quarta-feira, 26 de junho de 2013

PORTUGAL E O GRUPO DE “BILDERBERG”

“Esta mascarada enorme com que o mundo nos aldraba dura enquanto o povo dorme. Quando acordar acaba.”
António Aleixo
 
A análise que fizemos, em pretérito artigo, sobre o último “Dia de Portugal” o que, pelo andar da carruagem será o próximo feriado a ser extinto - Camões também disse que morria com a Pátria - não ficaria completa se não nos debruçássemos sobre a derradeira e badalada reunião do Grupo de Bilderberg (GB), para a qual foram convidados os Drs. Paulo Portas e António Seguro.

    Não pretendo fazer um levantamento das “relações” entre este grupo cheio de sumidades, que apelidam de reflexão, e o nosso país – que já tarda em ser escrito e conhecido – mas, tão-somente, refletir sobre este episódio.

    Acrescentaremos, apenas que, aparentemente, o GB, só começou a interferir – antes disso não se lhes dava confiança para tal – com o nosso devir colectivo, quando numa das suas reuniões (19/4/1974, ocorrida no hotel d’Arbois, em Megéve (Alpes Franceses), propriedade de Edmond Rotschild, se terá dado luz verde à alteração de regime em Portugal – coisa que, certamente, nunca terá passado pela cabeça de nenhum capitão de Abril…

    A partir daí – e por razões e processos que são objecto de especulação – foi alcandorado a uma espécie de “secretário” ou “representante permanente” do GB, na antiga Ocidental Praia Lusitana, o Dr. Pinto Balsemão, grande amigo dos Reis de Espanha, também convivas nestes eventos. Provavelmente desde 1983.

    É ele que escolheu a já longa lista de “convidados” portugueses (que se saiba nenhum recusou o convite) de onde, certamente, por coincidência têm saído quase todos os Primeiros -Ministros, desde então.

    Quem lá está agora foi excepção à regra e ou nos enganamos muito, ou já está selada a sua sorte e a da futura dupla que nos governará. Isto é, como os do “clube” nos governarão através deles…

    A reunião que decorreu entre 6 e 8 de Junho, no hotel “The Grove”, no Hertfordshire, a norte de Londres reveste-se, porém, de uma novidade que importa realçar: a de que foi a 1ª vez que tal evento, pelo menos em Portugal, foi amplamente noticiado, inclusive nas televisões, e em que se revelou a identidade dos participantes.[1]

    Até agora era tudo secreto e tudo se escondia, quanto muito falava-se à socapa e aparecia uma pequena notícia de duas linhas a um canto inferior de uma página de jornal, e “a posteriori”…

    O mais importante do que se passa, contudo, não é divulgado: a organização, agenda, qualquer ideia debatida e conclusões.

    Porque se terá mudado de estratégia? Só pode ser por duas razões: o terem ganho uma confiança e sensação de impunidade, que dispensa rodeios e, ou, por já não se conseguir impedir o total secretismo da coisa.

    Ora o que se passa levanta um conjunto de questões nada despiciendo, eis algumas:
 
  • Que organização é esta, quais os fins que persegue, a quem se liga e a quem obedece?
  • Que figura do Direito Internacional encarna, se alguma?
  • Alguém os elegeu? Como ficamos em termos de “Democracia”?
  • Quem os controla?
  • Como é que uma tal entidade se insere no quadro das Relações Internacionais?
  • Porque é que os governos dos países em que as reuniões têm lugar – já houve uma em Portugal, na Quinta da Penha Longa, de 3 a 6 de Junho de 1999 – as autorizam e a que título lhes montam e pagam, a segurança?
  • Quem é o Dr. Pinto Balsemão para fazer os convites que faz e como é que os convidados o reconhecem com autoridade para tal? Quais os compromissos a que se obrigam?
  • E são convidados a que título? Pessoal? Técnico? Político?
  • Será que a participação nestas reuniões é compatível com a função de Conselheiro de Estado?
  • Que explicação terá dado o Dr. Seguro, ao PS, para lá ir? Te - lo – á mandatado para fazer alguma intervenção?
  • E o Dr. Portas, sendo membro do Governo foi autorizado por este a lá ir? E quando voltou fez algum relatório sobre o que lá se passou, ou tirou uns dias de férias e foi dar um passeio?
  • O Parlamento é apenas uma marionete no meio disto tudo ou um depósito de putativos recrutáveis para futuros convites?
  • Já me esquecia, o PR que ainda tem uma palavra a dizer sobre Política Externa (o que, em boa verdade, Portugal deixou de ter, faz décadas) foi ouvido e achado?

