sábado, 23 de maio de 2015

COMPORTAMENTOS INSÓLITOS (MILITARES E CIVIS) NUM PAÍS INSÓLITO (II)

“Votar é preciso; Governar não é preciso”
Fernoa Pernando[1]
Corre à rédea solta a pré campanha para as presidenciais do ano que vem.

É a sina do País que passa a vida alegremente em eleições – lembra-se que existem cinco actos eleitorais: para PR; legislativas; autárquicas, regionais e europeias (fora as internas dos Partidos) – ou seja, uma campanha eleitoral permanente, onde não se olha a gastos nem a demagogia. Restando saber quando, no meio de tudo isto existe tempo para governar e para pensar os problemas do País…
Não contentes com esta inflação de enfiar papelinhos em urnas (lindo nome!), ainda há quem peça amiúde, eleições antecipadas…

Votar é, assim, o alfa e o ómega do Regime Político que nos impuseram (lembro que a Constituição da República foi aprovada quase debaixo de sequestro e nunca referendada), mesmo que não se saiba no que se vota e, claro, desde que não seja para tratar de assuntos realmente importantes – caso da “Descolonização”; do tipo de regime; da soberania nacional; a entrada na CEE, a adesão ao euro, etc., só para citar estes.
Dizia, corre infrene a pré campanha para se saber quem são os candidatos a alinhar na linha de partida. E, neste âmbito, muitos debates e reuniões e têm feito para tentar definir qual o melhor perfil para a pessoa que irá ocupar transitoriamente a função de mais “alto magistrado da Nação”.

O que tenho ouvido, Deus meu!
Tudo, aliás, lucubrações respeitáveis.

Só que ainda não ouvi referir aquele desiderato que me parece a mim – como devo estar bralhe-lhas – dever vir à cabeça de todos: o de, simplesmente ser um português, patriota, e que se comporte como tal.
Se assim não for, vamos eleger alguém para quê? Não vos parece?

*****

Quando foi tomada a decisão, pela Assembleia da República, de transladar os restos mortais de Eusébio, para o Panteão Nacional, vários órgãos de comunicação social veicularam a notícia originada num deputado do PSD, de sua graça Duarte Marques (não sei se por mais alguém), de que o famoso futebolista será o primeiro português que não nasceu em Portugal, a ter essa honra!
Dada a imbecilização a que a nossa sociedade tem sido conduzida, não houve jornalista – já agora também algum político ou comentador – que tivesse o discernimento de lhe fazer a mais pueril das perguntas e que é esta: afinal, se não nasceu em Portugal, nasceu onde?

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Fui ao teatro. Há muito que não ia ao teatro.

Cada vez se vai menos ao teatro, em Portugal.
O teatro é a representação da vida e, independentemente de gostarmos mais ou menos do que vamos ver e ouvir, é importante fazê-lo.

O teatro é a arte da representação por excelência; é uma experiência pessoal de interacção imediata e constante entre o público, os actores e as personagens.
Uma boa interpretação possui uma capacidade de penetração densa e durável no tempo. Não é deglutição “fast food”.

Há 41 anos havia mais teatros em Portugal, do que agora.
Algo, entretanto, se passou.

Fez-me bem ir ao teatro.

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“Teatro”, porém, (e do mau) foi o que aconteceu no lançamento do livro sobre a pseudo-biografia do Primeiro-Ministro Passos Coelho.
Então não é que numa parte do papiro, a escrita lança umas bicadas ao líder do CDS e parceiro da coligação no Poder Executivo, provocando de imediato um desmentido de Paulo Portas, acabando – à boa maneira portuguesa – por não se apurar o que na realidade se passou e ficando no ar um mal – estar que já é crónico?!

Passando-se tudo isto, note-se, quase em simultâneo, após os dois “líderes” terem renovado, perante o País, o acordo de coligação para vigorar nas próximas eleições legislativas!
Será que estamos a ser governados por miúdos birrentos que não atinam com nada?

Bom senso e sentido de Estado precisam-se.

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“Teatro” ainda (pior) foi o triste espectáculo da greve da TAP, entre 1 e 10 de Maio.
Num processo em que ninguém tem as mãos limpas e ninguém tem razão (!), e que se arrasta desde há 40 anos (mais propriamente desde o “PREC”) e que tem origem na Constituição da República, que por sua vez enforma tudo o que ao movimento sindical, às leis do trabalho, à greve e o “Locke - out”, diz respeito, culminou agora com mais esta facada na economia e imagem nacionais.

Para variar ninguém acorda nos números relativos aos efeitos da greve e, no fim, nunca se apura a verdade dos factos.
Clama o Governo (e a Administração da TAP), por exemplo, que foram efectuados 70% dos voos previstos enquanto o Sindicato dos Pilotos (SPAC), baixa essa percentagem para os 50%.

Será que será assim tão difícil fazer contas? Operações aritméticas simples não tirariam a questão a limpo? Ou o que é difícil é ser-se honesto?
Cumulativamente, porém, o SPAC reclama que 85% dos pilotos aderiram à greve.

Neste ponto as coisas são mais curiosas: a ser verdade, tal significa que apenas 15% dos pilotos tinham conseguido fazer metade dos voos, e isto por um período alargado de 10 dias, o que mesmo não dormindo (o que se sabe é contra a lei), parece de todo impossível.
Restaria, todavia, uma possibilidade que é a da TAP ter muitos mais pilotos do que aqueles que necessita…

O que, seguramente, não será o caso.
A TAP vai ser vendida ao desbarato num processo que vai ser mau para todos.

