CARTA ABERTA AO REI DE ESPANHA
28/11/2016
Mui Católica Majestade, Filipe VI
Ao pisar de novo a terra da Nação dos Portugueses,
iremos recebê-lo com a galhardia da lusa gente, até porque, se está entre nós
oficialmente, é porque foi convidado.
Lamentavelmente não temos hoje um Rei com igual
majestade para o receber, pois não há nada como os laços telúricos do sangue e
da terra, irmanados pelo espirito de servir e na crença do sobrenatural, que
nos ultrapassa, para o correcto entendimento e tratamento das coisas e dos
homens.
Território de Olivença e seu termo.
Todavia, não lhe irei dispensar as boas vindas.
Tal não tem a ver com as 18 invasões de que já fomos
alvo durante uma História que partilhámos como vizinhos – nós também já as
retribuímos algumas vezes; tão pouco tem a ver com a má memória que a dinastia
(Filipina) – que V. Majestade herdou no nome – por cá deixou para todo o
sempre.
Como sabe estamos prestes a comemorar mais um
aniversário da sua feliz expulsão, através da aclamação de um Rei natural, num
feriado há pouco reposto, que uma decisão política “infeliz”, tinha extinguido.
Sabe, por cá sempre tivemos uns quantos compatriotas
com responsabilidades, que se distraem das coisas importantes, quiçá fundamentais…
Olivença, no Alentejo.
V. Majestade certamente compreende o que estou a
dizer, pois no seu Reino não se pode gabar de estar isento deles, também.
Tão pouco não lhe darei as boas vindas, pela má
vizinhança – chames – mo - lhe assim – que os governos que os vossos súbditos
têm elegido, têm feito àqueles pedaços de terra rodeados de mar, a que chamamos
“Ilhas Selvagens”.
Espero que o bom senso e a diplomacia vão tratando da
questão a contendo.
Castelo de Olivença, mandado construir por D.
Dinis.
Também não queremos esquivar-nos a dar-lhe as boas
vindas e à senhora sua esposa, por causa do “ataque” à economia e, sobretudo,
às finanças portuguesas.
Nesse campo apenas tenho que vos tirar o chapéu, pois
estão a fazer, naturalmente, o vosso papel. O problema maior, mais uma vez, é o
facto de andar por cá muita gente distraída, para não lhes chamar outras
coisas, sabe?
Igreja de Santa Maria Madalena – Olivença.
Não, aquilo que me leva a não lhe dar as boas vindas
tem a ver com o facto da Coroa e da República Espanholas, não terem restituído
a Portugal a portuguesíssima vila de Olivença e seu termo, que ocupam
ilegalmente, “manu militare”, desde 1815 (eu diria, desde 1807).
V. Majestade sabe certamente os contornos do caso e
tem seguramente à mão, excelentes diplomatas e historiadores que lhe podem dar
conta dos pormenores.
Calçada portuguesa, na “Plaza de Espana” –
Olivença.
Vou apenas recordar-lhe o que um deles, o Ministro dos
Negócios Estrangeiros Fedrico Trillo Y Figueroa, disse, em 12 de Setembro de
1997, no Mosteiro de Santa Maria de Aguiar (Castelo Rodrigo), nas comemorações
dos 700 anos do Tratado de Alcanizes. Disse ele, “Na questão de Olivença a
Espanha não tem defesa”.
Espero ter ilustrado o ponto.
Porta manuelina nos Paços do Concelho –
Olivença.
Se nada mais fizesse, o reinado de Filipe VI, já teria
algo importante na balança do “deve e do haver”, ao tratar este assunto com
deve, e limpava uma nódoa que não ilustra a nobreza dos povos que o ceptro de
Castela foi unindo, ao longo dos séculos.
Com este caso resolvido, ou seja pela retrocessão dos
cerca de 750 Km2, na modalidade a acordar entre Estados e Nações que se desejam
amigas e colaborantes.
Nesse dia eu serei o primeiro a ir esperá-lo,
Majestade, e dar-lhe as boas vindas.
E brindarei com um bom vinho de “Rioja” acompanhado de
umas “tapas”.
Fica prometido.
Deus guarde a V. Majestade.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador