HOMENAGENS MERECIDAS!
26/2/17
“Aqueles que por
obras valorosas se vão da lei da morte libertando”
Camões, Lusíadas,
Canto I, 2
No passado dia 23 de Fevereiro
decorreu no Salão “Portugal” da Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL) – local
de tantos e notáveis eventos – uma justíssima homenagem pública, a D. Isabel
Manuela Teixeira Bandeira de Mello Rilvas e às enfermeiras paraquedistas da
Força Aérea Portuguesa.
Esta homenagem ainda em vida das
homenageadas (como deve ser), foi promovida pela Sociedade Histórica para a
Independência de Portugal (SHIP), através do seu “Instituto” Bartolomeu de
Gusmão, nome que bem melhor serviria para substituir aquele do aeroporto até há
pouco conhecido como da Portela.
A homenagem a que muito
diligente e honrosamente se associou a SGL culminou com um jantar no Salão
Nobre do Palácio dos Almadas, aquele onde reuniam os conjurados que resgataram,
não só a independência de Portugal, em 1640, como outrossim, a Honra da Nação.
Não podia a homenagem ter-se
realizado em melhores locais, pois são “chãos sagrados” da nacionalidade
portuguesa.
Estão pois, de parabéns, estas
duas vetustas e patrióticas Instituições criadas no século XIX, e que tão
relevantes serviços têm prestado ao país. [1]
Porque se fez esta homenagem?
Por uma simples razão: as
senhoras mereciam-na!
Isabel Rilvas já tinha sido
objecto de uma homenagem, em 15/2/2014, efectuada pela Força Aérea Portuguesa,
no Museu do Ar, tendo sido condecorada com a Medalha de Mérito Aeronáutico de
1ª classe.
Por seu lado as Enfermeiras
Paraquedistas foram exaltadas por aquele Ramo das Forças Armadas, em 7/12/2011,
numa pequena cerimónia no EMFA, antecedida de uma missa na Igreja da Força Aérea
e seguida de um almoço na Messe de Monsanto; e louvadas pelo Chefe de Estado Maior
General das Forças Armadas, em nome do Conselho de Chefes Militares, em
4/6/2015.
A Comissão Organizadora da
Homenagem Nacional aos Combatentes, também decidiu distinguir estas excelentes
militares, no ano de 2015, na cerimónia que realiza anualmente a 10 de Junho,
junto ao Monumento aos Mortos do Ultramar, em Pedrouços. [2]
A D. Isabel Rilvas,
“Isabelinha”, como é conhecida é uma notável mulher portuguesa, nascida em
1935, com uma vida cheia e um curriculum extenso.
Distinguiu-se entre os seus, não
só por ser moralmente sã, mas por ter sido desde muito nova uma mulher
corajosa, determinada e empreendedora. [3]
Notabilizou -se em campos onde,
à época, não era fácil a uma mulher fazê-lo, como seja no âmbito aeronáutico,
onde pode exibir credenciais únicas e pioneiras.
Destaco: obteve o brevet de
Piloto Particular de Aviões, nº 945 em 28/8/1954, no Aero - Clube de Portugal,
tendo participado em numerosas actividades e obtido vários prémios de que se
destaca, o 2º lugar no primeiro campeonato nacional de acrobacia aérea, em
1959, onde foi a única mulher a participar; foi a segunda mulher portuguesa a
ter o brevet de voo sem motor, em 1955, tendo batido o record de permanência no
ar, em 1960, com 01:15’; obteve o brevet de paraquedista no Centro Nacional de Biscarrose,
França, em 4/7/1956; foi a primeira paraquedista civil portuguesa a saltar em
Portugal, em 16/1/1957, em Tancos; também a 1ª paraquedista mulher na Península
Ibérica e o primeiro português a saltar em Angola e Moçambique (incluindo militares).
Fez um total de 142 saltos.
Ainda no âmbito aeronáutico, foi
o primeiro português a obter o brevet de piloto de balão de ar quente, nos EUA,
em 10/3/1981.
Depois – o que configura um
espírito de iniciativa invulgar – tendo sido embaixatriz, por via do seu
casamento de 28 anos com o embaixador Leonardo Matias, de quem teve três
filhos, Isabel Rilvas fundou a Associação das Mulheres dos Diplomatas
Portugueses, em 30/6/1982, quando só havia quatro associações desse género em
todo o mundo. É membro de muitas outras associações e em diferentes âmbitos.
Desde muito nova que participou
e participa em várias instituições de assistência social, não só fazendo parte
dos seus quadros, mas também em trabalho voluntário.
