Passos Coelho e Aguiar Branco |
Na sequência da visita do
Ministro da Defesa (MDN) à Base Aérea 6, no Montijo, no pretérito dia 28/4, foi
divulgado nos meios da Comunicação Social (OCS), a notícia de que 98 (na
realidade 99) oficiais pilotos aviadores (cerca de dois terços do efectivo)
tinham aderido, em bloco, à Associação de Oficiais (AOFA).[1]
O “frisson” causado, nada tem a
ver com qualquer irregularidade, mas sim pelo seu significado. Significado
esse, por sinal, ignorado pela generalidade desses mesmos OCS, sem dúvida
alguma, prosélitos e praticantes das mais elementares regras democráticas e da
liberdade de expressão.
Eis uma síntese rápida ao correr
da pena.
O MDN foi visitar a BA 6, a fim
de mostrar serviço com a ida de um C-130 Para a República Centro Africana, no
âmbito de uma missão da União Europeia e também assistir ao aniversário da
Esquadra 751, que opera os sofisticados helicópteros EH 101 e que passa por uma
crise de falta de pilotos e qualificações adequadas (aliás, todas passam).
Estas dificuldades já estão a pôr
em causa o cumprimento de uma missão da FA – que extravasa o país: a Busca e
Salvamento.[2]
Propositadamente ou não, o que é
certo é que alguns oficiais conversaram com jornalistas e deram-lhes conta de
algumas das dificuldades existentes, enquanto o MDN era confrontado com um
discurso duro do Comandante da Esquadra 501, sobre a prontidão das aeronaves,
manutenção, treino e segurança de voo, e outros, que se arrastam há muitos anos
e como é lógico, não deixam de se agravar com o passar do tempo e a muito
errada actuação política para com as FA.[3]
Actuação, ainda agravada por
dissidências corporativas entre os Ramos, falta de estratégia comum das chefias
militares (onde se incluem os Conselhos Superiores) e alguns erros e ambições
pessoais avulsos.
Tudo se traduzindo numa paz podre
reinante, a que um falso discurso de “tranquilidade” tenta tapar, como a
peneira tapa o sol.
Livrou-se, ainda, o MDN de ouvir
outro discurso duro, por parte do Comandante da Esquadra 751, não fora o texto
sido atempadamente “censurado”.
Por “feliz” coincidência foi
tornada pública a adesão dos citados 99 oficiais à AOFA – e outras estão
previstas (o MDN foi apanhado desprevenido) o que, aparentemente, começou a ser
preparado desde o último encontro de oficiais, no ISCTE, em 22/2/14.[4]
Independentemente das várias
leituras possíveis para esta adesão, uma salta à vista desarmada e é indesmentível,
trata-se de um atestado de desconfiança às chefias militares, passado com luva
branca (mas que não deixa de ser um murro no estomago).
Significa simplesmente que
deixaram de acreditar na cadeia hierárquica e que passaram a sua esperança de
resolução de problemas para a AOFA.
A qual de facto, e
independentemente da evolução da sociedade e dos tempos, só tem razão de
existir pela falta de defesa dos homens e da própria Instituição Militar (IM),
que deixou de ser cabalmente feito, sobretudo a partir da data em que as
chefias militares passaram a ser exclusivamente escolhidas pelo poder político.
[5]
Como pano de fundo, que já vem de
longe, temos o ataque contumaz ao estatuto da condição militar; a redução
sistemática das FA á inanidade operacional e da IM, à cota zero da sua
representação política e inexpressividade social.
Não se tem olhado a meios para
conseguir tudo isto, e nesse objectivo nenhuma força política tem as mãos
limpas.
Na actual circunstância e no que
toca concretamente aos pilotos, tudo – e é muito - se pode sintetizar numa
frase: Há cerca de três anos, que se passou a colocar alferes tirocinados, isto
é acabados de receberem as asas, a voar… secretárias!
E todos – agora já se engloba
todos os militares dos três Ramos das FA e GNR – vivem na angústia do próximo
EMFAR, de que ninguém sabe nada, já que nada transpira (e há muito que a
confiança se exauriu) e que, por sinal, está a ser cozinhada por alguns seres
que os bons chefes de família, não convidariam para se sentarem à mesa com
eles. Por isso está a suscitar oposição das partes sãs do processo.
E sobre o futuro EMFAR, arrisco
um prognóstico: se não for atalhado, a versão final irá ultrapassar tudo o que
de pior se possa pensar.
Será o fim do que resta das FA,
como instrumento militar de qualquer valia; a sua funcionalização completa e,
até, a sua partidarização.
*****
Estávamos nisto quando S.
Excelência, o Senhor Primeiro Ministro (PM) se apresentou, no dia 29/4, à porta
de armas (que também arrisco dizer, ele não ter a mínima ideia do que seja ou
represente), do Hospital das FA (HFAR).
Identificado pela “sentinela”,
logo disse que não queria falar com ninguém, que estava ali como um cidadão
qualquer (o Dr. Sá Carneiro, em tempos idos, também se arvorou nisto e
meteu-se, de qualquer maneira, dentro de uma aeronave em mau estado e acabou
por não sobreviver para contar o que sucedeu).
