“O inconseguimento de eu estar num centro de decisão fundamental a que possa corresponder uma espécie de nível social frustracional derivada da crise”
Assunção
Esteves,
Presidente da Assembleia da República
Presidente da Assembleia da República
(TSF, em
7/1/2014)
Passados 40 anos após a última
grande esquina da História de Portugal, já deveria ter havido o discernimento,
o bom senso e a vontade (que deles deriva), de fazer uma análise histórica –
nas suas diferentes dimensões, nomeadamente política, estratégia,
económica/financeira, social e cultural – de todo o período abrangido e que
englobasse, para facilidade de entendimento e exposição, três períodos
distintos:
· O período da última fase do Estado Novo, por
exemplo desde o início do consulado do Professor Marcello Caetano;
· O período que começa com a acção militar no dia
25/4/74 – suas causas e execução – e por todo o período conturbado, conhecido
por “PREC” e termina em 25/11/75;
· O período posterior até aos dias de hoje, e suas
consequências.
Como tal não foi feito (e o que
foi feito deixa muito a desejar) e não será feito a breve trecho, vamos
cingir-nos a elaborar um conjunto de questões, que falam por si,
independentemente do juízo que se intente fazer sobre elas.
São também as respostas às
perguntas formuladas, que ajudarão, um dia, a escrever a História que deve
ficar para o futuro e não aquela que insistentemente nos têm vindo a inocular
como se de uma lavagem ao cérebro se tratasse.
Aqui fica uma mão cheia delas:
1º- Quais as razões que
justificam, à luz da Moral e do Direito, a queda pela força do regime deposto?
2º- Se o regime deposto foi tão
mau, como alegado por tantos, porque nunca se julgaram os responsáveis vivos,
pela sua existência e práticas (nem sequer à revelia)?
3º- Quais as principais razões,
assumidas inicialmente pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), para a execução
do golpe de estado? Foram razões corporativas (isto é, do foro das FA)? Foi
concretamente o Decreto-Lei 373/73 que espoletou o golpe? Foram razões
políticas? Estratégicas? Sociais? Económicas? Quais e baseadas em quê? Foi por estarem cansados de fazerem a guerra?
4º- Que informação tinha o MFA
sobre a “luz verde” dada (solicitada?) pelo “Grupo de Bildelberg” numa reunião
ocorrida a 19/4/74, no Hotel D’Arbois, em Mégeve, nos
Alpes Franceses, propriedade do Barão Edmond Rothschild, na qual, entre outros
participou Joseph Luns – na altura, Secretário –
Geral da NATO – não sendo por acaso que uma esquadra da Aliança fundeou na
Barra de Lisboa no dia do golpe?
5º- Desde quando e porquê, o PCP
passou a tomar parte no golpe? Desde o “ensaio” ainda mal explicado, das
Caldas, a 16 de Março? Ou antes?
6º- O que fazia o General Costa
Gomes enfiado com a mulher no Hospital Militar da Estrela, no dia 25/4/74?
7º- Porque é que o Chefe de
Governo, Marcello Caetano, nunca deu ordens para conter o golpe e, à revelia do
que estava previsto nos planos de contingência da altura, em vez de se dirigir
para Monsanto, foi meter-se na “boca do lobo” do Quartel do Carmo? Porque
recusou a fuga do mesmo, que lhe foi oferecida e era viável? O que quis
negociar com o General Spínola?
8º- Porque é que 90% dos
efectivos da PIDE/DGS (na área de Lisboa) decidiram, após o golpe,
concentrar-se no local mais inverosímil para o fazerem, ou seja na própria
sede?
9º- Porque é que até hoje nenhum
governo português intentou uma acção, lógica e pertinente, que é a de solicitar
ao governo da Federação Russa, a devolução ou, no mínimo a cópia, de toda a
documentação desviada dos arquivos nacionais, nomeadamente da DGS, como não
parece haver qualquer dificuldade em provar?
10º- Porque é que o MFA – autor
do golpe – e a sua suposta cabeça dirigente, ou seja a, em cima-da-hora
formada, Junta de Salvação Nacional (JSN), cometeu a imprudência de não terem
declarado o “Estado de Sítio”, perdendo desse modo, e no próprio dia, o
controlo da situação?
11º- Ou terá sido de propósito?
