Em 2006 fui convidado para fazer uma alocução relativa à data do 1º de
Dezembro de 1640, na portuguesíssima terra de Santo Aleixo da Restauração,
data que a então Presidente da Junta de Freguesia em boa hora quis assinalar
e que, infelizmente, o seu sucessor logo deixou cair...
Junto as palavras que então proferi em pleno centro da aldeia, e que julgo agora ainda mais actuais dado o agravamento da desgraçada "crise" que o nosso país vive e a atitude miserável de um governo "tresloucado" em ter acabado com o feriado nacional que assinalava aquela data. E cuja génese tinha antecedentes desde o mandato presidencial do Dr. Jorge Sampaio."
Sobre o evento maior que originou o feriado do dia 1º de Dezembro, não deu a comunicação social qualquer notícia, limitou-se, porém, a fazer eco do silêncio que todos os órgãos de soberania decidiram dedicar ao assunto.
Sem embargo, na pequena povoação de Santo Aleixo da Restauração, no
interior do Portugal profundo, a data não passou despercebida aos habitantes locais,
que a comemoraram com dignidade, por iniciativa da autarquia local.
Aqui ficam algumas das palavras então proferidas.
Não temos soldados destros, nem tantos capitães experimentados, faltam armas, munições e petrechos de guerra; que de nenhuma cousa destas ha o número que convinha não obstante tudo isso, afirmo como Senhor, que basta a união das pessoas para suprir todas essas faltas”.
Não temos soldados destros, nem tantos capitães experimentados, faltam armas, munições e petrechos de guerra; que de nenhuma cousa destas ha o número que convinha não obstante tudo isso, afirmo como Senhor, que basta a união das pessoas para suprir todas essas faltas”.
Fr.Cristóvão de Lisboa, 16/12/1644
Caros concidadãos de Santo Aleixo:
Passaram 366 anos desde a data em que voltámos a querer escolher ter
governantes portugueses a dirigir os destinos da velha casa Lusitana, e a afirmarmo-nos
como Nação politicamente individualizada na comunidade internacional. Tudo na
senda iniciada no
Campo de São Mamede, no longínquo dia 24 de Julho de 1128.
Essa decisão, eminentemente patriótica, preparada pelos 40 Conjurados, foi
difícil e arriscada e custou-nos uma longa guerra de 28 anos, de muitas
batalhas políticas, diplomáticas e militares, penosas e árduas, que
empobreceram o país, causaram grandes danos materiais e custaram a vida a
muitos milhares de antepassados nossos. Alguns deles pisaram o chão onde agora
estamos.
Devemos curvar-nos perante a sua memória.
E tudo isto porque o ideal nacional calou mais forte; a ideia da
independência superou os desânimos e amarguras e o desígnio da libertação da
opressão e da ignomínia, multiplicou as forças e o ânimo.
É isso que, singelamente, hoje aqui se comemora.
Sendo as comemorações nacionais, elas repartem-se por vários locais e
também neste portuguesíssimo torrão que tem o significativo nome de Santo Aleixo
da Restauração!
Pretendo, por isso, começar por saudar a Senhora Presidente da Junta de
Freguesia e toda a sua equipa, por levar a cabo esta iniciativa.
Não deve a mesma ser interpretada como manifestação deslocada de passadismo
histórico; antes vista, como lembrança saudável de eventos que moldaram a nossa
identidade como povo e apuraram a nossa cultura.
Evocar aqueles que de entre nós se destacaram pelo seu valor, é uma prova
de sensatez, pois cimenta a nossa coesão, que o seu exemplo escora e nos aponta
referências para o futuro.
Evocar aqueles que sacrificaram a vida, fazenda e saúde na defesa da nossa terra,
não precisa de justificação. É, simplesmente, nosso dever fazê-lo. Este dever
tem que ser passado de avós para netos.
Um argumento que vejo esgrimir por políticos e comentadores vários, contra este
tipo de cerimónias - não faz sentido, então, manter os dias feriados se não
comemoramos o que lhes deu origem - tem a ver com as eventuais ofensas que
terceiros possam sentir.
Tal pensamento é uma verdadeira falácia que não tem razão de ser.