    Tudo isto se passa como se fosse a coisa mais normal do mundo, quando o que na realidade acontece é que assistimos à subversão completa da soberania dos Estados e das Nações e onde o termo “Democracia” apenas serve de capa e moldura a um verdadeiro embuste político que, aliás, tem sido primorosamente perseguido desde meados do século XVIII!

    E nenhuma das possíveis respostas às perguntas que elencámos parece poder desmentir.

    Bem - vindos à realidade.

    Se gostaram, não se macem e deixem-se estar.



[1] Até o comentador-mor do reino se referiu ao mesmo!

sábado, 22 de junho de 2013

GUINÉ, GUILEJE, E O DESNORTE DO REINO

“O homem é o homem e a sua circunstância”
Ortega y Gasset

     Desde A. Henriques que há assuntos, na História de Portugal, mal arrumados. Alguns, até, de tão mal descritos, resultam em distorções e mentiras grosseiras.
 
    É o caso das últimas, e ainda recentes, campanhas ultramarinas em que a Nação Portuguesa esteve envolvida entre 1954 e 1975.
    E assim é, apesar do espaço temporal ser curto; haver muita gente viva que foi protagonista nos eventos; ampla documentação e excesso de meios de comunicação social.
    Entre os multifacetados aspectos que este longo conflito encerra, ganhou especial preponderância o teatro de operações da Guiné e, dentro deste, as operações que se desenrolaram no 1º semestre de 1973, em que se assistiu à maior operação da guerrilha, em toda a guerra. Esta ofensiva foi desencadeada pelo PAIGC e planeada e coordenada por instrutores soviéticos e cubanos e destinava-se a fazer “ajoelhar” militarmente, as forças portuguesas.
    Naturalmente o facto de o MFA ter nascido na Guiné; o protagonismo que o General Spínola – que acabou por ser o principal responsável pelo abaixamento do moral das NT, na Província – veio a ter em todos os eventos ligados ao 25/4 e posteriores; e ao mito que se veio a criar que a guerra na Guiné estava perdida são, seguramente, responsáveis por tal facto.
    No meio da ofensiva referida veio a ter destaque, pelas piores razões, o abandono do quartel e povoação de Guileje, no dia 22 de Maio.
    Piores razões, porque marca uma página negra da História Militar Portuguesa, dado que uma guarnição que estando longe de estar batida, quebrou o dever militar, ao abandonar a sua área de operações sem ordem para o fazer e sem razão que o justificasse. A única que o fez em 13 anos de combates.[1]
    O responsável directo por esta retirada foi preso em Bissau, ficando a aguardar julgamento em tribunal militar.[2]
    Desse julgamento, livrou-o o Golpe de Estado de 25 de Abril e o desnorte que se lhe seguiu, acabando o arguido amnistiado em tal processo. Ou seja, juridicamente a responsabilidade penal deixou de existir.
    O oficial em causa continuou a sua carreira militar e chegou a coronel.
    Depois de abandonar o serviço activo, escreveu um livro, profere conferências e entra em debates, no sentido de descrever o que se passou, explicar as razões por que tomou a decisão que tomou e insurgindo-se contra o processo de que foi alvo.
    Antes de entrar nesta última parte é mister fazer um brevíssimo enquadramento da situação ocorrida em Guileje.
    No dia 20 de Janeiro de 1973, o líder do PAIGC, Amílcar Cabral, um mestiço politicamente moderado (vagamente marxista), de cultura lusíada, foi assassinado em Conackri, por três elementos do mesmo partido.[3]
    Na sequência foram eliminados numerosos guerrilheiros e, até hoje, nunca se soube oficialmente os verdadeiros contornos da trama, tendo-se atirado para cima da PIDE/DGS a hipótese inverosímil, de estar por detrás desta morte.[4]
    A seguir foi congeminado um plano – seguramente com a ajuda de conselheiros cubanos e soviéticos – para se conseguir uma decisão militar, que viria a ser explorada politicamente (como acabou por ser, em diferido), com a declaração unilateral de independência, no Boé, a 24/9/73.
    Esta ofensiva teve algumas inovações: procurou-se utilizar o princípio da concentração de forças e atacar simultaneamente, numa espécie de tenaz, dois objectivos; as forças que atacavam seriam protegidas por uma nova arma anti – aérea, o míssil terra-ar “Strella”, o que permitiria anular a supremacia aérea nacional e, desse modo, fazer pender o potencial relativo de combate, a favor da guerrilha.
    O primeiro míssil foi disparado a 20 de Março, sem consequências. Porém a 25, um outro disparo abateu um Fiat, salvando-se o piloto por ejecção e posterior recolha no chão.
    Nas duas semanas seguintes foram abatidas mais quatro aeronaves tendo morrido quatro pilotos e cinco outros militares o que, naturalmente, abalou o moral das tripulações e passou a afectar o cumprimento de algumas missões, sobretudo por não se saber qual a arma e suas características, com que se defrontavam.[5]
    Os objectivos escolhidos para serem atacados, isolados e, eventualmente, tomados, foram as povoações de Guidage, na fronteira norte, e Guileje, na fronteira Sul.
