domingo, 2 de setembro de 2012

AS ÚLTIMAS DA DEFESA (V)

"Aqueles que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando”
Camões

O Coronel de Infantaria “Comando” Jaime Rodolfo de Abreu Cardoso faleceu a 19 de Agosto de 2012. O seu funeral ocorreu dois dias depois.

Porque falamos de um cidadão militar, entre tantos outros, que nem sequer conhecíamos? Por isto: o referido oficial era condecorado com a Cruz de Guerra de 1ª classe, a Medalha de Prata de Valor Militar, com palma, e a Ordem Militar da Torre e Espada, por acções valorosas em combate, durante as cinco comissões de serviço nos teatros de operações de Angola, Guiné e Moçambique.

Um cidadão que é condecorado com a Torre e Espada (a mais alta condecoração nacional), do Valor, da Lealdade e do Mérito, é um herói nacional! E assim deve ser tido e considerado.[1]

Ora o meu ilustre camarada morreu voando – uma actividade de que era amante, como em tempos foi do paraquedismo – num trágico acidente, após descolagem do aeródromo de Braga. O acidente foi profusamente noticiado na generalidade dos “média”. O acidente, pois o funeral e a pessoa, passou despercebido a todos…

E nós a julgarmos que tal notícia abriria os telejornais do dia, dado tratar-se de quem se tratava… Pois se qualquer mundano, ou mundana, que aparece nas páginas da “imprensa cor-de-rosa” o consegue!…

Sr. Ministro da Defesa Nacional, já pôs V. Ex.ª os olhos neste caso? Está, porventura, preocupado com outras coisas? Pois creia que o desfecho deste triste evento, representa um verdadeiro problema relativo ao título da função que desempenha.

Abreu Cardoso deixou este mundo com as honras da ordenança (minguadas pela triste situação de falta de efectivos) e com a estima de alguns dos seus camaradas D’ Armas, mas no olvido de todo o País.

Ele apenas fez o que devia e a Pátria o que costuma.

Parece ser sina.

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Aliás, problemas relativos à defesa nacional são o que não falta, pois que dizer de recentes anúncios passados na televisão (será que era serviço público?), em castelhano e sem tradução? Quem velará por isto? Porque não se castigam os infractores? Sim porque isto é (ainda) contra a lei…

Porque não há um senhor deputado (já nem falo no ministro) que se indigne com semelhantes actos?

Parece que ninguém se indigna. Também é sina.

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Por falar em castelhano, que dizer do concurso que corre aqui ao lado da fronteira, para saber qual “O Melhor Recanto de Espanha”?

Pois gostaria de alertar os meus eventuais leitores (se é que algum), para o facto de um dos monumentos que passou aos quartos – de - final, ser a magnífica Igreja de Santa Maria Madalena, na Vila de Olivença, mandada construir pelo Rei D. Manuel I, no mais puro estilo manuelino!

Será que os nossos vizinhos a querem eleger como monumento representativo da sua cultura, apropriando-se do que é nosso, à semelhança do que já tentaram fazer com os enchidos de porco preto e as falsificações do vinho do Porto?

É que o estilo manuelino não representa uma simples escola de arquitectura, é um traço identitário da Nação Portuguesa.

Fez bem o prestimoso “Grupo dos Amigos de Olivença” em protestar, aproveitando o ensejo para relembrar (pela 500ª vez…) que a portuguesíssima Vila de Olivença se encontra cativa de Espanha, desde 1801, seguramente desde 1807, sem qualquer dúvida após o Congresso de Viena, de 1815!

No MNE o silêncio é de chumbo e o MDN pode estar a ouvir falar no caso pela 1ª vez…

De Belém S. Ex.ª o PR, também não dá indícios de querer lançar o seu republicano sobrolho sobre tão “ínfimo”, apesar de curioso, assunto que nem sequer importa a qualquer questão económico/financeira. Não vá incomodar a boa vizinhança, mesmo à custa da justiça e da soberania…

O que está em sintonia com o “conselho” emitido de não se criticar “os mercados”, não vá eles se indisporem…

E a sina continua.

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Insiste o Governo na redução dos efectivos militares – apenas mais um pequeno crime de lesa-Pátria – e agora está o MDN ufano por mais um corte de 300 e picos, dos quais 11 oficiais generais, por ter sido tudo concertado com as chefias militares (“eles” também já não precisam desses lugares para serem promovidos…). Deixe – me fazer uma pergunta: caso não fosse isso, verdade – e já houve algumas vezes em que tal sucedeu – acredita que algum dos chefes viria, publicamente, desmenti-lo?

Pergunto ainda o seguinte: V. Ex.ª, e presumo que os seus colegas que se reúnem às quintas- feiras, entenderam reavaliar o Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN); ora é do CEDN que devem decorrer os conceitos estratégicos dos restantes ministérios (o que nunca foi feito), e o Conceito Estratégico Militar, que é o único que existe; por sua vez é deste último que devem derivar as missões, conceito militar de acção, dispositivo e sistema de forças; e é em função de tudo isto que são calculados os quadros orgânicos e restante pessoal, necessários ao correcto funcionamento das FAs; assim sendo, com que lógica é que os governos estão sempre a reduzir os efectivos antes, durante e depois, da aprovação de qualquer um dos CEDN até hoje existentes, incluindo o que vem a caminho?