12º- Idem para a leviandade com
que a nível militar se começaram a prender e a sanear uns aos outros, sem
qualquer regra ou justiça, estilhaçando dessa forma a hierarquia, a disciplina
e a organização das FA, sem as quais nada se podia levar a cabo? FA que,
recorda-se, estavam em campanha em três frentes!
13º- Ou também foi de propósito?
14º- Como e porquê deixaram o
Poder cair na rua, chegando-se ao ponto de colocar o país à beira da guerra
civil, a qual se evitou “in extremis”, a 25/11/1975?
15º- Porque se deixou entrar no
país e libertou das prisões, uma quantidade de gente de mau porte que,
recorde-se, não estava presa por delito de opinião, mas incorria em crimes do
foro militar, de delito comum e, até, de traição à Pátria, sem que os mesmos
ficassem a bom recato à espera de julgamento?
16º- O “granel” desculpa e
justifica tudo o que se possa passar?
17º- Como se pode intentar um
golpe de estado num país que, não estando oficialmente em guerra com ninguém,
conduzia extensas operações militares das quais dependia a salvaguarda de
grande parte do seu território e populações, sem pensar muito maduramente no
impacto que tal golpe podia ter naquilo que estava em jogo e era de longe, a
questão mais importante e delicada em que toda a Nação estava envolvida?
18º- Porque é que os mentores do
golpe (e seus seguidores) não conseguiram ou quiseram discernir e perceber, que
a defesa do Ultramar era distinta – por nacional – da simples mudança de um
regime ou sistema político?
19º- Porque se permitiu que a
obsessão política pela conquista do Poder se sobrepusesse a questões
fundamentais para o País (e ainda hoje assim acontece…) e se fizesse tábua rasa
dos meios para atingir os fins, muitos deles estranhos à matriz histórica,
estratégica e cultural de todo um povo?
20º- Como explicar, melhor
dizendo, como compreender que o que foi pensado para o dia seguinte – que é a
parte mais importante num golpe de estado, ou revolução – neste caso o que
estava condensado no Programa do MFA e na Proclamação da JSN ao País – nunca se
conseguiu pôr em prática?
Finalmente:
Como explicar que nenhum dos “3
Ds”, constantes do referido programa do MFA, a saber, “Descolonizar,
Democratizar e Desenvolver” tenha sido cumprido, ou dito de outro modo, tenha
seguido o seu curso, estando hoje o país que nos resta no perigeu do seu poder
relativo, desde que Afonso Henriques individualizou o Condado e na iminência de
desaparecer como entidade política autónoma e soberana, comunidade com
identidade própria e até em vias de extinção como povo com características
próprias (por via da demografia negativa, da emigração e imigração, só para citar
estas)?
Ou seja, e em síntese por demais
sintética:
1º- O “D” da descolonização resultou
numa desgraça inominável e na maior vergonha histórica, desde 1128, cuja
responsabilidade teremos que carregar como povo e sociedade organizada, para
todo o sempre. Tendo, além dos que ficaram deste lado do mar, desgraçado
sobretudo os portugueses dos territórios que abandonámos à sua sorte, os quais
em vez de descolonizarmos – uma operação já de si aberrante, para a
idiossincrasia da Nação Portuguesa, dadas as regras internacionais em vigor –
entregámos nas mãos de forças marxistas, e só a essas.
Perdemos “apenas” e em pouco mais
de um ano, cerca de 60% da população e 95% do território…
2º- O “D” da democratização está
consubstanciado numa Constituição enorme, errada sob muitos pontos de vista,
mal escrita, insensata e elaborada debaixo de condicionalismos vários. E, já
agora, anti – democrática…
De tudo resultou uma confusão
doutrinária de se ter considerado a Democracia em si mesmo, que ela não é, em
vez de um meio para se atingir as três aspirações “utópicas” do Estado, a
saber, Segurança, a Justiça e o Bem-Estar (por esta ordem); na ditadura da
partidocracia (com a agravante de o espectro político estar apenas representado
do “centro até à extrema esquerda”- terminologia serôdia que já devia ter
desaparecido há muito), baseada em partidos medíocres.
Partidos donde emanam políticos
cada vez mais impreparados, na sua maioria autênticos papagaios troca-tintas
em que já ninguém acredita nem suporta. E que se blindaram no poder.
