27/9/19
O Alentejano
Em noite de feroz inspiração, o poeta foi passear
pelo campo e, topando com um alentejano que
contemplava o luar, disse-lhe:
- És um amante do belo! Acaso já viste também
os
róseos-dourados
dedos da aurora tecendo uma
fímbria
de luz pelo nascente, ou as sulfurosas
ilhotas de sanguíneo vermelho pairando sobre um
lago
de fogo a esbrasear-se no poente, ou as
nuvens como farrapos de brancura obumbrando a
Lua, que flutua
esquiva, sobre um céu soturno?
- Ultimamente não!... respondeu o alentejano
pasmado; há mais
de um ano que não me meto
nos copos!
Esta
estúpida e subversiva moda teve lugar logo de seguida à “Revolução” havida após
o 25 de Abril de 1974, onde a sanha foi destruir tudo aquilo que fizesse
lembrar as principais figuras ou símbolos do regime político então derrubado,
conhecido por “Estado Novo”.
E
não só.
Deram-se então (processo que
ainda não terminou) nomes de praças e ruas, do Minho ao Corvo – território que
restou de uma criminosa tragédia a que apelidaram de “Descolonização”, em cuja
terra ou bem ainda não tenha sido saldado, vendido, hipotecado ou ocupado por
hordas de estranhos - a vendilhões da Pátria portuguesa e de sórdidos inimigos
da nacionalidade lusa, como se tal fosse o acto mais natural do mundo.
Mas tal auto - humilhação, “hara-kiri”
e desnorte não foi suficiente para que um grupo ainda mais radical de
sevandijas quererem dar impulso à completa perda da memória histórica dos
nacionais, bem como proceder à revisão da própria História, num vendaval de
loucura, mentira e paranoia que fazem parecer a eliminação da imagem de Trotsky
nas fotos em que aparece junto a Estaline, uma birra de crianças!
Ele
são, manifestações estúpidas; apoucamento de heróis pátrios; invenções de
racismo; parvoíces sobre a escravatura; ameaças de destruição de estátuas;
censura nos livros escolares (e em todo o lado), museus revisionistas, etc..
Só ainda não chegámos à exumação
de esqueletos, mas pelos vistos, lá chegaremos…
Como se tudo isto não bastasse,
este desacerto colectivo, ditado por ferozes ódios ideológicos (os piores de
todos, só superados pelos ódios religiosos) e muito apropriadas conveniências,
começam agora a despontar ambições de âmbito pessoal ou familiar, como parece
ser um caso em desenvolvimento na alentejana localidade de Santo Aleixo da
Restauração.
A história conta-se em poucas
linhas.
Uma cidadã filha da terra
desenvolve a meritória profissão de médica (na capital). Uma sua irmã
entendendo que os méritos da senhora – que não discuto – são já de tal monta,
tem envidado esforços para que, o nome daquela que jurou perante Hipócrates
seja alçado à dignidade de ter uma rua com o seu nome.
Só que não pode ser uma rua
qualquer. Não; tem que ser o da rua principal da vila, hoje infelizmente,
reduzida a cerca de 800 habitantes.
E neste sentido tem multiplicado
esforços junto da população local e entidades autárquicas.
Acontece, porém, que a dita rua
tem um nome há muito atribuído, o nome de Lopo Sancas, herói da Guerra da
Restauração/Aclamação, o qual sendo Capitão - Mor da então aldeia, a defendeu
heroicamente de um ataque espanhol, no ano de 1644.
Ora os antigos de Santo Aleixo,
por diversas vezes se mostraram gente tesa e valorosa, nomeadamente em 1641,
1644 e 1704, a tal ponto que mereceram que se acrescentasse os temos “da
Restauração” ao nome de Santo Aleixo, por decreto-lei de 3 de Maio de 1957.
Como até, a acção referida em
1644, mereceu ter sido inscrita na base do monumento aos Restauradores, na
praça com o mesmo nome, em Lisboa.
E tal foi a importância da
Restauração da completa independência do Reino de Portugal, que o dia em que a
revolta despontou (1 de Dezembro de 1640) veio a ser considerado o primeiro
feriado nacional estabelecido no nosso país – o que recentemente um governo
insensível e ignorante, resolveu eliminar, para depois sofrer a vergonha da
reversão de tal funesta decisão…
Espera-se que a Junta de
Freguesia de Santo Aleixo e, ou, a Assembleia Municipal da Câmara de Moura,
rejeitem liminarmente esta pretensão, que para além de ser um insulto à memória
histórica da Vila; uma usurpação toponímica e um delito ético é, simplesmente,
um erro e uma falta de senso.
Será que uma eventual “vaidade”
particular se deve sobrepor a um bem público?
Ou será que o Lopo Sancas é
suspeito de ter sido “fascista”?
Os actuais membros da citada
família (que não conheço) acham-se porventura mais importantes do que aqueles
que defenderam a sua terra séculos atrás?
Vão porventura fazer uma petição
para substituir (por exemplo) o nome da Praça Marquês de Pombal, em Lisboa,
para Praça Mário Soares?
Não haverá em Santo Aleixo nada
a inaugurar a que possa ser dado o nome da Senhora, caso passe no escrutínio do
merecimento?
O que se passará a seguir se for
atribuído o nome da dita cuja à rua já baptizada?
Com que argumento se evitaria
uma nova proposta?
Santo Aleixo está no mapa pelos
feitos militares e pelo destaque público de alguns dos seus filhos.
Não por se substituírem uns por
outros.
Convinha, pois, não se andar
sempre nos copos.
João
José Brandão Ferreira
Oficial
Piloto Aviador (Ref.)
Sr Tenente Coronel
ResponderEliminarEste seu Texto, que muito apreciei e me entristece pelo assunto tratado, fez-me trazer à memória casos semelhantes igualmente estultos.
Por todo o lado não há canto nenhum onde não seja afixada uma lápide por isto por aquilo com a presença do Sr. Dr...
Aponto apenas três casos dos muitos que tenho visto:
- Inaugurou-se o Túnel do Areeiro, lá está a placa a lembrar o facto com a presença do Sr. Dr...
- O Jardim do Campo Grande foi rebaptizado e lá está uma placa a recordar o nome de um vizinho do dito, o Sr Dr...
- Há uns anos vi, nas proximidades do Quartel Militar de Abrantes, uma placa com o nome do Autarca que mandou endireitar a estrada de acesso à cidade e inaugurou a obra em 25 de Abril de...
Todos numa ânsia de mostrar a sua importância (!) e deixar uma pedra com o seu nome em local público...
Creio que as pedreiras de Estremoz já estariam esgotadas há muito se, durante o Estado Novo, houvesse semelhante proceder com tudo quanto se erigiu, alindou ou inovou em quarenta anos de trabalho sério e fundamental, em prol da "coisa pública".
Chocante, é ver a Placa de inauguração do Hospital Escolar de Lisboa (Hospital de Santa Maria) vandalizada, tendo-lhe sido arrancadas as letras que compunham os nomes das mais altas figuras da Nação que tornaram possível, estiveram presentes e inauguraram tal Edifício e seu apetrechamento completo, nos idos de 27 Abril de 1953.
Meus cumprimentos
Manuel Alves
"Os actuais membros da citada familia.."????????Quem lhe passou as informações acerca deste tema não as passou de forma verdadeira...e à sua pesquisa também lhe falta relação logica.
ResponderEliminarIsto acontece quando à ausência de gratidão se junta inveja e ignorância.