“O Regime (republicano) está, na verdade, expresso
naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados morais,
nos serve de bandeira nacional – trapo contrário à heráldica e à estética, porque duas
cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que
se pode inventar em cor. Está ali contudo a alma do republicano português – o
encarnado do sangue que derramou e fizeram derramar, o verde da erva de que,
por direito mental, devem alimentar-se.”
Fernando
Pessoa, “Da República”.[1]
O dia 5 de Outubro era, desde 1911, feriado nacional.
Era feriado por ser, de facto,
uma data incontornável da História Nacional e porque os vencedores dessa
contenda política foram os republicanos.
Venceram, não porque as razões e
o “modo faciendi” que levaram ao golpe de estado que impôs o novo regime, fossem
razoáveis, representassem alguma mais-valia ao governo da cidade, corrigissem
injustiças ou tiranias, ou acrescentassem algo à soberania e grandeza da Nação.
Resultou apenas de uma ilusão ideológica e de ter havido
umas centenas de republicanos (se é que sabiam o que isso significava) que não
se importaram de arriscar conforto, fazenda e até a vida, por uma causa em que
acreditavam e não ter havido idêntica vontade do lado monárquico.
É só neste âmbito que os
republicanos tiveram mérito e, por isso, ganharam.
É no que dá as questões
mesquinhas da luta política e das ambições humanas e não aprender nada com os
erros e acertos da História e da evolução das ideias políticas.
Assim se destruiu uma instituição
(a realeza) com sete séculos de História e que nos acompanhava desde o início
da nacionalidade, fazendo convergir na Família Real os males da Pátria, quando
a responsabilidade se encontrava no sistema político que vigorava e nas pessoas
que dele se serviam, em vez de servir.
Muito semelhante, aliás, com a
actualidade, só que neste momento não há “monarca” onde fazer confluir o
descontentamento…
O Professor Salazar, que de
republicano não tinha nada – acabou por nunca pensar seriamente em restaurar a
Monarquia, não só porque o equilíbrio das forças políticas e sociais não o
aconselhava como, sobretudo, porque os monárquicos nunca se entenderam – causa
que já tinha sido a principal razão da sua derrocada – e nunca surgiu um líder
à altura.
Além do que, a estrutura do
Estado Novo não deixava de ser uma espécie de Monarquia sem o ser, em que o Presidente
da República fazia figura de Rei Constitucional e o Presidente do Conselho
dispunha de poderes alargados, porém longe de “absolutos” – em que cada órgão
se sustentava mutuamente – e em que o Parlamento estava mais próximo das Cortes
de antanho do que daquelas forjadas após a Revolução Francesa.
Não se pode dizer que a fórmula
não tenha sido engenhosa.
Infelizmente o regime estava demasiado dependente do brilho
de um homem que morreu sem descendência…
Deste modo a data de 5 de Outubro
foi-se mantendo como feriado, sempre com comemorações discretas até que um
governo, sem a mínima noção do que anda a fazer, decidiu que a data deixasse de
ser feriado (para se poupar uns cobres à pala da “crise”!), mas em que os
órgãos de soberania – estes sim, orgulhosos herdeiros da I República – fizeram
gala em continuar a comemorar, embora a custos reduzidos como o estado das
finanças públicas impõe (para alguns).
Daí a coisa ter passado quase
despercebida, não fora uns apupos exteriores.
O que nos parece estar
verdadeiramente em causa, independentemente da data – uma data que divide os
portugueses – ser considerada feriado ou não, é o modo como se a vive.
Ora o que não faz sentido algum,
é comemora-la pela simples razão que os erros não devem ser comemorados, muito
menos exaltados.
A data não deve ser apagada da
História – como algumas pessoas ou governos de matriz totalitária têm tentado
fazer ao longo dos tempos, com outras efemérides ou figuras – mas sim lembrada,
refletida e devidamente enquadrada, de modo a ser correctamente interiorizada
no todo nacional.