Partidocracia que degenerou
rapidamente em plutocracia, “corruptocracia” e “bandalheirocracia”!
O fulcro da Democracia acaba por
ser a representatividade. Pergunta-se, hoje em dia, quem se sente representado?
3º- Finalmente o “D” do
desenvolvimento.
Portugal era um país que em 24/4/1974
tinha estabilidade económica, financeira, social, com uma administração financeira
honesta e regrada; onde todas as instituições funcionavam; em que a economia
crescia 7% ao ano (no Ultramar era mais); possuía a 6ª moeda mais forte do
mundo, escorada e protegida por 850 toneladas de ouro e 50 milhões de contos;
tinha acesso ao crédito que quisesse a juros baixos; gozava de pleno emprego.
Conseguia tudo isto, note-se, ao
mesmo tempo que tinha 230.000 homens em armas, em quatro continentes e quatro
oceanos, dos quais 150.000 permanentemente empenhados em operações de contra-guerrilha,
em três teatros de operações distintos a milhares de quilómetros da sua base
logística principal, com muito limitado apoio aliado e apenas com generais e
almirantes portugueses.
Orgulhosamente só (frase por
norma tirada do contexto).
E sem dever nada a ninguém.
Como explicar que um país nestas
condições, 40 anos depois dos “amanhãs que cantam” e das mais floridas
esperanças, esteja no actual estado de banca rota e muito “acompanhado”
internacionalmente, por tantos países e instituições que nos desqualificam,
publicamente, no concerto das Nações (até nos chamam “PIGS”)?
Esteja, também, ocupado politica,
económica e, sobretudo, financeiramente, por uma “Troika” (que ninguém sequer
conhece bem, ou o que representa), depois de já ter passado por duas outras grandes "aflições" financeiras (em 1978 e 1983), que obrigaram à intervenção do FMI; e depois da
adesão à CEE, em 1986, ter entrado dinheiro no país à média de dois milhões de
contos/dia, de fundos comunitários?!
E estamos hoje ainda a tentar
evitar a banca rota à custa de sacrifícios de quem não é responsável maior por
tudo o que se passou; deixando incólumes os responsáveis (que nem um pedido de
desculpas se atrevem a dar), e da alienação contínua da soberania, das
empresas, do património, da venda da própria terra e dando até início a um
processo de prostituição colectiva, de que a outorga da nacionalidade a ricaços estranhos
que queiram investir por cá algumas centenas de milhares é já exemplo eloquente!
Já me esquecia, estamos a sair da
bancarrota à custa de fazermos mais empréstimos, com os quais ganhamos tempo
para tentar pagar uma dívida e os juros da mesma – que ninguém sabe quanto é –
mas que seguramente não iremos pagar nos próximos 100 anos…
Em que opróbrio de país nos
tornámos?!
Foi para isto que se quis a tão
decantada Liberdade – um conceito absoluto, porém de aplicação relativa –
entusiasticamente tida como a principal conquista de Abril?
Ao fim de 40 anos celebra-se o
quê?
João José Brandão Ferreira
Cidadão Português (nada, mesmo nada,
satisfeito)
(Beneficiário nº 11337317689 da CGA)
Tempo para recordar dois ilustres escritores;
ResponderEliminarMiguel Torga escrevia em junho de 1975:" A mais imunda vasa humana a vir à tona, as invejas mais sórdidas vingadas, o lugar imerecido tomado de assalto, a retórica balofa a fazer de inteligência"
Jorge de Sena, de regresso aos EUA pouco tempo depois de Abril,desabafava à esposa:"A revolução acabou, naquele país só há ódio"
Ao fim de 40 anos celebra-se o quê, meu tenente coronel?
A cilada ganha pelo gang ultra-mafioso que passou a dominar com máscara democrata - até prova em contrário.
Para essa gente: "Até quando,traidores, continuareis a abusar da nossa paciência?"
D.Pinto
Muito informativo.
ResponderEliminarPerguntas que não responderam, nem responderão nunca, porque há muita coisa que não querem que se saiba.
ResponderEliminarUm abraço
Joaquim Mexia Alves
Uma pessoa até fica sem fôlego!
ResponderEliminarA melhor forma de celebrar os 40 anos de Abril, para que a data seja respeitada, seria que o país respondesse às questões aqui postas. Agora! Já deviam ter sido há muito esclarecidas: ter-se-ia evitado, penso eu, tanta baixeza política!