    Estas povoações estavam defendidas com unidades tipo companhia, reforçados com outros (escassos) meios.
    Foram escolhidos pois estavam mesmo junto à fronteira, o que facilitava o ataque e o apoio logístico, além de que as equipas de misseis também não se deviam internar muito em território nacional, por imposição dos soviéticos que temiam que alguma destas armas caísse em mãos portuguesas.
    Guidaje começou a ser atacada em 8 de Maio e esteve cercada e debaixo de fogo, constante, durante um mês.
    Foram organizadas várias colunas de reabastecimento que foram duramente atacadas e, finalmente conseguiu-se reforçar a guarnição com uma companhia de paraquedistas. No entretanto montou-se uma grande operação que envolveu a totalidade dos efectivos do Batalhão de Comandos Africanos, sobre a base de Cumbamori, que apoiava as forças do PAIGC.
    Durante este período as NT sofreram 47 mortos e mais de uma centena de feridos.
    No meio desta ofensiva séria, foi atacado o aquartelamento de Guilege, no dia 18 de Maio, possivelmente como diversão, para obrigar a retirar forças que estavam a auxiliar Guidage.
     A guarnição do Comando Operacional 5 sofreu um morto e dois feridos.[6] O Comandante, Major Coutinho e Lima, decidiu ir a Bissau expor a situação. Regressou no dia seguinte e tomou a decisão de abandonar o quartel, levando consigo toda a população para Gadamael-Porto, uma povoação a poucos quilómetros.[7]
    Entretanto a FA, numa acção notável, conseguiu descobrir as características do míssil e adoptou um conjunto de procedimentos e tácticas que permitiram continuar a cumprir todas as missões, com constrangimentos vários.
    A FA perdeu, de facto, a Supremacia Aérea, mas não perdeu a Superioridade Aérea. E nunca mais nos abateram qualquer aeronave, à excepção de um Fiat, em 30 de Janeiro de 74, por incumprimento de uma regra de segurança. Estima-se que foram disparados mais de 40 mísseis.
    Que se terá passado então, para que o Comandante de Guileje tivesse apenas resistido quatro dias – com mais meios do que o seu camarada de Guidage – o TCor Correia de Campos, que se veio a revelar um valoroso Comte. - que chegou a estar no limite das munições e dos víveres?
    Aqui parecem entrar o que se designa por factores imponderáveis da guerra, tão ou mais importantes que os outros…
    Do que se sabe o General Spínola tratou mal o major e não lhe explicou nada. Podia ter-lhe dito qualquer coisa do género “a preservação da sua posição é fundamental para a defesa da fronteira sul, eu agora não lhe posso valer pois tenho todas as minhas reservas empenhadas (o que era verdade), volte para lá, aguente-se, que logo que possa envio-lhe auxílio”.
   Em vez disto tratou-o nos moldes em que os que o conhecem sabem, quando não gostava de alguém. A agravar as coisas, o oficial em causa, não era oriundo de Cavalaria nem frequentara o Colégio Militar…
    E quando se despediu dele humilhou-o dizendo-lhe “regressa a Guileje e daqui a um ou dois dias irá lá ter o Coronel Durão e você passa a adjunto dele”. Ou seja passou-lhe um atestado de incompetência.
    O Comte. do COP 5 voltou ao quartel apenas para saber pelos seus subordinados – em quem segundo o “jornal da caserna” não tinha grande comandamento – que o último ataque sofrido tinha destruído o posto de rádio e parte da artilharia.
    A retirada fez-se nessa noite, sendo feita em boa ordem de marcha e com todos os cerca de 500 elementos da população, o que prova três coisas:
    - Que o quartel não estava cercado (se estivesse a saída das tropas e população poderia ter sido um desastre!);
    - Que a população estava toda do nosso lado;
    - Que o PAIGC estava ainda longe de querer assaltar a povoação, já que só deu pela evacuação três dias depois (entrando quase todos em coma alcoólico depois de terem esgotado o stock de bebidas existente…).
    Mas prova ainda outra coisa: que a retirada já teria sido preparada do anterior, pois era praticamente impossível organizar tal operação na hora. Será que estariam à espera que Spínola autorizasse a saída? Até que ponto haveria acção subversiva feita por eventuais infiltrados simpatizantes, idos da Metrópole? Eis duas questões que seria interessante dilucidar.
    Resta ainda acrescentar que o quartel tinha uma pista; a FA garantia apoio pelo fogo de dia, com os “Fiat” e de noite com um “C-47” modificado, em bombardeamento de área; Guileje era o único quartel em toda a Guiné, que tinha abrigos em betão.
    Sofreu bombardeamentos com precisão (cerca de 36), porque o tiro era regulado por guerrilheiros infiltrados até perto do quartel, pois estes tinham liberdade de movimentos, por as forças lá aquarteladas não fazerem batidas fora do arame farpado (como, aliás, estava determinado e era do mais elementar senso táctico).
