Garcia de Horta, 1563
Entre 3 e 14 de Março de 2013, decorreram singelas comemorações relativas ao 520º aniversário da chegada de Cristóvão Colon (CC) a Lisboa, no regresso da sua 1ª viagem oficial às Antilhas.
Poder-se-á perguntar porque se quis aproveitar este número aparentemente estranho e “pouco redondo” (520), para realizar semelhante evento?
A resposta é simples: até hoje nenhuma entidade oficial, em Portugal, as intentou levar a cabo e todas as iniciativas individuais ou de grupo que, porventura, tenham existido nunca chegaram a ser concretizadas.[1]
Deste modo, três prestimosas instituições da cultura, a Academia Portuguesa da História, a Academia de Marinha, a Comissão Portuguesa de História Militar (CPHM) e, ainda, uma jovem associação cujo objecto social é a divulgação, estudo e defesa da portugalidade do famoso Almirante - a Associação Cristóvão Colon - concertaram esforços a fim de darem corpo a uma evocação de que a esmagadora maioria dos portugueses não retém a mais pequena memória.
A iniciativa foi corada de sucesso como sempre acontece quando as boas vontades e intenções conseguem ultrapassar as discussões estéreis, os defeitos da natureza humana e os “velhos do Restelo”.
Poderá questionar-se se o evento, em causa, merece ser comemorado e com que relevo.
Podemos, simplesmente dizer, que esta viagem é um marco fundamental em todos os livros de História, em qualquer parte do mundo[2] ; que CC é uma figura incontornável da História Universal, cuja vida está envolta em mais mistérios do que certezas - e que entre estes mistérios existe este, que é o de ter uma explicação cabal das razões que o trouxeram a Lisboa e o levaram a ir falar com o Rei de Portugal e com a Rainha (em separado); pelo facto incontroverso de que tudo o que CC sabia de relevante para as navegações que efectuou, o ter aprendido em Portugal e com portugueses e, finalmente, porque foi na sequência desta visita que tiveram início as conversações que levaram à assinatura do Tratado de Tordesilhas, que é outro marco incontornável da Política, da Diplomacia e das Relações e do Direito Internacional, a nível global.
Se tudo isto não é relevante…
E foi sobre os dias da estadia da caravela “Nina”, em Lisboa que se procurou fazer incidir o teor das comemorações, acompanhando o que vem escrito no diário de bordo e em relatos de cronistas da época.
Neste âmbito realizou-se uma primeira sessão no Museu do Mar, em Cascais, terra em que CC terá fundeado no dia 4 de Março de 1493, depois de ter avistado a “Roca” no dia anterior.
Seguiu-se uma sessão (7/3) no Palácio da Independência, em Lisboa, sede da CPHM; outra em Vale do Paraíso (9/3), onde CC se encontrou durante dois dias e meio com D. João II (cuja Junta de Freguesia também decidiu comemorar o evento); uma quarta sessão em Vila Franca de Xira (10/3), a 10 Km do Convento de Santo António da Castanheira, local do encontro de CC com a Rainha D. Leonor, a pedido desta, na tarde do dia em que se despediu do Rei.
Finalmente a sessão de encerramento (14/3), na Academia de Marinha, em Lisboa, cidade de onde CC partiu para Palos, nesse mesmo dia, mas de 1493, passando ainda nas imediações de Faro.
Perdoar-se-á a imodéstia do exemplo, mas estas quatro diferentes entidades conseguiram, no curto espaço de tempo de sete semanas, planear, organizar e levar e efeito – sem pedir subsídios fosse a quem fosse – cinco sessões (em cinco locais e com cinco presidências diferentes) com 10 oradores, duas visitas guiadas (convento de S. António da Castanheira – hoje propriedade privada – uma joia arquitetónica e cultural, em quase total ruína e que bem merecia uma recuperação; e a Igreja de Nossa Senhora do Paraíso, em Vale do Paraíso, que pertenceu às comendadeiras da Ordem de Santiago, onde seguramente CC esteve e orou, na capela original)[3].
O que se relatou contou, ainda, com a empenhada colaboração de três Camaras Municipais, Cascais, Azambuja e Vila Franca, que cederam instalações apropriadas ao evento.
As cinco sessões contaram com um total de cerca de 400 presenças.
Tudo isto - é bom referi-lo - foi conseguido a custo “zero”. Mesmo que os leitores não acreditem.
Estamos satisfeitos, mas não descansados.
Falta perpetuar para contemporâneos e vindouros, nacionais e estrangeiros, esta passagem de Colon por Portugal - que a controvérsia histórica confirma, para já, a sua permanência entre nós durante o período de 1474 e 1484, tendo casado com a nobre portuguesa Filipa Moniz Perestrelo, provavelmente, em 1479, sendo tudo o mais praticamente desconhecido.
Tal desiderato pode ser atingido por três vias simples e pouco dispendiosas: a existência de um “marco” algures na zona histórica do Restelo ou da Ribeira das Naus, onde a “NINA” terá atracado a 6 de Março de 1493 e que assinale o facto; a existência de uma exposição iconográfica no Museu de Marinha, à altura da importância do Almirante Colon e da sua ligação histórica a Portugal e aos portugueses; a elaboração de um roteiro histórico/turístico, assinalando todos os locais que se sabe terem sido passagem ou permanência daquele que o Papa Alexandre VI chamou, em bula, de Cristófõm Colon.[4]
Por último é necessário persistir na investigação séria e fundamentada sobre tudo o que envolva a vida deste personagem da História de modo a colocar no devido lugar as peças de um complexo puzzle em que nos enredou.
E onde se possa, finalmente, dar cumprimento à citação latina – de sua autoria - que ornamenta o seu túmulo oficial, em Sevilha: “Em vós, Senhor, esperei! Não serei confundido eternamente”.[5]
Afinal, como dizia o Poeta “navegar é preciso, viver não é preciso”!
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[1] Excepção feita para uma pequena comemoração efectuada na Ilha de Santa Maria (Açores) aquando dos 500 anos da mesma viagem de regresso, em que CC aportou à ilha.
[2] Apesar da 1ª viagem de Vaso da Gama lhe ter sido superior em todos os domínios…[3] Não deixa de ser curioso registar que nesta Igreja existia uma devoção a Nª Senhora do Ó, que se celebra a 18/12. Ora lendo o diário de bordo desse dia pode ler-se que o almirante mandou, justamente, comemorar essa devoção!
[4] Bula "Inter Coetera II", de 4 de Maio de 1493. O nome está escrito em português, não em italiano, castelhano ou latim.
[5] “In Te, Domine, speravi non confundar in aeternum”, Salmo 30,2 Eclesiástico ou Ben Sirá 2, 12.
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