Este artigo foi publicado em 8 de Novembro de 2005, apesar da acção nefasta
dos actuais Partidos, se fazer sentir hà muito. Presumo que agora já seja mais
fácil perceber porquê.
As pessoas, por norma, indignam-se tarde e a más horas e nem sempre pelas melhores
razões. E, por norma, também, os diferentes escalões hierárquicos teimam em fingir
que não vêem/não entendem, e porfiam em atacar efeitos e não causas. Faz parte da natureza humana.
Não aprender nada, não faz parte da natureza humana".
Brandão Ferreira
D. Manuel I
Frase, que segundo Damião de Góis, o Rei teria proferido após ter
reconhecido a Janes Mendes Cicioso, burguês de Évora, depois de este ser ouvido
uma justificação do seu protesto contra um imposto real.
Não só lhe deu razão, como o louvou apontando-o como exemplo dos homens que
pretendia ter junto de si, de modo a dizerem-lhe “...”
E já o fizeram várias vezes...
Mas como o país tem a memória curta e se faz gala na ignorância militante,
nunca se vai aprendendo nada.
Resumidamente foi assim:
Em 1820, na sequência de uma tentativa de golpe de estado frustrado, de
contornos difusos, chefiada pelo General Gomes Freire de Andrade, em 1817,
surtiu, no Porto, uma revolta que logrou sucesso. Esta revolta de carácter
liberal foi urdida numa loja maçónica – o Sinédrio - e o vulto que assomou
proeminente dava pelo nome de Fernandes Tomás. Rapidamente o movimento alastrou
a pontos - chave do País, nomeadamente Lisboa. Nascia assim o Liberalismo em
Portugal, inspirado nos ideais da Revolução Francesa. Em 1822 foi aprovada a
primeira Constituição Portuguesa – que muitos viam como a chave da resolução
dos problemas nacionais - e o Rei posto a recato no Brasil nos idos de 1807,
resolveu regressar à capital do Reino a tempo de a jurar.
Os acontecimentos, porém,
precipitaram-se: a independência do Brasil em marcha há algum tempo, foi
apressada por imprudências da recém - eleita Assembleia Constituinte; a família
real cindiu-se entre adeptos do novo regime e partidários da Ordem Antiga. E
com eles dividem-se o Exército, o Clero, a Burguesia e o Povo. Estas desavenças
que demoram livros a contar desembocaram na guerra civil mais cruenta que em
Portugal houve, tendo atingido o seu auge entre 1832 e 34. O país, exangue
pelas invasões francesas estava agora esfacelado. Com a paz de Évora - Monte
inaugurou-se a Monarquia Constitucional.
Em 1838, nova Constituição era aprovada que substituía uma outra de 1826.
Mas o sossego estava longe de assentar praça. Em vez dele reacenderam-se ódios;
os partidos desacreditaram-se completamente e irrompiam constantemente
quarteladas, golpes palacianos, revoltas militares à mistura com crises
financeiras terríveis. A desorientação era total e acabámos noutra guerra
civil, em 1847, a Patuleia, que só foi resolvida após intervenções militares da
Espanha e da Inglaterra!
Em 1851, após mais um golpe de estado do Cabo de Guerra Saldanha, as forças
políticas tomaram consciência do desastre em que tinham atolado o país e
tentaram entender-se procurando imitar o parlamentarismo inglês. Surgiram,
então, dois partidos, um mais à direita – o Regenerador e o outro mais à
esquerda, o Progressista, que se alternariam no Poder. Entrou-se na Regeneração
e no “Rotativismo”. Gerou-se alguma paz social e uma melhoria das contas
públicas permitiu algum progresso económico. Apareceu um estadista: Fontes
Pereira de Melo. As coisas foram-se aguentando com altos e baixos até 1890, com
muita chapelada e caciquismo local à mistura.
A luta política nunca foi séria e disso se ressentia o “governo da cidade”.
Eça, Ramalho, Oliveira Martins e o imortal Bordalo, fixaram toda esta época
para sempre. A partir de 1890 com nova crise financeira e o “Ultimatum”,
entrámos no estertor da Monarquia, que iria durar 20 longos anos. Surgia agora
em força a propaganda e agitação republicana e algumas ideias socialistas e
anarquistas.
A Monarquia caiu mal, vítima da inépcia, da cobardia e até da traição dos
partidos e outras forças que a apoiavam e a República nasceu pior, pois que se
fundou num crime de Regicídio. Também, nesses tempos, muitos houve que achavam
que a simples mudança de um regime seria o suficiente para a salvação da
Pátria, mas enganaram-se. Os 16 anos que se seguiram foram de indiscritível
agitação político-social, bancarrota, revoltas, assassinatos, desgraças várias.
Pelo meio combatemos em quatro frentes durante a I Guerra Mundial o que
causou imensos lutos, sacrifícios e desavenças.
Em 1926 o país estava novamente exangue e desacreditado, interna e
internacionalmente. Por isso não espanta, nem se deve criticar, que o Exército
tomasse o Poder. Só que as FAs sabiam o que não queriam, mas não estavam seguras
do que deviam fazer a seguir.
Salvou-nos (é o termo!), um homem que se tornara conhecido pelas suas
ideias e integridade e chamado a pôr ordem nas finanças se houve prestes, com
grande acerto e competência. Chamava-se Salazar e era lente em Coimbra.