    Guileje tinha, porém, um ponto fraco: não tinha um poço artesiano, que lhe fornecesse água potável, a qual tinha que ser obtida a cerca de 2Km, o que permitia emboscadas às colunas encarregues dessa missão. As evacuações de helicóptero tinham, ainda, que ser feitas a partir de Cacine, pois a ida dos Al III a Guileje e Gadamael estava, temporariamente, suspensa por razões operacionais.
    Considera-se que as forças que defendiam Guileje não estiveram sequer perto, de não se puderem defender e nada justificava o seu abandono tão prematuro, que veio a causar algum pânico em Gadamael – Porto e poderia ter feito colapsar – por efeito de dominó – todo o dispositivo junto à fronteira - sul.[8]
    As forças do PAIGC reagruparam-se então em torno de Gadamael e atacaram-na fortemente, tendo a situação sido resolvida rapidamente por tropas paraquedistas, enviadas de reforço.
    Sem embargo de se gostar mais ou menos da atitude do Comandante – Chefe, ele era o responsável por toda a Guiné e era ele que tinha a visão global de todo o teatro de operações. E tinha a autoridade para tomar as decisões que tomou, sendo-lhe ainda lícito, sacrificar a guarnição de Guilege caso isso fosse importante para a salvaguarda do todo.[9]
    Como a consciência é o nosso último juiz, cabe sempre a cada comandante – e cada caso é um caso – face às circunstâncias, decidir o que, em última instância a sua consciência lhe diz, mas tem que, a seguir, se sujeitar às consequências dessa decisão.
   E não tem que levar a mal que, no caso vertente, se lhe tenha dado ordem de prisão e levantado um processo.
    O Dever e a Disciplina Militar assim o exigiam e só se deve lamentar que o julgamento não tenha ocorrido. E, nesse âmbito, só existe uma razão de queixa: contra quem o amnistiou.
    Ora este caso que devia ser, sem sombra de dúvidas, tratado em termos académicos, em fóruns próprios, a fim de reverter em ensinamentos para o futuro, tem sido transformado pelo seu protagonista – que ninguém tem maltratado nem acusado de nada - numa tentativa contumaz, não só de branqueamento da sua acção como a de que seja aceite o seu bom propósito e valor.
    Será que um dia destes vai requerer louvor e condecoração?
    As coisas estão, até, a entrar no campo do delírio, como se pôde constatar numa “mesa redonda”, que decorreu em Coimbra, no passado dia 23 de Maio, e para a qual se convidaram quatro coronéis do Exército, um ex-membro das “Brigadas Revolucionárias” e dois ex- guerrilheiros do PAIGC.[10]
    Um dos oradores foi, justamente, o antigo Comte. do COP5, que antes de falar se vestiu com um traje típico de indígena da Guiné – provavelmente o mesmo com que o agraciaram há uns anos atrás, quando foi a Guilege fazer “um frete” ao PAIGC - e não foi o único - que para ali “convocara” um “Simpósio Internacional”![11]
    O “nosso” coronel apenas seguiu, todavia, o exemplo da organização daquela “mesa sem bicos”, a qual no folheto de propaganda do evento, não encontrou nada melhor para pôr em fundo, do que a bandeira do PAIGC (quero recordar que o evento se passa em Coimbra – terra onde está sepultado o D. Afonso Henriques…) e uma foto de Amílcar Cabral que, em termos simples, não passa de um traidor português.[12]
    No dia anterior a esta redonda mesa, tinha estado previsto um colóquio promovido pela quase extinta Polícia Judiciária Militar, onde o caso de Guileje era tema, com direito a debate, e lá estava o nosso ex- comandante inscrito para o mesmo.
   Tem ainda participado em várias conferências, apresentações de livros, discussões, etc., onde raramente é contestado e escreveu um livro com a sua versão dos eventos, que teve o prefácio de um general de quatro estrelas e conseguiu o significativo feito, de o mesmo ser apresentado por um outro general de igual posto, num local que tem o nome de Academia Militar.
   Escola que, lembro, tem a peculiar missão de formar os futuros oficiais do Exército e da GNR.
   Parece que ninguém se deu conta do que se estava a passar…
    Há precisamente 39 anos que se passou a fazer o elogio da cobardia, em detrimento da coragem; promoveram-se desertores e traidores e depreciou-se (quando não se ridicularizou), heróis e patriotas; A corrupção passou a ser tolerada e a achar-se que era coisa de espertos; incentivou-se o vício e casquinhou-se a virtude; tem-se sido de uma compreensão dadivosa para com os “desvios”, ao mesmo tempo que se desdenha a “normalidade”; encolhe-se os ombros aos trapaceiros e fustiga-se o mérito, enfim, os exemplos são extensos e são todos maus.
    Chegou-se ao ponto de incentivar a morte e depreciar a vida, em troca do egoísmo, hedonismo e outros “ismos”, todos muito “progressistas” e modernaços…
    Não admira, pois, que estejamos mergulhados numa crise moral, política e social medonha, e á beira do desaparecimento genético (!), e que quase toda a gente confunde com uma crise económica e financeira, e apenas porque lhes estão a ir ao bolso!
    Fica-nos, contudo, e no meio disto tudo, uma dúvida existencial, que é a seguinte: Face ao descrito, o que se andará a ensinar aos cadetes e aos comandantes das actuais Forças Nacionais Destacadas?



