sábado, 10 de novembro de 2012

ARISTIDES DE SOUSA MENDES: AS ORIGENS DO MITO - Parte I

Publiquei os dois artigos seguintes, em Fevereiro de 2007, na sequência do concurso televisivo, meio idiota, para apurar quem seria o melhor português de sempre.

Aristides Sousa Mendes ficou em terceiro lugar...
A propósito das recentes declarações do Embaixador de Israel e do filme sobre a figura do antigo cônsul português em Bordéus, estreado no passado dia 8/11/12, aqui se republicam sem alterações.
Reedição 10/11/12

Há muito tempo que pensava escrever sobre Aristides de Sousa Mendes (ASM). Ou melhor sobre o que alguns escribas da nossa praça têm escrito sobre ele e a propósito dele. A gota de água chegou agora com a inclusão do seu nome na lista dos 10 portugueses (nesse incrível concurso), de que sairá o mais “insigne” de todos nós (!) e da que, a propósito, escreveu o Dr. José Miguel Júdice (JMJ) (Público 19/1/07). Antes de entrar na matéria de facto convém colocar as seguintes questões: como é que alguém que até há meia dúzia de anos era desconhecido de 99,9% dos nacionais, aparece entre os supostamente 10 melhores portugueses de sempre? A quem é que isso, eventualmente, serve? É o que vamos tentar dilucidar.

ASM tem origem numa família portuguesa, cristã nova, do distrito de Viseu (Cabanas de Viriato), nobilitada no século XVIII.