O que estamos aqui a realizar é um assunto nosso, é um assunto de família,
de uma família antiga, com grandes tradições. Não é contra ninguém é,
simplesmente, a nosso favor. E, caros concidadãos, acreditem que os
estrangeiros não têm pejo algum em comemorarem o que muito bem entendem sem se
preocuparem minimamente connosco. E se, por acaso, alguém não gostar, paciência,
é o preço – se algum - que temos de pagar por sermos livres e independentes.
Amigos de Santo Aleixo:
Estive a ler a vossa História que remonta ao ano de 1542.Quero, como português,
neste inicio do século XXI, saudar-vos e aos vossos antepassados, sobretudo
aqueles que se cobriram de glória para manterem a vossa e nossa terra, em mãos portuguesas,
em 1641,1644 e 1704.Caso assim não tivesse ocorrido, ainda hoje estariam, porventura,
cativos como está, para nossa vergonha e opróbrio, a vila de Olivença e o seu
termo.
Sempre o nosso país passou por vicissitudes e sempre tivemos que viver com
a espada numa mão, o arado na outra e um crucifixo ao pescoço.
Poderão pensar que os dias de hoje são diferentes, mas a essência das
coisas mantêm-se, não muda. Gostaria que meditassem nisto.
A Independência de Portugal passa pela independência de cada um de nós:
independência económica, financeira, cultural, psicológica, etc., conhecimento
das coisas e da vida, e carácter para nos afirmarmos e mantermos.
Em simultâneo teremos que reter e desenvolver a capacidade para nos
organizarmos e trabalhar, tanto em família como em sociedade, mantendo os laços
e objectivos comuns, que nos unem como Nação. Só assim não nos diluiremos um dia,
numa qualquer organização internacional onde nos queiram enredar.
Por isso, se quisermos compreender a catástrofe iniciada com a entrada do
Duque de Alba em Lisboa e finalizada nas Cortes de Tomar de 1581 (embora a Ilha
Terceira só se tenha rendido em 1583), teremos que responsabilizar, em primeiro
lugar a nós próprios, pois foi a nossa incúria, ignorância e cupidez, os
principais factores que nos agrilhoaram 60 longos anos. Não foram 60 dias.
Portugueses de Santo Aleixo:
Não é hoje Filipe I que está sentado no trono em Madrid. Mas atentemos que
se ao longo das sucessivas gerações de portugueses foi passando o ideal da
independência (embora os iberistas se continuem a manifestar e até já chegaram,
aparentemente, ao Governo!) é natural esperar-se que na descendência Castelhana
não tenha esmorecido o desejo de acrescentar mais uma província, ou autonomia à
Espanha.
Lembro-vos a célebre frase de José de Carvajal y Lencastre, Ministro de
Estado ao tempo do Rei Fernando IV, de Espanha:”A perda de Portugal foi de puro sangue e, por isso, o ministro
espanhol que não pense constantemente na reunião, ou não obedece à lei ou não
sabe do seu ofício”.
Elucidativo é, também, o que o ministro dos negócios estrangeiros espanhol
Fernando Moran afirmou logo na primeira cimeira Luso-Espanhola – a que,
inexplicavelmente, os governantes portugueses permitem que se chame “Ibérica” -
ocorrida a seguir ao 25 de Abril de 1974, e cito: ”A reconversão histórica de Portugal passa pela continentalidade e, sem
dúvida, pela Europa, salvo se, como fez desde Aljubarrota aos Tratados de
Windsor, procurar converter-se na base de desembarque de uma potência
ultramarina e salvo se enfeude aos EUA e à NATO”.
Caros concidadãos:
Até aos nossos dias pesou, sobretudo, sobre nós a ameaça militar e diplomática.
Os tempos mudaram e essa ameaça passou para terceiro plano. A ameaça agora é
global e vai do futebol às finanças; da agricultura ao turismo e às pescas; da
cultura ao comércio. As defesas com que contávamos, a fronteira, a moeda, alfândegas,
leis nacionais, apoios externos, etc., estão hoje diluídas ou, simplesmente, desapareceram.
E se, em1640, interessava mais internacionalmente, a existência de dois ou
mais estados na Península Ibérica, esse interesse diminuiu substancialmente ou
desapareceu nos dias que correm.
