“Assim,
sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão,
chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas
populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os
marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários,
mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de
ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado: não
mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem
duvide disso não conhece a natureza humana.”
Mikhail
Bakunin (1814-1876)
Anarquista
russo do século XIX
Este
pontificado corre célere.
Célere
e algo trapalhão.
Depois
do pontificado de Bento XVI assertivo e de grande clareza e coerência
doutrinária; de tomadas de posição e decisões ponderadas e faseadas no tempo;
antecedido que foi de um Papa de enorme carisma, espírito de iniciativa,
corajoso e tenaz no bom combate; viajante incansável de peregrino e
evangelizador, como foi João Paulo II (o curtíssimo consulado de João Paulo I,
ficou envolto nas maiores dúvidas que o próprio “Espírito Santo”, não aclarou);
temos agora um comportamento algo errático e populista, com muitas afirmações
mal “mastigadas” ou impulsivas, do actual Papa Francisco em que a opinião
publicada tem posto grandes esperanças e elogios.
Sua
Santidade tem-se comportado talvez, com demasiada loquacidade e ri-se muito.
Mostrou
firmeza na questão da correcção, absolutamente necessária, dos problemas da
pedofilia no seio da Igreja (apesar de raros), mas – e não pretendo ser injusto
– muito do que já veio a público aparenta revelar tendência para relativizar Princípios.
Ora isto no seio de uma Instituição como a Igreja, que sendo servida por homens
se deve orientar pela imanência do imaterial e do Espírito, destrói-a e pode
levar a cismas.
Espera-se
prudência e muito cuidado com eventuais ambiguidades.
Um
problema existe, porém, e é de monta – e não tem nada de espiritual - que se
arrasta pelo menos desde meados do século XIX, e que nenhum Papa tem sabido,
querido ou podido resolver: o problema das finanças do Vaticano e das
entidades, sejam bancos ou outras, que dele têm tratado…
Sua
Santidade viaja por estes dias pela “sua” América do Sul de onde é natural – e
isso pode explicar muita coisa.
Acontece
que na visita à Bolívia (9/7/15) – esse estranho país que a geopolítica
espanhola criou, como estado “encravado”, no meio do continente sul - americano
– o Presidente daquele país que não esconde as suas convicções marxistas,
ofereceu ao Sumo Pontífice um crucifixo na forma de uma foice e martelo,
símbolo do comunismo internacionalista. Pondo de lado o mau gosto da oferta, o
gesto é, claramente, uma provocação e um desafio.
E
continua a ser uma provocação quando alguns vêm defender que o Comunismo, na
sua essência mais pura, se pode equiparar à doutrina de Cristo, que é a tolice
principal em que incorrem os chamados “católicos progressistas”…[1]
O
Papa, aparentemente, comeu e calou.
Os
serviços do Vaticano vieram na mecha dizer que desconheciam que tal iria
acontecer.
Bom,
mas se desconheciam, mais uma razão para ter havido uma reacção imediata,
porventura, o cancelamento da visita, pois o acto é de uma descortesia
intolerável. Mesmo para quem deve oferecer a outra face…[2]
Além
do mais nada disto abona nada a favor da Diplomacia do Vaticano que é “só” a
mais antiga e experiente em todo o mundo e cujo estricto cerimonial só deve ser
ultrapassado pela Monarquia Nipónica.
Se
a moda pega ainda veremos o Papa visitar a Coreia do Norte e ser presenteado
com um espectáculo num redondel (tipo coliseu) onde alguns dissidentes seriam
despedaçados por cães selvagens esfomeados…[3]
Mas
o Santo Padre – que, recordo, representa todos os católicos e onde estes se
devem rever – ficou e, usando ainda de uma humildade cristã sem limites,
entendeu pedir desculpa pelas atrocidades cometidas pela Igreja, durante a
“conquista da América”.
Confesso
que já me começo a sentir incomodado e enfadado com estes constantes pedidos de
desculpa por parte dos responsáveis da Igreja, com a agravante de nunca virem
acompanhados de um enquadramento das situações, por mínimo que seja.
Não
cai os parentes na lama a ninguém pedir desculpa quando há motivos para isso e
a Igreja, tem-nos seguramente, até porque os Santos alçados aos altares são uma
ínfima parte dos que se dizem ou disseram cristãos (que são de carne e osso). É
um acto de humildade e, até, de lucidez e, também, de querer construir o futuro
emendando os erros do passado.
Mas
quando tal empenho, se torna repetitivo, passa a entrar no campo do masoquismo
e em dar tiros nos pés.
Sobretudo
se tivermos em conta que a Igreja tem expiado – e não pouco – os seus pecados, e
o seu exemplo de contrição não conseguiram, até hoje, contagiar mais ninguém
com o seu “exemplo”.
Nunca
ouvimos o Presidente Evo Morales, Fidel Castro, a ex-terrorista que acampou no
Palácio do Planalto, em Brasília, por ex., ou qualquer líder comunista presente
ou passado, acabando no português Álvaro Cunhal, sua pandilha e descendentes –
fazer qualquer mea culpa pelos horrores cometidos em nome daquela ideologia
maldita que trucidou mais humanos em média por ano, do que todas as hordas de
Gengis Khan e de Tamerlão, juntos!