A família de ASM estava perfeitamente inserida no regime do “Estado Novo”. ASM era casado e tinha numerosa prole (12 filhos). Dotado de alguma instabilidade de temperamento tinha dificuldade na gestão das suas finanças a que não seria alheia a sua tendência para o jogo. Daqui resultaram vários problemas e dificuldades.
ASM tinha um irmão gémeo, César de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, que foi um embaixador respeitado, inclusive, por Salazar, de quem tinha sido companheiro no CADC [1], em Coimbra. Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), entre 5/7/32 e 11/4/33. Este irmão, que era embaixador em Varsóvia, quando a Segunda Guerra começou, e teve que se vir embora a muito custo era quem, normalmente valia a ASM nas suas aflições.
ASM, que também tinha seguido a carreira diplomática, era Cônsul de Portugal em Bordéus, em 1940, ano em que a França foi vencida militarmente pela Alemanha, em apenas 30 dias.
A perseguição que os regimes nacional - socialista, alemão e fascista, italiano (e seus satélites) passaram a fazer aos judeus (e não só a estes, convém lembrar) levou a que muitos refugiados fossem bater à porta dos países neutrais – que era o caso de Portugal - na esperança de obterem protecção e daí procurarem meios de atingir a Inglaterra e os EUA, países que a maioria pretendia alcançar.
O governo português anuiu tacitamente na concessão de vistos, por razões humanitárias, desde que os refugiados alegassem terem ascendência portuguesa (lembra-se que Salazar era MNE no período da II GM).
Ora esta condição afigura-se-me apenas como mera justificação formal, que prevenisse eventuais problemas internacionais, do que medida a ser levada à risca, já que nem parece que alguma vez fosse escrita. Isto porque a maioria dos eventuais descendentes de judeus portugueses seriam do ramo Sefardita o que não era o caso dos judeus do centro e norte da Europa, na maioria Askenazin.
Conhece-se o nome de vários diplomatas portugueses que passaram vistos: o Embaixador Sampaio Garrido (pai) ministro em Budapeste a partir de 27/7/39 e do Embaixador Teixeira Branquinho, que esteve à frente da mesma Legação, a partir de 25/4/44; o Cônsul em Berlim, de 17/9/41 a 13/4/45, Mário de Faria e Melo Duarte (tio do poeta/deputado Manuel Alegre – regista-se como curiosidade); o Ministro em Berna, de Jan/35 a 1945, Embaixador José Jorge Rodrigues dos Santos (genro de Carmona); e ao que parece, é muito possível que o nosso Ministro em Ancara, entre Fev. de 41 e 1944, Calheiros e Menezes, também o tivesse feito.
Não se sabe ao certo quantos vistos foram concedidos, mas calcula-se que, no cômputo geral, tenham atingido vários centenas de milhares.
Como se pode constatar não foi só ASM que passou vistos a refugiados judeus e outros, nem tal era proibido nem sequer contrariado pelo governo português de então.
O problema surgiu quando os governos de Berlim e Londres se aperceberam da enorme quantidade de refugiados que chegavam. Na sequência, o embaixador alemão em Lisboa, reportou preocupação pelos problemas que tal estaria a causar, com implícitas ameaças de retaliação. E o embaixador inglês alertou, também, para a questão (tinham inclusive receio de que entre os refugiados se infiltrassem agentes alemães).
Foi então que Salazar revê o assunto e mandou instruir todas as legações portuguesas aconselhando prudência e rigor na avaliação dos pedidos de vistos.
ASM não observou as instruções, foi chamado a Lisboa e alvo de um processo disciplinar, por desobediência.
Depois foi suspenso (mas nunca demitido), aguardando aposentação. ASM casou segunda vez mas nunca mais conseguiu refazer profissionalmente a sua vida, vivendo com dificuldades financeiras, até ao fim dos seus dias. O caso caiu, naturalmente, no esquecimento.
Até que durante o primeiro consulado do Dr. Jaime Gama como MNE, a jornalista Diana Andringa (e depois dela, outros), tentou consultar o processo de ASM. Como o processo era confidencial, a autorização foi negada. Envidaram-se então esforços para que o processo fosse desclassificado. Correram os trâmites e já no tempo de Durão Barroso como MNE, foi autorizada a desclassificação da documentação referente a ASM. A partir daqui não mais deixaram de aparecer artigos, documentários e parafernália vária, relativa à figura e acção de ASM.
Sempre se destacando a humanidade da sua acção em contraponto à violência do regime, o enaltecimento da sua desobediência versus a perfídia da postura do governo português da altura, a justiça das suas ideias e acção, em contraste com a dureza e violência do seu tratamento posterior.
Ou seja, está encontrado o primeiro objectivo do ressuscitamento de ASM: atacar e denegrir a figura e obra do Professor António de Oliveira Salazar.
E tudo isto tem sido feito com uma grande desonestidade intelectual, para ficarmos só por aqui.
Em primeiro lugar porque se manipulou dados, se recorre a inverdades e se torcem intenções.
Tenta-se julgar os personagens e os eventos, segundo os ditames morais e intelectuais de agora e não pelos da época; 
Tão pouco se tenta enquadrar a actuação dos intervenientes na conjuntura muito delicada e perigosa em que se encontrava Portugal e os portugueses.
Ora a nós parece-nos que a actuação do governo português de então foi corajosa, humana, ponderada e inteligente. E que a sanção que foi atribuída a ASM parece equilibrada e justa. E estamos em crer que, se hoje em dia, um diplomata fizesse o que ASM fez, o procedimento do Estado Português para com ele, seria idêntico.
No meio de tudo isto parece-nos que JMJ – para além da falta de informação que já começa a caracterizá-lo – é utilizado em toda esta trama como um ingénuo útil.
Em conclusão, podemos convir em que parece fora de dúvida que o enaltecimento de ASM, serve a causa de quem quer atacar Salazar. Em próximo escrito daremos pistas para outros interesses.

[1] Centro Académico da Democracia Cristã.

ARISTIDES DE SOUSA MENDES: AS ORIGENS DO MITO. PARTE II
A “ressurreição” da figura de Aristides de Sousa Mendes (ASM), do modo como tem sido feita parece indiciar servir os propósitos dos interesses judaicos no mundo, quiçá, também dos ideais sionistas. Convém alertar os leitores para isto pois uns e outros não são a mesma coisa.
Seria interessante conhecer melhor, eventuais ligações destes interesses com quem tem escrito sobre este assunto.