Foi, em súmula, e creio que
ainda é, uma apaixonada pela causa do Ar, pela intervenção cívica, pela
assistência aos mais desfavorecidos; pelos laços familiares, tudo envolvido na
Fé Cristã que a assola e na ideia monárquica que a entranha.
Foi ela, ainda que, inspirada
num exemplo colhido em França, propôs ao então Subsecretário de Estado da Aeronáutica,
em 1956, a criação de um corpo de enfermeiras paraquedistas a ser incluído no
então Batalhão de Caçadores Paraquedistas – notável corpo de tropas, em boa hora
criado, em 1955 – e que viriam a participar nas operações de contra subversão e
contra guerrilha, desencadeadas em Angola a partir do bárbaro ataque ocorrido
em 15 de Março de 1961, efectuado por uma verdadeira horda de assassinos
desvairados, alimentados do exterior por organizações e governos inimigos de
Portugal.
Este corpo de enfermeiras
militares paraquedistas constituiu, na altura, uma verdadeira inovação e
surpresa, tendo sido aprovado pelo Chefe do Governo, Professor Doutor António
de Oliveira Salazar, que com esse gesto confirmou, se tal fosse ainda
necessário, a sua classe como estadista e homem de alma grande e visão larga.
A criação e actuação das
enfermeiras paraquedistas – esses “anjos que desciam do Céu” como passaram a
ser conhecidas - revelou-se notabilíssima e heroica, tendo a sua acção sido
alargada ao Estado da Índia, à Guiné, Moçambique e por último a Timor.
O 1º curso teve lugar em 6 de Junho
de 1961, tendo sido brevetadas 6 das 11 que se voluntariaram, em 8 de Agosto.
De notar que todas provinham de escolas de religiosas, que davam cursos de
enfermagem.[4]
Em 12 de Outubro de
1961, chegaram a Luanda, capital de Angola (nossa!), onde decorriam extensas
operações militares.
Seguiram-se mais oito cursos,
tendo sido brevetadas 46 “Marias” das quais uma ficou ferida e outra morreu em
operações. [5]
As Forças Armadas e a Nação
muito lhes devem.
*****
Esta homenagem – feita apenas a
mulheres, unicamente por homens, que não precisam de pedir licença a feminismos
serôdios e escalavrados – é ainda especial pois venceu um arreigado hábito em
Portugal de só dar valor às pessoas, depois destas desaparecerem do número dos
vivos (mesmo assim muitos notáveis nacionais estão injustiçados e outros mal
avaliados) o que, por norma, ocorre por descaso, inveja ou questões
ideológicas.
Foi ainda feita por iniciativa
de alguns cidadãos associados em duas instituições, também elas oriundas de
iniciativas privadas, com créditos firmados, homenagem que foi organizada sem
recorrer aos serviços do Estado com a honrosa excepção de material cedido
graciosamente pela Força Aérea Portuguesa cujo Chefe de Estado-Maior se fez
representar na cerimónia.
Finalmente esta homenagem foi um
sopro de ar fresco e saudável, não poluído pelos actos contumazes da baixa
política partidária; de ideologias desnacionalizantes; pela corrupção dos
negócios e do relativismo moral, sem vergonha, que avassala a desmoralizada sociedade
portuguesa.
É por isso, um marco de
afirmação cívica, exaltação moral e exemplo para os vindouros.
É uma vitória da virtude sobre o
vício, da verdade sobre a mentira e do Bem sobre o Mal.
Representou um lenitivo que
alimenta a alma da Pátria Portuguesa que é o alimento do nosso espírito e o
penhor do nosso futuro.
Bem andaram.
Em continência perfilo-me
perante o exemplo destas minhas compatriotas.
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
[1] A SHIP foi fundada em 1861 e a SGL,em1875.
[2] Note-se que estas homenagens só ocorreram cerca de 40 anos depois, do
fim do conflito militar onde se notabilizaram…
Uma pequena distinção já tinha sido
efectuada em 2006, pelo CEMFA de então; Uma outra homenagem foi feita num
evento patrocinado pela Camara Municipal de Fafe, em Março de 2016.
[3] Não vamos dissecar o seu curriculum pois não é esse o objectivo deste
escrito.
[4] A Escola das Franciscanas Missionárias de Maria e a Escola das Irmãs
de S. Vicente de Paula.
[5] O último curso terminou a 25 de Agosto de 1974.
Com todo o respeito e em bom português. Pára-quedista.
ResponderEliminarCumprimentos.
*****
ResponderEliminarMuito bem!
Seria bom aproveitar para colocar os nomes das primeiras enfermeiras para-quedistas. Obrigada
ResponderEliminar