Escreveu o Dr. Vital Moreira (VM), no “Público” de 2 de Agosto, uma catilinária contra as três escolas de ensino secundário, a cargo do Exército (o Colégio Militar, os Pupilos do Exército e o Instituto – e não escola, como referiu – de Odivelas), propondo, pura e simplesmente, a sua extinção.
A gente entende o Dr. VM, estamos em Agosto, tempo de férias e S. Ex.ª está com um fastio enorme, não sabendo em que ocupar-se. Em vez de ir dormir a sesta, resolveu desopilar sobre assunto que desconhece. A ignorância é, porém, sempre atrevida.
Que nos disse então este infeliz trânsfuga da política, que resolveu ir ressuscitar uma ideia do primeiro manifesto do Partido Socialista (seu novo partido), velha de 38 anos?
Pois que os Colégios Militares (CMs) devem desaparecer por três razões, a saber:
· Não fazer sentido existir “escolas oficiais para alunos oriundos de determinada classe ou profissão”;
· “Não constarem nas missões das FAs e de Segurança, ministrar ensino básico e secundário aos filhos dos seus membros (muito menos a outras)”;
· “Serem escolas institucionalmente exóticas no sistema de ensino”.
Analisemos, então, as “gravíssimas” acusações deste portentoso intelecto.
Primeiro, os CMs não servem nenhum grupo social ou profissional, são abertos a todas as famílias da sociedade. É lamentável que um causídico e jornalista nas horas de pachorrenta digestão, não tenha procurado informar-se desta evidência simples. E, de facto, tem razão, os militares e policias não pertencem, nem nunca pertenceram a “castas”, sistema de organização social que nunca vigorou em Portugal, desde o tempo do Sr. Rei D. Afonso, o conquistador. A não ser que considere a Nobreza, o Clero e o povo como castas.
Adianta, ainda, o extraordinário pensador, ser de extinguir a “noção de sociedade militar como noção oposta à de sociedade civil, existindo separadamente”. Falou, até, em “apartheid”!
O homem vê coisas que eu nunca vi. Podia dar-se a hipótese de eu ver mal e ele bem, mas como vou passando nas inspecções médicas semestrais, pode dar-se o caso de ser a outra parte a ter alucinações. Cuidado, pois!
Não precisa, por outro lado, de se auto defender de acusações de ser anti-militar, nós já o conhecemos de ginjeira.
Só uma pergunta: deveremos, pelo que diz, considerar a Ordem dos Advogados como uma instituição de classe, que visa o “apartheid” com a restante sociedade?
Segunda questão.
É certo que não consta das missões das FAs e policiais, ministrarem ensino secundário. Também não consta que devem ter assistência de saúde para familiares; apoio à terceira idade, nem gerir bairros ou messes de apoio social.
As missões das FAs estão voltadas para as operações militares e o apoio “cívico”, na sua capacidade supletiva. Tudo isto pressupõe, todavia, uma retaguarda. É um todo.
Sem embargo, os CMs, não fazendo parte de nenhuma das missões definidas são, ao contrário, decorrentes delas e justificam-se através delas.
Na origem da necessidade de haver escolas que atendessem às necessidades específicas da condição militar (o CM está, até, entre os pioneiros em todo o mundo), está o facto da ausência frequente do progenitor, em paragens distantes, ao serviço da Instituição/Estado/Nação e, ainda, a necessidade de cuidar dos órfãos e outros desvalidos, situações sobretudo recorrentes em tempo de guerra.
É certo que, actualmente, a rede escolar e o apoio social é muito mais vasto do que em tempos passados (parece que está a regredir novamente…), mas as necessidades não desapareceram de todo. Mas, pergunta-se, a existência de CMs retira alguma coisa a alguém ou deixou de ser uma mais-valia?
E que valem os pruridos ideológicos do Sr. Moreira perante uma realidade a quem o País tanto deve?
Terceiro.
Não podemos deixar de concordar com VM ao considerar como “exóticos” os CMs, embora certamente não pelas mesmas razões. De facto nos CMs os professores ensinam, os alunos estudam, não há greves, não há grafities, não há lixo; há respeito, organização e disciplina. Todo o mundo anda a horas, bem vestido e ataviado; existe hierarquia e sabe-se quem manda e em que circunstâncias. Mentiras, roubos, droga, homossexualidades e outros vícios, são severamente reprimidos. Os alunos chumbam, quando não estudam e não há lugar para madraços. Ensina-se liderança e patriotismo. Existe uma “família colegial e criam-se laços para a vida.
Como se sabe qualquer semelhança com a realidade tutelada pelo Ministério da (des)educação, é pura coincidência…
Acredito pois, piamente, que VM ache tudo isto exótico, pois nunca deve ter vivido nada semelhante, agora que não queira dar conta…
Já agora, os CMs se bem que tenham uma direcção diferente e um ensino com regras militares (o que, by the way, tem muitas vantagens), estão perfeitamente integrados no ensino público oficial; têm propinas caras (os órfãos de militares não pagam), e ninguém é obrigado a ir para lá, ou a lá ficar – o pacote de actividades também não tem paralelo em nenhuma outra escola do ensino secundário.
Internato e segregação de sexos, tendo vantagens e inconvenientes, nunca traumatizaram ninguém.
Para finalizar, o argumentário desta pública figura ilumina-se com duas razões finais, quiçá definitivas: nem a tradição nem a escassa poupança da sua extinção, justificam a manutenção dos CMs. E vai buscar os exemplos daquilo que considera uma tradição maior e que, apesar disso, foram derribados: os tribunais militares e o Serviço Militar Obrigatório!
O Dr. VM perdeu, mais uma vez, uma boa oportunidade de estar calado, pois foi recordar duas lamentáveis decisões que só a demagogia político – partidária e a ignorância militante, justificam. Dois erros de alto coturno: um que põe em causa a condição militar; o outro que ajuda a subverter a consciência cívica da Nação.
Por isso, óh auto-proclamado constitucionalista, não vale a pena juntar mais erros aos que já foram feitos (o da saúde militar vem a caminho…).
Por seu lado, a tradição de haver CMs não atenta contra nada nem ninguém – a não ser, pelos vistos, o equilíbrio psico-somático de alguns comentaristas; as tradições fazem parte da vida dos povos, são um cimento identitário. Mas os CMs não são só tradição, são realidades palpáveis e são competentes naquilo que fazem.
O CM tem mais de dois séculos de existência; o IO já passou um século e é do fim da Monarquia; o IMPE fez agora 100 anos e representa uma das poucas coisas úteis que a I República nos legou. Ganharam jus a serem considerados instituições nacionais, mais a mais quando já passaram a prova do tempo. Provaram, até, muito melhor que a actual Constituição…
Finaliza o também docente universitário (o que será que ele ensina aos seus alunos?), remetendo os militares para o seu “core business”, isto é a Defesa Nacional, e os policias para a segurança interna – será que ele pensa que os ditos cujos não são cidadãos de corpo inteiro?
Devolvo-lhe a impertinência, meta-se a fazer o que sabe e não se arme em pintor Apelles.
Resta apenas perceber o que, verdadeiramente, move o Dr. VM. Talvez o título do seu escrito nos elucide, chamava-se “Instituições de Classe”. A formação marxista (estalinista?), não perdoa.
Meu Ten.Coronel
ResponderEliminarPorque perder tempo com um
"BURRO" como este pois o zur-
rar dele nao chega ao Céu
Um abraço
Pereira garcez
Meu caro Brandão Ferreira
ResponderEliminarDe acordo, claro!
Mas perder tempo com tal sujeito!!!
Não merece uma linha o pobre coitado!!!
Este país tem a mania hoje em dia de rotular algumas personagens com "títulos" que só existem na cabeça dos seus apaniguados, como é o caso deste sujeito ser considerado uma "grande constitucionalista", ou o Victor Constâncio, um "brilhante economista" e por aí fora...
Enfim, competências arranjadas entre amigos!!!
