sábado, 2 de fevereiro de 2013

ESTRATÉGIA, ÓH ESTRATÉGIA!...

“Beneficium accipere libertatem est vendere”
(Aceitar um benefício é vender a Liberdade).
Publilius Syrius, século I, a.c.

Se bem estão lembrados o Sr. Ministro da Defesa – presume-se que por ordem do Chefe do Governo, dado ser ele o primeiro responsável pela Política de Defesa Nacional – solicitou a um grupo de 27 personalidades, com provas dadas em diferentes sectores da vida nacional, a elaboração de uma proposta de um novo Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN).

Antes do grupo ter começado a trabalhar atrevi-me a fazer algumas considerações das quais, é justo referir, ter-me enganado numa: a de ter augurado (dado o elevado número de elementos que o compunham e o curto prazo fixado) que teriam muita dificuldade em ter o documento pronto. Mas, o que é certo, é que o conseguiram e não consta que as suas 109 páginas sejam despiciendas.

Desse facto me penalizo, ao mesmo tempo que realço o feito.

No restante, porém, não me enganei muito, sobretudo no parecer que tudo não serviria mais do que para “épater le bourgeois” e que, no fim, o papiro iria para a gaveta.

Não me passa pela cabeça ir analisar o que ficou escrito no sentido de o “criticar” mas, talvez, seja pertinente fazer alguns comentários, à volta do mesmo.

A primeira consideração é a de que seria desnecessário o trabalho. Porquê?

Porque do anterior nada de significativo mudou (a não ser uma coisa): não mudou a geografia, nem o carácter das pessoas, nem as ameaças ou riscos – foram apenas diminuindo as nossas capacidades…

O que mudou – e sobreleva tudo o resto – foi o desregramento financeiro medonho que colocou o país à beira da bancarrota, e debaixo do escrutínio de uma comissão internacional (e internacionalista), que reduziu grande parte da Soberania Nacional, a estilhas.

Logo, seria natural que o CEDN a delinear incidisse sobre este ponto (que impede, na prática, a decisão sobre qualquer outro).

Ou seja e em súmula, como pôr a “Troika” daqui para fora.

Mas nada disto se passou nem o Ministro Gaspar deixava…

No entretanto esclareci duas dúvidas e obtive uma informação que desconhecia.

Em primeiro lugar que o GT não recebeu qualquer directiva política sobre o Conceito Estratégico e que a diferença de designação de CEDN para Conceito Estratégico de Segurança e Defesa Nacional (CESDN) tinha sido uma iniciativa do GT e não por indicação de quem encomendou o trabalho.

Finalmente, o GT baseou todo o seu articulado na perspectiva de que o país está no limiar da sobrevivência o que, sendo uma postura realista e correcta, caíu mal em diversos círculos do poder e terá exasperado algumas figuras da política. O que deve ter ajudado à subalternização senão mesmo, à irrelevância do documento, arduamente elaborado durante 75 dias.

Para obviar a que tal possa acontecer por completo, só há uma coisa a fazer que é o de o divulgar e manter a discussão sobre o tema em diferentes “fora”.

Já relativamente à iniciativa referida de mudar o nome para CESDN e à inexistência de orientações, parece querer significar que o MDN deu carta-branca ao GT para elaborar sobre o que muito bem entendesse. O que não deixa de ser curioso a vários títulos.

Primeiro porque a Estratégia (ou as estratégias), deve derivar de uma orientação política (embora os caminhos a percorrer sejam, simultaneamente, ascendentes e descendentes) e isto significa que o Governo não a tem e delegou no GT delineá-la.

Definir objectivos políticos, estabelecer prioridades, hierarquizar cenários e considerar “timings”, é fundamental para se objectivar esforços, adquirir capacidades, orientar sinergias, etc.

E, ainda, para evitar um dos principais erros em que se caíu quando se elaboraram os anteriores CEDN, que é serem generalistas e abrangentes, ou seja davam para tudo o que resultou serem consequentes em nada!

Aliás, nada faz sugerir que todos os governos que tivemos, nas últimas décadas, tivessem a mais remota intenção de se orientarem pelo que pudesse estar escrito nesses documentos. E tirando os ministros da defesa e alguns deputados da Comissão Parlamentar de Defesa, mais nenhum político os deve ter lido alguma vez.

Tudo isto seria já de si suficiente para que o GT tivesse como base de trabalho o “nada” ou a sua imaginação.

As 109 páginas demonstram que essa imaginação foi usada, mas ela teve que ultrapassar ainda um outro “nada”, ou “vazio”.

Expliquemo-nos.
Uma estratégia pressupõe adversários, inimigos, riscos e ameaças. E pressupõe que existe algo a defender ou, no caso vertente, a tornar seguro – um conceito mais alargado.