Do mesmo modo que não se comemora
o início de qualquer guerra civil (quanto muito o seu termo), antes se deve
aprender a evitar que se repita…
Comemorar o 5 de Outubro tem sido
o mesmo do que existir uma família em que um dos filhos mata o pai (ainda por
cima um bom pai) e todos os anos a mesma se reunir para festejar o evento, não
trabalhando e abrindo garrafas de espumante...
Devíamos, porventura passar o dia
em recolhimento, em templo, meditando e pedindo perdão pelos pecados que os de
agora não cometeram, mas herdaram.
Seria a melhor maneira – diria
única – de assinalar tão funesta data.
Veremos qual o fulgor dos poderes públicos (que há 39 anos
deixaram de a festejar) relativamente ao 1º de Dezembro (de 1640), essa sim,
uma efeméride luminosa da nossa História que um decreto-lei aleivoso aboliu
como feriado.
Pode ser, desta vez,
“constitucional”, mas não deixa de ser um verdadeiro crime de lesa-Pátria!
[1] Porque será que raramente se transcrevem as frases politicamente incorrectas (e são muitas) de tão incensado poeta?
Sr. TC Brandão Ferreira
ResponderEliminarEsquecer o 1º de Dezembro de 1640 é uma falta imperdoável a qualquer português.
Mas infelizmente, segundo algumas estatísticas, que de vez em quando são divulgadas, cerca de 1/3 dos Portugueses aceita ou tolera a formação de uma só nação na Península!... e muitos dos outros 2/3 aceitariam por serem da raça dos inertes, dos indiferentes e dos incultos, desconhecedores da História pátria.
Estes tanto lhes faz, são do tipo: "Maria vai com as outras...".
Isto é grave, muito grave.
Bem sabemos que depois de 1580, muita da fidalguia portuguesa traiu a nossa Pátria mas não creio que chegasse aos 33%.
Ora assim, com massa desta, acho difícil continuar uma Nação velha de quase nove séculos.
Os interesses imediatos, o desamor ao nosso torrão, a emigração forçada,a maneira desconcertante como se aceita a mentira sem a contestar, enfim a pusilanimidade que grassa neste Povo, faz-me pensar que não quer senão o grilhão.
Deplorável, simplesmente deplorável.
Manuel A.
Não esquecendo o 5 Outubro de 1143 que esse é que devia ser comemorado.A não ser que a noção de nação já não nos(povo em geral)diga nada.
ResponderEliminarSenhor T.C. Brandão Ferreira
ResponderEliminarA "miopia" parece estar a alastrar na classe dirigente portuguesa:
O Senhor Presidente da República içou a Bandeira Nacional ao invés no ano transacto.
O Senhor Primeiro Ministro discursou recentemente, diante de uma Bandeira de contrafacção.
http://www.tvi24.iol.pt/503/politica/bandeira-portugal-mexico-passos-coelho-visita-tvi24/1500212-4072.html
Parece-me não ser descabido sugerir:
1º- Que os nossos Governantes se acautelem destes desaires, recebendo lições de: o que é e como se respeita a Bandeira Nacional, dadas por alguma entidade Militar se ainda a houver para o efeito.
2º Quando os nossos Governantes se deslocarem a qualquer parte em visitas oficiais, nomeadamente ao Estrangeiro, deviam fazer-se acompanhar sempre da Bandeira Nacional OFICIAL e apresentá-la, quando necessário.
Assim se evitavam situações constrangedoras como aquela que aconteceu outrora, quando o Símbolo de Portugal foi espezinhado como um tapete, em Inglaterra, por outro "míope".
Manuel A.
Ex. mo Sr. Coronel Brandão Ferreira,
ResponderEliminarInfelizmente o mal da Nação portuguesa não vem daí, não de 1910, mas sim, de 1834, ano em que foi implementado o Liberalismo Maçónico, importado de França, pela força das armas estrangeiras da Quadrupla-Aliança. A partir desse fatídico ano, começou Portugal a entrar em declínio e nunca mais parou, a não ser durante o interregno do Estado Novo, claro.
Um respeitoso abraço,
Nuno Ramos.