso remontam à I
Dinastia.
A começar pela palavra “Nação”
que foi irradiada do vocabulário e isso não tem nada a ver com o aborto
ortográfico.
Nós precisamos urgentemente de
estrategas e de estrategas patriotas e corajosos, que ajudem a definir os
objectivos políticos e dêem coerência ao todo. Os estrategas tendem a ter uma
visão global dos problemas, conhecem a Geopolítica do País e do mundo que a influencia
e cuidam de conhecer as potencialidades e vulnerabilidades nacionais e
estranhas.
Têm a sensibilidade para a escolha, quando tal
se torna pertinente e necessário, do conselho e capacidades técnicas – onde
devem caber então, não só os economistas, os financeiros, os de direito, mas
todos os demais.
Não parece difícil de constatar e
perceber, que raro tem sido o político que tenha tido este rol de barbaridades,
na mínima conta. Naturalmente por entender que se trata de barbaridades…
Fazer o que lhes mandam, ou o que deixam e
tratar de negócios é uma coisa.
Defender a Pátria, tendo uma Política,
é outra coisa perfeitamente distinta.
[1] Que fique bem claro que nada me move, à partida, contra qualquer profissão ou profissional da mesma.
[1] Que fique bem claro que nada me move, à partida, contra qualquer profissão ou profissional da mesma.
[2]
De comentar, do latim, “commentare”, explicar, interpretar, explanar,
esclarecer, criticar, analisar. Aguarda-se em jubilosa esperança o aparecimento
de um subgrupo da mesma família: os “comentistas”, ou seja os analistas dos
comentadores…
E quem teve a seriedade e a estratégia(dentro do sistema político) acabou por ser vitima de «acidente» corria o ano de 1980.
ResponderEliminarExmo senhor
ResponderEliminarTenente Coronel
Há muito tempo que o leio e ouço e serve este meu comentário para o saudar na sua visão lúcida e despejada de bloqueios mentais e ideológicos que tanto têm impestado a nossa intelectualidade contemporânea. O que diz é tudo verdade e confere exactamente com o meu próprio pensamento.
Temos sido governados e dominados por uma turpe de "traidores", de complexados e essencialmente de ignorântes onde em todos eles tem residido a incompetencia! O que o senhor refere sobre a geopolítica nacional (e o desconhecimento histórico dela) é essencialmente verdadeiro pois tem incluindo soluções erradas e principalmente contra-natura: a opção europeia é uma delas.
Com os meus sinceros cumprimentos e tenha sempre a coragem de falar a verdade.
Portugal tem solução
Jorge Silva
Snr. Tenente Coronel Brandão Ferreira.
ResponderEliminarSó hoje tomei contacto com o seu Blog.
Parabéns, uma lufada de ar fresco entrou na minha cabeça.Desculpar-me-á uma frase usada na gíria: "Quem fala assim, não é gago".
Concordo com tudo o que li, de uma ponta a outra.
hcayolla@hotmail.com
http://novidadesdehenriquealmeidacayolla.blogspot.com
Cumprimentos sinceros de um português da velha guarda (74 anos).