UMA BALSA À
DERIVA, CHAMADA PORTUGAL
21/10/16
“É
necessário um sabre tendo ao lado um pensamento”.
Eça
de Queirós, 1890.
O recente despacho do Ministro da
Saúde, datado de 28 de Setembro, que obriga os hospitais a controlar a despesa,
obrigando à autorização prévia de qualquer “investimento” (o que inclui, por
exemplo, a reparação de um equipamento), é o mote deste escrito.
Salazar equilibrou as finanças em
menos de dois anos.
É certo que o “deficit” e a dívida,
não eram tão elevados como hoje, mas não deixa de ser certo que o país estava a
sair de 18 anos de granel, quarteladas mensais e bombas nas ruas.
A banca internacional já existia,
mas não existia o BCE, nem o euro.
A “Troika” da altura (a Sociedade
das Nações) quis impor-nos condições leoninas, mas estas foram rejeitadas. O
que se conseguiu “iludir” e ultrapassar foram a grande depressão de 1929 e a
crise da libra de 1931…
Salazar impôs uma ditadura
financeira, que estava apoiada nas baionetas da grande maioria dos militares e
não tinha a cáfila do compadrio e, ou, querelas partidárias a estorvá-lo – os
grandes causadores da crise em que o país então se encontrava.
Hoje, isto é, desde 2010, também se
ensaiou uma ditadura financeira só que o modo como se quer resolver “a crise” é
em tudo diferente, do que se passou há quase cem anos. E é diferente para pior,
mesmo pondo de parte a diferença de categoria entre os protagonistas de então e
os actuais.
Agora as forças políticas que querem
resolver o buraco e o desregramento financeiro existente são as mesmas que o
criaram com a sua incompetência, demagogia, antipatriotismo e incontinência
para o negócio (já nem falo noutras coisas); estão prisioneiros da tralha
partidária; não existe doutrina nem rumo definido, fora as alterações constantes
derivadas das eleições; dizem hoje uma coisa e amanhã outra, com a maior
desfaçatez; estamos tolhidos por tratados internacionais que nunca deveríamos
ter assinado e é raro encontrar na classe política e órgãos de soberania, quem
dê o exemplo de contenção, justiça relativa e moralidade.
Os recentes anúncios dos
vencimentos dos novos administradores da Caixa Geral de Depósitos, por ex., são
de uma escabrosidade inusitada! E não há pingo de demagogia no que estou a
dizer: a brutalidade da afirmação apenas condiz com a gravidade do erro, da
injustiça e da imoralidade!
Ora ninguém vai atrás, ou está de
boa vontade, com aqueles que não dão o exemplo.
Enquanto ministro das finanças e
depois como presidente do conselho de ministros, Salazar inspirou ou propôs
muitas leis, mas assim que estas eram decretadas ele era o primeiro escravo
delas.
As leis foram sempre poucas mas eram
maturadas, não continham excepções nem “alçapões”, estavam escritas em bom português
e não havia recurso a “outsourcings”.
Mas a verdadeira diferença que
pretendo trazer à colação com o recente exemplo deste despacho da “geringonça”
– até este termo se coaduna com as trapalhadas actuais e contrasta com a
seriedade de antanho – é o que ele representa.
Notem, o “tio” António, impôs
limites estritos nas diversas rubricas do orçamento de cada ministério, e
nenhuma despesa extra era permitida sem a sua chancela, mas não interferia na
gestão que os diferentes responsáveis faziam das verbas que lhes cabia gerir.
Hoje é o que se vê, um director
hospitalar não tem competência para comprar um rolo de papel higiénico, da
mesma forma que um general chefe de estado-maior não consegue promover um
soldado sem a anuência de um amanuense qualquer, do Ministério das Finanças.
E o “outro” é que era um
ditador!...
Tudo isto, além de entupir os canais
hierárquicos e burocráticos, desautoriza toda a estrutura dos diferentes
ministérios e não só, trata toda a gente abaixo da menoridade mental e
desmoraliza qualquer pobre de Cristo, o qual na melhor das hipóteses se senta a
um canto e deixa o tempo correr.
É uma clara demonstração de incompetência,
arrivismo, desconfiança e falta de saber e capacidade em responsabilizar seja
quem for, pois é disso sobretudo, que se trata.
É uma clara demonstração de
fraqueza, escondida atrás do maior absolutismo esclarecido, que deixaria o
Sebastião José - também conhecido por Marquês de Pombal - com as faces
ruborizadas!
De facto não há sabre nem pensamento
que nos salve; apenas existe uma balsa sem leme nem timoneiro e com os
ocupantes a baterem nos remos uns dos outros.
Iremos parar, pois, onde a “corrente”
nos levar…
Vamos, porém, contentes, pois
conseguiram meter na generalidade das cabeças, que esta calamidade moral e
política onde vegetamos se chama um “estado de direito democrático”.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador