AINDA A DECLARAÇÃO UNILATERAL DA INDEPENDÊNCIA DA
CATALUNHA
2/11/17
A
primeira é a de que o Estado Espanhol deixou os eventos irem longe demais.
Os
independentistas avaliaram mal as circunstâncias e procederam imprudentemente,
independentemente das razões históricas de revolta – que as existem.
A
coisa vai resolver-se por si, embora vá deixar marcas.
As
verdadeiras razões porque se deu esta erupção, hão-de vir a saber-se aos poucos
– talvez vá passar pelos bancos de Andorra e da Suíça...
Para
o bem e para o mal o tal de Puigdemont vai acabar sem qualquer credibilidade –
e agora, depois de ter arranjado um sarilho dos diabos para si e os restantes
habitantes lá da terra, pira-se para a Bélgica (um país artificial, inventado
pela Coroa Inglesa, na sequência do Congresso de Viena de 1815…) ao menor
assomo de ameaça, abandonando tudo e todos à sua sorte!
Imaginem se o D. João IV, após
ter sido coroado Rei pegasse em si e emigrasse para Londres…
Os
povos europeus, cujos Estados agora estão muito receosos das aventuras
nacionalistas, ir-se-ão dar conta que é o projecto federalista europeu e não os
nacionalismos dormentes, que representa a maior ameaça à sua unidade, liberdade
e soberania.
Vai custar sangue, suor e
lágrimas. E uma nota preta.
*****
Em
Portugal há algumas vozes que se erguem para defender a Catalunha por causa do
“apoio” que deram à Restauração Portuguesa de 1640.
É
um facto que até à união de Castela com Aragão, sobretudo a partir da junção de
Castela e Leão, em 1230, que a coroa portuguesa pretendeu sempre “ensanduichar”
Castela fazendo alianças, matrimónios ou outras, com Aragão, ou outras forças
que se pudessem opôr ao centripetismo castelhano.
Este
“princípio estratégico” não é despiciendo, mesmo nos dias de hoje.
Porém,
em 1640, a realidade foi um pouco diferente.
Não
parece ter havido qualquer conluio entre a revolta da Catalunha e as forças
portuguesas que pretendiam livrar-se da coroa dual filipina e passar a ter
novamente um rei natural.
Foi,
aliás, a recusa da nobreza portuguesa em obedecer às ordens de Madrid (temos
que agradecer ao Conde Duque Olivares…) que a mobilizava justamente para ir
combater a revolta que estalara naquelas bandas, que foi, porventura, o
verdadeiro rastilho que fez acelerar o levantamento que estalou a 1 de Dezembro
de 1640.
A
monarquia espanhola já estava em decadência e tinha várias frentes e não podia
acorrer em simultâneo a todas elas.
Foi
isso que tornou a oportunidade, para os conjurados portugueses, única, a não
desperdiçar.
Em
termos realistas, as hipóteses de sucesso portuguesas não passariam de 10%; daí
o arrojo da acção, mas o sentimento nacional português estava mesmo farto da
usurpação filipina…
Madrid
considerou a revolta da Catalunha prioritária pôs-nos de “pousio” e concentrou
as suas forças contra aquela.
Isto
deu-nos tempo para respirar e preparar, o que foi fatal para “nuestros hermanos”,
que de irmãos têm tido muito pouco…
Quem
verdadeiramente tramou os catalães foram os franceses que lhes retiraram o
apoio, depois de os terem incitado à revolta.
Semelhante acção tentaram fazer
com Portugal, após terem feito pazes com a Espanha, julgando-a enfraquecida o
suficiente.
Foi
só nessa altura, ao tempo do infeliz e malogrado Rei Afonso VI – que devia ter
sido impedido de reinar (por incapaz) – que o poderio militar espanhol se
abateu sobre nós.
Mas
aí já o Conde de Castelo Melhor, que governava na vez do soberano, tinha preparado
a defesa e os espanhóis morderam bastamente o pó e encharcaram-se em sangue.
Não
fora o desfecho de Montes Claros e hoje estaríamos a beber umas “canas” no
Jardim do Retiro, em Madrid…
E
se julgam que a “velha Albion” é pérfida, por causa da sua diplomacia, párem um
pouco a estudar a francesa e depois, acharão qual a pior.
Convém
lembrar estas coisas para não perdermos o Norte.
*****
Nos
últimos dias fomos confrontados com declarações públicas do PCP e do BE, qual
deles verberando mais, a acção do Governo de Madrid e apoiando a causa
independentista catalã.
A
situação não surpreende, mas é lamentável.
Em
primeiro lugar porque a posição do país em questões prementes da política externa,
deve ser veiculada pelos órgãos competentes do Estado. Estas devem ser objecto
de discussão interna, mas não se deve passar para o exterior uma imagem de
falta de coesão nacional relativamente a tais questões.
O
“internacionalismo “não se deve sobrepor ao que é nacional, e não podem ser
toleradas “quintas colunas” na actuação do Estado.
Por
outro lado, esta actuação é mais uma prova da acção deletéria dos partidos
políticos que nada tem a ver com o interesse nacional.
Passando
por cima da irresponsabilidade falhas de actuação costumeira do BE, que já o
devia ter feito desaparecer há muito, a posição do PCP parece decalcada daquela
que teve durante a Guerra Civil de Espanha, a qual não tem nada a ver com
autodeterminação dos povos, mas sim com “internacionalismo proletário”. Ou
seja, uma revolução marcadamente ideológica e transversal aos povos e Estados.
Lembra-se,
como exemplo, que o senhor Dr. Barreirinhas Cunhal, aparente controleiro do
PCP, na altura, para a Armada deu ordem a um soviete de marinheiros para no dia
8 de Setembro de 1936, prenderam os oficiais dos Contratorpedeiros Dão e Afonso
de Albuquerque e tentaram rumar a Espanha a fim de entregarem os navios à
Esquadra Republicana a fim de se juntarem à luta das forças republicanas
(apoiadas por Moscovo).
Foram
bombardeados (e bem!) pela artilharia dos Fortes de Almada e Alto Duque e
renderam-se. [1]
Os
insurrectos foram enviados para a prisão do Tarrafal (construída no único local
salubre da ilha) e por lá ficaram uns anos largos.
Tal
configurou um crime nítido de traição à Pátria, mas tal evento é hoje
comemorado anualmente em Almada, junto a um monumento de má catadura,
denominado de “Ao Marinheiro Insubmisso”, seguido de almoço e discursos.
Alguns
destes portentosos defensores da “liberdade” passaram a usufruir de pensões e
condecorações pagas pelo dinheiro dos contribuintes.
Estranho
hábito, este, do actual regime político nacional que deve ser visto como
“exótico” pelas nações civilizadas…
Curiosamente
nunca se viu o PCP ou o BE, preocupados em repudiar iberismos serôdios, tão
pouco defender a retroacção da portuguesíssima Vila de Olivença, ilegalmente
ocupada desde 1807, pelo poder de Madrid, à soberania portuguesa.
Mas
já não nos iremos surpreender se um dia destes vierem reivindicar a
independência do Baixo Alentejo, com capital em Baleizão…
*****
Do
mesmo modo que foi o PCP o primeiro grupo de indivíduos organizado que pôs em
causa, logo após a sua fundação em 1920, e sobretudo após a II GM, a secular
presença política de Portugal nas terras de além-mar. Fê-lo apoiado em alguma
ideia de superior coturno?
Não,
apenas em obediência cega e acrítica aos ditames do “Comintern”, ou “Terceira
Internacional Comunista”, que reunia todos os Partidos Comunistas dos
diferentes países!
Foram
eles os primeiros a abrir brechas, neste âmbito, na coesão nacional.
Andaram
a defender interesses de outros em vez dos habitantes da sua própria terra.
Isto
costuma ter um nome.
Por
actuarem por normas com inteligência, embora previsivelmente, não chegam a
arriscar disparates como é a norma, por exemplo, do pseudo-historiador Dr. Fernando
Rosas, que destila ódio, mentiras e recalcamento cada vez que abre a boca (se
um dia trinca a língua…).
Por
isso são mais perigosos.
*****
Finalizo
com um desafio.
Eis
o que reza o artigo 308 do Código Penal, em vigor, (Lei nº 65/98, de 2 de
Setembro), transcrevo:
“Traição
à Pátria”
“Aquele
que, por meio de usurpação ou abuso de funções de soberania:
a) Tentar
separar a Mãe-Pátria ou entregar a país estrangeiro ou submeter a soberania
estrangeira todo o território português ou parte dele; ou
b) Ofender
ou puser em perigo a independência do país;
É punido com
pena de prisão de 10 a 20anos.”
Não
sei qual foi a intenção do legislador, mas da versão anterior foram cortados
vários artigos que especificavam diferentes situações, concentrando tudo no
artigo 308.
E,
curiosamente, o próprio artigo 308 foi podado do termo “violência, ou ameaça de
violência”, tornando-o mais abrangente.
Ora
se hoje em dia, por absurdo, alguns de nós, habitantes de uma parte do
território nacional que nos resta, ousassem declarar a independência, como
reagiria o Estado e o resto do País?
Convinha
estar atento a isto, apesar da Nação Portuguesa ser provavelmente a única no
mundo (à excepção do Japão) que nunca teve problemas de coesão nacional, o que
representa a nossa maior riqueza.
Apesar
de haver uns adiantados mentais que teimam em falar em regionalização, ninguém
querer encarar o federalismo europeu como uma certeza de desaparecimento; de
continuar a haver iberistas, burros como portas onduladas e uma tolerância
cobardolas e irresponsável, com afirmações inadmissíveis de figuras gradas
madeirenses, que em tempos ameaçaram, mesmo tendo em conta o excesso de ponchas
emborcadas, com acenos de independência.
É
certo que apenas o fizeram para extorquir dinheiro ao contribuinte continental,
mas em política não pode valer tudo.
E
não se deve brincar com coisas sérias.
Ora
a independência e soberania de uma Nação é o assunto mais sério e importante
que a deve preocupar.
Coisa que anda muito esquecida por estas
bandas.
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
[1] Transcreve-se um trecho da
notável nota oficial de 10 de Setembro de 1936, assinada pelo Chefe do Governo de
então:
“Embora
à custa do suor de todo um povo, com alegria e a clara consciência do dever se
mandaram construir (os navios). Conscienciosamente os mandei pagar.
Com a mesma
imperturbável serenidade dei ordem para que fossem bombardeados, até se renderem
ou afundarem. A razão que se eleva acima de todos os sentimentos foi esta: os
navios da Armada Portuguesa podem ser metidos no fundo; mas não podem içar
outra bandeira que não seja a de Portugal…”.
Creio que foi em 1936 que os marinheiros se revoltaram para ir para a Guerra de Espanha, prenderam os oficiais e o navio nem vapor tinha quando tentaram sair pela barra. Cometeram o erro de antes de partirem levar para terra um marinheiro que se fez de muito amigo e doente, mas depois avisou as autoridades que então deram ordem de fogo de artilharia sobre o navio, enquanto a GNR na margem disparava sobre os que vinham a nado para terra.
ResponderEliminarNão sei se foi dessa vez que os marinheiros foram "beber água à bica" do Príncipe Real... local onde se refugiaram até se renderem e onde ainda podem ser vistas as marcas dos disparos efectuados pela GNR.
O meu pai era marinheiro da marinha mercante e andou embarcado com o homem que se fez doente e fez a denúncia. Era tido em muita estima pelas autoridades, sendo convidado para almoços e jantares à chegada a muitos portos. Era também preciso ter cuidado com o que se dizia a bordo.
O meu pai nunca foi comunista, embora na altura estivesse convencido que os comunistas iam dominar o mundo. Nas suas viagens pelo globo verificou o nosso atraso em relação a outros países, tanto na metrópole como nas colónias,cujas maiores obras eram feitas pelos ingleses, por seu interesse: portos e caminhos de ferro. Por exemplo na Beira em Moçambique os navios portugueses nem tinham ordem de fundear no Porto, pois este era inglês e estes tinham a primazia; tendo os portugueses de fundear em bóias, onde só de manobra se perdia um dia. Já na Índia portuguesa a moeda que circulava correntemente era a libra inglesa e só mais tarde, quando começou a ir tropa em força é que começou a circular mais a moeda portuguesa.
Quando a União Indiana ameaçou tomar Goa, Damão e Diu andavam quadrilheiros pela rua cantando: "O Pirata do Neru não é nada para gente" para que se alistassem. Estes primeiros que foram para a Índia estiveram lá quase abandonados e quando foram rendidos... digamos que não passariam na revista. Isto foi-me desmentido por um estimado amigo oficial do Exército Português, moçambicano, filho de um governador de província, censor de serviço na Rádio Renascença no 25A. Mas o meu pai era embarcado e viu muitas destas coisas.
Nos navios mercantes havia sempre um informador para dar contas da vida a bordo, neste caso todos sabiam quem este era. Certa vez teve problemas e numa conversa à mesa teve de mudar o bico ao prego e dizer que Portugal era realmente o melhor do mundo para não ter problemas.
Em relação à Catalunha isto é um assunto interno de Espanha e não nos devemos meter. O Presidente esteve bem; Já o "2.º" 1.º ministro deu apoio incondicional à Espanha.
Em termos de simpatia é natural ter simpatia pelos catalães, cuja língua faz lembrar a nossa e cujo desejo de liberdade faz lembrar o nosso, mas sem o mesmo ímpeto... então declaram a independência e não retiram a bandeira espanhola do parlamento (talvez com receio de algum sniper castelhano) e parte dos dirigentes continuam a apresentar-se submissos às autoridades espanholas?
Os espanhóis sabem... se perdem a Catalunha podem perder muito mais... o "País" Basco, Baleares, Canárias... Galiza, Andaluzia, Astúrias... e ficam confinados a Castela. Mas o que é certo é que democracia e liberdade não estão a atar a bota com a perdigota...
A ver vamos, estamos no canto... levamos por tabela.