Sem embargo, claro, de se fazer
acompanhar por motorista oficial e membros da segurança.
O atrapalhado militar – quando
havia tropa a sério, o PM, não saía do local sem o oficial de dia (parece que
agora é um “graduado de serviço”) o acompanhar ao comandante – lá informou quem
lhe competia e a informação acabou por chegar ao Comando da FA, em Alfragide,
tendo a mesma sido ignorada. Creio que bem.
De facto a informação chegou lá
por inércia, isto é, o Comandante da Unidade de Apoio ao HFAR ainda é oficial
da FA, mas este Ramo já não manda no complexo, apenas ainda lá possui subunidades
suas.
Mais estranho é, aparentemente,
que o único a saber da visita do PM, perdão do cidadão Passos Coelho, ter sido
o Director do Hospital, o qual também se terá “esquecido” de informar o seu
chefe hierárquico, ou seja o CEMGFA.
O qual, por sua vez, também
achará “natural” a ocorrência e estará “tranquilo”. Tanto mais que, em boa
verdade, nada obrigaria o Director do HFAR – a não ser o bom senso – a dar essa
informação, dado que o MDN fez um despacho determinando que “nesta fase de
transição” o dito Director dependia dele!
E, já agora, porque é que o
policia da Porta d’Armas, o oficial de dia, ou lá o que seja, e o Comandante da
Unidade de Apoio (outro nome que nada tem ver com a terminologia militar), etc.
têm que se preocupar com estes “pormenores” de segurança, hierarquia,
regulamentos militares, ética, etc., quando o PM quer passar despercebido e tem
comportamentos destes? (o Hollande, em França, também quis passar despercebido
e vejam o que lhe aconteceu…).
E que pensar quando o MDN chamou
a uma unidade militar (o HFAR e restantes) um “Campus de Saúde”? Talvez ainda
um dia lá façam o “Rock in Rio”…
Resta pois saber o que S. Exª lá
foi fazer, será que foi verificar como corre a linda obra do seu ministro, ou
virou beneficiário da ADM?[6]
*****
Por fim e a propósito, quando o
CEMFA soube desta “visita” estava de abalada para S. Julião da Barra, para um
encontro com o SACEUR, o General Philip M. Breedlove. [7]
Este, no fim, veio informar o
país, de que a FA ia comandar uma força no Báltico, com seis F-16, em Junho (se
ainda os houver), numa operação da NATO – com a crise da Ucrânia por fundo.
Pergunta-se: então já não bastava
ter a “Troika” a fazer conferências de imprensa em Lisboa e ainda temos que vir
a saber, por um general americano, o que compete ao governo, ou às FA
Portugueses, informar?
O Estado Português não está a desagregar-se. Já está desagregado.
O Estado Português não está a desagregar-se. Já está desagregado.
[1] Mais concretamente, quatro majores e 95 capitães e subalternos.
[2]
A prontidão do Helicóptero que está em Porto Santo, por ex., está afectada, pois
não existe piloto comandante disponível para lá colocar. Prevê-se que vai de
“Falcon” quando houver uma emergência…
Aguarda-se a explosão de alegria que o Dr. Alberto
João vai ter quando souber. Esperamos que seja o MDN a dizer-lhe, pois a
responsabilidade é dele… (e não dos chefes militares).
[3]
O Comandante da Esquadra 501 foi entrevistado, mais tarde, na TVI 24, e falou
durante mais de 10’. Mas como não é jogador de futebol, estrela de rock, ou
bombeiro voluntário, a explicar porque é que um fogo se reacendeu “N” vezes no
mesmo local, só teve direito a 30 segundos de fama…
[4]
Para esta reunião estavam previstos aparecerem cerca de 300 oficiais, mas
estiveram 700, mais de100 dos quais, no activo. São dados relevantes.
[5]
Esta defesa, juntamente com o cumprimento da missão e da coesão e moral das
tropas, é um dever inalienável de qualquer comandante.
[6]
ADM – Assistência na Doença aos Militares.
[7]
SACEUR – Supreme Allied Comander Europe - Comandante Supremo Aliado na Europa.
"O inimigo mais perigoso é aquele que se disfarça ao ponto de ser tomado por amigo, grande amigo."
ResponderEliminarQuem ousa violar o conceito sagrado de democracia?
Que fazer quando se descobre que a MAFIA tomou o poder por via de um subtil "veneno democrático"?
Que fazer quando se descobre que a MAFIA controla todos os pontos importantes da estrutura social?
Mostrando indignação com oratória,buzinão, subida de escadas,...?Tudo inconsequente.
Desgraçada sociedade que vive hipnotizada pela "democracia" de um regime-MAFIA,como passarinho encantado pelo sibilar da cobra.
Como,quando e quem vai levantar a bandeira de um "NÃO-BASTA" a uma situação pior que 1 de Dezembro de 1640, meu tenente coronel?
D.Pinto
Mas não foi para isto que se fez o 25 de abril, para retirar poder ás forças da ordem?
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