[1] O Quartel de Copá, no Nordeste da Guiné, também foi abandonado, em 30/1/73, por metade da guarnição, mas a mesma foi obrigada a regressar, pela notável acção do Comte. do Batalhão, TCor. Jorge Matias.
[2] O militar ficou preso cerca de um ano, o que se estima ser um exagero - mesmo tendo em conta a situação da altura – para se instruir o processo e levá-lo a julgamento. E, possivelmente, não deveria ter sido o único a quem devia ter sido dado ordem de prisão…
[3] Amílcar Cabral foi, sem dúvida, o mais capaz líder guerrilheiro de todos os que combateram contra Portugal.
[4] O que, a ser verdade - convenhamos – seria mais do que legítima…
[5] Foram abatidos um Fiat, um T-6 e dois DO-27. Só a 8 de Abril se teve a certeza de que a nova arma era o SAM-7. Outros disparos foram efectuados, mas não se considera relevante a sua discriminação.
[6] O COP 5 dispunha de uma companhia de caçadores; um pelotão de milícias; um pelotão de artilharia, com peças de 11,4 e algumas autometralhadoras “Fox”.
[7] É importante referir que o Comte. do COP5, foi lá colocado, também, com a missão de disciplinar e levantar o Moral a uma tropa considerada fraca e desmotivada.
[8] Além disso a saída de Guileje não foi coordenada com Gadamael e esta povoação e respectivo quartel, não tinham condições mínimas para albergar tão elevado número de “fugitivos”. E não se sabe, exactamente, porque é que Guileje não foi reocupado, o que não favoreceu as nossas cores.
[9] No fim da ofensiva, nós ganhámos e o PAIGC perdeu, é bom que se diga. Mas o que se passou em Guileje causou um abalo muito grande no moral do conjunto das tropas e comandos. E pode ter contribuído fortemente para o início do MFA, na Guiné. Se assim foi, a vitória táctica portuguesa, resultou numa derrota estratégica, a prazo.
[10] Foi organizada pelo “Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra”, criado em 1998. O moderador foi o Prof. Dr. Luís R. Torgal, que tinha a missão impossível de dar a palavra, numa tarde, a sete oradores e promover o debate…
[11] O tema era a ofensiva sobre Guileje de que trata este escrito e decorreu de 1 a 7 de Março de 2008, promovido pela “Universidade Colinas do Boé” e pelo INED, uma das ONGs que por lá pululam.
[12] Amílcar Cabral tinha a nacionalidade portuguesa. Veja-se artigos do Código Penal de então e de agora…