P.S. neste quadro de miséria total, o artigo não poderia ter começado melhor: com a inacreditável declaração da presidente da AR. Também por aí se vê...
Muito bem sr Coronel,só se perdem as que caiem ao chão como se costuma dizer.Curiosamente hoje parece que há uma reunião "de afectos"(vejam bem)entre a representante do inconseguimento e os representantes do 25 de Abril.
ResponderEliminarAinda há gente que pense, e fale claro. Absolutamente de acordo, meu Ten.Cor., e estamos consigo.
ResponderEliminarSenhor Tem. Cor. Brandão Ferreira,
ResponderEliminarNum Pís digno e sério, este seu texto seria objecto de discussão num qualquer "Prós e Contras" com participação de todas as correntes, mesmo que houvessem umas estaladas pelo meio, que ainda falta serem dadas, para que o "povo" começasse a perceber o que lhe andam a esconder há 40 anos.
Não se cale.
Melhores cumprimentos,
Miguel Sanches
estou plenamente de acordo,com tudo o que o senhor disse,sou um combatente como muitos,e vejo este pais cheio de oportunista e vendilhões.
ResponderEliminarA verdade é como o azeite, vem sempre ao cimo. Muito obrigada Sr. Tenente Coronel, bem haja.Pode ser que os jovens que lerem o seu texto possam, finalmente, saber porque se fez, realmente, ou pelo menos informarem-se devidamente. Por favor continue a publicar estas verdades. Pela minha parte fico feliz por ainda haver militares como o senhor.
ResponderEliminarMais uma vez muito obrigada.
Maria João Seixas Quinhones de Magalhães Mota (filha do falecido Coronel de Infantaria Emiliano Quinhones de Magalhães e ex-aluna do Instituto de Odivelas)
Exmo. Sr. Ten. Coronel,
ResponderEliminarApoio incondicional às sua palavras.
Há 40 anos q vivemos numa ditadura de direitos e liberdades, q não é outra coisa, senão privilégios e regalias para uma minoria por um lado, e por outro lado, faltas de educação, ausências de carácter e de princípios e carência de cidadãos com miolos....
Por mim celebrarei o dia 24 de Abril como o dia da "Saudade"...!
Saúde!
Melhores cpts,
alexandra m. souto
Não houve Revolução no 25 de Abril de 1974. Houve tomada do Poder. E é com esta base que os sucessivos "Executivos" deixaram cair o conceito de Governar e de Governo para se auto intitularem de PODER.
ResponderEliminarÉ só o que sabem ser. Lamento tal postura, pelo nosso País e pela nossa Pátria que "eles" revelam o seu total desconhecimento.
A Pátria é o Povo com os seus Valores.
Santos Oliveira
Brilhante! Se não se importar, vou colocar este texto no meu blogue.
ResponderEliminarCumprimentos.
Sr. Tenente-Coronel, eu não concordo o 100%, mas sim a 200%! Palavra por palavra!
ResponderEliminarJá agora deixo aqui um de minha autoria:
http://www.pnr.pt/mensagem-do-presidente/presidente-aos-nacionalistas-abril-de-2014/
Ontem, o PNR esteve numa acção de protesto à porta da AR, tendo vaiado todos os senhores da situação à medida que saiam.
Só há (obviamente!) uma solução para Portugal que é o nacionalismo. E essa passa pelo apoio ao PNR.
(desculpe a propaganda aqui, mas creio que há muita gente descontente - e com razão! - e que pensa como nós, mas que nem sonha que existe um partido que as representa)
Meus parabens ao Tenente-Coronel Brandão Ferreira, o qual sempre apoiarei pois demonstra Carácter e Honestidade, além de Coragem para denunciar esse Regime abrileiro podre. Questões que nunca foram respondidas, pois os traidores não teem sequer Defesa perante o estado em que deixaram Portugal, nesses 42 anos.
ResponderEliminarBoa tarde Maria e Magalhães Mota,
ResponderEliminarSou um investigador em Históra sobre a guerra colonial portuguesa e interesso-me a figura do seu pai, o oficial Emiliano Quinhones de Magalhães. Você seria disposta para me ajudar a fazer avançar as minhas investigações nessa matéria.
Muito Obrigado,
Mehdi Djallal