A elevação da acção de ASM, permite contribuir para a imagem do povo judaico no mundo – vitimizando - o - garantindo em simultâneo uma condenação de quem os perseguiu ao longo dos tempos. ASM encaixa bem nisto: tem origem numa zona do país com elevada percentagem de sangue judaico, quando a Inquisição espanhola a mando dos Reis Católicos expulsou os Judeus, cerca de 50.000 fixaram-se na faixa de cerca de 80 Km do território português entre Bragança e Castelo de Vide (tendo sido bem recebidos por D. João II); ASM tinha ascendência judaica e apesar de ser católico e conservador tal não apagava os seus ascendentes “Cristãos Novos”.

Mais, a sua protecção aos refugiados judeus, provava até que estas reminiscências estavam bem vivas; a quadratura do círculo fechava-se, então, no auxílio que a comunidade israelita em Portugal prestou a ASM, nas vicissitudes por que passou desde que deixou a diplomacia; a sua acção, por ser à revelia do Estado Português, era a cereja em cima do bolo, já que este mesmo Estado foi sagrado inimigo da “nação” judaica desde o século XVI, por via da expulsão decretada por D. Manuel I a quem não se quisesse converter e subsequente perseguição pelo Tribunal do Santo Ofício, instaurado por D. João III.
Finalmente, ASM pode ser elevado a “wallenstein” [1] português, contribuindo para alimentar a “indústria do Holocausto” que tem o seu expoente maior nas bandas de Hollywood.
A criação de uma eventual cabala contra Portugal (como se tentou a propósito do ouro nazi) devia ser objecto de preocupação dos serviços de informação, sempre pressurosos, aliás, na vigilância de patriotas e nacionalistas…
Os descendentes familiares de ASM têm mantido uma postura prudente sobre tudo o que tem sido agitado a propósito do seu antepassado. Existem apenas eventuais interesses em restaurar o antigo palácio/residência familiar de antanho (há quem queira lá fazer um museu) e apenas existe conhecimento de deslocações de um dos filhos a Israel, o que à partida nada de conclusivo significa.

Sabe-se que muitos vistos para judeus foram obtidos em vários países, a troco de valores. Nenhuma suspeita de caso semelhante existe sobre a figura de ASM. Por isso, se ele passou vistos por dever de consciência, assumindo as consequências do acto, merece o nosso respeito, devendo-lhe ser reconhecido esse mérito. Mas tal não deve implicar nenhum ónus para as autoridades de então que se limitaram ao exercício das competências consignadas na lei, a fim de garantir o normal funcionamento dos serviços.

Promover ASM a um dos 10 melhores portugueses da nossa História é que me parece, digamos, curto e insensato.

Com pessoas destas eu vivo “com gosto num Portugal independente”, como aduz JMJ [2]. Já não vivo tão bem é com figuras que se aproveitam de casos destes para torcerem o fio da História e servirem interesses ínvios.
 E se considera tanto o valor humanitário de passar vistos a refugiados lembra-se que na altura (1940-41), raras eram as pessoas no mundo que tinham conhecimento dos campos de extermínio nazis (e já há muito que havia os “goulags” na URSS!),é surpreendente que se tenha endeusado ASM e ignorado os restantes colegas diplomatas que também passaram vistos!
Percebe-se que Álvaro Cunhal – que sempre se comportou como um agente de uma potência estrangeira - apareça entre os 10 portugueses mais votados: é, porventura, a máquina do PC a funcionar – o que, a ser assim, não abona muito à isenção intelectual e moral dos militantes.
Agora, como ASM consegue um número de votos que o põem a par de Afonso Henriques, Vasco da Gama e Camões é que permanece área de investigação para sociólogos e politólogos...
O objectivo está no entanto alcançado. E o Dr. JMJ, dado ultimamente a originalidades frustes, nem se terá apercebido de nada.


[1] Diplomata sueco que salvou milhares de judeus durante a II GM e que acabou desaparecido em mãos soviéticas.
[2] José Miguel Júdice, artigo “o voto num justo”, Público de 19/1/07.

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