Aliás, tudo se faz para confundir a
opinião pública no sentido de considerar a Península ou a “Ibéria”, como um
todo político, quando ela apenas representa uma realidade geográfica!
A ameaça que paira sobre nós não é fictícia, e é hoje muito mais perigosa
porque é mais dissimulada, embora não prescinda igualmente de quintas colunas e
ingénuos úteis.
Por isso, a muitos, é difícil
aperceberem-se do que se passa e acreditarem nos perigos que o futuro nos possa
reservar.
Lamentavelmente a comunicação social de que somos servidos e onde, aliás, as
empresas espanholas não param de investir, liga muito pouco a eventos como este.
Prefere os “fait - divers”, os assuntos menores, as tricas dos senhores do futebol,
os amores e desamores dos personagens das novelas, etc.
O “negócio” em que tudo isto se transformou,
não parece compatível com o conhecimento e a cultura...
Meus caros concidadãos deste cantinho grande de Portugal:
Nós não podemos ter dúvidas ou ser ingénuos: a independência e a soberania
são os bens mais preciosos que temos a seguir à vida. Elas conquistam-se e
defendem-se. Não se discutem nem referendam!
Tão pouco, carecem de ser aferidas em sondagens tolas, que escondem desígnios
ínvios ou apenas expectativas de maiores tiragens...
A existência de Portugal como individualidade politica e identidade
cultural própria – e não poderá haver uma sem a outra - sempre exigiu um preço
muito elevado em vidas, em haveres, em sacrifícios, em trabalhos e, até, em
sujeições e afrontas.
Este preço vai continuar a ser cobrado.
A questão que se põe é esta: teremos nós a estamina e o querer para nos
mantermos neste desiderato? Teremos nós a sageza e a coragem de adequarmos a
organização política do Estado às necessidades de cada momento e sabermos
escolher a liderança mais capaz de nos guiar no nosso destino de portugueses?
É este o desafio que deixo ao vosso pensamento.
É mister concluir.
Na certeza de que, em Madrid, os ministros obedecem à lei e sabem do seu ofício,
torna-se necessário lembrarmo-nos e lembrar-lhes o exemplo de Frei Heitor Pinto,
patriota sem mácula e que, por isso, morreu miseravelmente numa masmorra, em Madrid,
e que afirmou:”El Rei Filipe bem poderá
meter-me em Castela, mas Castela em mim, é impossível”.
Comemorar o 1º de Dezembro é uma reafirmação do nosso querer colectivo. Deve
fazer parte da cultura nacional até se tornar um acto reflexo.
Hoje é, pois, dia de recordar varões
insignes desta terra, como Martim Carrasco Pimenta, Aleixo Carrasco. Lopo
Mendes Sancas, João Mendes Sancas, Lopo Caeiro Sancas, Pedro Bacias, Frei
Pedro, o Prior Pedro Carrasco e muitos outros e outras, que se destacaram nas Guerras
da Aclamação e que fizeram jus às palavras do cronista António Alvares:
“E os de Santo Aleixo responderam que
não desamparariam o lugar, porque lhes não parecia honra do Reino, antes se
ficavam aparelhando para o defender e ficar, se fosse necessário por serviço do
seu Rei, sepultados entre as ruínas de suas casas porque, com isto, quando
perdessem as vidas salvariam as honras, que mais estimavam”;
“E só em não perder a honra reparavam”;
“E como Lopo Mendes quisesse levantar
bandeira branca e pedir quartel, as mulheres que estavam dentro no reduto, que
em outras partes costumam ser ocasião de se entregarem praças, lho não quiseram
consentir e, pegando na bandeira, lha fizeram abaixar”;
“E quiseram mais morrer livres e
honrados que viver cativos e abatidos”.
O meu bem-haja à população de Santo Aleixo da Restauração, o qual só pode
ser ultrapassado por um grande VIVA PORTUGAL!
Este pais está pejado de traidores iberistas, a prova está no facto deste feriado ter sido suprimido. O dia do ajuste de contas vai chegar e com estronde. Pode assentar!
ResponderEliminarCumprimentos.