segunda-feira, 5 de novembro de 2012

UM GOVERNO EM “OUTSOURCING”…

“Há nos confins da Ibéria um povo que não se governa nem se deixa governar”
Caius Júlio César (100-44 AC), referindo-se aos Lusitanos

Esta frase tem sido mote para que o comum dos burgueses e outros arrastados por eles, descambem em exercícios de puro masoquismo, “arte” em que os habitantes deste cantinho europeu são, provavelmente, imbatíveis.

Usar a frase (esquecendo, convenientemente, a segunda parte), tem sido desculpa para que se afirme a esmo, em tertúlias e conversas de corredor, algo como “seria bom que viesse alguém de fora para pôr ordem no burgo”, olvidando que “ordem” é, justamente, aquilo que muitos não querem!

Tal representa – basta dois minutos de reflexão – uma falácia, já que os estrangeiros estão longe de nos conhecerem e jamais irão defender os nossos interesses. As excepções, como Schomberg e Lippe – e estes eram militares, não políticos, muito menos financeiros – só confirmam a regra.

Só a falta de autoridade, competência e noção da dignidade do Estado que, infelizmente tem abundado, pode explicar a baixeza de se ter “convidado” – se foi imposto ainda é pior – “técnicos” do FMI e do Banco Mundial para (ao que consta) “ajudar” na reforma do Estado e a cortar 4000 milhões de euros.

Tirando as fortalezas que se rendem sem disparar um tiro, poucas coisas existem que possam ser consideradas mais infamantes. Acresce o facto de serem os governantes que é suposto darem as ordens aos que guarnecem as ditas fortalezas, que actuam desta maneira…

Será que quando não conseguirem manter a ordem nas ruas vão chamar os “os Marines” ou, quem sabe, a Eurogendfor?[1]

Os tempos estão, de facto, mudados…

Vejamos, os governantes portugueses depois de terem endividado o País por gerações, não conseguem, agora, cortar na despesa nem organizar-se para o que é necessário fazer e resolvem introduzir pelas fronteiras – que há demasiado tempo deixámos de controlar – uns quantos tecnocratas que tratam os povos como gado para, ao abrigo dos seus “pareceres”, anunciarem umas quantas medidas como sendo inevitáveis. Será assim?

E sabe-se de tudo isto através de um ex-governante, agora comentador político e, também, Conselheiro de Estado (e vão dois) - actividades que devem ser tornadas incompatíveis – que o afirma explicitamente na televisão (já eles por aí andavam), não deixando de acrescentar ser “uma boa ideia”.

Boa ideia, meter cá dentro uns “gatos - pingados”, passando-se a si próprios (um órgão de soberania – ou já não se chama assim?), um atestado de incompetência?

Boa ideia, introduzir no centro do suposto poder, do nosso desgraçado país, antenas de organizações sem rosto, que pretendem, ao que tudo aponta, governar o mundo pela via financeira, e sem nunca o assumirem?

Para que votamos em partidos e personalidades se depois eles se “vendem” a poderes estranhos à nacionalidade?

Já não bastou a experiência dos iberistas, face à Espanha; dos comunistas face à URSS; dos maoístas face à China; e de todos os “partidos” “franceses”, “ingleses”, “alemães”, etc., que pulularam ao longo da História, em vez de nos unirmos à volta do partido português, que é o único que interessa?

Que gente é esta, meu Deus?!

E o FMI vem, candidamente, dizer que já disponibilizou esta “ajuda” de forma rotineira a todos os países membros; reformar a organização ou as funções do Estado é uma ajuda rotineira? E será que o fazem por filantropia, ou também cobram? Podemos ver as tabelas de preços?

Pelos vistos a “democracia” portuguesa (ou à portuguesa), está reduzida a elegermos não quem nos governe, mas sim para que contrate os melhores tipos, no mercado, para governarem por eles…

Convenhamos que descemos abaixo do nível de uma ópera bufa.

Está na altura da população acordar. Mas, não estando minimamente organizada (a não ser algumas “organizações” que, por razões óbvias, ninguém refere), quando acordar vai sair asneira e sujeitamo-nos ao caos.

Para evitar que tal aconteça, só nos restam as instituições que tem especiais responsabilidades constitucionais, na defesa da individualidade e identidade nacionais, e na salvaguarda da unidade do Estado, tendo - se em conta, que numa delas, é cabeça uma personalidade mais próxima do Senhor D. João VI, do que do Senhor D. João II, sem sequer lhe advir a autoridade decorrente da instituição real…

E é preferível, por razões que me dispenso de explicitar, que tal seja preparado a nível de topo do que em níveis inferiores da hierarquia.

Só se deve ir para soluções de emergência em última instância, mas não demasiado tarde.

O país está já em situação de emergência e o actual sistema político e a generalidade dos políticos que o preenchem – não confundir com “servem” – chegou a um beco sem saída e não são parte da solução.

Antes pelo contrário “eles” foram e são, o problema.

A liberdade de Portugal e dos portugueses está em perigo. E a liberdade destes não se mantém sem a liberdade daquele, que foi um erro em que muitos caíram e a outros aproveitou.

Talvez fosse conveniente ponderar nisto antes de passarmos para a segunda parte da citação: “e não se deixam governar”.




[1] Força de Gendarmeria Europeia

4 comentários:

  1. Uma vez mais os meus parabéns.
    MEDINA DA SILVA

    ResponderEliminar
  2. Qual é a saída?
    Salazar ou Sidónio Pais?

    Talhas.

    ResponderEliminar
  3. ESTE REGIME BEM PRECISAVA DOS DOIS; SALAZAR E SIDONIO PAIS PARA SE REFORMAR E SOBREVIVER.
    A REPUBLICA FUNCIONA SÓ COM REPUBLICANOS DESTES A MANDAR. COM OS ANONIMOS REPUBLICANOS NO LUGAR HOJE EM DIA O PAÍS TOURNOU SE O PROTECTORADO DOS "EUROPEUS" E O POVO SUA MAO DE OBRA À DISCRIÇAO.

    ResponderEliminar
  4. Estou a ler o livro "Revolução Liberal" no sec 19 do sr Pulido Valente e a história é quase igual à nossa realidade tirando o facto de agora estarmos na troika...perdão,na União?europeia.

    ResponderEliminar