Desde que os irmãos Wright conseguiram, em 17/12/1903,
que o mais pesado que o ar se deslocasse 36 metros acima da superfície
terrestre, desafiando as leis da gravidade, que é assim![1]
Já para não recuarmos à “Passarola” do nosso
Gusmão, que não saiu da fase de projecto. E que projecto esse poderia ter sido!
Talvez conseguíssemos ter feito no Ar o que tínhamos feito no Mar, 200 a 300
anos antes…
Nem o grande Sacadura Cabral, instructor do
primeiro curso de pilotos militares, efectuado em Portugal, no já longínquo ano
de 1916, em Vila Nova da Rainha, o conseguiu evitar. E como foi pena ter
desaparecido no Mar do Norte nesse aziago voo da Holanda para Lisboa, em 1924!
Logo ele, de que tanto se poderia esperar.[2]
Mas enfim, devem estar todos ansiosos por saber o
que tem a “prima” a ver com isto, sem embargo de algumas “avantesmas”,
descendentes da “Aviação Heroica”, ainda vivos, já terem certamente percebido.
Bom, a “prima”, melhor dizendo a “visita” à mesma
é, provavelmente, a mais antiga causa de indisciplina de voo e de um número de
acidentes/incidentes/perdas de vidas e bens, não despiciendo.
A “visita à prima” explica-se em duas penadas:
trata-se de um avassalador ímpeto interior, resultante de um fogo vaidoso do
ego, que impele o “Zé Aviador” a arriscar fazenda, normas e integridade física,
a fim de poder mostrar-se à prima. Prima esta que resulta da síntese, de um
conceito alargado de familiares e amigos onde assume especial relevo o ser que,
no momento, faça bater mais fortemente o coração entre ânsias e suspiros: a
namorada (agora, também, o namorado).
Para impressionar a dita cuja, todas as precauções
se abatem e os medos se afugentam e já que “perdido por um perdido por mil”, há
que, invariavelmente, planear a cena para que a “máquina” passe raivosamente
baixa (eventualmente raspante) e com a maior velocidade possível (tipo “motor
aos copos”), de modo a causar o máximo de impressão na retina, nos tímpanos e,
até, nos pêlos do nariz dos eventuais espectadores. De preferência avisados
previamente (para não se atreverem a perder o espectáculo), da hora da
passagem.
Caso a meteorologia, o local e a habilidade do
“artista” sejam propícios, ainda se tentará fazer umas “piruetas”, vocábulo com
que os simples costumam apelidar as figuras acrobáticas feitas pelos senhores
aviadores.
Um recente “incidente” ocorrido – de características insólitas, até – que não caiu, por bambúrrio, na praça pública suscitou, digamos, esta chamada de atenção.
Um recente “incidente” ocorrido – de características insólitas, até – que não caiu, por bambúrrio, na praça pública suscitou, digamos, esta chamada de atenção.
É que por mais (maus) exemplos que se refira, com
que se queira ilustrar os perigos e desadequação do acto; das sanções
disciplinares, latentes ou aplicadas, com que se possa acenar; da melhoria da
instrução que se foi registando ao longo dos tempos; da maior visibilidade e
falta de tolerância cívica por semelhantes situações e, ainda, a maior consciencialização
e exigência profissional de toda a operação aérea, etc., a visita à prima irá
continuar.
Por isso não se pode descurar a mentalização,
vigilância, supervisão e as sanções – numa palavra, a liderança – sobre este
peculiar aspecto da “Conquista do Ar”, a fim de tentar manter o número de
ocorrências o mais baixo possível - e quando surgir a oportunidade (é fatal
como o destino), uma nave espacial há - de fazer uma “rapada” na superfície da
Lua ou num meteorito qualquer, logo que apanhe o “Houston Center” distraído…
A razão é simples e é apenas uma: enquanto a
natureza humana for aquilo que é, não há prima que não seja objecto de
tentação.
Poder-se-ia tentar conseguir que a dita cuja não
estivesse presente na data/hora/local, desse evento de excitação extrema, digno
do melhor marialvismo. Mas digam-me, algum de vós acredita mesmo, que a “prima”
seja ele quem for, se queira subtrair a tão feérico momento?
Entretanto o Gabinete de Investigação e Prevenção
de Acidentes com Aeronaves continua há meses, apenas com um investigador e com
o seu director demissionário.
Façam o favor de irem tentando aterrar melhor do
que descolam.
[1]
A acreditarmos nos americanos e não nos brasileiros que contestam tal feito e
reclamam o pioneirismo para Santos Dumont, com o voo que efectuou, em
23/10/1906, em Paris; ou nos franceses, que defendem que o seu compatriota
Clément Ader o fez, em 9/10/1890, não se tendo sabido, na altura, por ser
segredo militar. Uma coisa parece certa: é a este cidadão francês que se deve a
invenção da palavra “avion”, que foi adoptada por todo o mundo.
[2]
Segundo rezam as crónicas Sacadura Cabral andava, a estudar a hipótese de
realizar um voo seguindo a rota da viagem de Fernando de Magalhães de
circum-navegação.
1967 : a TAP torna-se a primeira companhia aérea europeia a operar exclusivamente com aviões a jacto.
ResponderEliminarhttp://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/09/primeiro-aviao-jacto-da-tap.html