Não fora uma pequena local do DN, do pretérito dia 11 de Setembro e teria passado completamente despercebida a denominada cerimónia do “dia nacional das praças das FAs”, ocorrida em Almada (Feijó), no dia anterior.
A gente olha para isto e acha a coisa mais normal do mundo dado nos terem habituado, há muito, à “normalidade” das coisas mais inverosímeis.
Poderá parecer a alguns que o evento não vale uma preocupação e que falar nele é dar-lhe a importância que não tem. Pois não me parece ser nada assim.
O acto em si configura subversão pura, organizada pelos do costume. Esta subversão está ao serviço de forças que nunca desmobilizaram.
O evento decorreu junto do monumento ao “marinheiro insubmisso” construído no município de Almada (e apoiado por este), em 30/05/09, com a presença da Banda da Armada e um representante do CEMGFA. Reparem bem, dedica-se “ao marinheiro insubmisso”, o que é que isto quer dizer ou significar? Este marinheiro é um marinheiro militar e que se sabe a “insubmissão” não faz parte de nenhuma virtude militar. O que se quer atingir com isto? Será que vai na linha da proposta que entrou na CML para se fazer um monumento aos desertores?
Pergunta-se ainda, como podem os organizadores da “cerimónia”, autoproclamar ser o dia das praças das FAs, quando tal não tem existência oficial? A presença de forças militares significa que teve a aprovação da hierarquia militar e a cobertura do MDN. Será que isso quer dizer que vêem com bons olhos uma revolta nas hostes?
Já não bastava haver o aborto do dia do sargento, que sem qualquer cobertura oficial, se invoca (com ampla cobertura mediática) a 31 de Janeiro? Porque não se inventa também o dia do oficial? Ou de cada posto, ou de cada especialidade?
Subversão pura, caros leitores.
E se para alguns mais ingénuos, que apoiam ou colaboram nestas coisas, de boa mente, desesperados com os ataques insidiosos a que a condição militar tem sido alvo, desenganem-se pois não é assim que se resolve a situação.
Este tipo de eventos não devia ocorrer por duas ordens de razões fundamentais.
Em primeiro lugar, porque o Exército, a Armada e a Força Aérea, devem ser um corpo coeso, cada um e todos. Juntos, formam a Instituição Militar, cuja missão mais nobre, entre todas, não admite divisões. Tem de ser uma equipa cujo cimento moral é o Patriotismo e o sentido do Dever e os laços físicos chamam-se unidade de Doutrina e Disciplina.
A divisão entre oficiais, sargentos e praças, e nos diferentes postos associados, longe de ser uma divisão de classes ou separador social é uma organização hierárquica que une toda a estrutura, e é fundamental para o exercício e identificação da autoridade.
Nas FAs ninguém está ao serviço de ninguém, todos estão ao serviço. E a relação entre cada cidadão fardado é perfeitamente biunívoca em termos de direitos e deveres e na aplicação de Leis e Regulamentos. Não existe paralelo em nenhuma profissão civil!
Do mesmo modo não existe o direito “de tendência”, nem tal faria sentido, e as decisões não são tomadas por votação, mas sim por quem está habilitado e investido em tal poder.
Por isso, tudo o que for feito que possa pôr todo este edifício em causa deve ser considerado subversão, pura e dura.
Já temos a infelicidade de se ter tido de criar associações de militares (ainda não se chegou aos sindicatos), para defenderem os direitos dos militares e até da própria Instituição, também elas já diferenciadas em oficiais, sargentos e praças.
Tais estruturas deviam ser desnecessárias porque o que fazem é um dever da mais alta hierarquia militar, que deveria fazer esse trabalho por elas, e para todos em conjunto. E, de facto, não o tem conseguido, querido ou sabido fazer, de uma forma eficaz e aceitável, para o que contribui muitíssimo a mala - pata e a ignorância, que a generalidade da classe política, têm para com as FAs e os militares. A sua actuação (dos políticos), pode resumir-se numa frase: elogiar os militares em público e tramá-los (o termo é outro) em privado…
Como se tudo isto não fosse bastante, ainda se escolherem para datas, ditas comemorativas dos sargentos e das praças, os dias 31 de Janeiro (de 1891) e o 8 de Setembro (de 1936). Corre já uma petição para as tornar oficiais…
Ora tratando-se de comemorar dias relativos a classes e postos militares, as datas são inadmissíveis, mas muito convenientes sob o ponto de vista da subversão.
O 31 de Janeiro de 1891 tratou-se de uma revolta, mal engendrada e organizada, de forças republicanas no Porto, em que participaram algumas forças militares e onde se destacaram alguns sargentos.
Ora comemorar – e comemorar pressupõe exaltar – a classe de sargentos por uma insubordinação armada contra as instituições legítimas da Nação e do Estado, não me parece nada adequado.
Sim, porque a Monarquia era um regime legítimo (ou não seria?) e até existia o Partido Republicano com liberdade para se manifestar e concorrer a eleições.
O caso das praças ainda é pior, já que o 8 de Setembro de 1936 marca o motim a bordo dos contratorpedeiros Dão e Afonso de Albuquerque, com a prisão de oficiais e a tentativa de saída do Rio Tejo para se irem juntar às forças republicanas em Espanha.
Esta acção de gravidade extrema – pois tratava-se de hastear a bandeira de estrangeiros a bordo de navios de guerra portugueses (algo, que me lembre, nunca acontecera na nossa história), foi frustrada porque o governo na altura mandou bombardear os navios, que acabaram por se render.
Salvo melhor opinião, tal revolta (que o jornalista, eufemísticamente, apelida de “protesto”), representa, um crime de traição à Pátria.
Ora se comemorar isto não é subversão pura, o que é?
A notícia refere, ainda, que o único sobrevivente participante neste lamentável incidente se chama José Barata e é Comendador da Ordem da Liberdade. Da Liberdade? Mas desde quando é que comunismo rima com Liberdade?
O país está virado do avesso e só isso pode explicar que o Ministro da Defesa e as Chefias Militares não se demarquem destes eventos (a fanfarra dos Fuzileiros esteve presente) e até que um general da FA, que considero, se tenha diminuído prestando-se a discursar na cerimónia noticiada.
Haja Deus.
Meu Tenente Coronel,
ResponderEliminarSou Sargento e escolhi Servir o meu País e faço-o há quase 30 anos ...
Custou-me um pouco ler o que escreveu ,sobretudo por saber que o Senhor tem toda a Razão no que escreveu ... infelizmente.
Com os melhores cumprimentos,
Rui Andrade
Meu Tenente Coronel,
ResponderEliminarSou Sargento e escolhi Servir o meu País e faço-o há quase 30 anos ...
Custou-me muito ler o que escreveu ,sobretudo por saber que o Senhor não tem Razão no que escreveu ... felizmente.
Com os melhores cumprimentos,
José Pereira