A ENTRONIZAÇÃO DO
IMPERADOR DO JAPÃO E AS RELAÇÕES COM PORTUGAL
1/11/19
“Inda outra muita terra se te esconde
Até que venha o tempo de mostrar-se;
Mas não deixes no mar as Ilhas onde
A natureza quis mais afamar-se:
Esta, meia escondida, que
responde
De longe à China, donde vem buscar-se,
É Japão, onde nace a prata fina,
Que
ilustrada será co a Lei divina.”
Camões, Lusíadas, X, 131.
O
novo Imperador do Japão – a mais antiga monarquia hereditária do mundo – de seu
nome Naruhito, de 59 anos, tomou posse do trono no pretérito dia 22 de Outubro.
Tal
deveu-se não por morte de seu pai, o Imperador Akihito, mas por este ter
abdicado em seu favor, aos 85 anos, tornando-se Imperador Emérito, uma prática
que parece ter virado moda.
De
facto a actual Monarquia conhecida como o “Trono do Crisântemo”, baseada na
dinastia Yamato, reconhece a legitimidade de 125 monarcas que se sucederam
desde a ascensão do Imperador Jimmu, em 11 de Fevereiro de 660 A.C., até aos
dias de hoje.
Pela
constituição vigente, de 3 de Novembro de 1946 – uma constituição elaborada sob
a batuta dos EUA, que ocuparam militarmente o país até 1955, após a derrota
deste, em 1945 – o Japão é uma Monarquia Constitucional onde o poder do
imperador é muito limitado. Basicamente é o “símbolo do Estado e da unidade do
povo” e não tem qualquer poder executivo, legislativo ou judicial.
Portugal
foi o primeiro país ocidental a “tocar no Japão, em 1546, na cidade de
Tanegashima, onde actualmente, se comemora condignamente essa chegada, evento
praticamente ignorado entre nós.
Quando
os portugueses chegaram ao Japão, os japoneses viviam isolados do mundo no seu
arquipélago, havendo guerras permanentes entre os diferentes clãs. Pode
dizer-se que estavam num estádio pré medieval.
De
imediato se estabeleceram laços comerciais e se deu início à evangelização,
maioritariamente feita por jesuítas.
A
introdução da espingarda no Japão por oferta dos portugueses – o único povo na
história do mundo que oferecia armas de fogo a povos com quem contactava – veio
a revelar-se de enorme importância, pois permitiu que um “shogun” conseguisse a
unidade e o consequente nascimento de um estado-nação.
Infelizmente
a influência holandesa e algum exacerbamento de nacionalismo religioso nalgumas
camadas da sociedade japonesa vieram a resultar em perseguição das comunidades
cristãs entretanto formadas, levando ao seu quase desaparecimento.
Os
laços comerciais, diplomáticos e políticos porém, nunca se perderam e só vieram
a ser molestados na II Guerra Mundial, pela ocupação japonesa do Timor
português, originada na provocatória e escusada ocupação prévia, por parte de
holandeses e australianos (violando a nossa neutralidade) o que não desculpa as
atrocidades cometidas sobre a administração e população portuguesa do
território, perpetradas pelos japoneses.
Ainda
no século XVI veio uma embaixada japonesa a Portugal, onde se demoraram,
passando depois pelo Vaticano antes de regressarem ao Japão, uma viagem que
demorou mais de dois anos.
O
Japão é hoje uma das maiores (e melhores) Nações do mundo, com a qual mantemos
excelentes relações e com cuja cultura nos podemos deliciar através dos
escritos do português e oficial da marinha de guerra, que se radicou e morreu
no Japão, no século XIX, Wenceslau de Morais.
Pois
o Presidente da República Portuguesa que consegue arranjar tempo para tudo –
incluindo telefonar para um programa televisivo para falar com uma
apresentadora esganiçada que se dedica a emitir agudas gargalhadas alvares – e
busca o dom da ubiquidade, não arranjou um buraco na sua agenda para estar
presente na cerimónia.
Mesmo
depois de a meio do seu mandato já ter mais quilómetros percorridos do que o
seu antecessor globetrotter Soares. Que Deus tenha nos esplendores da justiça
eterna.
E
fez-se representar por um anterior presidente sobrevivo. O “tio” Cavaco
agradece. Porventura fizeram as pazes?
Será
que o PR Marcelo não se dignou deslocar a tão longínquas paragens porque os
japoneses não são lá muito afins de uma presidência de proximidade, ou o
estrito protocolo japonês não permitir “espontaneidades” ou quebras de
protocolo, tão ao gosto do luso Presidente?
Não
conseguiu garantir uma “selfie” com o Imperador? Que diabo, uma vez não são
vezes…
A
agenda diplomática não recomenda? Duvidamos que se não conseguisse acertar as
coisas.
A
Força Aérea não tinha avião para o transportar? É possível, dado as frotas
(toda a actividade) estar a parar por falta de pessoal, dinheiro e material.
Mas não faltam aviões para alugar. Estava muito empenhado em dar posse ao
governo no sábado? Bom, conseguia com algum esforço patriótico estar cá a
tempo. E se não estivesse não se perdia nada. Adiava e nós agradecíamos.
Aquilo
não é um governo, parece uma ??? que se conseguiu transportar na carris (que
por acaso não estava em greve), ilegalmente, por muitos irem em pé. Já sei, o
ministro das finanças deve ter cativado as verbas para o terceiro autocarro – a
fim de irem almoçar todos juntos, como se fossem uma família siciliana…
A
gente paga.
Mesmo
as comemorações previstas para 2020, dos 160 anos das relações diplomáticas,
não parecem poder ser alegados como desculpa.
O
que seria então?
Lembramos
que estiveram presentes delegações de mais de 160 países (só existem 198),
contando-se 65 chefes de estado e dezenas de primeiros-ministros.
E
em todo o Oriente e Oceânia, só as relações com a Tailândia e a China (esta
sobretudo por causa de Macau), estão ao nível do Japão.
Enfim,
que mais poderemos esperar desta mal nascida III República?
João
José Brandão Ferreira
Oficial piloto aviador (ref.)
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