sábado, 9 de fevereiro de 2019

ADEUS A UM SOLDADO!



ADEUS A UM SOLDADO!

1/2/19

“E esta terra onde agora descansam não é tanto como a recordação imortal sempre renovada e enfocada em discursos e comemorações. Os homens eminentes têm por túmulo a terra inteira”.

                                 Oração de Péricles, 430 A.C..


            O General Altino Amadeu Pinto Magalhães (1922-2019) deixou a nossa convivência no passado dia 24 de Janeiro. Era um homem bom; foi um homem bom. Teve uma vida longa e boa de 96 anos.
            Transmontano de velha cepa – nasceu em Ribalonga / Carrazeda de Ansiães – não alardeava as características mais expressivas dos arreigados descendentes celtas da nossa terra, mas não deixava de ser uma pessoa entranhadamente telúrica e um patriota de gema. Trás-os-Montes tem dado à Pátria incontáveis e nobres guerreiros, sendo talvez a província do país que mais condecorados com a Torre e Espada, produz.
            Altino de Magalhães foi, ele próprio, um notável militar e combatente.
            De compleição modesta e humilde, não foi em grandes feitos, desempenhos fulgurantes ou no tilintar das condecorações, que Altino foi grande.
            Mas foi-o alardeando as velhas virtudes militares, conforme o General Ferreira Martins tão bem definiu: na Probidade e Discrição; na Obediência e Disciplina; na Subordinação e Respeito; na Lealdade e no Patriotismo; na Fraternidade, Dedicação e Confiança nos Chefes; na Solidariedade, na Camaradagem e no Espírito de Corpo; na Coragem (física e moral); na Abnegação, Constância e Resignação; na Generosidade na Vitória e Paciência na Adversidade. Finalmente era dotado de Honra e Valor.[1]
            Foi tudo isto que demonstrou ao longo da vida nos mesmos cargos e funções que exerceu de onde destaco, uma comissão em Macau, como Capitão e em Angola (onde já tinha servido por duas vezes), como Comandante do Sector do Uíge, em 1972-74, sendo promovido a Brigadeiro, em 1973, e após o 25/4/74, sido nomeado Comandante da Zona Militar do Norte, naquela província ultramarina.
            Foi ainda Comandante-Chefe das Forças Armadas nos Açores no difícil período de 1975-76.
            Acabou Vice-Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, entre 1979 e 1984, concluindo assim, uma carreira que começou em Março de 1943, quando entrou para o quadro permanente do Exército, na Arma de Infantaria.
            Em todo o período conturbado de 1974-76 foi um elemento que muito contribuiu com a sua inteligência, espírito de bem cumprir e serenidade, para a estabilização da Instituição Militar.[2]
            Mais tarde foi Director do Instituto de Defesa Nacional e Presidente da Direcção Central da Liga dos Combatentes, função em que conseguiu concretizar o projecto do memorial de homenagem aos combatentes da Guerra do Ultramar, junto á Torre de Belém, o que conseguiu no meio de grande adversidade e escolhos.[3]
            A sua boa formação impedia-o, por vezes, de ver o mal ou os vícios, em outros de formação e carácter duvidosos, o que acontece frequentemente às almas mais puras e cândidas.
            Dotado de uma educação esmerada ultrapassou em muito a sua origem humilde para se tornar um aristocrata do espírito, espantando os outros com a sua lhaneza de trato.
             Era um Homem de consensos, não de rupturas.
            O desaparecimento físico do General Altino de Magalhães só será, porventura, uma perda para o Exército, que tanto amou, para as Forças Armadas e para o País, se a sua memória desaparecer das gerações futuras.
            Que o Pai do Céu o sente ao lado dos melhores combatentes da Sua Santa Fé pois é disso merecedor.
            Meu General foi uma honra tê-lo conhecido.



                                                                                          João José Brandão Ferreira
                                                                                         Oficial Piloto A


[1] General Ferreira Martins, “As Virtudes Militares na Tradição Histórica de Portugal”, Edição da Liga dos Combatentes, Lisboa, Outubro de 1944.
[2] Uma atitude que ilustra bem a maneira de ser do General Altino, ocorreu algures, em 1975, quando foi “eleito” por larga maioria para Director da Arma de Infantaria. Com firmeza declinou o cargo alegando “não querer participar no saneamento de camaradas”.
[3] Este monumento foi proposto e apoiado, em 24/1/87, pela antiga Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar.

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