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A DESTRUIÇÃO DOS COLÉGIOS MILITARES

“Se acham que a educação é cara Experimentem a ignorância”
(Lema do Ministério da Educação de Singapura)

Quando ainda jovem, jovem, aprendia português (de Portugal), lembro-me de um conhecido texto da saudosa “Selecta Literária” em que um velho pai, já no seu leito de morte, chamou à sua presença os sete filhos para lhes dar um último conselho para a vida: que fossem unidos para melhor se defenderem e prosperarem.

Para o ilustrar pediu a cada um que partisse uma vara que lhes dava, o que todos fizeram facilmente. A seguir juntou sete outras varas e fez o mesmo pedido. Desta feita nenhum dos filhos conseguiu partir o molho de varas…
 
Vem isto a propósito da última manifestação promovida pelas alunas e ex-alunas do Instituto de Odivelas (IO), no pretérito dia 14 de Junho, contra o encerramento deste colégio centenário. A concentração foi junto aos Jerónimos com subida até ao Ministério da Defesa, acabando com oferta de rosas ao ministro.
 
A ideia foi boa, já quase em desespero de causa, mas não parece – infelizmente - ter força para resultar. Justamente porque em vez de aparecerem as “sete varas” só apareceu uma…
 
Quer isto dizer que a luta pela defesa dos estabelecimentos militares de ensino tem que ser feita pelos três - IO, Colégio Militar (CM) e Instituto Militar dos Pupilos do Exército (IMPE) – com os respectivos corpos docentes, discentes, associações de ex-alunos, associações de pais e todos aqueles (entidades e pessoas individuais), que consigam mobilizar para a causa. Tudo em coordenação e complementaridade.
 
E tal, tragicamente, não tem sido feito ou conseguido.
 
Não vamos agora analisar quem tem mais ou menos responsabilidades neste âmbito – cada qual que meta a mão na consciência – o que interessa, é ter a noção de que o que se conseguiu até agora vai permitir, faseadamente, que o MDN (isto é, o governo) destrua três singularíssimas instituições que pela sua antiguidade e valor, já fazem parte dos esteios identitários da Nação! E ver o que se consegue fazer daqui para a frente.
 
E se não se conseguem organizar, ponderem a criação de uma estrutura que o faça, numa espécie de “confederação”.
 
A ofensiva, agora, é poderosa e conta com o alheamento do Conselho de Chefes Militares – que nunca se entenderam sobre o assunto – e com a demissão do Comando do Exército, instituição que tutela directamente os colégios.
 
Conta, ainda, com a “cobertura” da desculpa da “Troika” e da “crise”, e da máquina de calcular dos tecnocratas de serviço – que apenas vêm números (os que lhe interessam) – e que nem lhes passa pela cabeça que fechar 50 escolas secundárias, por ex., tem um significado e impacto perfeitamente distintos, do que fechar qualquer um destes peculiares estabelecimentos de ensino de excelência.

E creio que jamais perceberão, a não ser à “martelada”…
 
A piorar as coisas uma mão cheia de jornalistas contaminados pela demagogia corrente, ou arregimentados, alinham na campanha escrevendo e dizendo coisas parecidas a dislates, como foi o caso da jornalista, da RTP1, que cobriu a cerimónia militar do Dia de Portugal, em Elvas. Foi pena que nenhum dos três oficiais presentes a tivesse posto na ordem.
 
E os abutres que há muito aguardam pelos despojos, para passar a patacos o património pátrio, continuam à espreita…   
 
Passo a relatar um exemplo do muito que se deveria fazer se todos quisessem e conseguissem dar as mãos.
 
Todos os mobilizáveis deveriam concentrar-se, à vez, em frente a cada um dos Colégios, e fazer-se um cordão humano à volta dos mesmos. No final e frente à “Porta de Armas”, seria cravada no chão uma espada ou uma espingarda com baioneta, significando que “dali não passarão”!
 
Acompanhado de discurso e encenação a condizer.
 
A situação é grave e requer resistência passiva e, se necessário, desobediência civil.
 
Não se devem oferecer mais rosas ao senhor ministro (e como todos devem estar arrependidos, no CM, de o terem obsequiado com um “zacatraz” – desde quando se saúdam os algozes?). A não ser os espinhos das mesmas.
 
Ele não as merece, em primeiro lugar porque não as vê, pois é vesgo; não as cheira, pois usa perfumes caros; não as tacteia, pois é insensível; não as entende, pois está vidrado no erro e não vos agradece, pois está do lado do inimigo.
 
Ofereçam-nas antes, á Rainha Santa Isabel que ela, sim, as merece.
 
E talvez interceda para que entre luz neste governo de trevas.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Pergunta do Diabo

 
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domingo, 16 de junho de 2013

UM LAMENTÁVEL DIA 10 DE JUNHO

“Mouros em terra, Moradores às armas!”
Brado que se ouvia nas terras portuguesas desde o tempo do Rei D. Afonso II.
 
