5 DE OUTUBRO DE
1910: INFAUSTA DATA!
8/9/16
“Atolados há mais de um século no mais funesto
dos ilogismos políticos, esquecemo-nos de que a unidade nacional, a harmonia, a
paz, a felicidade e a força de um povo não tem por base senão o rigoroso e
exacto cumprimento colectivo dos deveres do cidadão perante a inviolabilidade sagrada da família, que é a célula da sociedade; perante o culto da religião,
que é a alma ancestral da comunidade e permite o culto da bandeira, que é o
símbolo da honra e da integridade da Pátria.
Quebrámos estouvadamente o fio da nossa
História, principiando por substituir o interesse da Pátria pelo interesse do
partido, depois o interesse do partido pelo interesse do grupo, e por fim o
interesse do grupo pelo interesse individual de cada um”.
Ramalho Ortigão
Comemorou-se, mais
uma vez, a implantação da República, com a presença do actual Presidente da
mesma.
É um feriado de má
memória.
As revoluções, como
tudo na vida, valem ou devem ser avaliadas e julgadas, pelos seus resultados,
no que deram origem a coisas positivas para a vida em sociedade e o prestígio e
a dignidade da Nação.
Ora não consta que
do 5 de Outubro de 1910, salvo uma ou outra medida pontual, tenha resultado
algo de positivo.
Antes pelo
contrário, deu origem a um descalabro político, social, económico, financeiro e
moral, catastrófico, que desqualificou o país e demorou 16 anos a parar e
muitos outros a inverter.
Foi, por isso, uma
data das mais funestas de toda a História de Portugal.
Quando o governo do
jovial Passos Coelho cometeu a inabilidade de querer mexer nos feriados,
poderia ter feito uma boa acção mudando a razão deste – essa sim relevante –
para a comemoração do Tratado de Zamora, assinado no mesmo dia, mas em 1143.
Assim não se fez e,
por isso, o 5 de Outubro devia ser um feriado de profundo silêncio e meditação.
A Monarquia estava,
sem embargo, ferida de morte, desde a revolução - maçónica e jacobina – que
implantou o Liberalismo em Portugal, em 1820.
Esta revolução
estilhaçou a coesão nacional, tornou o monarca e a família real, em figuras
pouco mais do que decorativas e lançou as sementes da guerra civil. E “ela”
veio e durou (e devorou-nos), por cerca de 30 anos (de facto, até 1933…).
Quando um dos
nossos melhores reis, o esclarecido Rei D. Carlos I, quis assumir o que lhe
competia, face à bandalheira em que o país voltara a cair, logo o assassinaram
vilmente. Estava-se a 1 de Fevereiro de 1908.
Dali ao 5 de
Outubro (de 1910) foi um pulo recheado de ignomínias.
É certo que foi o
comportamento cobarde e pouco esclarecido, quando não traidor, de muitas
figuras monárquicas bem como a acção desprezível, corrupta e inepta dos
partidos políticos monárquicos, os principais culpados do avanço dos
republicanos - que, note-se, gozavam das maiores liberdades para a sua acção
política e social – e na falta de coragem na repressão das sucessivas
ilegalidades que foram cometendo.[1]
De tal modo assim
foi, que um arguto jornalista, creio que brasileiro, telegrafou para a sua
redacção, no dia 5/10, noticiando que “após várias tentativas, alguns grupos de
monárquicos conseguiram implantar a República em Portugal”. Queria ele dizer,
em Lisboa, já que para o resto do país, a mesmo entrou em vigor por telégrafo…
De facto, foi uma
organização subversiva, revolucionária e secreta, importada, que dava pelo nome
de Carbonária, que teve a despesa da acção.
Criou células,
infiltrou quartéis, sobretudo na Armada, e eram exímios na utilização de
“bombas”.
Mesmo assim, quase
tudo falhou, salvando-se 500 civis, poucos sargentos e um guarda-marinha – que
montou a cavalo pela primeira vez nesse dia – de seu nome Machado Santos, e
meia dúzia de peças de artilharia, que se entrincheiraram na Rotunda. E dois
cruzadores amotinados no Tejo.
A Marinha e o
Exército, basicamente deixaram cair a Monarquia (que tinham jurado defender), e
as forças fiéis que restavam, renderam-se sem que nada o justificasse, a não
ser o desnorte e a desmoralização reinante.
O regime estava
podre e não encontrou forças para se regenerar. Foi por isso que o “Estado
Novo” substituíu um e outro.
Os Republicanos
podiam ter aproveitado a oportunidade que tiveram, quase de bandeja, e o país
apalermado, que lhe ficou aos pés, mas desbarataram tudo numa sucessão
inacreditável de erros e enormidades que todos os adjectivos depreciativos
existentes, não chegam para qualificar.
Facto a que não era
estranho a iniquidade ideológica que os orientou, caracterizada por ser uma
transposição serôdia de 100 anos, do pior que a Revolução Francesa pariu;
misturada com os erros da Maçonaria, o fanatismo dos Carbonários, o anticlericalismo
militante, misturados com as mais extravagantes loucuras que o género humano é
capaz de conceber.
Uma espécie do
mesmo que aconteceu após o 25 de Abril de 1974 (e parado apenas parcialmente, a
25/11/75), mas num estádio assaz mais primitivo.
Fez “bem” o actual
Presidente da dita, em escolher este dia para condecorar o cidadão Manuel
Alegre, lídimo representante do chamado “Grupo de Argel” (ala esquerda do PS),
que se mancomunaram (infelizmente não foram os únicos) com os agora excelsos
movimentos de libertação – antigamente conhecidos por “turras” – que combatiam
as Forças Armadas Portuguesas, onde o celebrado poeta também assentou praça.
A coisa coaduna-se.
Só falta a esta
moral e ideologicamente pestilenta III República, herdeira quase directa da
primeira - bastarda, algo iberista e devorista, fundada num crime de regicídio
e nunca devidamente referendada - condecorar o Costa e o Buíça, assassinos do
Rei e do Príncipe herdeiro, (mais os 16 que estavam emboscados no Terreiro do
Paço e em mais dois locais, e muitos outros dirigentes republicanos moralmente
responsáveis, que se encontravam convenientemente “a banhos” em S. Paulo ou
desenfiados das vistas do “Inimigo”, quando rebentou a revolução).[2]
Tenhamos esperança,
talvez para o ano a coisa se componha.
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
[1] Costuma apontar-se a figura de José de Alpoim, como a encarnação da
traição dos monárquicos. Mas está longe de ser o único.
[2] O Costa e o Buíça foram abatidos no local; tiveram ao menos essa
coragem. O processo do regicídio desapareceu até hoje. Na antiga freguesia de
S. Paulo, perto do Cais do Sodré, existiam uns banhos públicos, onde se
encontravam alguns dirigentes monárquicos, não fosse a revolução falhar…
Se Dom Afonso I cá voltasse hoje teria de certeza um ataque cardiaco. www.zefiro.pt/livro_portugal.htm --------- Afonso Manuel
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