Sobretudo para o comum do cidadão e para a Nação como tal, que tem aturado e pago todo este folclore e desbunda que dura à 40 longos anos!
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“Teatro” ainda (do péssimo) ocorre ali para os lados do Ministério da Administração Interna (MAI).
Depois de mais um lamentável episódio de fumos de corrupção, que mina e envergonha o País e a população portuguesa – estamos a referir-nos ao caso dos “vistos gold” e acessórios – que levou à demissão do anterior ministro Miguel Macedo.

Em desespero de causa – o que demonstra, se isso ainda fosse necessário, a falência dos Partidos Políticos em recrutarem e formarem quadros capazes – foram buscar uma Professora Universitária, a Coimbra, com nome no meio e não só por questões académicas.

Baptizaram-na como Anabela Rodrigues.
Sem embargo, esta nomeação esqueceu um princípio elementar que sustenta ser uma das maiores imoralidades, alguém desempenhar tarefas, ou cargo, para os quais não esteja minimamente habilitado ou capacitado.

Parece ser o caso.
Assim colocaram a senhora (culpa dela) numa espécie de aquário, onde mal sabe nadar, sem barbatanas nem guelras, onde a coitada passa a existência de olhos esbugalhados e com o nariz encostado ao vidro, ansiando que a pesquem.

Até já o nosso comentador Marques Mendes (“shorty” para os amigos), se deu conta!
Um dos dois Secretários de Estado saíu logo pela direita baixa; despediu praticamente a equipa toda que herdou; mandou todo o trabalho do seu antecessor às urtigas e entregou-se, qual Filipe II, ao seu Valido Duque de Lerma, o cidadão Fernando Pinto Soares, que convidou para seu Chefe de Gabinete.

Uma dupla inseparável que se especializou em esgueirar-se rapidamente, logo que uma cerimónia acaba, furtando-se a qualquer contacto seja com quem for.
A falta de “guelras” vai ao ponto de ter intentado, ao que consta, que o Comandante da GNR e o Director da PSP despachassem directamente com o tal Lerma, perdão, Soares, o que aqueles, num raro gesto de pundonor em titulares de cargos semelhantes, se recusaram a fazer.

O meu bem - hajam, por isso.
Palpita-me que as diferentes forças de segurança e afins estão prestes a subir as escadarias do Parlamento, uma vez mais.

Aceitam-se apostas.
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Finalmente sabe-se pelo “jornal da caserna” que a professora, agora titular do MAI, tirando o acaso astrológico, foi sugerida pelo nosso conhecido e já emérito, Ministro da Defesa, Aguiar traço Branco.

Compreende-se: assim fica com uma figura à sua ilharga, que tudo leva a crer, fará mais asneiras que ele próprio…
Aliás, é reincidente, já que noutra reencarnação como Ministro da Justiça, em 2004, a tinha convidado para Directora do Centro de Estudos Judiciários, o que teve como consequência imediata a demissão, em bloco, de toda a restante direcção e alguns outros juízes…

Sempre optimista, S. Excelência veio há dias (entrevista à Antena 1) atroar os ares com a seguinte “boutade”: Os militares estão satisfeitos com as reformas operadas (feitas de acordo com os chefes militares!), que contribuíram para a sustentabilidade das FA e para a melhoria do Moral das tropas”!
Um pandego, este ministro.

Não resisto a pedir emprestado Zurara para o assemelhar a “Sardanapalo, Rei dos Assírios, que por sua desgovernança foi destituído por Arbato, Capitão dos Medos; ou Baltazar, neto de Nabucodonosor, o qual se pôs em grande ufania naquele convite de que Daniel faz menção, sendo derrubado na noite seguinte pelo Rei dos Romanos.
Ou até Xerxes, Rei dos Persas que levando 380.000 homens de armas e uma multidão de navios passou à Grécia e por uma pequena multidão de gregos foi desbaratado, somente pela sua soberba presunção, desprezando o útil conselho do filósofo Amagaro”.[2]

Que Deus nos ajude.





[1] Parafraseando Fernando Pessoa…


[2] Gomes Enes de Zurara, “Crónica da Tomada de Ceuta”, cap. CIV

2 comentários:

  1. "Que Deus nos ajude."

    Numa democracia, só vale um voto na urnas.

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  2. "A inconsciência do escol nacional manifestou-se imediatamente após o 25 de Abril,ao não se aperceber que o que verdadeiramente estava em causa não era a democracia,mas os legítimos interesses da sua Pátria,da sua cultura e da sua civilização.Dividiu-se por isso,desde logo,numa pequena e indigna multidão de facções partidárias,alimentando-se os seus dirigentes com todas as fantasias que estão há muito a pôr em risco a sobrevivência da nossa civilização.Pensar-se que poderá sair riqueza do jogo dos partidos,da famosa adesão ao Mercado Comum(1975)e de outras fantasias,é estar completamente fora das realidades.Uma coisa são as possibilidades de criação de riqueza,outra o quadro político de exploração dessas possibilidades.Ora,a ofensiva russa e euro-americana começou desde logo(no ultramar primeiro)por lhe retirar as melhores daquelas possibilidades,pelo que se poderá concluir que mesmo oferecendo a democracia pluralista um melhor quadro para a distribuição de riqueza não poderá distribuir aquilo que não cria.Naturalmente que os senhores do clube-euro-americano e russo sabem tudo isto muito melhor que nós.O Povo português,porém,só o saberá mais tarde."

    Fernando Pacheco de Amorim in Portugal Traído(livro de 1975)

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