 
    O país está esquizofrénico. A esquizofrenia - cabe aqui lembrar - é uma doença mental que afecta o ser no seu todo. Infere-se, pois, que o País está doente (e vai a caminho de ficar ligado à máquina).

    Esta coisa de se comemorar o “Dia de Portugal” nunca teve grande brilho, nem foi devidamente organizada e sentida, apesar de já se terem ensaiado vários figurinos.

   Foi sempre algo sem uma tradição bem fundada.

   A razão maior - estamos em crer- tem a ver com o facto de não se haver determinado o dia em que devemos comemorar a nacionalidade, pois não há uma data fundacional definitiva.

    Poderia ser o dia 24/6/1128, data em que o Condado se autonomizou “de facto”;[1] o dia 25/7/1139, data em que Afonso Henriques foi alçado a Rei, na Batalha de Ourique; o dia 5/10/1143, data do Tratado de Zamora, que nos garantiu a independência da suserania regional, ou o dia 23/5/1179, data da Bula “Manifestis Probatum”, do Papa Alexandre III – a autoridade de Direito Internacional, da época – que reconhece a independência do reino de Portugal e o título de Rei a A. Henriques.

    Noutra perspectiva pode-se considerar a data de 1 de Dezembro de 1640, em que se restaurou a completa independência da Nação e se aclamou um novo Rei, natural do reino, fundador de uma nova dinastia nacional.[2]

    A ideia do dia 10 de Junho é de inspiração republicana e tomou forma aquando das comemorações do terceiro centenário da morte dessa grande figura lírica chamada Luís de Camões, que exaltou de uma maneira única e superior, a gesta histórica portuguesa.

    Como se desconhece quando o poeta nasceu fixou-se a data do seu passamento. Não é que Camões não mereça a distinção – sendo de lamentar que, raramente, se refira a sua condição de soldado e combatente pela Fé e expansão portuguesa – mas as razões em que se fundou a homenagem, de luta política entre monárquicos e republicanos, não parece ter sido a mais feliz…

    Mas, enfim, medrou o 10 de Junho como dia em que os portugueses passaram a comemorar serem portugueses!

    E esta constitui, já, a segunda reflexão: como poderemos comemorar ser portugueses se, desde o Tratado de Maastricht, passámos a tentar deixar de o ser, para sermos uma coisa qualquer indefinida, que tem a ver com o ser “europeu” e desde há dois anos a esta parte, nos visita um triunvirato que manda a gente fazer coisas que os Filipes nunca se atreveram a mandar?

    Por isso parece-me que devíamos ter posto a tónica nisto: o reganhar da independência e “armar-nos” para tal, sendo a alternativa estarmos de luto carregado, espiando os tremendos erros político – estratégicos (e morais), que fizemos nas últimas décadas e que uma nação antiga de 900 anos, jamais deveria ter feito ou deixado fazer.

    E não devíamos tirar o luto até ganharmos juízo.

    O PR passeia-se pelo País. Melhor fora que permanecesse em Lisboa.

    Lisboa é a capital e só excepcionalmente as cerimónias a deviam abandonar. Todavia, em todas as cidades e vilas do antigo Reino se deveria festejar o dia que nos individualiza no concerto das Nações (agora mais “organizações”…).

    Porém o que se passa é que o PR se passeia aleatoriamente pelo Continente e Ilhas, acompanhado pela sua Corte – o que nem sequer é barato – enquanto o resto do país vai a banhos ou encolhe os ombros. Há qualquer coisa de errado nisto…

   O actual PR tem a seu crédito, ter recuperado as Forças Armadas para as cerimónias oficiais do 10 de Junho, de onde estiveram, inacreditavelmente, arredadas desde 1974 – uma prova insofismável do desvario em que caímos!

    Contudo, a verdadeira homenagem aos combatentes mortos pela Pátria - sem o que Portugal não teria sobrevivido a 1128 – não é feita nas cerimónias oficiais do 10 de Junho, mas sim nos eventos junto ao monumento aos mortos do Ultramar, em Belém, organizados por um grupo de cidadãos e sem qualquer vínculo ou apoio do Estado.[3] A única cerimónia genuína e sã, que agora se realiza.

    Ou seja há dois 10 de Junho…[4]

    Entre muitas coisas inacreditáveis que se passaram este ano, desde que na mesma semana se inaugurou uma avenida com o nome de um traidor à Pátria, até haver um condecorado com a Ordem da Liberdade, que atentou contra ela (liberdade), ocorreu um episódio que se pode considerar o cúmulo do surrealismo político-diplomático.