Nunca
me soou aos ouvidos quaisquer pedido de desculpa por parte de um líder
muçulmano pelas lutas fratricidas que espalham entre eles e vizinhos; nada
consta relativamente a luteranos, calvinistas e anglicanos, quanto às perseguições
e guerras civis que provocaram, ou ao tráfico de escravos em que foram exímios;
tão pouco nos chegou ao pavilhão auricular, qualquer remorso de judeus e
sionistas por terem, ao que se sabe, inventado o juro e a usura e terem desde
então, sujeito a humanidade à política da agiotagem e para poderem voltar ao
território que reivindicam no Médio Oriente, terem expulsado (e não só) uns
milhões de palestinianos.
Tão
pouco, alguém no mundo inteiro tem conhecimento de que a Maçonaria tenha
assumido algum passivo pelos atentados que semeou, das revoluções que fomentou
e dos monarcas que apeou, só para ficarmos por aqui.
Nem
sequer um único republicano que se diga herdeiro dos jacobinos, ciciou até ao
presente, qualquer remorso pelas cabeças que guilhotinou e afogou em terras e
rios de França, após a Revolução que – dizem – deu origem à Declaração
Universal dos Direitos do Homem, e que em poucos anos ultrapassou largamente as
vitimas das fogueiras da Inquisição, em três séculos!
Não,
só a Igreja Católica é que pede desculpa. Abençoada, ao menos, que seja por
isso!
E
relativamente à conquista da América, também gostaria de chamar a atenção do
Santo Padre e da Santa Sé – peço desculpa, mas o dogma da infalibilidade do
Papa aplica-se apenas a questões espirituais e de Fé – que não deve meter tudo
no mesmo saco.
Quero
referir-me aos portugueses.
A
Igreja portuguesa, os seus missionários e a generalidade dos “colonizadores”
portugueses nunca se dedicaram a exterminar os gentios, nem na América nem em
lado nenhum. Educavam-nos, misturaram-se com eles, integravam-nos e
assimilavam-nos à medida das probabilidades e o tempo permitia. Os missionários
portugueses catequizavam pelo dom da palavra, através do conhecimento das
respectivas culturas e não pela lei da força ou do chicote.
Tudo
tinha a cobertura superior da coroa portuguesa que nunca decretou leis ou
instruções iníquas. E nunca passou pela cabeça de ninguém meter indígenas em
reservas (como aconteceu por exemplo, nos EUA e no Canadá) e nunca se chegou à
vilania de distribuir coberturas com bacilos de doenças, aos índios, como
ocorreu com autoridades sitas em Washington. Também nunca os ouvi pedir
desculpa por isso.
Alguns
missionários portugueses no Brasil, Santo Padre, oriundos da mesma Companhia de
Jesus, onde professou, sofreram até agruras, com o governo local e até em Lisboa,
por quererem proteger e cuidar dos indígenas para além do que era o
entendimento oficial da altura.
Por
isto e por muito mais, não é justo colocar os portugueses e a sua Igreja, em
generalizações descuidadas, muito menos quando as mesmas podem ser tidas como
demagógicas.
Temos
Sua Santidade como pessoa de bem e bem - intencionada. Nem outra coisa se pode
pensar.
Mas
estou em crer que saberá – o Núncio Apostólico poderá confirmá-lo – que nós
aqui no canto mais ocidental da Europa temos um ditado que afirma estar o
inferno cheio de boas intenções…
E
temos ainda um outro, que reza não ser grande coisa “querer ser mais papista
que o Papa”.
E
com esta tirada me vou.
Para
o Purgatório.
[1] Conhecidos na gíria como
“peixinhos vermelhos em pia de água benta”…
[2] “Não resistirás àquele que
é iníquo; mas, a quem te esbofetear a face direita, oferece-lhe também a
outra”. Sermão do Monte, Mateus 5:39. E convém também, não distorcer o
significado da parábola…
[3] Estranha-se ainda aquela
ideia de pôr o Papa a mastigar coca. Convenhamos que não é a mesma coisa do dar
a provar, por hospitalidade, um pastel de nata….
Só para lhe lembrar, Senhor tenente-coronel, que o Papa é Pedro.
ResponderEliminarComentário? Apenas este: BINGO!!
ResponderEliminarCumprimentos
Carneiro Dias
Mais uma vez, registo o meu agrado por uma análise repleta de conhecimento e inteligência!
ResponderEliminarCumprimentos,
Paulo Lopes
PORTO
Ao Senhor Ten. Cor. Piloto Aviador deixo expressa a minha admiração pelo seu pensamento assertivo, claro, isento, acutilante, que a todos nós, portugueses, encanta. Não só neste texto, mas EM TODOS que subscreve.
ResponderEliminarCom os meus respeitosos cumprimentos.
Delfim Cabral Mendes