Um abraço
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ResponderEliminarSr. Ten. Coronel,
ResponderEliminartenho opinião contrária aos que antes de mim comentaram. Não se deve deixar cair em saco roto este tipo de afirmações, que vão criando, aos poucos, na
população, a ideia da inutilidade e do custo exorbitante dos CM. Um mentira grosseira repetida muitas vezes, a um espírito acrítico, acaba por se transformar numa "verdade"
cristalina.
Este método de pôr algumas (más) ideias a abrir caminho para que venham as "grandes decisões", é um método conhecido e de prática comum na politiquice
nacional: primeiro inventa-se o estigma, depois, sem oposição, sem opinião pública contrária, legisla-se de forma correspondente.
Devemos, portanto, estar permanentemente à alerta para todos estes sinais que outra coisa não são que manifestações de intenção relativamente às instituições.
Como facilmente se prova, a vontade de exterminar os CM, não é de agora e até faz parte dos propósitos da fundação de partidos políticos. Estranho, ou nem por
isso!
L. Ferreira
OS MEUS PARABÉNS POR MAIS ESTE BRILHANTE ARTIGO. ABRAÇO.
ResponderEliminarMEDINA DA SILVA
Meu caro Ten.Cor.
ResponderEliminarComo sabe, eu até sou ex aluno dos Pupilos do Exército, pelo que sou parte interessada neste assunto.
Quero dizer-lhe que concordo com a sua argumentação, porem não concordo com a forma que a expõe.
Não é descendo ao nível da ofensa e da brejeirice que leva a água ao moinho.
Não é desta forma mal educada que os argumentos vencem.
E mais não digo para não ser desagradável.
Tenha umas boas férias,e seja mais elegante na forma...para dar realce ao conteúdo.
Sr. Ten. Coronel
ResponderEliminarAs derrotas políticas desse senhor, levam-no a querer procurar protagonismo de outras formas, tentando assim chamar a atenção, escrevendo "asneiras" que lhe tragam visibilidade, procura-se o protagonismo fácil, barato usando a demagogia, mas o povo está alerta com as ascensões destes inergumeros, obrigado pela sua colaboração neste campo, um bem haja
Sr. Ten. Coronel
ResponderEliminarObrigado pelo seu artigo.
Sou antigo aluno dos Pupilos do Exército e não consigo ficar indiferente a tamanha fraude intelectual.
O Sr. Dr. V.M. e tantos outros responsáveis públicos, deveriam ter passado por um dos três estabelecimentos e hoje estariamos a lidar com outras mentalidades , bem mais equilibradas e produtivas !!
Fui aluna de Odivelas (meu pai e meu irmão do Colégio Militar). A verdade é que de uma maneira geral temos um comportamento solidário mais praticante que muitos outros.
ResponderEliminarMaria Clotilde Diniz de Carvalho Moreira
Esta carta, de um homem civilizado e educado, serve para ilustrar a minha crítica ao seu escrito...
ResponderEliminarManuel J.M. Talhinhas.
Exmo. Sr. Deputado
Prof. Vital Moreira
Prezado ex-companheiro das lutas de Defesa de Património, no longínquo
ano de 1978, com os insuspeitos Rui Rasquilho, Jorge Custódio, Claudio
Torres e Pedro Canavarro, no Congresso internacional de Alcobaça.
Refiro isto, porque muito certamente não te lembrarás de mim; isso
também não é o importante. Chamo-me Vasco Massapina, e sou ex-aluno do
Colégio Militar, do mesmo curso do teu conterrâneo Prof. Guilherme de
Oliveira. Provavelmente, a partir daqui, sabendo ao que venho, vais
por-me de parte, mas peço-te que leias até ao fim.
"Aguentei" o teu primeiro artigo sobre os estabecimentos de ensino
Colégio Militar, Instituto de Odivelas e Pupilos de Exército, que
escreveste no "Público" vai para três anos creio; mas agora não
"aguentei" este segundo publicado no mesmo jornal, na tua coluna de
opinião que habitualmente leio.
Venho assim, perguntar-te o que te move? porque habituado a ler-te,
nem sequer te posso acusar seja do que for, porque neste caso não
compreendo!
O que te move para desprezares/atacares três estabelecimentos de
ensino modelo, de maneira tão provocatória? Como os metes no mesmo
saco das Scuts, dos hospitais e da ADSE? Onde queres chegar com uma
apreciação tão grotesca?
Tu não conheces concerteza as escolas que escolheste provocar...Como
dizias outrora, a propósito das heranças culturais, "é preciso
conhecer o passado para compreender o presente e preparar o futuro".
Mas tu revelas hoje a recusa de querer conhecer o âmago das três
escolas, chamando-lhes exóticas (!) mais uma vez, e colocando-as em
paralelo crítico com os tribunais militares!
Podias ser científico, mas és primário e ofensivo, tu!? um constitucionalista!
Quem te disse que o Colégio Militar, o Instituto de Odivelas e os
Pupilos do Exército são escolas separadas do sistema público de
ensino? Quem te disse que a "sociedade militar" está desintegrada? Que
raio de complexo tens? que nem sequer te deixa estar informado sobre o
que é hoje a formação académica militar!
Vejo com muita pena, que revelas um ódio sub-reptício à instituição
militar, e constato que para ti é inaceitável que exista a prática da
Igualdade entre os que são diferentes; é que os estabelecimentos de
ensino que insultas, foram, são e serão sempre, escolas de democracia
e de progresso, apesar de viverem hoje no contexto dum país doente,
doença da qual eu não quereria que fizesses parte. O teu argumento da
"origem de classe" foi o pior que poderias ter apresentado!
Com toda a humildade aconselho-te que leias ou que converses com o
António Brotas! Ele melhor do que eu te explicará... podendo ajudar-te
a desfazer esse problema, e a exorcizar os fantasmas que ainda te
povoam...
As minhas saudações
Vasco Massapina (ex-aluno do Colégio Militar nº 209 de 1957)
Ex.mo Senhor Tenente-Coronel J. J. Brandão Ferreira:
ResponderEliminarEu li o artigo de VM, pode concordar-se com ele, discordar-se parcialmente ou ser-se frontalmente contra. Em matéria de opinião cada um tem direito à sua.
Por mim, penso que a diversidade de tipologia dos estabelecimentos de ensino, a diversidade de origens das respectivas tutelas e a diversidade de formações que cada um preste, ao contrário da visão uniformizadora de VM, são uma riqueza e defendem melhor todos os alunos. Por outro lado, ligam as pessoas às características particulares e idiossincráticas de cada instituição, tornando a sociedade mais solidária, interventora e responsável pela Educação. Esse deveria ser o caminho e não a extinção e o empobrecimento. Sou, portanto, contra a extinção do CM que gera pobreza uniformizadora da Educação.
Mas acho que os insultos à opinião de VM (que estão nalguns comentários) não ficam nada bem a ninguém, muito menos a pessoas que sustentam os seus pontos de vista na superioridade da formação obtida nessas escolas, de inegável qualidade.
Cumprimentos
Manuel Hentique
Nota: Eu não fui aluno de nenhuma instituição destas.
P.S. Desculpe-me esta observação, mas não percebo esta moda dos apóstrofes e um s agarrados aos acrónimos (CM's). Os acrónimos não pluralizam, é uma regra gramatical, pois nós podemos ler cada letra abreviada no singular ou no plural: p. ex. CM: Colégio Militar ou Colégios Militares.
...tanto 'paleio' e mtº pouco comsistente.
ResponderEliminar1. O sr V.Moreira tem direito e tantos outros a terem a sua opinião. as razões são tão óbvias..2. Não li o artigo na totalidade...verdade. Mas sou simplesmente e tb contra as 'ditas' escolas militares que nem sequer acompanham os tempos que correm. fazem lembrar a I.Católica que está quase sempre sempre fora do tempo.
3. quanto mais leio estas opiniões mais luz se faz sobre questões que em si já eram óbvias...claras.