Não têm vergonha de terem transformado tudo isto numa palhaçada, tratando-nos como se fossemos todos atrasados mentais?

E diga-me, quando os “gatos-pingados” da “troika”, se atreveram a sugerir (ou mandaram mesmo?), reduzir o número de militares em 10%, também lhes acenaram com o CEDN?

Será que também passou a ser sina, gozarem connosco?

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O Dr. João Jardim, eterno Presidente do Governo da Região Autónoma da Madeira, lá expeliu mais uma “boutade”, ao dizer que são os “contenenta…is” (convém ler à madeirense), que querem o separatismo da Madeira (não sei se Porto Santo o acompanha nesta afirmação, nem o que pensam os mais distantes Açorianos).

Já escrevemos várias vezes que, na luta política, não pode valer tudo e não se deve brincar com coisas sérias, muito menos arranjar problemas onde não os há.

É certo que o Dr. Jardim teve azar em não nascer preto, pois se assim fosse os revolucionários de 1974/5, tinham-no logo independentizado, mesmo sem referendo nem nada… Mas que quer, como estava a norte do trópico de Câncer e a Nato precisava dos Arquipélagos, ficou assim. Não lhe falte a esperança, talvez arranje uns parceiros berberes ali perto.[2]

Todavia, os trocadilhos verbais, com “ameaças” à mistura, sobre referendos, autonomias, separatismos e afins, além de não terem graça nenhuma (mesmo que acompanhados com poncha), já ultrapassaram as marcas, há muito. E há coisas que não se dirimem por palavras.

Enquanto não se faz mais nada sugeria, à PGR, que estivesse atento ao artigo 308 do Código Penal (Traição à Pátria), e o aplicasse logo que surgisse uma oportunidade.[3]

Parece certo que vários cidadãos com nome na sociedade portuguesa, também já deviam ter sidos julgados pelos mesmos motivos e não foram. Mas tal não é desculpa para se insistir no erro. A não ser que passe a ser sina.

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Como vê Sr. MDN, mesmo com os poucos casos apontados tem V. Ex.ª bastas razões para se preocupar em termos de Defesa Nacional, em vez de andar a “chatear branco”, com racionalizações idiotas ou escusadas, e entretido a desmantelar o que ainda vai funcionando.

E, por favor, tire de vez a Bandeira Nacional da lapela e inste com os seus colegas de equipa para fazerem o mesmo. O direito que tinham a usá-la derivava do facto de terem nascido nesta terra e não noutra.

Esse direito perderam-no, pois nada do que têm feito justifica o seu uso. Ponham a mão na consciência: os senhores e os partidos que representam, por acaso prosseguem alguma política que seja portuguesa e patriota?

Respondam se têm coragem!



[1] Enfim, tirando aquelas atribuídas por exercício de função, como tem sido o caso dos Ex-Presidentes da República… Existem, neste momento, 25 portugueses, vivos, a quem foi atribuída esta condecoração.
[2] Os piratas mouros tinham até por costume, quando assaltavam as ilhas que A. J. Jardim, agora senhoreia, roubar umas moçoilas que, mais tarde, devolviam… grávidas!
[3] Art.º 308 reza assim: Traição à Pátria/Aquele que, por meio de usurpação ou abuso de funções de soberania:
a) Tentar separar da Mãe-Pátria ou entregar a país estrangeiro ou submeter à soberania estrangeira todo o território português ou parte dele, ou
b) Ofender ou puser em perigo a independência do País;
É punido com pena de prisão de 10 a 20 anos.

4 comentários:

  1. Uma vez mais puramente BRILHANTE. "AH, ouvera mais como o senhor, e este estado de coisasnão se davam". Abraço do MEDINA DA SILVA.

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  2. Houve uma ocasião, não me recordo quando, essa era uma ocasião, esperava eu que fosse dita uma palavrinha sobre o "milhões", um sobrevivente raro de La Lys, 1ª guerra mundial. (ver Soldado Milhões; Wikipédia, a enciclopédia livre.
    Em Portugal é assim.
    José Rosa

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  3. Lamento a morte do nosso camarada - um herói nacional -, que eu não conhecia.
    Segui as notícias do acidente desde o início, sem terem feito nenhuma referência especial; nas últimas, cheguei a ler "que se tratava de um militar".
    O texto do Ten. Cor. Brandão Ferreira é uma justíssima homenagem póstuma e simultâneamente um grito de revolta. É isso que eu sinto: revolta! Há quem insista - pobre gente essa! - em tornar Portugal num país miserável.
    O país está infestado de miseráveis!

    Sobre os restantes pontos: ficámos a saber como são banais e rasteiros certos indivíduos, com grandes responsabilidades, que deveriam servir de (bom) exemplo e esforçarem-se em dignificarem os cargos que ocupam. Todavia...
    Repito: o país está infestado de miseráveis!

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  4. ... subscrevo: o nosso querido País «está infestado de miseráveis»!
    E segue-se mote destinado às "últimas da defesa" (parte VI),
    para que se não perca a oportunidade de 'desancar' nesta espécie-de "Ministro da Defesa Ibérica", o qual...
    - «Aguiar Branco quer defesa militar conjunta com Espanha».

    (what the fuck is this...?!?!? )

    http://expresso.sapo.pt/aguiar-branco-quer-defesa-militar-conjunta-com-espanha=f751064

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