    Ora meditem.

    No dia em que os órgãos de soberania comemoram o dia do país que andam a alienar a estranhos, entre assobios e apupos de parte dos populares presentes – o respeito esvaiu-se, mas também ninguém que não se dê ao respeito, pode esperar ser respeitado – aterrou em Lisboa a “Presidenta” do Brasil.

    Logo no dia em que se comemora um dos mais lídimos cultores da língua pátria, cai-nos em sorte um erro ortográfico…

    Bom, independentemente dos brasileiros gostarem de alçar a presidente pessoas menos recomendáveis para o cargo – como parece ser o caso – o facto é que a senhora aparece entre nós com esse título, e a título oficial. E pela primeira vez depois de ser eleita.

    Eis pois uma situação esdrúxula de todo: sabe-se à última da hora; o PR, o Governo, a AR, etc., estão todos em Elvas;[5] a senhora em vez de ter o PR a recebê-la, tem o MNE; havendo a festividade maior do País, a Presidente do Brasil – e digamos que não será o mesmo que ter por cá a mais alta figura do Burkina Fasso – não comparece à mesma, uma gafe inexplicável e inconcebível, a todos os títulos!

    E nem se digna colocar uma coroa de flores no túmulo de Camões, nos Jerónimos!

    E não comparece em Elvas porquê? A pergunta é mais que pertinente e óbvia e parece que ninguém se incomodou com isso. Não foi convidada? Não quis ir? Foi tudo feito em cima do joelho? Não tinha tempo para ir?

    Convenhamos que qualquer resposta é cada uma pior que a outra…

    A piorar as coisas, Dona Dilma ainda resolve receber o ex-Presidente Mário Soares e o líder do principal partido da oposição, antes de se encontrar oficialmente com os PR e PM, à revelia do protocolo de Estado, quer nacional quer internacional, numa atitude de afronta inqualificável.

    E a questão ainda se torna mais feia quando, aparentemente, a ex-revolucionária agora à frente de uma potência que virou capitalista, e a quem nunca se conheceu um gesto de simpatia por Portugal, fez um “tocar e andar” na Portela, para ir a uns saldos de empresas, que por cá se querem passar a trocos.

    Tudo selado em brindes sem lustre, entre o lustroso luxo da Ajuda!

    Pelos vistos estão todos bem uns para os outros.

    Alienam tudo estes desgraçados políticos que nos calharam na rifa eleitoral, entremeados por “inoculações” de entidades estranhas ao país, que fazem o Cristóvão de Moura parecer um menino de coro!

    É a EDP TAP, a RTP, a RDP, os CTT (!), etc., já falam na água – na água, ó pessoas da minha terra! Será que também vão querer que ponhamos as nossas mães e mulheres á venda?

    Também estarão a pensar aderir ao “Banco de Sementes” que se anda a preparar em Bruxelas, e que a ir para a frente, constituirá um dos mais notáveis instrumentos de escravidão jamais inventado?

    Infelizmente tudo o que descrevo dá bem o retrato em que caíu o nosso Portugal: uma verdadeira casa de passe política.

    Não é bonito de se dizer e é, seguramente, desagradável de ouvir. Sem embargo, representa a mais cristalina das verdades.

    Apetece dizer:

    “Mouros em terra, moradores às armas”!





[1] Esta data tem a grande vantagem de ser o nosso “grito de liberdade”; tudo aquilo que se passou nas outras datas, limitou-se a reconhecer o que foi conseguido naquele dia. Aliás, só se reconhece o que já existe…
[2] Data, que é bom recordar, foi a escolhida para ser o nosso 1º feriado nacional, que o actual governo, em mais um acto de crime de lesa-Pátria, decidiu aleivosamente abolir. Uma acção miserável de bastardia política.
[3] O apoio prestado pelos Ramos das FA e GNR, não é prestado enquanto estruturas do Estado, mas sim como emanação da Nação em armas…
[4] Ponhamos as coisas em perspectiva: todos os portugueses são importantes; todas as profissões são úteis; todos os sectores da vida nacional concorrem, ou devem concorrer, para o engrandecimento da Nação, a harmonia e justiça social e o bem - estar da população. Mas se não houver compatriotas dispostos a lutar e morrer em defesa da comunidade, todo o esforço e obras dos restantes é vão; ou pode estar a um passo de o ser.
[5] Onde teria ficado bem uma palavra lembrando a portuguesíssima terra de Olivença, cativa de Espanha desde 1801.