Sabendo concitar apoios, dispondo de uma Ideia Telúrica de Portugal e do
seu povo e uma doutrina original que a sustentava, acabou por ser nomeado chefe
do governo e por lá ficou 40 anos. E um dos principais e primeiros actos que
intentou foi acabar com os partidos políticos e não se lhe pode levar a mal a
atitude face aos péssimos serviços que estes tinham prestado ao país no último
século! Não pode pela Ciência Política, ser qualificado de democrático, o
regime então instaurado. Mas não se lhe pode negar coerência, Patriotismo
extremo; princípios elevados; recta intenção; respeito pelo Direito e pela
Moral e, ao contrário do que muitos dizem, elevado progresso económico e
desenvolvimento social. Foi um regime sério e maioritariamente servido por
pessoas sérias.
E, durante décadas, fez com que os portugueses voltassem a ganhar orgulho e
confiança neles próprios. Pelo meio ganhou-se a guerra de Espanha, saímos
incólumes e prestigiados da Segunda Guerra Mundial e quando se montou um dos
maiores ataques à escala mundial que jamais se conjugara contra a maneira
portuguesa de estar no mundo, organizou-se a resistência e a luta de tal modo,
que não encontra paralelo desde o tempo do Senhor Afonso de Albuquerque.
Perdeu-se Goa, Damão e Diu, é certo, mas só depois de termos ultrapassado
vitoriosamente durante mais de 10 anos, todas as tropelias da União Indiana, e
quando esta nos esmagou militarmente com força bruta, perante a inanidade
hipócrita da Comunidade Internacional.
Quando o obreiro de tudo isto faleceu, não possuía palácios, contas na Suíça,
nem qualquer bem que surtisse inveja ao mais pobre dos seus compatriotas. E a
exiguidade da sua conta bancária (140 contos) só encontra paralelo na probidade
com que serviu o Estado e a Nação. Nunca alardeou honrarias e jaz, por seu
desígnio, em campa rasa na sua aldeia natal. Não se encontra exemplo que lhe
possa ir a par, em toda a História de Portugal.
Chegámos a 1974 e uma pequena parte do Exército, entendeu, por razões que
ainda não foram devidamente assumidas, fazer um golpe de estado. Ao contrário
dos seus camaradas de 1926, não se percebeu muito bem o que possam alegar como
justificação.
Todos os órgãos do estado funcionavam em pleno; não havia crise financeira
nem económica; a ordem imperava nas ruas e nos lares.
A Nação encontrava-se em guerra e batia-se no seu melhor ia para 13 anos e
não se pode admitir que profissionais do quadro permanente aleguem, porventura,
estarem cansados de fazer a guerra.
Mas as coisas são o que são e o golpe deu-se. À semelhança de 1926 os
militares também não sabiam o que fazer a seguir e logo se dividiram, prenderam
e sanearam.
Ainda hoje a Instituição Militar está a pagar tanta insensatez. O país
esteve à beira de nova guerra civil. A coisa lá se resolveu menos mal nos territórios
europeus. No Ultramar foi o desastre. O Poder Nacional caiu catastroficamente
mas, “hélas”, passámos a ter um regime democrático, mesmo assim contestado pela
extrema - esquerda. E lá voltámos novamente aos Partidos.
A “pesada herança” (em ouro e divisas), dois acordos com o FMI e a adesão à
CEE, têm aguentado as finanças e permitido a distribuição de benesses com que
se compram votos. Mas tudo isto vai acabar e os vícios do sistema irão começar
a aparecer em verdadeira grandeza. Os partidos são medíocres e são incapazes de
se reformar. O que Eça, Ramalho e Bordalo escreveram voltou a estar actual.
O resto virá com o tempo.
Grande, grande artigo!!!
ResponderEliminarAté que enfim alguma verdade e licidez.
O artigo está muito bom e é a mais pura das verdades.
ResponderEliminarJá o divulguei no meu blog.
Abraço e continuação de bom trabalho!
www.venenopuro2010.blogspot.com
Meu caro Brandão Ferreira.
ResponderEliminarÉs um génio da demagogia, nem Goebels escreveria loas destas ao tio Adolfo.
A malta não quer esta corja de políticos, mas também não quer Salazar e seus cães de fila, PIDE, Legião Portuguesa, e o seu Partido político, sim, Salazar tinha um partido político, a União Nacional rebaptizada de Acção Nacional Popular.
A malta não quer uns nem outros, quer homens honestos, precisa de um Churchil, um Adenauer, um De Gaul...um Nelson Mandela...ou um homem como Mahatma Gandi.
Chega de demagogia.
Recebe um abraço deste teu amigo.
Talhinhas.
Muito, muito bem!
ResponderEliminarInteiramente de acordo!
Joaquim Reis
Caro Talhinhas
ResponderEliminarChurchil, Adenauer, De Gaule, TODOS eles admiradores de SALAZAR!
Haja coerência!
O Povo está farto desta corja e quer é homens honestos como Salazar!
Abraços
Abel Matos Santos
Pois então uma graça:
ResponderEliminarSe eles são "partidos" como hão-de endireitar alguma coisa???
Um abraço amigo
Excelente e honesto resumo da história recente de Portugal. Muitos parabéns!
ResponderEliminarF. dAguiar