Para tal é necessário definir o que importa defender, dado que se encontra esbatido na mente de quase todos desde que, na sequência do 25/4/74 se estabeleceu, de algum modo como um dogma, que “Portugal era amigo de todos e todos eram nossos amigos”…

Além disso em “Democracia” não há lugar a conflitos...[1]

Daí à genuflexão militante, foi um passo.

Ainda tivemos um arrobo de personalidade (melhor dizendo, uma má consciência do tamanho do mundo!), aquando da questão timorense – e após 10 anos de inatividade – lá tentámos reparar uma desgraça da qual os poderes em Lisboa tinham sido os principais (senão os únicos) responsáveis.

Bom, mas as relações internacionais são baseadas no Poder: poder político, diplomático, económico, financeiro, cultural, psicológico e militar. Mas sempre poder real, efectivo, que exista e possa ser exercido.

Ora os sucessivos governos portugueses têm-se entretido a desbaratar todo o Poder Nacional Português - TODO - como, aliás, o GT reconheceu ao afirmar que “apenas nos resta algum poder residual”…

E, neste âmbito, bem se pode afirmar que os diferentes órgãos de soberania se têm comportado como subversivos da Nação dos portugueses!

Logo, se não existir Poder – que se decompõe em capacidades várias - permitindo opções estratégicas variadas (quanto mais poder, mais opções…), não é possível delinear qualquer estratégia. De onde decorre que a elaboração de um CEDN torna-se um exercício vão, por se estar a elaborar sobre o … nada!

Quando muito pode-se enunciar uma estratégia genética com o título “o que se pode fazer para obter um mínimo de poder que nos baste”…

Um derradeiro comentário: 
No início das “Disposições Finais” da proposta de CESDN, pode ler-se o seguinte: “O CESDN fundamenta-se na agregação de todos os elementos com o objectivo final e permanente de proteger a nação portuguesa, garantindo a sua sobrevivência como entidade política e humana, independente e soberana”.

Ora este conceito - que está correctíssimo como defensor e garante, daquele que foi o Objectivo Nacional Permanente Histórico, número um, desde a fundação da nacionalidade - encerra uma contradição insanável.

Esta contradição diz respeito à nossa permanência na União Europeia, sobretudo desde que o nosso país assinou o Tratado de Maastricht e, depois, o Tratado de Lisboa.

É que estes tratados são incompatíveis com aquele desiderato expresso na proposta de CESDN. Até porque, tudo isto, de nacional não tem nada!

Esta coisa do “Rei” teimar em se passear nú, pelas diferentes épocas e serem só as crianças[2] a exclamar a evidência acaba, por norma, mal.

Muito mal.


[1] E, se por remota hipótese, algo surgisse, lá estaria a NATO (quiçá a ONU e a UE – ah, ah, ah).
[2] A quem, ainda, não taparam os olhos ou a boca…

6 comentários:

  1. E a Nato não impede também que na prática os militares defendam a independência e soberania nacional?Não andam as tropas tugas um pouco por todo o lado a defender os chamados interesses ocidentais(na verdade anglo-saxónicos)quando estamos entregues aos bichos no nosso rectangulo?E os generais,não estão eles mais preocupados com os seus proveitos neste sistema a que muitos chamam de democracia?Por fim parece que muitos se mostram mais preocupados com o comunismo(como se tivessemos ainda em 1975)do que com aqueles que manobram nos clubes globalistas para dominar os estados em nome da tal nova ordem ela sim uma especie de socialismo para os ricos gerido pelos escolhidos e seus herdeiros neo-feudalistas.Escrevi algum disparate?Digam então qual.

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  2. ... mais um 'magister dixit', proferido por um verdadeiro patriota e aqui exposto
    à apreciação de "jotinhas que ao mando ascenderam mas tudo ignoram quanto à nossa Pátria e à defesa dos interesses da nossa Nação.

    Muito obrigado, Brandão Ferreira.

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  3. ... o m/precedente 'comment', refere-se exclusivamente ao texto supra publicado pelo autor deste blogue.
    Cpts,
    J.C. Abreu dos Santos

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  4. Infelizmente parece que nao disse nenhum disparate caro afonso,nao disse foi tudo pois a teia cresceu tanto que se torna quase impossivel ver todas as pontas.Andamos sempre a olhar para as arvores pois a floresta toda fica fora de nosso radar,so com bons satelites.

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  5. Acho que o nosso amigo e Sr. Afonso partilha a minha ideia ou vice-versa, hoje não podemos falar em militares Portugueses mas Mercenários Portugueses, pois não defendem Portugal e seu Povo mas sim interesses dos srs globalistas, Americanos e seus comparsas de interesses que não os de Portugal. Logo, no meu ponto de vista não são militares Portugueses mas mercenarios Portugueses, pois todos os que lutam, por dinheiro e interesses que não os da sua Pátria são mercenários, tal como fazia Roma.

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