Desde o Antigo Egipto,
seguramente desde os Caldeus/Assírios, passando pelos Medos/Persas, que as
coisas se passam de modo parecido, quase igual.
A natureza humana não evoluiu
muito e não aprende mesmo…
Em síntese é assim:
Em todas as épocas surgem
problemas. Como, por norma, não são atacados atempadamente, pioram. Num dado
momento existe um qualquer problema que se destaca pela sua gravidade; na
sequência surgem outros.
Os responsáveis, também por
norma, ignoram, menosprezam, não percebem que o problema é mesmo um problema,
assobiam para o lado, ou não estão para se maçar.
Na vida militar as coisas não se
passam de maneira diferente, mas como quem por lá milita, possui armas e um
treino específico e único, a coisa tende a ter consequências mais graves.
O (s) problema (s) começa (m) por
afectar um grupo restrito de pessoas, passando a haver um mal-estar localizado.
Outros que sabem, ficam na expectativa, pensam duas vezes e se não se sentem
afectados, dormem para esse lado.
O tempo passa, o (s) problema (s)
piora (m); alarga-se o espectro dos afectados; o mesmo sucedendo com o
conhecimento e consciência do que vai ocorrendo e suas consequências.
A hierarquia repousa na sua
inércia e no “conservadorismo” das coisas, tentando passar nos “intervalos da
chuva”, sentindo-se satisfeitos com algum alerta expedido e, ou, ensaiando o
politicamente correcto, ou seja pegar no pedaço de merda pela sua parte mais
limpa…
Alguns, porém, reagem mas, por norma,
são ignorados ou prejudicam-se.
A velha fórmula
repressivo/passiva.
Quando os problemas se agravam
verdadeiramente, ainda sobrevêm fenómenos típicos a saber: a existência do
estado de negação; passar a viver-se com os pés a 30 centímetros do solo e a fuga
para a frente.
Na fase terminal ocorre o
desnorte completo e a inanidade psicológica.
Querem um exemplo? Foi o que
aconteceu ao Governo de Marcello Caetano, cerca de um ano antes do 25 de Abril.
*****
Quando os problemas começam a
afectar uma parte alargada de cidadãos, acaba sempre por surgir uma liderança
qualquer (é dos livros) que começa a organizar uma estrutura para se opor ao “status
quo” e encontrar soluções para o (s) problema (s), por norma contra quem não os
quer ver ou resolver e à margem ou à revelia das regras ou leis existentes.
Ou seja, o “caldo de cultura”
para algo acontecer, que devia ser evitado, está criado.
Colhe-se da experiência histórica
que, a partir daqui, entra-se num movimento uniformemente acelerado para surgir
qualquer coisa fora das normas instituídas para a época, e que tal vai ter
custos mais ou menos acrescidos.
Apesar das evidências de haver
uma liderança – à partida clandestina – que começa a estruturar-se, a criar
objectivos, doutrina para os sustentar e máximos divisores comuns, a hierarquia
do “establishment” faz por ignorar o que se passa, sem embargo de tentar espiar
o que se passa.
É quase como que inerente à
natureza humana e tem causas várias, como por exemplo a ignorância, desleixo,
má avaliação, menosprezo, cobardia, numa palavra, medo.
Medo de tudo, que culmina no medo
da própria sombra.
A partir daqui quem está, está na
defensiva e diminuído; quem está fora está na ofensiva e tem a iniciativa e a
surpresa do seu lado. Por norma ganha.
Quando e se, os responsáveis
começam a reagir, já tarde, fazem-no reprimindo, o que faz aumentar a tensão em
vez de a aliviar. Neste ponto é usual deflagrarem incidentes vários.
Se, por outro lado, cederem demasiado nunca mais vão parar de ceder e perde-se o respeito.
Se, por outro lado, cederem demasiado nunca mais vão parar de ceder e perde-se o respeito.
No fundo a velha fórmula de Brito
Camacho: “é preciso obrigar o governo às cedências que rebaixam e às violências
que revoltam”…
Chegamos então, ao limiar de
qualquer coisa à fronteira da confrontação.
Até que um dia, uma acção, um incidente, uma tomada de posição menos ponderada – o que ninguém sabe prever exactamente – funciona como ignidor.
Até que um dia, uma acção, um incidente, uma tomada de posição menos ponderada – o que ninguém sabe prever exactamente – funciona como ignidor.
É como o “triângulo” do fogo… [1]
O 25 de Abril de 1974 é, neste
aspecto também, exemplar: o ignidor foi o decreto-lei nº 353/73, de 13/7, assaz
conhecido, mas convenientemente esquecido.
De seguida a anarquia e as piores
emoções da natureza humana soltam-se já que, também por norma, não se pensa no
dia seguinte. E o dia seguinte é que é o diabo…
Quando a ocorrência se dá – seja
ela qual for – aparecem de imediato uns iluminados a dizer “estava-se mesmo a
ver”, alguns dos quais com avantajadas responsabilidades no que se passou…
Sem embargo de só se terem
tornados evidentes depois de ocorrerem…
Outros, certamente videntes,
reputam o ocorrido de “inevitável” - sem nunca terem feito nada para o evitar...
Nem eles sabem bem o que dizem
pois “inevitável” é a gente morrer. E mesmo assim, só para quem não acredita na
Ressureição.
Aguarda-se, em jubilosa esperança,
os resultados dos próximos capítulos das actuais novelas.
Pois começa a haver várias em
desenvolvimento.
[1] Ou seja, para haver fogo é
necessário existir oxigénio, um comburente e um … ignidor!
"Enquanto faz asneiras, não se perturba o inimigo".
ResponderEliminarAté que ponto o "sistema mafioso" merecerá alertas com sincera frontalidade, meu tenente coronel?
D.Pinto